Análise – Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name
Embora o estúdio Ryu Ga Gotoku esteja noutro rumo, uma boa parte dos fãs da série Like a Dragon vieram directamente da audiência de Yakuza. Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name é a ponte que (parece) faltava fazer.
De facto, o que tornou este estúdio tão famoso, foi mesmo a história de Kazuma Kiryu, devidamente recuperada pelos vários remakes e reedições dos jogos clássicos, culminando num sexto episódio memorável mas, ao mesmo tempo, triste. Seria o nosso último momento com Kazuma… ou seria mesmo? Claro que a SEGA não quis deitar abaixo uma das suas personagens mais icónicas (a seguir a Sonic e Ryo Hazuki de Shenmue, claro). Além de termos um spin-off com Kazuma num “universo paralelo“, a fórmula da série Yakuza ainda perdurou com outro spin-off, a série Judgement. E aí está ele com outra aventura, agora um pouco mais limitada e algo comedida.
É inegável que o legado da série original se recusa a desaparecer, especialmente entre quem acha que o novo “herói” Ichiban Kasuga não está no mesmo patamar ou que as suas aventuras não são tão memoráveis. Confesso que eu próprio estou dividido, perdendo um pouco do entusiasmo que sempre tive por Yakuza. Por isso, quando nos foi dito que teríamos só mais um jogo com Kazuma Kiryu, eu fiquei atento… é só mais um… agora é que é… Bom, não sei bem se é mesmo a última vez que veremos Kazuma. Por um lado, gostava que a sua história se consolidasse, por outro, não é todos os dias que temos uma personagem principal recuperada em novas histórias, não é verdade?
A premissa deste jogo é bastante clara. Este é um título que deve servir de base entre a história que termina em Yakuza 6: The Song of Life e o seguinte Yakuza: Like a Dragon. Sem vos querer estragar a história do sexto capítulo de Yakuza, um jogo que deviam ter jogado se estão interessados nesta análise, saberão que Kazuma simulou a sua morte no final da trama, a única forma de se ver livre das malhas do crime organizado da máfia Japonesa e dedicar-se à sua família. Em tempos idos, este tipo de histórias com um final “pendente” assim ficavam, deixando a nossa imaginação conceber um final digno aos protagonistas. Contudo, como já disse, Kazuma teima em regressar, nem que seja para esclarecer para onde foi… apagar o seu nome.
Se jogaram Yakuza: Like a Dragon, sabem que Kazuma aparece por lá, tendo mesmo um papel importante na história de Ichiban. Seria de esperar que o que levou a esse momento fosse, de certa forma, implícito. Kazuma deixou a vida que tinha para se dedicar a outra. Mas, afinal, chama-se “Joryu” e é um agente secreto com um pacto com uma organização clandestina, chamada de Daidoji, a mesma que o ajudou a fingir a sua morte. Ao serviço da organização, Kazuma tem de voltar à violência para fazer os devidos “recados”, levando-o, uma vez mais, a uma onda de conspirações e crime para deitar por terra os vários clãs da máfia Japonesa.
De facto, o enredo de Like a Dragon Gaiden é o seu principal trunfo, como em todos os jogos desta longuíssima série de títulos e spin-offs. Como seria de esperar, não prepara nenhum final épico ou inesperado, sabendo bem onde se encaixa entre as duas histórias estabelecidas. Infelizmente, esta ponte não é perfeita. Como já disse, o motivo original para Kazuma deixar o crime foi a sua família adoptiva. Por qualquer motivo, esta motivação passa para uma espécie de “nota de rodapé”, quase fazendo o final emotivo de Yakuza 6 algo irrelevante. Por outro lado, não parece que toda a violência ou crime que Kazuma deixou para trás tivesse algum impacto moral, uma vez que não parece ter quaisquer remorsos a voltar facilmente à pancadaria.
Talvez esteja a ver as coisas de um ponto de vista demasiado emocional. Afinal, a série Like a Dragon tornou-se claramente menos sombria. Tenho de me recordar que este não é, de facto, um novo Yakuza. É um contar de uma história inédita numa nova era para a série, claramente descolada do tom e do estilo originais. O que me faz enganar ocasionalmente são as suas óbvias chamadas ao passado. Por exemplo, no seu combate, novamente em tempo real, com dois estilos diferentes: Agent e… Yakuza. De facto, neste último estilo, estamos a ser transportados para os jogos clássicos, com a pancaria avulsa de combates brutais e cheios de energia. Este é o estilo que preferi sempre em combates mais musculados.
O outro estilo Agent, é um pouco diferente. Em termos de combate directo é semelhante, embora mais rápido e com golpes menos potentes. Por outro lado, são introduzidos vários gadgets de agente secreto à mistura, tornando a acção mais “fantasiosa”, claramente a apostar na espectacularidade. Assim, este será o estilo que tentar chamar mais para acção dos jogos seguintes, mais de encontro ao tom “silly” da pancadaria com Ichiban. Poderia dizer que o combate é “o melhor de dois mundos” mas sinto-me demasiado dividido para o dizer.
Outra diferença é que, ao contrário de Yakuza, também não temos aqui tantas missões paralelas ou secundárias. Ou melhor, temos mas não da forma quase aleatória (e, por vezes, inconsequente) que tivemos nos jogos anteriores. Temos agora Akame que age como uma assistente de serviço que envia missões secundárias a Kazuma, tornando-as francamente mais opcionais. Ainda poderemos fazer aquelas missões “silly” características mas já não é algo imposto ou forçado, o que ajuda bastante a manter o foco na história principal, quanto a mim o principal destaque.
Em cerca de 15 horas, terão bastante tempo para abordar umas quantas destas missões mas, repito, não é obrigatório que o façam. E, sim, é um jogo bem mais curto que as vastas horas que gastei a jogar os títulos de Yakuza. Poderão achar que é uma oferta bite-size para um JRPG de acção mas, honestamente, a duração assenta bem no que pretende fazer. Se quiserem mesmo fazer tudo, inclusive aquelas actividades “rotineiras” que nos recordamos tão bem nesta série (karaoke, jogos de arcadas, etc), talvez consigam esticar um pouco mais a longevidade. Contudo, acredito que só mesmo os fãs inveterados de Kazuma o farão realmente.
Em termos técnicos, tudo é bastante familiar. Os controlos na versão analisada (PS5), são praticamente inalterados, mesmo os menus são apenas ligeiramente diferentes. Tive aqui uma sensação mista de que a produção não quis criar algo demasiado diferente mas, ao mesmo tempo, também senti que não houve um esforço real para criar algo verdadeiramente único. Sim, é um jogo inserido no meio de duas séries famosas, não podem haver aqui grandes revoluções. Aceito. A nível gráfico, está em linha com o que o Dragon Engine já nos habituou. De facto, Like a Dragon: Ishin! foi um teste ao Unreal Engine mas penso que a produção faz bem em continuar a apostar no seu motor proprietário enquanto sentir que é competente.
Veredicto
Como título que serve de ponte entre Yakuza 6 e Yakuza: Like a Dragon, Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name consegue cativar qualquer fã de longa data desta franquia bifurcada do estúdio Ryo Ga Gotoku, nem que seja por voltar os holofotes para Kazuma Kiryu. É, no entanto, uma aventura mais curta, parecendo querer agradar a veteranos e novatos na mesma medida. Ao fazer isso, até traz um pouco destes dois mundos, preparando também a futura integração de Kazuma nas aventuras de Ichiban Kazuga nos jogos seguintes. Infelizmente, tem um tom um pouco indiferente da história original, quase tornando irrelevante o final emotivo de Yakuza 6, “aligeirando” muito o passado do ex-mafioso. E esta tentativa de reescrever a personagem pode não agradar aos fãs mais conservadores.
- ProdutoraRyu Ga Gotoku
- EditoraSEGA
- Lançamento9 de Novembro 2023
- PlataformasPC, PS4, PS5, Xbox One X
- Género
Equilibrado e com boas ideias, os seus erros não o impedem de brilhar.
Mais sobre a nossa pontuação- É sempre um prazer rever Kazuma
- Boa ponte com os jogos subsequentes
- Jogabilidade "à lá" Yakuza
- Tom do jogo claramente "entre realidades"
- Alguma "irrelevância" pelo final de Yakuza 6
- Mais curto que os antecessores
Esta análise foi realizada com uma cópia adquirida pela redacção.