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Análise – Mortal Kombat 1

Mais que uma nova entrada na longa série que celebra o seu 30º Aniversário, Mortal Kombat 1 é um “rebobinar” de um conceito. Os NetherRealm Studios viajam ao passado, a olhar para o futuro.

Para todos os efeitos, a série Mortal Kombat entrou numa “velocidade cruzeiro” depois do primeiro reboot de 2011. Isto foi exacerbado pelos últimos dois títulos MK10 e MK11, praticamente evoluções visuais de um conceito algo estagnado, ainda assim no ápice da sua oferta. O risco de cair dessa posição, porém, era real, tornando-se irrelevante se nada fosse feito. MK11, aliás, lançou alguns alertas nesse sentido. Porque a Warner Bros. não quer perder o momento com esta que é uma das suas últimas séries “garantidas”, podemos adivinhar que a reunião com Ed Boon e companhia terá resultado numa necessidade de “reinventar” a franquia. Essa reinvenção está aqui. Para o bem… e para o mal.

Mais que um lançamento “rotineiro”, este é teste de sobrevivência. Estamos numa era atípica no género de jogos de luta. É que temos por aí Street Fighter 6, Guilty Gear: Strive ou The King of Fighters XIII a dar cartas, especialmente nos torneios de eSports, faltando ainda chegar Tekken 8. Quando todos esperavam um “mais do mesmo” num possível MK12, os estúdios apresentaram uma renovação de história e de paradigmas que tanto poderia ser uma decisão acertada como um potencial falhanço. Entre a apreensão e a curiosidade, os fãs sustiveram a respiração.

Esta foi uma excelente oportunidade para os estúdios NetherRealm reverem algumas das suas decisões mais divisoras. Os muitos estilos e formas de combate para cada personagem de MKX? A lentidão e “peso” dos golpes de MK11? As muitas personagens para escolher num lote em que acabamos por optar apenas por um punhado? As histórias sempre a tentar recontar-se a si próprias, ao invés de trazer uma trama que faça jus ao legado original? Volta tudo à prateleira, criando um jogo que tem tanto de refinado como de comedido. O que, como verão, é uma decisão muito bem vinda.

Os eventos do jogo pegam exactamente no fim de MK11 que age agora como um ponto fulcral de reviravolta na trama geral. Com Kronika derrotada, cabe a Liu Kang reconstruir os universos do jogo, agora como deus do fogo, tomando o lugar de Raiden como protector de Earthrealm. Em troca de uma paz delicada com Outworld, é acordado retomar a tradição de séculos, recuperando o torneio Mortal Kombat com os melhores lutadores de cada lado a medir forças na protecção dos seus reinos. Com os papéis invertidos, é agora a tarefa de Liu Kang de recrutar Raiden, Kung Lao, Johnny Cage e Kenshi como campeões de Earthrealm.

Contudo, Geras, o guardião do infame Hourglass que regula o tempo (e a existência), avisa Liu Kang que o temível Shang Tsung uniu forças com Sindel e… outra entidade desconhecida. Há uma nova ameaça à nova ordem estabelecida por Liu Kang e os heróis precisam perceber quem se ergue contra Earthrealm. A história levar-nos-á a encontrar várias personagens do lore desta franquia, versões rejuvenescidas de heróis e vilões, como Sub-Zero, Scorpion, Reptile, Kitana, Mileena e tantos outros. Este é um enorme serviço aos fãs que não ficarão desapontados.

Obviamente, este enredo contado na campanha serve como base para os combates que vamos enfrentar neste e noutros modos de jogo. Como não podia deixar de ser, entre cada porção de enredo contado, há um combate para cada personagem principal, introduzindo-nos aos seus golpes e poderes, sem esquecer alguns mais brutais e sangrentos. A fórmula é praticamente a mesma dos jogos anteriores, só muda mesmo a trama em si, numa clara intenção de reinventar algumas porções do lore para o tornar mais interessante. E consegue, quanto a mim, contar uma história refrescada, inclusive com umas boas reviravoltas na segunda metade.

Apesar de conhecermos imensas personagens nesta história (re)contada, não quer dizer que vamos jogar com todas elas. Pela primeira vez desde há algum tempo, temos um “plantel” reduzido de personagens para descobrir, 23 ao todo, incluindo ainda 15 personagens “Kameo”, que agem como “suplentes” que entram temporariamente no ringue para dar uma ajuda. Tenho pena que algumas destas personagens não sejam jogáveis mas entendo a limitação inicial para um foco maior nas demais. E, bom, lembrem-se que nesta série o que não faltam são DLCs “character packs”.

Outro detalhe que poderá simplificar positivamente a acção é o menor espalhafato de golpes e movimentos. Lembrem-se que estamos numa viagem às origens, um recontar da história de cada personagem. É normal que as muitas “evoluções” tivessem de ser revertidas. Isto nota-se muito nos dos movimentos finalizadores, as infames Fatalities. Não se preocupem, continuam bem grotescas e visualmente violentas, apenas não são tão elaboradas ou ridículas, sendo várias “puxadas” dos jogos clássicos, inclusive algumas mais cómicas. Quem é que não tinha saudades de Scorpion tirar a “máscara” para revelar um crânio a arder?

Notarão ainda que há um determinado golpe que faz aqui o seu regresso. Recuperado de Mortal Kombat: Armageddon, temos de volta os combos Air Kombat. Tratam-se de golpes desenhados específicamente para ser aplicados no ar, criando movimentos potencialmente devastadores. Não considero que adicionem muito ao combate, parecendo mais uma tentativa da NetherRealm de tentar ir buscar mais uma coisa ao passado, a ver se os fãs adoptam. Como a corrida de MK3 recuperada para os dois jogos anteriores… se calhar é melhor deixarem estas coisas na gaveta.

Além do modo de campanha, podemos jogar também nos tradicionais modos de duelo e desafio de torre, algo que servirá para desafiar também os amigos e desconhecidos no online. Contudo, acho que a forma como as personagens são apresentadas podia ser refinada neste novo reboot. Como está, a escolha de uma personagem será mais pela afinidade que propriamente pelos seus atributos, tornando essa escolha simplista. Já se justificava uma reforma aqui. A escolha de Kameos é também algo aleatória, sem estatísticas para estudarmos qual a melhor combinação.

É bem possível que ande a jogar muito Street Fighter 6 mas, noto a falta de um elemento estratégico nos golpes e nos combos. Nota-se que os mesmos golpes dão mais ou menos dano em algumas condições mas não é discernível o que provoca isso. É a personagem mais vulnerável a este tipo de golpes ou é o momento do combate que o provoca? Os contragolpes e Kameos devem ser aplicados quando? Há muita “tentativa-erro” nesta série, especialmente quando se mudam personagens e movimentos.

Isto faz com que, ao contrário do que seria de esperar, acabemos em combates de “button-mashing”. Tudo bem, é uma questão de prática, até porque os golpes únicos e especiais possuem combinações de teclas ou de movimentos relativamente simples de executar. Há determinados golpes que se tornam mesmo instintivos com a prática. Mas, no início é mesmo um jogo de “carregar em botões a ver o que combina melhor”. Especialmente com jogadores inexperientes, mesmo com o óptimo tutorial fornecido.

No online, além dos modos Casual e Ranked dos duelos, temos o muito concorrido King of the Hill para mostrar a todos os outros “quem manda” neste título. De todas as sessões em participei para realizar esta análise, a fluidez e netcode pareceram muito competentes, sem grandes notas a reter. Acredito que futuros torneios online dêem mais para fazer neste modo, que achei um pouco escasso na actual oferta, para mim a sua única critica. Que venham os torneios mundiais para expandir a carreira online.

Temos também um novo modo chamado Invasion. E, aqui, acredito que a opinião seja mais dividida entre os fãs. É uma espécie de modo RPG com elementos de RTS, em que temos de evoluir personagens e conquistar um mapa. Pelo meio, temos mini-jogos, combates com bosses e torres de desafio que nos fazem recordar o modo Arcade. Claramente, a principal atracção é o desbloqueio de uniformes e peças de equipamento para as personagens. Porque, em termos de jogabilidade é uma notória descolagem do que estamos habituados.

A intenção para o futuro parece mais abrangente. A produção pretende criar eventos sazonais com novos cenários e novas motivações para continuar a jogar. Consigo ver muitos jogadores a perder algum tempo aqui, como vi a fazê-lo com outros modos do passado, como o infame Krypt que nunca conquistou a atenção da maioria nos últimos jogos. Não é, porém, uma mera troca desse outro modo, é mesmo um upgrade técnico, dando-nos mais acção e uma melhor sensação de recompensa. Só o tempo dirá se é um bom substituto, porém.

Por fim, o elemento que mais impressionará, tanto os novatos, como os fãs de longa data. Mortal Kombat 1 é um jogo visualmente impressionante. Na versão que nos foi enviada para análise na Xbox Series X é um título verdadeiramente deslumbrante, com óptimas sequências de arregalar o olho, desde as cenas intermédias da campanha, aos golpes mais grotescos em combate. Nada foi deixado ao acaso, com uma incrível atenção ao detalhe, aproveitamento da melhor forma o hardware moderno.

Em termos de erros e falhas, muito pouco, mesmo muito pouco, a assinalar. Este é um jogo muito bem polido, com apenas uns pequenos detalhes a precisar de uma possível correcção. A modelação e animação das personagens é impecável, falhando ligeiramente em algumas transições ou nos contra-golpes. Durante as primeiras sessões de jogo, tive uns problemas no áudio, com a música e alguns efeitos sonoros a desaparecerem até reiniciar o jogo. Mas, foi algo pontual e julgo ser alvo de uma futura actualização.

Veredicto

Agora que temos um autêntico “metaverso” nesta franquia, os NetherRealm Studios deram uma volta até ao passado para trazer alguns dos elementos que tornaram esta série tão icónica. Em Mortal Kombat 1, a inovação é intercalada com a simplicidade, trazendo elementos e personagens clássicas de forma exemplar. Algumas questões tradicionais não foram revistas neste novo reboot e as reais novidades podem não ser consensuais, como o modo Invasion, por exemplo. É, contudo, um dos melhores Mortal Kombat dos últimos tempos, arrisco dizer que quase consegue ser melhor que o outro reboot de 2011.

 

  • ProdutoraNetherRealm Studios
  • EditoraWarner Bros.
  • Lançamento19 de Setembro 2023
  • PlataformasPC, PS5, Switch, Xbox Series X|S
  • GéneroArcade, Luta
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Oportunidade perdida de rever paradigmas nos lutadores
  • Modo Invasions pode não agradar a todos
  • Os combos de Air Kombat

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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