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Análise – Master Detective Archives: Rain Code

Intrigados pelos trailers divulgados e a boa impressão que causaram, estava curioso para descobrir o que é Master Detective Rain Code, uma nova propriedade intelectual assinada pela Spike Chunsoft.

Um dos elementos que mais curiosidade me despertou é que este jogo  marca o regresso do designer Kazutaka Kodaka, responsável pelas personagens e situações a roçar o surreal da trilogia Danganronpa. O seu regresso tem como objectivo recriar essas atmosferas num contexto diferente, reunindo um punhado de talentos da equipa da TooKyo Games e alguns membros da equipa responsáveis por outro título intitulado World’s End Club, este lançado há pouco menos de três anos na Nintendo Switch e PC. Embarquemos, então, no Amaterasu Express para chegar ao Distrito de Kanai para arrancar com a análise.

A história deste jogo fala de um protagonista com amnésia temporária. Todavia, o que podia ser uma aventura “cliché”, evolui para uma trama muito convincente e bem-sucedida. Não quero apressar essa reviravolta, pelo que começaremos pelo início.

A aventura começa com o nosso protagonista a acordar num local que parece ser um depósito de objectos perdidos de uma estação ferroviária anónima. Tem uma dor aguda na cabeça e falta-lhe a memória, não apenas em relação ao que aconteceu anteriormente mas também do seu próprio nome. Uma misteriosa carta promete ajudá-lo a começar a desvendar este enorme mistério.

As respostas às perguntas serão lentamente dadas, o que torna as primeiras horas algo intensas e estimulantes para o que se segue. Inicialmente, estaremos a bordo do comboio Amaterasu Express, direcionado a Kanai Ward, uma metrópole isolada do resto do mundo e totalmente nas mãos de uma mega-corporação sem escrúpulos.

A própria jornada está repleta de perigos, porém. No comboio, há outros cinco Mestres Detectives, membros de um consórcio de elite de investigadores privados de várias partes do mundo, que inicialmente estarão desconfiados de nós. Estes detectives da WDO possuem poderes sobrenaturais para resolver os seus casos e deduzem que o protagonista é um impostor contratado para sabotar a sua organização. Como devem calcular, começam aqui os problemas.

Em breve, graças à voluptuosa e maliciosa deusa da morte Shinigami, com quem aparentemente o nosso herói fez um pacto. Quando as coisas começam lentamente a fazer sentido, dá-se uma golpada. Todos os detectives são assassinados e o protagonista é tido como culpado. Aqui Shinigami ajuda-nos a ultrapassar a acusação. Eventualmente, alcançaremos o nosso destino, uma enorme aglomeração de casas e arranha-céus onde a chuva nunca pára de cair. Mas, os problemas não terminam com este prólogo, obviamente.

O lado narrativo é um dos aspectos mais convincentes da produção, com personalidades bem construídas, apesar de serem orgulhosamente exageradas. Encontraremos em Kanai muitos mistérios cada vez mais intrincados para serem resolvidos, com soluções que frequentemente desafiam a lógica e o senso comum. É uma fórmula que pode não ser muito original mas é definitivamente eficaz para nos empolgar. Especialmente, porque há um mistério para resolver em cada esquina.

Nos momentos de cansaço da aventura, que, infelizmente, não faltarão, serão precisamente a qualidade da narrativa e a curiosidade do jogador para ver como a história terminará, que serão a principal força para o jogador. Isto, apesar de algunos momentos de ingenuidade e algumas opções algo “silly” da produção. Também achei que o ritmo desta narrativa e a própria exploração são elementos um pouco desequilibradores da oferta.

Após a fase inicial no comboio, em que estamos algo confinados e sem grande espaço para vaguear, Kanai Ward abre lentamente a jogabilidade. Entre um caso e outro, poderá se explorada à vontade, com localidades bem caracterizadas, possam ser contadas pelos dedos de uma mão. Até gostei da adição de uma série de missões secundárias opcionais, espalhadas pelos diversos distritos da cidade, parecendo-me principalmente destinadas a prolongar a experiência de jogo e a fazer-nos apreciar o processo criativo.

É quando se aceita um caso, quando a cena do crime ainda está “quente”, que este jogo e oferece o seu melhor. Se sentirem uma inspiração nos míticos níveis “mentais” de Persona 5, também senti o mesmo. Graças aos poderes de Shinigami, o protagonista pode mergulhar em manifestações físicas dos casos, onde as pistas recolhidas funcionam como chaves que desbloqueiam portas ou usadas para contradizer argumentos falsos ou erróneos tanto de testemunhas como de suspeitos. Estes, já agora, tomam a forma de verdadeiros bosses para serem derrotados com o nosso raciocínio implacável.

Nestas fases temos um verdadeiro avanço na história, com o protagonista sentado na cabeça enorme de Shinigami que embate (literalmente!) nas paredes da fortaleza do inimigo. Ao mesmo tempo, temos a recriação da memória das cenas de crime, úteis para apanhar algumas pistas que escaparam numa primeira passagem. Embora estas secções possam ser um pouco longas, funcionam muito bem e conseguem levar o jogador à verdade de uma forma muito mais dinâmica do que muitas outras aventuras deste género. Mesmo não sendo um formato original, é uma boa adaptação do conceito onde se inspira.

Infelizmente, também há alguns momentos em que as coisas não funcionam tão bem. Mesmo quando já revelámos o mistério com antecedência, ainda somos obrigados a prosseguir ao longo do caminho pré-estabelecido e fornecer as respostas na ordem e cadência pretendidas pela equipa de desenvolvimento. Este caminho guiado dos casos é útil para controlar o desenrolar da trama, dosear as reviravoltas e prevenir “bloqueios”. Todavia, seria interessante que os jogadores mais perspicazes tivessem um botão para saltar para a conclusão e não ser obrigado a completar o caminho pré-definido.

É difícil expressar-me de forma clara sobre o aspecto técnico deste título, porque nem sempre é claro onde termina a limitação do orçamento disponibilizado à equipa de desenvolvimento e onde começam os limites técnicos da própria consola Nintendo Switch. Apesar de sabermos que o hardware é algo limitado, a consola até tem demonstrado ser uma máquina capaz de oferecer visuais e desempenho mais do que dignos. Isto, obviamente, quando se utilizam os seus recursos adequadamente.

Entre os pontos positivos, temos uma direcção artística e visão muito positiva, que combina personagens e locais fascinantes, dignos de uma série manga. Olhando para as imagens que partilhamos aqui, é impossível ficar indiferente ao design geral, às paletas de cores, aos efeitos visuais e às animações criadas com imenso cuidado. Claro que é tudo uma questão de gosto pessoal mas eu gostei do conceito visual. Contudo, para ser simpático, diria que neste título a performance do que temos no(s) ecrã(s) é bastante inconsistente.

Infelizmente, para conter o apelo visual e a imersão no mundo do jogo, temos de suportar carregamentos bastante prolongados, que raramente ficam abaixo de vinte segundos. Há algumas quebras de fps notórias durante as fases de exploração. Também o nível geral de detalhe deixa algo a desejar (especialmente quando jogamos na TV), contendo soluções pouco elegantes, como transeuntes que desaparecem quando passamos por eles ou elementos da paisagem que surgem do nada num pop-in algo agressivo.

Jogando no modo portátil, Rain Code comporta-se um pouco melhor mas, infelizmente, continua a não impressionar. De um modo geral, o motor gráfico que nem sempre consegue lidar com as ambições de uma equipa de desenvolvimento com clara ambição, como é aparente com a TooKyo. Para mim, um dos elementos que mais me desapontou foram os problemas de sincronismo labial, felizmente “quase” mitigados por uma actualização lançada após o seu lançamento.

Digo “quase” mitigados, porque em certas cenas intermédias que usam o motor gráfico do jogo, estes desfasamentos das falas permanecem. Isto acontece, provavelmente, porque estas são cenas pré-gravadas antes do jogo ter sido lançado. Assim sendo, o trabalho de as reconstruir pode ser muito mais moroso. Terei de esperar por mais futuras actualizações para ver o que é possível fazer. Não é algo grave, obviamente, apenas nos remove da imersão pretendida nesta pretensa aventura manga.

 

Veredicto

Esta é, para mim, uma expansão dos horizontes da TooKyo Games com um conceito fascinante de exploração livre e uma história madura e profunda, com implicações decididamente sombrias. Consegue manter a concentração do jogador mesmo quando o ritmo geral diminui, num complexo equilíbrio entre a linearidade e a liberdade. Master Detective Archives: Rain Code consegue em grande parte justificar o hype em seu redor, embora contenha algumas limitações visuais e de performance na Nintendo Switch que o impedem de brilhar mais.

  • ProdutoraTooKyo Games
  • EditoraSpike Chunsoft
  • Lançamento30 de Junho 2023
  • PlataformasSwitch
  • GéneroAventura
ok
OK

Podia ser melhor mas tem alguns pormenores positivos que podem agradar a muitos jogadores.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Vários problemas técnicos
  • Sensação de "déjà vu" de outros títulos

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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