Análise – MotoGP 22
Não podia haver outra ocasião mais soberana para analisar o novo MotoGP 22 da Milestone. Neste fim de semana, o nosso Miguel Oliveira acabou em quinto lugar do Grande Prémio de Portugal. O que é, por incrível que pareça, uma boa analogia do que achei deste jogo.
O que acontece com muitos jogos baseados em épocas desportivas, é que atingem um patamar de qualidade que todos apreciam. Depois, apesar de sempre esperarmos mais nos anos seguintes, dessa marca, pouco mais precisam de inovar a cada ano. Regra geral, é o visual que se vai aprimorando, alguns modos de jogo modificados e, claro, o conteúdo ajustado à época transacta. Ficamos habituados ao conteúdo, não necessariamente repetido mas francamente semelhante, ano após ano. Então, perde-se um pouco do potencial. Porque se estagna em termos de ideias. Cruza-se a meta, sim, mas já não no pódio, mesmo sabendo que há enorme potencial para fazer mais e melhor.
Como seria de esperar, temos aqui todas as equipas, pilotos e motos da actual época de 2022, não só do MotoGP mas também do Moto2 e Moto3, sendo até possível seguir carreira entre as três disciplinas. As alterações estéticas e de design das motas são, obviamente, mais notórias para quem segue o MotoGP, especialmente se compararmos com as grandes alterações anuais em competições de automóveis, como a F1. Mas, o rigor visual de cada modelo está lá para quem quiser apreciar. Além disto, ainda temos 70 pilotos lendários para aqueles que gostariam de recriar os grandes momentos da história do MotoGP.
Para esses nostálgicos, temos ainda uma interessante adição. O modo “Nine Season 2009” é uma interessante viagem ao passado, apresentado num formato de documentário que inclui imagens de arquivo dessa época longínqua do MotoGP. O que tem de especial o ano 2009 para esta competição? Foi um ano muito competitivo, envolvendo grandes nomes desta competição. Quem se lembra da dupla Rossi e Lorenzo ou dos seus concorrentes Stoner e Pedrosa, deverá apreciar os 17 capítulos desta campanha, narrada pelo lendário Mark Neale.
Nesta edição, a Milestone também reviu os pisos dos mais de 20 circuitos oficiais, para lhes dar um aspecto mais realista, mais de encontro ao traçado real. As nuances não passam disso mesmo, nuances, mas é um aprimoramento bem vindo. Há também novidades nas físicas, com um sistema de suspensão bem mais realista, que leva em conta a deformação dos pneus e tudo. Duvido que a maioria dos jogadores note realmente a efectividade destas novidades. Ainda assim, de facto, é isto que se pede de um simulador que pretende evoluir a cada nova entrada.
Outra novidade para esta edição é a introdução do modo de dois jogadores locais em ecrã dividido. Sejamos claros, não é imperativo que todos os jogos de corridas tenham esta funcionalidade. No entanto, é já algo que esperamos de um jogo deste género, nem que seja pelo factor diversão. Pelo que pareceu sempre que foi um “esquecimento” da Milestone. Não considero tanto um destaque propriamente dito, até porque limita um pouco o campo de visão de cada piloto, destruindo a imersão. Mas, acredito que muitos irão gostar de jogar assim com amigos.
Ao volante, MotoGP 22 continua a ser das melhores simulações de motociclismo que há memória. Aqui o que prevalece é o domínio na abordagem das curvas, a travagem no tempo certo antes de as abordar, a aceleração ao sair delas, tudo isto com a capacidade de gestão de energia para fazer a diferença perante os adversários. Depois, ainda temos de lidar com a mecânica da mota e outros detalhes importantes na gestão da prova. Como seria de esperar curva de aprendizagem pode ser intimidatória para quem quiser dominar as motas e fazer o melhor tempo.
Em termos de simulação, adicionando os já mencionados detalhes de melhoria da suspensão e deformação dos pneus, é bem possível que esta seja a melhor simulação de sempre no que toca a competir em motas potentes. Continuo a achar que o estilo de montada na mota não tem grande serventia em jogo, mas os veteranos, claro, discordarão desta afirmação. Toda a vantagem que possam obter é importante, já que nesta edição a Inteligência Artificial está mais audaz e menos tolerante que na edição do ano passado, o que só adiciona ainda mais tensão em prova.
Mas, não se preocupem se este for o vosso primeiro jogo de motas. MotoGP 22 possui um extenso processo de aprendizagem, através das já mencionadas ajudas à condução mas também com imenso foco nos tutoriais. O modo MotoGP Academy é o melhor ponto de partida, com ainda melhores explicações de cada aspecto do jogo, do mais simples ao mais avançado. Adicione-se a isso uma dificuldade adaptada, com modificadores especiais para cada prova e já não há desculpas para não dominar este tipo de condução. Notarão que usarão cada vez menos o infame “rewind”.
Se, mesmo assim, conduzir não for o vosso forte, o modo de carreira manager está de volta. Podem criar a nossa própria equipa ou juntar-se a uma equipa oficial já existente, podendo depois recrutar e gerir staff e investir no desenvolvimento da mota e os seus componentes. Como já disse, é possível começar no Moto2 e progredir até à prova-raínha, o que transmite uma sensação credível de evolução. Dificilmente será o modo mais popular deste jogo mas é impressionante a extensão de tarefas e gestão, delegando as corridas em si quase para uma “nota de rodapé”.
Um ponto muito positivo para esta edição é o seu visual. Dirão que, à primeira vista, pouco mudou desde o ano passado, já então a apostar no hardware mais potente para um grafismo exemplar. Mesmo assim, diria que nesta edição há mais detalhes nas pistas, há melhorias notórias na iluminação e nos efeitos, assim como na modelação das motas. Tive a oportunidade de rever este jogo na Xbox Series X e fiquei surpreendido com alguns momentos a roçar o “fotorealismo”. Acredito que isto só é possível nas plataformas mais potentes, o que é também um bom atestado à produção de conseguir extrair mais “sumo” do hardware mais robusto.
Claro que nem tudo é perfeito. Os olhos mais analíticos notarão que a meteorologia e os seus efeitos continuam aquém desta qualidade geral. Também as animações dos pilotos e staff parecem um tanto robóticas, com expressões faciais algo estáticas, mesmo que haja muito maior rigor na sua modelação. Também continuo a achar que o som não é o melhor aspecto desta produção, especialmente no que toca ao ruído dos motores, para mim demasiado estridentes. E não me façam falar da banda-sonora que continua a pedir que a desliguem no menu.
Veredicto
O que a Milestone fez com MotoGP 22 foi um pouco como o Miguel Oliveira fez no Grande Prémio de Portugal neste passado fim de semana. Capitalizou nos pontos fortes desta longa série, trazendo-nos um jogo que acumula esses anos de experiência, com muitos elementos positivos adquiridos em edições anteriores. Mas, depois, não conseguiu apostar forte na recta final, para trazer algo realmente novo. O resultado é um jogo robusto, sem dúvida, mas que, também chega “em quinto lugar, pontuando para o campeonato”, mas não atingindo um ápice que nos surpreenda, como o fez em edições anteriores.
- ProdutoraMilestone
- EditoraNamco Bandai
- Lançamento21 de Abril 2022
- PlataformasPC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S
- GéneroCondução
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Tutoriais mais robustos para novatos
- Visual mais aprimorado
- Pequenas novidades na simulação
- Modo 2009 para os mais nostálgicos
- Poucas reais novidades de assinalar
- Sonoridade continua a ser ponto fraco
- IA pode ser agressiva demais
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.