João Pinto, Publicado a 23 de Setembro 2021Comentários
Agora que a série Yakuza tem um rumo tão peculiarmente diferente, resta-nos esta (agora) série Judgment para reaver aquela fórmula de acção directa que tanto gostamos. Não é que, tanto o original como esta sequela Lost Judgement, sejam meras cópias. O Ryu Ga Gotoku Studio está empenhado em honrar muito bem o conceito de “Spin-Off”.
Isto significa que também este jogo segue a mesma lógica de um jogo de investigação, com elementos de role play e de combate directo. O que nos leva novamente ao estilo de jogo que nos deu a conhecer Kazuma Kiryu e companhia. O mais recente Yakuza: Like a Dragon tem um protagonista bem mais irreverente, um tom mais alegre, uma acção e combates não-lineares e uma acção, quanto a mim, demasiado “over-the-top”. Lost Judgement é um jogo mais sombrio, mais visceral e bem mais humano e sereno. Ou seja, estea é uma espécie “Yakuza disfarçado”, agora no outro lado da lei. E ainda bem. É que o novo rumo da série-base não é consensual entre os fãs e esta franquia parece ser, essa sim, bem mais ao gosto dos veteranos. E ainda bem que a sequela capitaliza nos pontos positivos.
Em Dezembro deste ano (sem fazer futurologia, espero eu), é encontrado um misterioso cadáver em Yokohama. Uma vez mais, o detective privado Takayuki Yagami é chamado a investigar o que aconteceu a pedido do advogado Saori Shirosaki. Parece que o infame Akihiro Ehara, recentemente acusado de assédio sexual, poderá estar envolvido. Obviamente, a investigação não será fácil e o protagonista terá de se envolver tanto no caso, que é bem possível que se divida entre defender a lei ou fazer justiça pelas próprias mãos. Pelo meio, o herói regressará à famosa Kamurocho, encontrando várias personagens e histórias relacionadas ou paralelas.
É um feito conseguir que uma série “spin-off” tenha uma história interessante e recompensadora. De facto, o meu contacto com o primeiro jogo foi de boa surpresa, porque tínhamos ali um produto original, com pernas para ser independente, mantendo alguns dos ingredientes que nos são familiares e que não queríamos perder. O protagonista, no entanto, é uma personagem mais sóbria, num foco maior na investigação. As personagens com que se cruza possuem uma riqueza substancial na sua construção e nos diálogos intensos. Temos qualidade garantida de narrativa e diálogos. Assim sendo, se tenciona manter o ADN de uma forma ou de outra, não me importo que a SEGA “jogue” com os destinos das suas franquias.
O principal trunfo deste jogo é que não se perde a repetir-se ou a forçar eventos para nos obrigar a algo. Nem sequer se foca sempre sempre no mesmo assunto, uma vez que há inúmeras missões paralelas e não relacionadas com a história principal. Há pequenas tarefas e investigações que são quase um passatempo, enquanto pausamos as investigações de conspiração de grande escala. E depois temos as várias actividades que estas duas séries sempre nos deram como opção. Aliás, noto que há aqui mais interesse em humanizar Yagami, tornando-o menos taciturno e mais aberto. O mesmo acontece com os momentos cómicos, bem mais frequentes nesta sequela.
Aliás, dos melhores elementos deste jogo é mesmo a sua lógica de mundo aberto à exploração. Sempre houve neste estúdio um forte foco no detalhe e no realismo dos cenários e Kamurocho está exactamente como a queremos, viva, cheia de pessoas, objectos e locais de interesse. Yokohama é também um local extraordinariamente interessante para explorar. Há tanto para fazer aqui que nos podemos perder de tudo o resto, ignorando mesmo o enredo. E, sim, temos “jogos para jogar dentro do jogo”, com máquinas de arcada para jogar títulos clássicos da SEGA como Super Hang-on, Space Harrier, Virtua Fighter entre vários outros.
Em termos de jogabilidade, confesso, não há aqui algo que possa dizer ser verdadeiramente uma novidade. Parece-me tudo semelhante, mesmo que se note, aqui e ali, um refinamento em algumas mecânicas, algumas ligeiras modificações na passada geral do jogo, especialmente naquelas actividades que se focam no timing certo, como as perseguições, por vezes frustrantes no primeiro jogo. É como se a produção não quisesse mexer muito na “equipa ganhadora”, dando-lhe apenas uns quantos refinamentos onde é realmente necessário. Quando assim é, geralmente, resulta num jogo sólido, mesmo que muitos digam que é “mais do mesmo”.
Os combates, aqui novamente lineares como os primeiros Yakuza, são igualmente recompensadores e, por vezes, brutais. Podemos não voltar a ter cenas de pancadaria avulsa como nesses clássicos, mas teremos sempre o seu combate mais directo como tivemos no anterior Judgement. Estamos perante uma lógica de simplicidade num estilo muito “arcade”, o que faz com que os combates sejam fáceis de dominar, independentemente do desafio dos níveis mais altos de dificuldade. Temos novamente uma lógica de posturas, adequadas a grupos, “mano-a-mano” ou contra inimigos armados, correspondendo a estilos de artes marciais. Simples e “directo ao assunto”.
É só mesmo nestes combates que o jogo se descola um pouco do seu tom mais sóbrio, dando-nos golpes cheios de efeitos visuais, bem ao estilo de uma qualquer série Anime. Há também sequências coreografadas, como usando o ambiente durantes os combates, por exemplo enviado alguém contra uma parede. Estas funcionam bem na passada dos combates, tornando-os também algo “cinematográficos”. Ainda assim, acho que nada é realmente exagerado ou tão “carnavalesco” como em Like a Dragon. E isto, certamente, irá alegrar os que procuram um jogo mais “terreno”.
Tive a oportunidade de testar este jogo numa Xbox Series X e devo dizer que há também aqui um upgrade visual de assinalar. Já nem falo das faces das personagens recriadas com rigor dos actores reais que lhes dão vida. Falo também no detalhe de cada objecto, nas animações e efeitos visuais. Achei Judgement um jogo visualmente brilhante, este parece-me ainda melhor. Gostei bastante dos tempos de carregamento rápidos, graças ao hardware mais potente da consola e também de poder jogar a história com as vozes dos actores originais em Japonês ou dobradas em Inglês. Tecnicamente, de facto, é um jogo bem polido.
Veredicto
Como na franquia Yakuza, de onde parte como uma ramificação de conceito, Lost Judgement tem um lugar especial aqui na redacção. Reforça o que o primeiro jogo sempre quis evidenciar enquanto “spin-off”, garantindo um ADN próprio mas não descorando a devida familiaridade. Não há aqui grandes novidades enquanto sequela, confesso. Ainda assim, amplia toda a boa oferta e dá-lhe um ar ainda mais refinado. Pode não ser indicado a todas as audiências mas quem gosta destes jogos do Ryu Ga Gotoku Studio não ficará, de forma alguma, desapontado.
ProdutoraRyu Ga Gotoku Studio
EditoraSEGA
Lançamento20 de Setembro 2021
PlataformasPS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S
GéneroAcção, Aventura
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Sem pontuação
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.