Análise – Mario & Luigi: Brothership
A mais famosa dupla de canalizadores está de volta, com mais uma aventura em que a Nintendo parece estar numa “velocidade cruzeiro” a nível criativo. Mario & Luigi: Brothership está disponível para a Nintendo Switch.
A dado momento, pensamos sempre que tudo ou quase tudo que a Nintendo debita na série Mario é um sucesso, independentemente do empenho em criar algo marcante. Tivemos óptimos jogos recentes, encabeçados pelo magnífico Super Mario Bros. Wonder, que é capaz de ser um dos melhores títulos de sempre nesta série. Contudo, também tivemos alguns desaires nesta franquia, jogos pouco interessantes ou algo repetitivos que nem sempre souberam cativar a crítica ou, pior ainda, aliciar os jogadores. De facto, a marca Super Mario é tão prolífica, que a Nintendo se pode dar ao luxo de lançar mais que um jogo por ano, independentemente serem sucessos ou não. Mas, honestamente, jogos como o de hoje deixa-nos apreensivos, porque parece que a Nintendo já só lança jogos para manter Mario “relevante”.
O timing de lançamento deste título não é, de facto, o melhor. Por um lado, sim, é mais um potencial best-seller a chegar durante este período crítico de lançamentos adiante das festividades, claramente um engodo para continuar a vender. Ainda assim, estamos numa altura de decréscimo de vendas gerais, também em vias de mudar de plataforma. Por outro lado, quem não é fã de Super Mario fica meio perdido entre tantos lançamentos recentes nos últimos meses e anos, chegando à prateleira da loja sem saber muito bem qual o jogo que realmente merece atenção. Ainda não estamos a falar de saturação da marca Super Mario, mas olhem que estamos muito perto disso.
Outra questão importante é que esta é uma nova era para esta sub-série de Super Mario, já que a produtora original AlphaDream foi encerrada em 2019, deixando este mais recente título nas mãos da Acquire. Embora esta produtora Japonesa já tenha um histórico bem vasto, no que toca ao seu portfólio para a Nintendo e em particular para a Nintendo Switch, conta apenas com alguns trabalhos importantes de co-produção, incluindo a série Octopath Traveller mas, na sua maioria, os títulos que produziu foram sempre algo humildes e sem grande destaque. A Nintendo confiou nesta produtora com um jogo da sua principal série, ainda assim.
Talvez por causa dessa falta de experiência a explorar grandes IPs, a grande questão aqui tem a ver com a passada do jogo. Nem é realmente uma questão de jogabilidade ou de visual, dois elementos que a Nintendo jamais deixaria em mãos alheias e onde deverá ter sempre um grande papel de supervisão. Brothership era um jogo que ficaria muito contente se durasse um punhado de horas para terminar, porque, realmente, quando arranca e jogamos as primeiras horas, parece ser um óptimo título. Contudo, quando percebemos que depois dessa introdução já sabemos tudo sobre o jogo e que essa fórmula é para repetir até à exaustão, percebemos que a produtora não teve grandes planos a longo prazo para entregar algo memorável.
Esta escassez de criatividade, começa a sentir-se logo no enredo. Uma vez mais, a premissa é que toda as personagens conhecidas do Reino do Cogumelo desaparecem para um outro local, neste caso por causa de um portal que Mario e Luigi geram sem querer, que leva toda a gente para um novo reino chamado de Concordia. Obviamente, cabe a Mario e Luigi repor a normalidade, recuperando os seus amigos, ao mesmo tempo que vão explorar este novo mundo. Acontece que Concordia era um continente unido pelo poder da Uni-Tree e algo aconteceu a esse poder que fez com que as suas regiões se isolassem em ilhas afastadas. A ideia é restaurar a união destas regiões entre si usando um tal de Connectar emanado de grandes faróis.
A história irá desenvolver muito pouco daqui em diante, terminando, obviamente, com a derrota de uma nova vilã, com Concordia restaurada e com as personagens devolvidas à origem. No fundo, se lerem bem nas entrelinhas, esta é uma história que visa deixar uma mensagem contra o isolamento e a reclusão, enaltecendo o poder da irmandade e da amizade como elementos de união e enaltecimento. No seu rigor, é uma boa mensagem, profunda até, mas que só se consegue mesmo entender lá mais para o final do jogo, sendo esticada além do razoável para ser suficientemente coerente. Não há nada de errado neste enredo, apenas demora demais e, com isso, deixa-nos um pouco sem interesse nele.
Não podemos esperar que todos os jogos sejam marcos inspirados, inovações técnicas significativas ou, simplesmente, novos ícones de uma franquia. Mario & Luigi: Brothership tem um enredo suficiente, embora mediano, que pretende simplesmente recordar-nos que esta dupla existe, possui uma excelente dinâmica entre si e cria óptimos jogos em que, se calhar, a história é só um acessório. Por momentos, somos até contagiados pelo tom energético do jogo e devoramos cada minuto com aquele que parece, realmente, ser um dos melhores jogos da franquia, talvez um dos melhores RPGs jamais feitos. Contudo, quando se desenvolve, descobrimos outra realidade.
Se quiserem perceber o teor deste jogo, pensem em Final Fantasy mas com as personages e arte da série Super Mario. Não há como fugir à influência do “rei” dos JRPGs, embora seja um pouco injusto pensar num mero “plágio”, dado que esta outra franquia existe há anos ganhando o seu lugar específico. Há imensos elementos próprios, como o tom ligeiro e muito humorístico de tudo, até mesmo nos nomes cómicos de alguns locais e personagens. De facto, é aqui que residem alguns dos elementos que nos cativaram nos clássicos e que parecem de volta no arranque da narrativa e até na jogabilidade. Infelizmente, esse deslumbre acaba bem cedo quando inevitavelmente entramos no seu “ritmo”.
A ideia é passar umas dezenas de minutos em cada região, perceber os seus problemas, resolvê-los e depois unir a ilha à Uni-Tree e prosseguir até à próxima. E é só isto, realmente. Nada é realmente memorável neste esquema, também porque a história, lá está, se arrasta tanto para chegar até ao final. Até mesmo a construção de personagens é algo superficial, diria mesmo descartável. Também não esperava muito mais de uma franquia algo juvenil mas este é um RPG que, supostamente, deveria envolver-nos muito mais na trama e nas vidas das personagens. Enfim, resta-nos esperar que o combate seja mais interessante.
Como nos RPGs clássicos desta sub-série, lá temos os míticos combates por turnos, que envolvem escolher golpes e movimentos específicos e incluem combos no timing certo. A dupla de heróis possui ataques em conjunto que podem ser devastadores, quase sempre envolvendo uma espécie de “Quick Time Events” para alguns deles. O mesmo acontece com desvios ou defesas dos ataques dos inimigos. De um modo geral, é uma fórmula quase intacta dos jogos anteriores e que, convenhamos, era impossível a produção não conseguir entregar. A única novidade são as novas “plugs” que poderão gerar modificadores interessantes mediante um cool-down e que só aparecem lá mais para a frente. De resto, se gostaram dos combates desta série, já sabem o que vão ter aqui.
Infelizmente, até mesmo neste combate tão divertido, o jogo demora muito a entregar todo o seu potencial. É bem possível que, por mais que gostem destas mecânicas, se aborreçam facilmente pela repetição de encontros com inimigos e até os evitarão um pouco por falta de paciência. Os que não podem evitar, obviamente, são os bosses que realmente entusiasmam pela complexidade e pelas estratégias que teremos de usar. No meio dos embates, Luigi tem também umas novas mecânicas para fazer umas tarefas paralelas, o que aumenta a componente táctica destes confrontos. É mesmo com estes bosses que o combate brilha, só tenho pena que sejam poucos e tão espaçados.
Talvez porque o combate é mesmo um dos melhores elementos do jogo, a produção explorou-o até à exaustão. Isto nota-se bastante porque, fora dos confrontos, o jogo dá muito pouco para fazer. É quase um “walking simulator” a procurar moedas e blocos, por vezes em plataformas que exigem alguma perícia para atingir. Depois, temos missões secundárias dadas por NPCs, que não são assim muito profundas, envolvendo na maioria dos casos, alguma tarefa de reunir alguém ou encontrar algo para outra pessoa, tendo também uns puzzles muito simples para resolver. Dei por mim a buscar apenas as missões principais, tal não foi a irrelevância do conteúdo paralelo.
Se tiverem a ideia que esta pode ser apenas uma tentativa de “preencher” o jogo com conteúdo descartável, não estão sozinhos. Notarão que a nossa ilha/barco se move muito lentamente até aos objectivos e fica bem claro que a intenção é que andemos a fazer missões avulsas até lá chegar. Felizmente, dá para activar no menu um modo em que a ilha/barco navega muito mais depressa, talvez porque a produção concluiu que a sua mecânica não era assim muito positiva em termos de passada. Com tão pouco interesse em fazer mais, resta-nos tentar “cortar caminho” o mais possível.
Por fim, o visual. Já lá vai o tempo dos jogos em 2D e estamos muito (mal) habituados a algumas “maravilhas” técnicas que Nintendo conseguiu com o hardware tão limitado da Nintendo Switch. Realmente, este Brothership usa muito bem esses alcances técnicos recentes, para nos dar um grafismo muito bem conseguido e visualmente polido, conseguindo ainda alguns efeitos nostálgicos, com uma arte estilo “cel-shading” muito bem conseguida. A mesma qualidade é encontrada nas várias animações e efeitos visuais que gostei imenso, dando óptimo aspecto ao jogo, mesmo jogando no modo portátil.
Infelizmente, no plano sonoro as coisas não são assim tão brilhantes. A banda-sonora é óptima e bem ajustada ao tipo e tom de jogo, com temas que nos acompanham habilmente nas várias fases de jogo. Contudo, a sonoridade geral não é assim tão brilhante, sendo por vezes escassa, tento até vários sons que se repetem um pouco demais. Como já devem saber, este tipo de jogos quase nunca possuem diálogos falados, contudo, Mario e Luigi falam com palavreado sem nexo de sotaque Italiano que, nos dias que correm, até poderia simplesmente conotar o jogo de “racista” mas, hey, é a Nintendo, vamos com calma.
Veredicto
Imaginando que nunca jogaram nenhum título da série Mario & Luigi RPG, é normal que este possa ser o vosso primeiro contacto. Contudo, digo-vos que, se quiserem mesmo conhecer esta série no seu melhor, Mario & Luigi: Brothership é capaz de não ser o melhor ponto de partida. Como RPG não é um mau jogo, mesmo que a história se arraste por tempo demais e que aposte um pouco demais na acção, tornando o demais conteúdo algo vazio. Ainda assim, aconselharia mais alguns dos títulos clássicos, como Bowser’s Inside Story (2009) ou o primeiro Superstar Saga (2003), os mais cotados e aclamados da franquia. Reconhecemos o esforço da nova produção mas achamos que, de facto, terá ido um pouco além das suas capacidades, criando um jogo, simplesmente, “ok”.
- ProdutoraAcquire
- EditoraNintendo
- Lançamento7 de Novembro 2024
- PlataformasSwitch
- GéneroAcção, Aventura
Podia ser melhor mas tem alguns pormenores positivos que podem agradar a muitos jogadores.
Mais sobre a nossa pontuação- Visual muito bem conseguido
- Combates interessantes e divertidos
- Mensagem importante na base da história
- Enredo arrasta-se e algo superficial a médio prazo
- Repete-se demasiado, estendendo demais a jogabilidade
- Poucos combates com bosses
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.