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Análise – Mafia II: Definitive Edition

Inserido no pacote de reedição Mafia: Trilogy, o original foi, sem dúvida o título de maior sucesso desta franquia. Mafia II: Definitive Edition é o regresso de um clássico que merecia mesmo uma revisita. Mas, moderem as vossas esperanças neste regresso.

Entendo perfeitamente o intuito desta trilogia por parte da 2K Games, da Hangar 13 e da DT3, esta última responsável pela recriação técnica do jogo no hardware moderno. Fazer renascer esta série de tanta qualidade narrativa é uma boa ideia. Agora, não sei se esta táctica de três polimentos diferentes aos jogos funcionará como o pretendido. Sendo mais moderno e optimizado já para esta geração, o terceiro jogo tem praticamente o mesmo aspecto do lançamento original, com muito poucas novidades. O primeiro título, esse, é um autêntico remake, profundamente modernizado e é por isso que está a demorar mais que os outros dois, sendo lançado mais tarde. Agora, este Mafia II é suposto ser uma remasterização mais comedida, sem mexer muito na base do jogo. Se o objectivo era criar três jogos equivalentes e modernos, como irão ver, esta estratégia a três tempos, até agora, não correu bem.

Como os próprios títulos dos jogos indicam, esta série mergulha no mundo do crime organizado da Máfia Americana, com fortes raízes em clássicos modernos, como “O Padrinho” e tantos outros. Acompanhamos as desventuras de Vito Scaletta, começando pelo seu primeiro contacto com a Máfia, em plena Segunda Guerra Mundial na Sicília. Ora, a “Cosa Nostra” cedo reconhece o valor de Vito e recruta-o para as suas fileiras na cidade fictícia de Empire Bay. O que se segue é uma história de intriga, corrupção, violência e muito inglês com sotaque italiano, como não podia deixar de ser. Não vou aprofundar mais nada neste enredo, até porque merece ser seguido, mesmo com todos os seus clichés e desenlaces duvidosos. Como já disse, é um autêntico clássico de culto.

Apenas como ponto de partida, o jogo original foi lançado na PlayStation 3, Xbox 360 e no PC em 2010. Nessa altura, o grande GTA IV tinha dado o mote para este tipo de jogabilidade em mundo aberto, com uma forte história por detrás. De facto, as influências de GTA são omnipresentes em várias partes deste jogo, inclusive na condução, interacção com os transeuntes, tiroteios, entre outras. Na altura, Mafia II foi descrito como um “GTA nos anos 40/50”, algo injusto mas compreensível. Curiosamente, a Rockstar haveria de “responder” no ano seguinte com o impressionante L.A. Noire, também um jogo de mundo aberto, com condução e passado nos anos 40/50, embora com um foco narrativo diferente.

10 anos depois, surge esta remasterização. Como edição definitiva, diga-se, cumpre o objectivo. Este jogo apresenta-se como uma revitalização técnica para o hardware moderno da PlayStation 4, Xbox One e também do PC (já lá vamos). Traz consigo as três expansões lançadas originalmente (The Betrayal of Jimmy, Jimmy’s Vendetta e Joe’s Adventures) e mantém todo o material original do jogo intacto, inclusive a história e as suas personagens. O que é sempre esperado de uma reedição de remasterização, eu sei. Mas, já vimos outros jogos voltarem com alterações no enredo, por causa de assuntos “delicados”. E é bom ver que a Hangar 13 manteve o conteúdo, sobretudo porque este não é um jogo lá muito “politicamente correcto”.

Contudo, sempre que falamos numa reedição deste calibre, também é uma “norma” que o grafismo seja revisto e cuidado para que não acuse (muito) o peso da idade. Já ficou claro que este título em particular não é um remake. Como remasterização, o que é prometido é uma revisão nas texturas, efeitos visuais, modelos, animações, resolução e performance geral. No entanto, infelizmente, a par do trabalho cuidado da Hangar 13 de trazer a história de volta devidamente intacta, o trabalho de polimento da D3T não foi o melhor. Se vasculharem a internet, vão encontrar inúmeras críticas às versões de consola, sobretudo a da PlayStation 4 Pro. Contudo, fiz esta análise no PC e devo informar que, apesar de não serem tão negativas, as prestações também não são as melhores.

A minha experiência inicial com o jogo começou por começar a jogar e imediatamente passar pelo menu para confirmar as opções gráficas possíveis. Para meu espanto, porém, as opções máximas já estavam seleccionadas, provavelmente através de uma detecção automática. Voltei ao jogo e, confesso, fiquei apreensivo. Apeteceu-me mesmo reinstalar o original Mafia II de 2010 para compará-lo directamente com este. Convenhamos que não posso ser muito drástico. O termo “remasterização” é muito vago nesta Indústria, podendo ser alterações profundas mas também meras melhorias cosméticas pontuais. Mas, aqui, o trabalho de polimento é desajustado, “puxando” de um lado e “arrastando” de outro.

Não havia mal nenhum manter os modelos e texturas originais, desde que fossem polidos para os padrões modernos. Aumentar apenas as resolução sem ajustar a definição das texturas ou dando-lhes apenas um filtro mais ou menos suave não funciona. E não tentem ver de perto personagens de fundo, como os transeuntes, por exemplo. O resultado chega a ser atroz, com personagens e objectos francamente “retro”, mas com um estranho polimento “apressado”. Depois, são as animações, por vezes toscas, com mau sincronismo de lábios e diversos erros de continuidade. Há também rácios de fotogramas oscilantes, mesmo colocando ou tirando limites de fps. Parece que isto é ainda mais flagrante nas consolas, bloqueados aos 30fps.

Continuando com essas questões técnicas, o som não foi alvo de nenhum trabalho de remasterização, digam lá o que disserem. A banda-sonora talvez seja realmente recuperada, mas a qualidade do som das vozes nos diálogos é claramente inferior ao desejável. Não sei se a produção não teve acesso ao material de gravação original ou se simplesmente o áudio dos diálogos não foi contemplado para ser alvo de uma remasterização. Seja como for, é claramente mais uma lacuna neste jogo.

Noutros lados, os controlos também não foram revistos, tendo alguns problemas de detecção de posição para interagir com os objectos, algumas opções mais “arcaicas” de teclas/botões e que podiam ser também revistas numa modernização. Não é um jogo muito antigo, mas desde 2010 os padrões de controlos mudaram e há opções que já não são muito ergonómicas, como o falível sistema de cobertura. Porque não modernizar os controlos e a interacção para coincidir com Mafia III? Oportunidade perdida, quanto a mim.

E depois… os bugs… Já falei como há muitas falhas na interacção de objectos, mas o mesmo acontece com personagens. Efeitos especiais como os de iluminação ou explosões causam “glitches” estranhos na imagem, há erros na detecção de colisões, com personagens a teleportar-se pelo mapa… enfim, tudo erros que, estou certo, uma bateria de testes identificariam. Sem dúvida que estas são coisas passíveis de serem resolvidas e até nem são muito frequentes. Ainda assim, acontecem e acho que este jogo não o merecia.

Veredicto

É um dos jogos que sempre apontei como um bom exemplo de uma boa história, embebida numa jogabilidade interessante. Um clássico intemporal que só merecia uma revisita digna. Infelizmente, Mafia II: Definitive Edition apenas consegue fazer uma apressada operação de cosmética, quase estragando o grande jogo que se esconde por baixo. É possível resolver a maioria dos bugs e erros que encontrei e também é possível polir uma boa parte das questões de conceito que enuncio. O que não é aceitável que “isto” seja um jogo lançado de um grande clássico que reservamos como um dos melhores no seu género. É por causa de maus exemplos destes que, por vezes, é melhor não remasterizar nada.

  • ProdutoraHangar 13 / D3T
  • Editora2K Games
  • Lançamento19 de Maio 2020
  • PlataformasPC, PS4 Pro, Xbox One X
  • GéneroAcção
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Imensos bugs e erros
  • Mau trabalho de modernização
  • Precisava de uma revisão de controlos
  • Áudio das vozes

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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