Análise – Miasma Chronicles
Quando a produtora The Bearded Ladies apresentou ao mundo o seu Mutant Year Zero, desencadeou uma reacção inesperada. Para Miasma Chronicles, a expectativa era um tanto equivalente.
Em vez de cativar os admiradores de títulos focados em estratégia e gestão típica de produções como XCOM, a epopeia de criaturas antropomórficas impressionou os fãs pela sua premissa pós-apocalíptica e abordagem particular na encenação do mundo do jogo. No entanto, apesar de ser apreciado, esse título foi baseado na licença do jogo de tabuleiro homónimo com um imaginário muito forte, algo que, segundo a produção, limitou muito a sua liberdade criativa. Por essa razão, Miasma Chronicles, traz o seu próprio universo criado de raiz para tentar alcançar toda a sua “glória”. Nesta análise vamos tentar perceber se a produtora conseguiu alcançar o seu objetivo e se irá nascer daqui uma nova era de sucesso.
Todos os que adoraram Mutant Year Zero: Road to Eden não terão dificuldade em familiarizar-se com a jogabilidade presente aqui. De facto, é, mais uma vez, um RPG que, durante as lutas, se transforma num jogo de estratégia por turnos, com toda a táctica que os títulos do género nos habituaram. A experiência que a produtora Sueca já adquiriu, permitiu-lhes tornar a fusão dos vários elementos mais coesa e compacta, de forma a tornar tudo mais divertido e acessível, sem os picos de dificuldade do jogo anterior. Também possibilitou a introdução de algumas novidades que dão aos “não-amantes” do género uma certa curiosidade.
Isso acontece principalmente a escolher o nível de dificuldade, que varia de “Story” a “Alpha Editor” em paralelo com o modo de jogo. Neste caso, pode-se escolher entre “Light Tactics”, que permite ter confrontos menos ligados à sorte, e “Complete Tactics”, que apresentará todas as variáveis do sistema de combate. Esta variedade de opções deve permitir que qualquer pessoa encontre o desafio que melhor se adapta às suas preferências e nível de experiência, além de evitar os obstáculos que tornaram as primeiras horas de Mutant Year Zero um obstáculo insuperável para muitos.
Um elemento que realmente apreciei, foi a forma como as fases furtivas e de combate são alternadas, apreciando também as variáveis introduzidas para o equipamento. Um elemento importante é a fase de preparação para o confronto. Vamos falar um pouco sobre isso, para entenderem o seu valor.
Enquanto procura pela sua mãe, Elvis e seus amigos encontrarão vários inimigos que se cruzam no seu caminho e que não podem ser evitados. Isto, por causa do design linear do mapa, que utiliza os chamados “gatekeepers” para impedir um acesso apressado às partes avançadas do cenário. Nesse ponto, há duas alternativas: ou tentam enfrentar todos (boa sorte!) ou podem tentar enfraquecer as linhas inimigas primeiro. Ao se aproximarem furtivamente, as personagens com armas silenciosas podem tentar eliminar furtivamente os adversários sem alertar seus camaradas.
Além disso, ao longo da aventura, Elvis e seus aliados terão acesso completo a armas, acessórios e habilidades verdadeiramente extensas que, combinadas com a árvore de habilidades de cada um, são capazes de modificar drasticamente a forma como abordam uma batalha. Por exemplo, as armas podem ser aprimoradas, se assim entenderem. Também existem algumas com alcance longo, outras com alcance curto e algumas com balas que fazem ricochete. Tudo isso sem contar os poderes do braço de Elvis, que adicionam outra camada de variáveis e efeitos.
O crescimento dos poderes do braço de Elvis, caminha lado a lado com a maturação do protagonista. O jogo, na verdade, lança-nos logo “aos lobos” sem grande introdução, com o jovem, acompanhado pelo seu robot-irmão Diggs, tentando abrir um caminho no miasma para alcançar sua mãe. Não vou esconder que fiquei um pouco surpreendido com a situação, também devido ao facto do protagonista inicialmente também desconhecer muito do que se passa no ecrã. Aos poucos, começamos a nos familiarizar com o universo do jogo (uma América do Norte que foi vítima de mais um cataclismo) e com os seus protagonistas. Mas, o choque inicial é certo.
Nas mais de 20 horas de campanha, vamos descobrir por que Elvis tem um braço mecanizado, por que o mundo foi invadido pelo miasma ou por que a mãe do protagonista está no centro de tudo. Mas, acima de tudo, o que precisa ser feito para salvar a pele (também sintética) dos vários heróis. Dessa forma, a história de Miasma Chronicles continua a impulsionar o jogador a avançar e, missão após missão, a descobrir um universo bem desenvolvido e fascinante, apesar de alguma ingenuidade do enredo e de alguma falta latente de originalidade em dados momentos.
Apesar da experiência da equipa (este é o terceiro jogo), Miasma Chronicles chega ao PC, PlayStation 5 e Xbox Series X|S com alguns defeitos que afectam um pouco a qualidade da experiência. Não me refiro apenas a problemas técnicos que podem ser resolvidos através das inevitáveis actualizações pós-lançamento. Também falo de problemas na experiência. Por exemplo, os companheiros de equipa teleportarem-se perto da personagem controlado quando abre um baú, anulando assim o posicionamento dos mesmos. Também achei os controlos pouco intuitivos para seleccionar objetos ou alvos, especialmente quando é usado um comando, algo que pode levar a falhas em ataques ou na defesa.
Visualmente gostei bastante dos cenários e do design no geral. Só achei que as caras dos protagonistas bastante inexpressivas, achando que alguns diálogos e personagens poderiam ter sido desenvolvidos com mais cuidado. Quanto às lutas, em alguns casos, os inimigos não parecem comportar-se da maneira mais inteligente possível, reposicionando-se quando poderiam muito bem ter atacado, enquanto que, noutras vezes, parecem atiradores implacáveis. Tudo bem, pode ser tudo resultado de má sorte, não é nada que afecte o prazer de jogar. Mas, infelizmente, frustra um pouco por ser uma oscilação algo frequente.
Veredito
Este é um bom RPG/RTS, com uma base sólida, divertido e com um bom potencial de nos entreter por várias horas. O universo de Miasma Chronicles e a sua história são interessantes, embora falte um certo carisma que o anterior jogo da produtora, Mutant Year Zero: Road to Eden, soube tão bem produzir. No entanto, a aventura de Elvis e Diggs não deixará de divertir os fãs do género. Uma atenção um pouco maior na interface e na inteligência artificial, juntamente com uma escrita um pouco mais brilhante, teriam permitido “aquele salto” em qualidade que os muitos fãs da produtora The Bearded Ladies esperavam. Ainda assim, é uma boa “aventura” criativa da produtora e acompanharemos o seu caminho evolutivo com atenção.
- ProdutoraThe Bearded Ladies
- Editora505 Games
- Lançamento23 de Maio 2023
- PlataformasPC, PS5, Xbox Series X|S
- GéneroEstratégia, Role Playing Game
Este título ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Mistura sólida entre RPG e estratégia
- Tanto o modo furtivo como de combate são divertidos
- Universo fascinante
- Algumas falhas na interface e no design
- Diálogos nem sempre brilhantes
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.