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Análise – Life is Strange: True Colors

Chegando a Haven Springs, percebemos desde logo que este não é um jogo da Dontnod Entertainment, a criadora do jogo original. Uma vez mais, a Square Enix prefere intercalar produtoras nesta franquia, mesmo que essa fórmula não tenha sido sempre bem sucedida. Agora, é a Deck Nine aos comandos de Life is Strange: True Colors e dos destinos de Alex Chen.

A produtora não é uma estranha na série. Em 2017 lançou o spin-off Life is Strange: Before the Storm, provando ser capaz de gerir uma narrativa baseada em factos e personagens que não lhe pertenciam. O resultado foi um jogo fiel ao que a Dontnod fez originalmente, embora a crítica não gostasse muito do tom mais emocional. Alguns anos depois, Life is Strange 2, fez-nos regressar ao universo dos super-poderes. Agora é a vez da Deck 9 lidar com protagonistas com poderes extraordinários. Pela primeira vez, a série abandona por completo o formato em episódios, focando-se numa experiência muito mais íntima que as anteriores. Isto, porque volta a tocar no tema muito delicado das emoções. Mas, agora sim, faz por não fugir ao caminho traçado pela Dontnod.

Tema de várias canções e frases de filmes, a expressão que dá título a este jogo (True Colors), não é apenas uma menção ao tom colorido do jogo. Em inglês, a frase significa mostrar as “verdadeiras cores”. É uma forma de explicar ou desvendar quem realmente somos, algo mais profundo, algo no nosso íntimo. Além da óbvia escolha de representação cromática usada para mostrar diferentes emoções na acção do jogo, como irão ver, True Colors joga com essa definição mais profunda da expressão para embelezar o tema principal da história.

Alex Chen, é uma jovem que, com o seu irmão Gabe, teve de viver uma vida complicada, saídos de um lar destroçado com os seus pais atormentados por problemas e escolhas infelizes. Alex morou com várias famílias de acolhimentos, antes de decidir parar para tentar finalmente ter contacto com o seu irmão mais velho Gabe, que não via há oito anos. Gabe mora em Haven Springs, uma cidade montanhosa no Colorado, composta por uma pequena comunidade de habitantes. Como acontece sempre em povoados pequenos, os habitantes são muito próximos uns dos outros.

Assim começam os 21 anos de Alex Chen, a jovem asiática-americana que acabará por se relacionar facilmente com estas pessoas simples de Haven Springs. E a empatia tem um papel muito importante neste jogo, sendo o verdadeiro poder de Alex. Para isso, precisamos que estas pessoas com quem interagimos, sejam realmente dignos de empatia também da parte dos jogadores. Graças ao uso de motion capture, pela primeira vez nesta série, Alex e todas as outras personagens tornam-se imediatamente humanos. Seja pela forma como se movimentam, reagem ou fazem expressões.

Esta é uma das melhorias que quis fazer questão de mencionar logo de início, pelas razões óbvias. Apesar de nunca apelarem ao realismo, tendo sempre um certo tom de banda-desenhada, os títulos anteriores da série estavam severamente limitados em termos de animações das personagens, especialmente nas expressões faciais. Felizmente, em Life is Strange: True Colors existe um grande uso de expressões realistas, desde caretas, olhares, pequenos gestos e até um ou outro piscar de olhos, sendo estas animações que permitem-nos ganhar essa tal empatia com as personagens com que nos cruzamos.

No entanto, a empatia também se pode tornar uma maldição para Alex, uma vez que o seu poder é perceber as emoções e os verdadeiros sentimentos das pessoas que a rodeiam. É como um poder sobrenatural que está disponível desde o início do jogo. Permite-nos perceber as intenções reais das outras pessoas e, quando são particularmente fortes, também permite perceber quais são as suas origens. Caberá a Alex aprender a usar este poder porque, como devem imaginar, deixar-se dominar pelas emoções que nos cercam pode dar-lhe informações muito úteis para o seu propósito mas também quebrar o seu próprio equilíbrio emocional.

O uso deste poder pode ser feito quando Alex vê uma aura colorida em redor das pessoas. Esta aura pode ser de raiva, de decepção, de arrependimento ou até de medo. Ao concentrar-se, pode mesmo ouvir os pensamentos dessa pessoa e, se quiser, até poderá sentir a mesma emoção em si própria. Absorver a raiva de uma pessoa, por exemplo, irá fazer com que Alex perca fé em tudo, sentindo-se derrotada. Essas reacções adversas da sua habilidade, tornaram-na uma pessoa tímida e cautelosa com os outros. São também uma boa maneira de colocar este poder em perspectiva, sabendo que há repercussões por usá-lo.

Não querendo criar spoilers, mas sendo obrigado a tal, no final do primeiro acto testemunhamos um trágico acidente que rouba a vida ao irmão Gabe. Este acidente foi provocado por uma explosão de uma mina pertencente à multinacional Typhon. Um incidente que tem conotações pouco claras e que, em pouco tempo, levará Alex e os seus amigos, dilacerados pelo luto do querido Gabe, a investigar o caso. E é aqui que este poder único de Alex será absolutamente essencial, tornando-se o verdadeiro centro de toda a acção que se desenrolará doravante.

Como devem calcular, todo o mistério ligado à corporação Typhon, que capítulo após capítulo acaba por ser uma multinacional com “esqueletos no armário”, torna-se a verdadeira missão de Alex. É uma tentativa de fazer sentido da perda do seu irmão, ao mesmo tempo que tenta descortinar a ramificações menos claras das acções desta empresa. Para isso, Alex começa a interagir com os habitantes de Haven Springs para conhecer ouvir as muitas histórias e relatos e começar a sua investigação, armada com o tal poder especial.

Claro que nem tudo é assim tão linear. Também vamos ter de interagir com estas pessoas, ouvindo os seus pensamentos e percebendo os sentimentos, de forma a ajudá-los a resolver os seus próprios problemas. Esta lógica, não só funciona muito bem como mecânica de jogo, como traz solidez a todo o contexto narrativo de Haven Springs e daqueles que lá vivem. As personagens comentam os acontecimentos como cidadãos comuns e dão a sua opinião sobre o que está a acontecer. O que aconteceria em qualquer café de bairro na vida real.

Este é, de facto, um destaque importante na forma como a história de desenrola. Tudo é extremamente credível, graças a uma escrita que nunca se perde em banalizações ou estereótipos, como às vezes acontecia no passado. De mãos dadas com a direcção de actores, um bom casting, e na própria concepção das cenas, com os mesmos planos amplos e gerais que a série nos acostumou, criam uma ambiência quase cinematográfica da acção. Testando o jogo numa PlayStation 5, esta qualidade é evidente com bons efeitos visuais e um cuidado com as texturas e modelação de objectos bem mais refinado que nos jogos anteriores.

Veredicto

Life is Strange: True Colors usa em pleno a maior ferramenta técnica no mundo do entretenimento que a do fantástico, sem se tornar demasiado fantasioso ou surreal. Os sentimentos de Alex e demais personagens não são nada mais do que o espelho do que nós próprios sentiríamos nas mesmas circunstâncias. As dúvidas da protagonista são as mesmas que vivenciamos ao abordar esses eventos enquanto jogadores. Torna a jogabilidade mais pessoal para cada um, o que é um feito. Isto, aliado à maior atenção ao aspecto técnico, ao cuidado estético em geral e à intenção de nunca quebrar a confiança do jogador, faz com que a produtora Deck Nine finalmente nos traga um Life is Strange ao bom nível da série.

  • ProdutoraDeck Nine
  • EditoraSquare Enix
  • Lançamento10 de Setembro 2021
  • PlataformasGoogle Stadia, PC, PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series X|S
  • GéneroAventura Gráfica
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

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Não Gostámos
  • Parte do enredo é previsível

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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