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Análise – Microsoft Flight Simulator – Parte 4 (Xbox)

Quem diria que um dia poderíamos voar um completo simulador de voo numa consola de videojogos? Quem diria que esta mesma consola fosse capaz de correr o simulador de forma tão capaz? E quem diria que os Asobo Studios conseguiriam alguma vez melhorar o seu simulador com base no que aprendeu nas consolas? Microsoft Flight Simulator continua a surpreender-nos.

Leram as anteriores partes desta análise, focadas no PC? Na primeira parte falámos sobre a oferta e o conteúdo. E na segunda parte abordámos a importante componente da simulação de físicas e aerodinâmicas. E não percam a terceira parte que aborda a componente técnica e visual.

Cerca de um ano depois e muitas horas de voo, esta é também uma boa oportunidade de avaliar o trajecto (a rota?) do MSFS no panorama exigente dos simuladores de voo. Lentamente mas de forma muito assertiva, o simulador foi-se colocando no topo das preferências da comunidade “simmer”. Não apenas pelo seu visual irrepreensível, também pela sua fantástica reinvenção técnica e pela busca pelo rigor, algo que até nos levou a dar-lhe o prémio máximo nos nossos jogos do ano 2020. Muitas foram as adições de conteúdo, muitos foram os addons criados, entre gratuitos e pagos, muitos foram os pilotos que o experimentaram e se renderam. Agora há uma nova etapa, a das consolas de jogos. Mas, também a versão PC tem aqui uma nova era.

O que procuramos num simulador? É sempre discutível. O mercado profissional procura precisão, rigor e muito realismo. O mercado de consumo procura o valor lúdico, além do didáctico, olhando mais para pormenores como a sua longevidade, opções de expansão e, claro, o realismo visual. O Microsoft Flight Simulator, a par dos demais grandes simuladores do mercado, sempre soube dosear bem a sua oferta para estes dois sectores tão distintos. Os profissionais poderão encontrar aqui uma ferramenta óptima para treino e ensino. Os simmers poderão desfrutar do mesmo simulador para dar asas ao seu hobby. Uma autêntica “democracia”, mesmo que não seja sempre um produto perfeito.

Onde falhou, os Asobo Studios foram resolvendo. Questões de lógicas de operação, performance e até de realismo visual, foram sendo aprimoradas em constantes e incisivas actualizações de conteúdo. Muitas delas envolvem feedback de uma comunidade apaixonada, que a produção não se cansa de ouvir. No meu caso, tive a oportunidade única de acompanhar o desenvolvimento deste simulador desde nas fases Alpha e Beta e vi mesmo muitas das questões que levantei evoluírem para algo positivo no produto final. Afinal, o que seria da lendária série Flight Simulator se não fosse a sua comunidade veterana?

Com esta nova era Xbox, porém, a Microsoft quis algo mais abrangente. Já no seu lançamento, o simulador possuía algumas ferramentas de acessibilidade, embora discretas. Umas quantas lições de teoria de voo, umas ajudas à operação, nada de substancialmente profundo mas que de certeza ajudou muitos novatos a entrarem neste complexo mundo. Não quer dizer que nas consolas de videojogos não existam “simmers” ávidos por uma boa representação do voo. Mas, não é bem esse o seu meio. Como já disse, quem é que poderia dizer que um dia um simulador de voo, não apenas um jogo de aviões, chegaria à Xbox?

O receio é sempre que o simulador seja “canibalizado”, desprovido de algumas características, removendo alguma boa “gordura” da periferia, resultando num produto “lite”. Contudo, o que os estúdios Asobo fizeram foi algo realmente bem pensado. Que tal pegar no mesmíssimo simulador, aprimorá-lo, remover o que é realmente excedente, torná-lo na mesma robusto ao manter a qualidade visual sem compromissos, optimizá-lo para hardware moderno e ainda dar aos jogadores a opção de o usar como puro entretenimento, sem remover a escolha de o voar com realismo?

Nesta nova versão do simulador, continuarão a poder voá-lo exactamente da mesma forma que o fariam antes. Nada mudou no aspecto do realismo, seja visual, seja na operação. O que temos agora são outras formas de o desfrutar, inteiramente opcionais, criadas a pensar nos recém-chegados da Xbox, nada habituados a seguir checklists ou cartas de navegação. Esta é uma nova forma de abordar um simulador de voo, sem exigir anos de aprendizagem e experiência, dando a oportunidade de simplesmente “dar uma volta” num simulador realista.

O melhor exemplo disto são os novos “Discovery Flights”. Estes são puros voos de turismo em vários locais à volta do mundo que, ao mesmo tempo, também servem de introdução ao simulador e aos princípios de voo. Um instrutor vai navegando, dando-nos oportunidade olhar “cá de cima” para o deslumbrante mundo virtual do simulador. A dada altura, o instrutor virtual passa-nos os comandos e experimentamos o controlo, tudo sem pressões ou complexidade. Ao todo, são 10 experiências em locais icónicos, com meteorologia calma e puro convite à diversão.

Outra novidade interessante tem a ver com a exploração do vasto mundo recriado no simulador. Já tínhamos a opção de colocar pins de destino para explorar pontos de interesse à volta do mundo. Contudo, agora teremos breves explicações mais detalhadas desses pontos de interesse com base em informação fornecida pela rede Bing. Esta opção torna um simples voo como uma viagem em turismo. Obviamente, nem todos os locais possuem (ainda) esta funcionalidade mas, com certeza, é algo que vai sendo preenchido nos próximos meses.

Quem sabe uma das adições mais importantes nesta versão, são os novos tutoriais. Voar uma aeronave, como todos saberão, é um processo complicado. Os pilotos reais demoram anos a aperfeiçoar o voo, no que pode mesmo ser descrito como uma das profissões mais tecnicamente exigentes no mundo. A secção de tutoriais propriamente dita foi revisitada, mantendo o mesmo conteúdo mas agora tendo 22 lições mais curtas e focadas em aspectos concretos do voo. Estes tutoriais têm agora também uma pontuação que permite observar a proficiência para convidar a repetir e melhorar.

Se os tutoriais não chegarem, não desesperem. O co-piloto virtual continua cá, lidando com as checklists e comunicações com o controlo de tráfego aéreo, podendo mesmo controlar o avião enquanto relaxam. Contudo, os Asobo Studios ensinaram-lhe “novos truques”. O agora chamado “Flight Assistant” pode navegar por nós para um aeroporto ou ponto de interesse que queiramos visitar, podendo mesmo fazer todo o voo por nós e até aterrar, como se fossemos um passageiro ao seu lado. É também mais uma forma de fazer “turismo virtual” no simulador.

Uma novidade que apreciei bastante e que, curiosamente, pensei que seria uma adição sem grande interesse, é a funcionalidade “Land Anywhere”. Não, não podem aterrar um Boeing 747 na vossa rua (tecnicamente podem, mas não vai correr bem). Sendo a fase de voo mais intimidadora para os pilotos novatos, saber que é agora possível aterrar em quase todo o lado é uma bênção. Com esta edição, temos novos aviões equipados com flutuadores para também aterrar na água ou com esquis para aterrar na neve ou no gelo.

Todas estas novidades surgem também no PC, como uma tentativa de criar acessibilidade no simulador. No meu ponto de vista, são bem vindas, mesmo que os pilotos virtuais mais “hardcore” as achem excedentes. Na prática, este não é bem um jogo, afinal. Ocupam um espaço de destaque no menu, é certo, mas podemos simplesmente abrir o mapa do mundo e fazer um voo perfeitamente normal como dantes. Todas as ajudas são também opcionais e podem ser desligadas para quem busca maior realismo e imersão. No fundo, nada muda na base do simulador no PC.

Ou melhor, até muda… mas, para melhor! Com esta actualização, como devem imaginar, os Asobo Studios tiveram de optimizar o visual para correr integralmente numa consola Xbox Series X|S. Isto obrigou a um trabalho intenso de optimização do visual para uma performance menos exigente, redução de tamanho de ficheiros para quase metade (de 140GB em média na instalação inicial para 75GB em média, é obra) e, quem sabe uma das melhorias mais notórias na operação, a estrutura, navegação e interacção no geral foi revista com elementos mais intuitivos.

A boa notícia e que a optimização também chegou ao PC, tornando o simulador francamente mais estável e menos exigente no hardware, resultando em melhorias substanciais na performance, no rácio de fotogramas e até no carregamento graças à menor dimensão dos ficheiros. Tirando os óbvios problemas de ligação online que verifiquei nos primeiros dias da nova versão, tanto no PC como na nossa Xbox Series X o MSFS está francamente mais rápido e mais fluido. Tudo, sem perder nenhuma da sua fidelidade visual tão reconhecida. Considero um feito que uma versão de consola sirva para aprimorar uma versão PC sem perda de qualidade.

Claro que a nova versão tem algumas lacunas assinaláveis. Por mais poderosa que seja a Xbox Series X, estamos limitados na sua resolução e fps. É discutível se 1080p a 30fps é uma boa forma de voar um simulador, há quem defenda que sim, há quem ache que não. Nem todos terão um televisor de 120hz para conseguir um pouco mais de fps e convenhamos que numa televisão 4K se nota que esta não é a melhor versão do simulador. Ainda assim, a pior das lacunas, quanto a mim, é a falta de controlos para simulação de voo compatíveis com a consola Xbox.

Veredicto da versão Xbox

Embora comprometa ligeiramente a performance que temos no PC, a versão Xbox Series X de Microsoft Flight Simulator é uma incrível proeza de trazer um simulador de voo para uma consola de jogos. É, talvez, o melhor exemplo do que são esses raros “jogos de nova geração”, puxando pelas capacidades da consola em pleno. Traz consigo imensas novidades a pensar na acessibilidade, ao mesmo tempo que oferece à versão PC uma remodelação bastante positiva na performance. Só senti falta de um bom periférico para a consola, algo que não falta no PC, curiosamente. É que voar com um gamepad não é propriamente a melhor experiência de voo.

  • ProdutoraAsobo Studios
  • EditoraMicrosoft
  • Lançamento27 de Julho 2021
  • PlataformasPC, Xbox Series X|S
  • GéneroSimulação
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Falta de periféricos compatíveis com Xbox
  • Servidores lentos no arranque

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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