Análise: Little Nightmares
Tal como Limbo e Inside vieram contrariar um pouco a tendência dos jogos de plataformas, Little Nightmares consegue criar o seu próprio género com uma aventura sombria e ao mesmo tempo cativante. Uma experiência que marca, mesmo depois de terminada.
O estúdio Tarsier já conta com alguma experiência no género de plataformas. Afinal, trabalharam em títulos como a versão de LittleBig Planet para a PlayStation Vita, além de ter criado o fantástico Tearaway Unfolded. Obviamente, a produção usou toda essa experiência e talento para criar este outro jogo de plataformas, agora com um estilo artístico distinto e com um tema muito mais sério que esses seus anteriores títulos. O resultado desta sua aposta está aqui em análise.
Toda a história é bastante subjectiva, uma vez que não existem diálogos nem cenas intermédias, deixando muito espaço para a interpretação do jogador. O universo de Little Nightmares é apresentado pelo olhar de uma criança, a pequena e indefesa Six. Presa numa base submarina repleta de criaturas medonhas que usam as crianças para processar alimentos, Six precisa lutar para sobreviver e não acabar como jantar para os tais seres.
Com esta breve descrição do enredo, dá para perceber que este jogo aborda um tema mais sério e é indicado para um público mais adulto. Gostava de vos falar mais sobre a história em si mas, se os produtores deixaram à interpretação de cada jogador, nós também o vamos fazer. Não queremos estragar-vos a experiência, até porque é mesmo o enredo e suas descobertas pelo caminho que tornam este jogo tão interessante.
Cada um dos cinco capítulos tem um tema específico, desde uma fábrica, uma cozinha ou até um talho. Como já notaram, todos os cenários estão associados à produção de alimentos, com pormenores capazes de causar alguns arrepios. Curiosamente, os primeiros cenários podem ser ultrapassados em cerca de uma hora, mas com o decorrer da aventura tornam-se cada vez mais reduzidos. O capítulo final, por exemplo, demorou pouco mais de 15 minutos a ser terminado. Esta longevidade dá uma sensação de chegarmos ao fim de forma abrupta, contudo o fim é…
Bom, não quero estragar-vos a experiência.
História à parte, vamos avançar para a parte mais técnica deste título. A começar pela ambiência do jogo, há um clara inspiração nos títulos mais sombrios do género, os já mencionados Limbo e Inside. Mas, há também uma certa em inspiração vinda de LittleBig Planet, um outro título icónico em que a produção colaborou. As mecânicas são, de certa forma, semelhantes a esse outro jogo. Apesar de ser um side-scroller, os cenários têm profundidade e por vezes a câmara muda de ângulo para permitir que o “fundo” seja explorado.
A esta dinâmica de perspectiva, junta-se também a interação com os cenários e personagens e a necessidade de prever e antecipar movimentos. Contudo, há também alguns momentos modificadores da acção, como a sensação de urgência como vimos em Inside e algumas surpresas escondidas com em Limbo. Não há muito mais para inventar neste género tão único, admito. É só preciso que se implementem as ideias com qualidade e isso parece devidamente conseguido.
Six é capaz de correr, saltar, baixar, atirar objectos mais pequenos e arrastar objectos mais pesados. Na sua posse tem apenas um isqueiro que usa para iluminar zonas mais escuras do jogo. Contudo, o caminho é bastante linear e os quebra-cabeças são integrados nos próprios cenários. Apesar de não levarem o nosso intelecto ao limite, foram todos muito bem desenhados para acompanhar a fluidez do jogo. E apesar de não haver grandes ajudas para resolver estes puzzles, acabam por ser relativamente intuitivos de solucionar.
Para além dos quebra-cabeças, há ainda a tal vertente furtiva. Certamente que não quererão ser apanhados por estas criaturas que vos perseguem. Portanto, é fundamental que sejam rápidos em algumas secções e sorrateiros noutras, usando os vários elementos do cenário, como caixas e as condutas de ventilação, para se manterem longe destas criaturas esfomeadas. Basta um movimento em falso ou fora de tempo e entrarão em apuros. E não contem muito com um savegame anterior.
Ao longo da jornada, como em qualquer outro jogo, existem certos pontos para salvar o progresso, chamados de checkpoints. Contudo, neste título não existem indicativos de quando isso está a acontecer. Esta lógica deixa-nos sempre na dúvida se o jogo já salvou o nosso progresso até ao momento. Poderá até ser uma mecânica criada de propósito para aumentar a tensão mas pode tornar-se frustrante. Quando queremos fazer uma pausa ou quando queremos antecipar um passo mais arriscado, não sabemos quando foi o último checkpoint.
Todos os que quiserem aventurar-se pelo cenário, explorando-o, gostarão de saber que existem dois tipos de colecionáveis no jogo: umas estatuetas e umas pequenas criaturas chamadas “Nomes“. Encontrá-los todos irá certamente aumentar a longevidade do jogo, mas não há qualquer recompensa para tal, excepto os troféus/achievements associados que este título tem para oferecer. Procurar por estes ditos coleccionáveis também poderá condicionar a vossa movimentação, uma vez que nem todos estarão em locais facilmente acessíveis.
Além da já mencionada ambiência impressionante, graças à arte sombria do jogo, também os efeitos sonoros me surpreenderam bastante. Simulam com precisão o tipo de objecto que a Six interage e que, aliando alguns sons de fundo, ajudam a aumentar a tensão de um cenário que, por si só, já é digno de um filme de terror. A banda-sonora é raramente utilizada, mas quando surge, trouxe-me à memória canções de embalar… daquelas arrepiantes. Existem tantos pormenores no áudio que só posso recomendar que joguem com auscultadores ou um bom sistema de som envolvente. Não se vão arrepender.
Veredicto
Little Nightmares revelou-se uma grande surpresa para mim em 2017. Consegue equilibrar de forma exemplar as doses de plataformas e quebra-cabeças, com uma ambiência que gera tensão. Em pouco mais de 6 horas consegui chegar ao fim desta aventura, sim. No entanto, não fiquei de forma alguma desiludido, muito pelo contrário. A atmosfera está muito bem conseguida, está povoada por criaturas que causam desconforto e, ao mesmo tempo, é jogo cativante. Este título é ideal para quem gosta de jogos como Limbo ou Inside e ficará na vossa mente mesmo depois de o terminarem.
- ProdutoraTarsier Studios
- EditoraBandai Namco
- Lançamento28 de Abril 2017
- PlataformasPC, PS4, Xbox One
- GéneroPlataformas
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Excelente ambiência e efeitos sonoros
- História envolvente e cativante
- Puzzles bem desenhados
- Falta de indicação de checkpoints
- Longevidade dos capítulos finais
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.