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Análise: Micro Machines: World Series

Nos idos anos 90, uma lendária série despertou em muitos a criança que gosta de brincar com pequenas miniaturas de automóveis. Micro Machines: World Series é um regresso ao passado, numa recuperação moderna dessa jogabilidade viciante.

Longe vai esse tempo, porém. Se na altura não nos importávamos de ver modelos e cenários de 8 bits, até porque os computadores nessa era não eram propriamente colossos de computação, hoje em dia a exigência é bem maior. De qualquer modo, Micro Machines nunca foi apelativo pelo seu visual. O que nos fazia regressar inúmeras vezes ao jogo era a sua frenética e divertida jogabilidade que colocava pequenos bólides em pistas improvisadas nos mais diversos cenários do quotidiano. Mais de vinte anos depois, o seu regresso é, claramente um convite para a nostalgia. Contudo, a Codemasters não se limitou a reeditar os jogos, lançou um reboot completo. E a pergunta óbvia é: será que a “criança” ainda quer “brincar com carrinhos”?

Não há nada de errado em adultos gostarem de “brincar” com miniaturas (ahem…). Afinal, os Micro Machines foram bem mais que videojogos, começando como pequenos brinquedos. Daí a inspiração para as corridas em cima de secretárias ou no chão da cozinha. Os jogos queriam reproduzir a diversão dos brinquedos como se fossem micro-máquinas com vida própria. A Codemasters já tinha tentado uma revisita a esta fórmula que pode ter passado ao lado de muita gente. Nessa altura, porém, a produtora não detinha os direitos sobre a marca lendária e deu outro nome ao seu jogo: Toybox Turbos. Lembram-se? Lá está, se parece Micro Machines mas não leva o seu nome, não é a mesma coisa. Finalmente, a produtora Inglesa, muito habituada a jogos de condução, parece ser o seu sonho realizado.

Mais que agradar aos nostálgicos, porém, este jogo tem de justificar a sua existência também para o restante da audiência. Provavelmente, essa é a razão porque o jogo se inspira tanto em outros sucessos do momento. Não, não há por aí muitos jogos de corridas na perspectiva “top-down” com veículos em miniatura. Falo de outros jogos de outros géneros e que até possuem outra jogabilidade completamente diferente. É o seu esquema de progressão, de classes e de recompensas com loot que parece ter inspirado a produção. Essa sua ambição de replicar outras fórmulas, infelizmente, parece ser também a sua maior falha. Vou tentar explicar o que quero dizer com isto de uma forma concreta.

Para começar, todos queremos entrar neste jogo para correr nas pistas e chegar em primeiro lugar. É essa a premissa deste título e foi também a premissa dos demais jogos da série. Quando entramos no modo Battle deste jogo, percebemos que estamos a descolar do conceito original de uma forma muito pouco subtil. Dois grupos de seis veículos combatem entre si em modos de jogo clássicos como captura de bandeiras ou conquista de sectores. Podem escolher entre doze veículos, cada um com classes, armas e habilidades diferentes. Há tanques, atiradores, furtivos, médicos… enfim, já perceberam onde isto vai dar. É um jogo de combate, ao estilo de tantos outros, mas com miniaturas de carros. Estas batalhas não me impressionaram e achei quer eram francamente dispensáveis, confesso.

Felizmente, temos lá as corridas que tanto queremos. Não há aqui nem habilidades nem classes específicas para planear. O objectivo é chegar em primeiro, usando o cenário e os diversos pickups disponíveis pelas suas dez pistas para nosso benefício. Contudo, colocar doze veículos em prova ao mesmo tempo tem os seus problemas. Como a visão na terceira pessoa vista de cima não é propriamente a melhor para controlar pequenas miniaturas, acabamos em autênticas “balbúrdias visuais” com os veículos a chocar entre si ou com o próprio cenário. Usar os explosivos ou armas dos pickups também é algo frustrante dada a inerente falta de precisão. Pior, quanto a mim, são as físicas algo aleatórias, dos obstáculos que nos empurram ou dos embates exagerados nos veículos. Se a diversão era o objectivo, não resulta muito bem, causando até frustração, por vezes.

O que mais me deixou apreensivo foi a longevidade deste título, com a sua clara aposta no online. Os modos que já falei são realmente convidativos para a acção multi-jogador e não há nada de errado nisso. Infelizmente, essa forte aposta multi-jogador online deixou pouco conteúdo para os modos a solo. Uma corrida por eliminação e um modo de combate em arena não me parece conteúdo suficiente para um jogo que sempre apostou na jogabilidade a solo. Havia tanto para explorar: corridas mais lineares, campeonatos com corridas múltiplas ou até um modo de carreira, mesmo simples que fosse. E esqueçam as provas em ecrã dividido… até isto ficou na gaveta, possivelmente a pensar em alguma expansão, actualização ou mesmo uma potencial sequela.

Contudo, mesmo com a acção multi-jogador em foco, também não esperem grandes sessões preenchidas com muitos jogadores. Por qualquer motivo, de todas as vezes que testei o jogo, nunca consegui entrar numa sessão completa. Acabei quase sempre a jogar numa equipa de dois ou três jogadores contra igual número de adversários. Como os restantes corredores passam a ser bots na falta de jogadores humanos, nem sequer podemos ter menos carros para evitar a tal confusão no ecrã que já mencionei. Talvez por esta escassez de jogadores, a Codemasters tenha adiado os planeados campeonatos ranked para jogabilidade competitiva. Com esta notória falta de adesão (ou algum problema no matchmaking), possivelmente este tipo de sessões não virá tão depressa.

Na versão analisada na PlayStation 4, portada da versão original para PC pela Just Add Water, é de notar que o jogo até é agradável à vista. Gostei do seu grafismo relativamente competente, a replicar o mais diversos cenários e objectos para os pequenos veículos deambularem. De um modo geral, o grafismo não impressiona realmente, se compararmos com o que se faz na actualidade. Mesmo assim é competente e um contraste enorme com o passado. Quem se lembra dos jogos originais vai notar uma melhoria absolutamente gigantesca na qualidade visual. As animações e decorações gerais dos cenários são realmente uma obra de dedicação da produção, mantendo o espírito dos originais. Dá mesmo a sensação de voltarmos uns anos atrás e estamos de joelhos na sala a improvisar pequenas pistas para as miniaturas… bom, quase…

É de assinalar que tive algumas quebras de performance naqueles momentos mais caóticos com muitos tiros e explosões no ecrã. Não consigo dizer se é um problema no port em si ou se é um mal geral do jogo. Contudo pelo que me foi dado a entender, parece ser um problema geral nas demais plataformas. Não são reais quebras de fotogramas por segundo (pelo menos não parecem) mas sim breves pausas, no que vulgarmente se chamam de stutters. Também online notei que há momentos de lag que não ajudam nada num jogo que pretende ser rápido e baseado no tempo de reacção. Estou certo que a Codemasters vai trabalhar no jogo um pouco mais para optimizá-lo.

Veredicto

Esta era uma boa ocasião para a Codemasters apresentar um jogo para os nostálgicos, sim, mas também com bons argumentos para um excelente jogo de corridas descontraído e viciante. Assim foram os clássicos jogos originais, pelo menos. Ao invés disso, porém, Micro Machines: World Series introduz um modo de combate que ninguém pediu, reduz a oferta offline empurrando os jogadores para um online pouco apetecível e não consegue devolver aquele vício das corridas de carros miniatura. A tal “criança” até gostou imenso de voltar ao passado e houve momentos de pura diversão. Ao fim de umas horas, porém, considero esta uma oportunidade perdida para a produção.

  • ProdutoraCodemasters / Just Add Water
  • EditoraDeep Silver
  • Lançamento30 de Junho 2017
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroArcade
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Modo "Battle"
  • Falta de conteúdo geral
  • Online pouco interessante

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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