Análise – Maneater
Quem será o maior predador? Um hábil caçador dos mares, absolutamente impiedoso, engenhoso, teimoso, astuto e que usa a sua força bruta para aniquilar qualquer presa que lhe faça frente? Ou um tubarão. A eterna guerra aberta entre estes seres em perigo de extinção e o ser humano é o cerne de Maneater.
Este jogo pertence a um género popular, mas arrisco dizer que é bem provável que nunca tenham jogado nada assim. A produção da Tripwire Interactive e Blindside Interactive, descrevem-no, com algum humor, como um “ShaRkPG”, ou seja, um Role Play Game de um Tubarão. Este é, contudo, um título bastante linear de acção com elementos RPG, mas com um formato francamente fora do comum. Não é inédito que joguemos na pele de algum animal, numa jogabilidade mais ou menos realista. O que é inédito que tomemos o papel de um eterno “vilão”, numa inversão de papel. Aqui, os humanos não são as vítimas, pelo contrário. E a história pode parecer tantas vezes cómica, mas conta uma trama francamente trágica e que dá que pensar.
A história da personagem não podia ser mais trágica. Ainda antes de nascer, um pequeno tubarão-fêmea é pescado inadvertidamente no ventre da sua mãe. Nos seus primeiros segundos de nascença, vê a sua mãe ser barbaramente assassinada e ainda fica com lesões que a acompanharão para o resto da vida. Quem provoca estas lesões, tanto físicas como emocionais, é Scaly Pete, um famoso pescador de tubarões. E a sua sentença é fixada logo ali, com a sua mão decepada a servir de prova que este pequeno tubarão, um dia, terá a sua vingança. O que se segue é uma história de sobrevivência, infâmia e atitude.
A ideia é que um Tubarão-Touro é um dos mais temíveis predadores de rios e oceanos, mas precisa crescer em tamanho e experiência se espera sobreviver aos desafios, sobretudo se o objectivo de vida é caçar um dos pescadores mais temíveis. A história irá desenvolver-se com cenas intermédias em jeito de documentário sobre a vida dos dois rivais. E, lá pelo meio, os dois protagonistas vão-se cruzando, com golpes para cada lado, criando um desfecho algo, diria, agri-doce. No final, tornamo-nos num enorme Megalodon, um ser pré-histórico, julgado extinto e que pertencente já à mitologia dos sete mares.
Mas, antes do grande confronto, o nosso pequeno tubarão precisa provar que merece o seu lugar como predador no topo da cadeia-alimentar. Inicialmente, as principais ameaças estão debaixo do mar. E não são apenas os outros tubarões de várias espécies, aligátores, barracudas, lulas gigantes, baleias assassinas ou peixes-espada que desafiam o jovem tubarão. Numa nota um tanto “activista”, o jogo vai passando revista à degradação de habitats, resultantes da expansão de presença e actividade dos humanos à superfície. Desde os poluídos pântanos aos destinos turísticos cheios de lixo urbano, a mensagem é clara.
Eventualmente, o nosso tubarão tem de combater. Para isso, terá de usar três das suas maiores armas: as suas mandíbulas poderosas, a sua resiliência e a sua astúcia. Estas três componentes são distribuídas por habilidades que podemos evoluir. Estas alterações genéticas são justificadas pela adaptação do nosso tubarão à sua realidade. A primeira habilidade evolutiva é uma espécie de eco-localização, tipo sonar. Contudo, poderemos evoluir componentes do corpo, mandíbulas e barbatanas para ganhar a capacidade de electrificar os ataques ou de ganhar resistência na defesa. E crescer em tamanho, claro.
Angariamos evoluções genéticas que ganhamos em missões ou tarefas, que nos dão capacidades únicas e também ataques especiais. Por exemplo, por derrotar um predador de elevada capacidade, desbloqueamos mandíbulas com choques eléctricos para atordoar adversários. Algumas das evoluções também nos conferem golpes especiais, como um que nos permite activar um escudo ósseo para resistir a danos por tempo limitado. E todas estas evoluções podem ser melhoradas, evoluindo em nível de raridade com cores. Não sei se o objectivo da produção era que estas evoluções fossem originalmente angariadas por derrotar adversários, estilo “loot”. Assim como está, este esquema de raridade com cores parece um tanto redundante.
Na verdade, evoluímos com recurso a itens coleccionáveis (proteínas, gorduras, minerais e “mutagénios”) que ganhamos por atacar e devorar outros seres, terminando tarefas ou encontrando caixas escondidas pelo mapa. E o resultado destas evoluções não são apenas ataques e movimentos mais rápidos ou mais destrutivos. São também cosméticos. Cada colecção de peças de evolução dá um aspecto completamente diferente ao nosso tubarão. E quando completarem a colecção do escudo ósseo, por exemplo, o predador fica parecido a uma autêntico tanque hidrodinâmico. E, acreditem, vão precisar desse reforço.
No que toca à acção propriamente dita, este é um jogo de alguma exploração, com áreas para descobrir e encontrar alguns segredos, bastantes missões de pura caça de outros seres marinhos, algumas missões de desafio com adversários mais evoluídos e, claro, desafiando os caçadores de tubarões. A ideia é criar infâmia, caçando humanos e atraindo os caçadores para os humilhar e matar. Eventualmente, chegará um de 10 caçadores proeminentes que agem como bosses. Nessa cadeia de evolução no combate, o que muda é o tamanho da caçada, itens e armas usados pelos humanos e, claro a sua resistência aos nossos ataques.
Mas, não pensem que apenas nadamos e mordemos avulsamente. Também o fazemos, claro. Contudo, na nossa evolução, começamos a poder dar grandes saltos fora de água, podendo mesmo andar por terra ou atacar pelo ar, por cima dos incautos. Também podemos dar coices com a forte barbatana e, dependendo da evolução, ainda teremos ataques especiais para ajudar. Mais perto do final, este combate torna-se francamente desafiante, obrigando-nos a uma táctica mais precisa, alternando entre ataques rápidos aos adversários e uma incursão por cardumes para angariar forças. As baleias assassinas, por exemplo, são terríveis de combater e livrem-se de as misturar com outros predadores.
Falando do aspecto técnico, Maneater é um título bastante interessante. Alia uma cuidada recriação do fundo dos mares, com os tais elementos de poluição, ruínas e outras estruturas que lhe conferem um aspecto estranhamente belo. Seria de esperar que o fundo do mar fosse um tanto desprovido de detalhes, mas há muita coisa para descobrir e imensa fauna e flora para enriquecer o ambiente. De um modo geral, o jogo tem momentos muito bem desenhados, com animações e efeitos visuais cumpridores. Não é verdadeiramente surpreendente, mas consegue deslumbrar em certos momentos. E há espaço para muita caricatura e design mais humorístico, sobretudo no lado dos humanos, até para se enquadrar com o tom meio descontraído do jogo.
E é aqui que tenho algumas reticências. Não são críticas ao design de jogo ou às opções de jogabilidade propriamente ditas. São apenas algumas questões que levanto com esse tom descontraído que menciono acima. Há momentos francamente cómicos, outros incrivelmente trágicos e até desconcertantes. Parece que a produção criou dois jogos distintos, um mais cómico e outro mais terrífico e depois juntou-os num só. O narrador do programa fictício “Maneaters Vs Sharkhunters” é uma clara sátira aos programas sensacionalistas da chamada “Shark Week“. Mas, depois, é capaz de dissertar na triste realidade dos tubarões em vias de extinção… enfim, a mensagem, que é bastante séria, perde força em algumas piadas fáceis ou momentos cómicos.
Veredicto
Se alguma vez, como eu, ficaram fascinados com a aerodinâmica, voracidade e destreza dos tubarões, apreciarão a oportunidade que Maneater nos dá de personificar este temível predador. O jogo dá-nos diversos elementos RPG na jogabilidade para o tornar entusiasmante, dando-nos também um competente sistema de combate e de evolução de habilidades, que também acompanham a dificuldade crescente. A única ressalva que deixo no ar é relacionada com o tom menos consistente. Por um lado é um jogo cómico de acção em que um tubarão anda por terra a devorar humanos, por outro é um título sombrio de vingança e de mensagens profundas. Entendam-se aí na produção…
- ProdutoraTripwire Interactive, Blindside Interactive,
- EditoraTripwire Interactive/ Deep Silver
- Lançamento22 de Maio 2020
- PlataformasPC, PS4, Xbox One
- GéneroRole Playing Game
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Visualmente cuidado e detalhado
- Combate pode ser entusiasmante e desafiante
- Bons elementos RPG
- Tom da história é inconsistente
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.