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Análise – Lost in Random

Este Lost in Random representa mais uma jóia da franquia EA Originals. Tem o objetivo de nos lembrar que mesmo as menores produções podem fazer malabarismos naquele “mar de tubarões” que é o mercado de videojogos modernos.

Estamos perante um título que conta a história de Even e Odd, encenando um conto de fadas que acredito poder entrar no repertório de um tal de Tim Burton. Digo isto devido às suas cores mais sombrias e uma estética peculiar que nos faz lembrar as criações deste realizador. É acompanhado por uma jogabilidade bastante original, repetitiva a longo prazo mas, ainda assim, satisfatória no geral. A produtora responsável é a sueca Zoink Games, a mesma que nos trouxe o popular Fe. Como irão ver, conseguiu empacotar aqui uma experiência de média longevidade. Nos dias que correm, porém, nem só os longos títulos merecem a nossa atenção.

A história de Lost in Random começa num passado distante e glorioso em que Dadomastri, junto com os dados confiáveis, participaram em desafios com a sua própria vida em jogo. Foi uma era florescente que, como todas as eras, mais cedo ou mais tarde encontrou o seu fim abrupto. Então, surgiu uma rainha cruel, cuja vontade se estende por todos os seus reinos. Na sua lei, todas as crianças que completarem doze anos são forçadas a lançar um misterioso dado preto do qual o seu futuro irá depender. O número do dado irá indicar o reino onde cada criança será forçada a passar o resto da sua vida, possivelmente separada dos seus entes queridos

No rigor, ninguém se pode opor a esta injusta lei. Excepto as irmãs Even e Odd, claro. No dia fatídico para Odd, a completar 12 anos, as duas tentam-se esconder com a ajuda dos pais. Infelizmente, mesmo depois das suas tentativas de escapar, é capturada e o seu destino é decidido. Um ano depois, Even, que nunca parou de pensar na irmã, é visitada por um fantasma que a guia para uma jornada inesquecível empreendida para salvar Odd. Ao longo do seu caminho, Even conhece Dicey, um pequeno dado animado que se tornará o seu companheiro inseparável. Juntos irão cruzar todos os reinos para reunir as irmãs e acabar com o domínio da cruel rainha.

Lost in Random é um conto de fadas muito sombrio que, como já mencionei, se assemelha muito às obras de Tim Burton e, em particular, The Nightmare Before Christmas, da qual acho que também se aproxima na sua estética peculiar. A jornada de Even e Dicey é cheia de charme e mistério, caracterizada por personagens bizarras e (por isso mesmo) memoráveis. Há perigos de todos os tipos e momentos de emoção. O ritmo do jogo continua sem nenhuma desaceleração em particular, mesmo se se dedicarem a completar todas as missões secundárias.

Só os combates, um dos aspectos mais originais do jogo, é que se tornam algo repetitivos e redundantes a longo prazo. No entanto, a curiosidade para saber como os acontecimentos se vão desenrolar prevalece e ultrapassa essa pequena lacuna. Por outro lado, o jogo consegue dosear muito bem as duas principais componentes, a exploração e o esses combates. Cada reino é um novo mundo a ser explorado, tanto para angariar moedas e outros coleccionáveis, como para oferecer a nossa ajuda a qualquer cidadão em apuros. Por esse motivo, na realidade, entusiasma.

Também ajuda bastante à diversidade que cada reino, de Onecroft a Sixtopia, seja tão peculiar. Two-Town, por exemplo, é um lugar de dualidades e personalidades divididas, em que os humores mudam diariamente com o lançamento dos dados da Rainha. Em Threedom há uma guerra constante entre três irmãos, onde é realizado um movimento de cada vez com base no lançamento do tal temível dado preto. Todos estes reinos, no entanto, estão de alguma forma sob domínio da rainha e Even também irá tentar restaurar o mínimo de paz entre os cidadãos de cada reino.

Quando não estivermos ocupados a explorar os mapas para arrecadar dinheiro, ajudar os necessitados ou encontrar páginas de um livro que, na verdade, irá explicar com mais detalhe a história, estaremos a lutar contra os exércitos da rainha. Estes, claro, tentam de todas as formas interromper a nossa jornada. Uma criança contra soldados não tem chance e, de facto, mesmo sozinha e armada com uma simples fisga, Even não é grande ameaça. São nestes momentos que os poderes de Dicey nos permitem utilizar cartas mágicas que irão constituir a verdadeira força de Even.

O sistema de combate gira em torno de uma colaboração mútua entre os dois, mas é baseada, sobretudo, numa lógica de acaso. Dos inimigos, podemos apanhar cristais necessários para carregar a energia dos dados e, quando o baralho de cartas estiver pronto, jogar uma delas para o combate real. A partir do resultado obtido, das cartas do baralho e do sorteio de cada mão, temos de adaptar a nossa estratégia para aproveitar ao máximo os pontos disponíveis. Pode até acontecer termos uma mão azarada, o que nos obriga a apanhar mais cristais e tentar uma segunda vez.

Graças a este estratagema, os confrontos nunca são previsíveis, porque vão depender totalmente da nossa sorte (e da forma como o baralho é composto). Mas, apesar da sua imprevisibilidade, a longo prazo vão dar lugar a uma certa irrelevância, principalmente devido ao facto da quantidade de cartas disponíveis nunca ser realmente importante. Esta redundância na lógica de combate não tem propriamente a ver com a mecânica em si, mas com uma certa falta de balanceamento.

O baralho pode conter o máximo de quinze cartas e a mesma carta pode ser colocada várias vezes. Podemos ganhar as cartas ao completar desafios, mas também é possível obtê-las em troca de moedas. Ao gastar uma determinada quantia de moedas, é possível escolher um dos grupos de cartas disponíveis. O seu conteúdo é aleatório, claro, mas podemos ter cartas de perigo para usar armadilhas em inimigos ou cartas de armas para usar força bruta. A experiência até é satisfatória, embora não seja particularmente exigente. Consiste em ter pelo menos uma carta para causar danos aos inimigos, o resto é construído com o tempo e com sorte nas cartas certas. Com esta premissa, não interessa quão grande ou diversificado é o baralho.

Veredicto

Lost in Random é um jogo muito interessante, construído em torno de um conceito original, nunca perdendo a sua fórmula, para o bem e para o mal. A história criada pela Zoink é divertida, com influências familiares e um final agridoce bem ao estilo artístico em que se baseia. As lutas, porém, embora imprevisíveis na forma como vamos enfrentá-las, a longo prazo dão lugar à repetição e mesmo à redundância. O que é pena, porque gostei de tudo o resto, num pequeno jogo com imensa ambição de ser grande.

  • ProdutoraZoink Games
  • EditoraElectronic Arts
  • Lançamento10 de Setembro 2021
  • PlataformasPC, PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series X|S
  • GéneroAcção, Aventura
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Lutas tornam-se repetitivas e redundantes
  • A lógica das cartas de jogo

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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