Análise – MotoGP 23
Com o actual campeonato do mundo de MotoGP em curso, com apenas seis das vinte provas concluídas, nada como saltar para a mota e mostrar como se faz… virtualmente. Está aqui MotoGP 23 na grelha de partida.
Se há uma série consistente, é esta da Milestone. Tudo bem, num jogo oficial com determinados requisitos, com uma cadência sazonal, onde os fãs (quase) só querem uma actualização de motas, pilotos e equipas, pouco há a inovar, sendo relativamente fácil manter alguma consistência. Contudo, há sempre o risco de repetir o conteúdo e é por isso que a produtora Italiana tenta sempre trazer algo novo à equação. Mesmo assim, não esperem que esta nova edição de 2023 seja realmente diferente dos jogos anteriores, para o bem e para o mal.
Infelizmente, esta lógica de “mais do mesmo com uns pozinhos” traz-me o meu primeiro desapontamento. Neste ano já não temos aquele fantástico regresso ao passado com a Nine Season 2009, provavelmente uma das temporadas mais fantásticas de sempre nesta competição, competentemente documentada e recriada na edição anterior. De facto, depois deste modo, seria difícil encontrar outra temporada para continuar uma série de “flashbacks” ao passado da competição. Mas, honestamente, pensei que a produção iria continuar nessa lógica.
Confesso que esse modo 2009 foi o que mais gostei de jogar na minha análise à edição anterior. Nem sempre procuramos os jogos apenas pela sua jogabilidade, por vezes queremos alguma experiência que seja impactante ou significativa. Num jogo sazonal, sobretudo, convém que se mude o ritmo, a oferta, algo que nos faça apreciar mais o investimento. Esperava sinceramente um modo documentário/experiência, não digo igual mas semelhante, de outra época que fosse, provavelmente menos interessante que 2009 mas, ainda assim, serviço aos fãs.
Felizmente, há outras formas de jogar que mereceram a atenção da produção. O modo de carreira foi revisto para algo mais empolgante. Agora, começamos no campeonato de Moto3 e vamos evoluindo nas disciplinas, aumentando a velocidade e dificuldade consoante o jogador progrida. Contudo, a Milestone deixou muitas decisões ao critério do jogador. Podemos continuar mais uma época no Moto3 e melhorar nas lacunas ou arriscar transitar para Moto2 ou até avançar logo para MotoGP. Também é possível escolher a duração da temporada ou as 21 provas oficiais.
Por outro lado, há uma ênfase nas rivalidades que nos faz tentar sempre melhorar de uma forma compartimentada. Agora as redes sociais dão uma maior ênfase à interacção com os fãs e até podemos responder de forma mais emotiva a provocações. Isto depois traduz-se em alguma tensão em pista contra adversários com quem tivemos alguma discussão, sem esquecer que também precisamos manter uma boa postura e merecer o lugar, com a equipa constantemente a avaliar-nos dentro e fora de pista.
Ainda falando de rivalidade, é preciso não esquecer que há outro piloto na nossa equipa em busca da glória. Porque só o piloto principal pode decidir o desenvolvimento da mota, só sendo o “número 1” da mesma nos garante uma mota feita para nós. E acreditem que uma mota preparada para outros não tem o mesmo comportamento, especialmente quando se começam a interessar pela sua mecânica. Se não se sentirem bem numa equipa de topo onde o piloto principal é “demais”, não há problema, procurem outro contrato noutra equipa ou apostem nos Turning Points, uma variedade de cenários opcionais com objectivos para cumprir e ajudar na progressão.
Outras opções tradicionais de jogo estão também disponíveis para quem quer algo mais casual. É possível fazer grandes prémios ou corridas singulares completas ou simplificadas (só a corrida, por exemplo) contra a inteligência artificial ou desafiar outros jogadores, tanto online (com crossplay nas consolas), como em modo local para dois jogadores. É também possível personalizar o piloto e a motorizada a nosso gosto, se bem que com o capacete quase sempre posto, as feições são um tanto irrelevantes. Mas, hey, é possível. E ainda podem colar muitos autocolantes.
Uma das maiores novidades publicitadas pela Milestone, é que esta edição seria mais acessível para os inexperientes, graças ao novo sistema Neural Aid que permite usar a Inteligência Artificial para ajudar a aprender a virar, acelerar e travar com melhor eficácia. O sistema é baseado numa rede neural que se adapta aos jogadores para os tornar mais eficientes em pista. Vale o que vale, uma vez que depois, habituam-se e nunca mais conseguirão jogar sem as ajudas e isso poderá afectar a vossa apreciação da condução. É que com estas ajudas, é demasiado facil ganhar.
Não que a inteligência artificial facilite muito a nossa vida. Nesta edição, nota-se que há uma certa “queda” para os pilotos se mostrarem mais em pistas mais familiares. Assim, é normal que o Miguel Oliveira se destaque em Portimão, por exemplo. É uma óptima adição de “dificuldade” mas enaltece também alguma inconsistência exagerada na IA. A dada altura, mesmo os melhores pilotos cometem erros grosseiros, colidem e derrapam, enquanto pilotos menores são quase “perfeitos”. Tudo depende da pista e bem sabemos que as coisas não são bem assim.
Outra adição destacada nesta edição é a meteorologia dinâmica. Estamos tão habituados correr com ou sem chuva e sempre na mesma hora do dia que nos esquecemos que a vida real não é assim. Não é uma novidade no mundo dos jogos de condução e corrida mas só quando não temos esse nível de realismo é que notamos a diferença. Embora a hora do dia não seja realmente muito relevante, mudando apenas reflexos e sombras, a meteorologia, de facto, é. Há toda uma nova experiência entre conduzir numa pista seca ou numa pista molhada.
Aqui, o asfalto pode começar por ficar ligeiramente molhado mas, se a chuva não dissipar, a água vai acumulando, por vezes formando poças nas chamadas zonas “sujas” da pista. Cometam um erro e parecem uma criança num parque aquático a escorregar até à gravilha (ou aos pneus). Felizmente, o jogo simula a famosa bandeira branca que permite ir às boxes trocar de pneus, caso o estado do tempo mude de forma significativa. Notem apenas que as previsões de chuva não passam disso mesmo, previsões. A gestão dos pneus é muito importante em cada prova.
No plano técnico, nada a assinalar. Sim, nada mesmo. Estamos perante o mesmo nível de qualidade do ano passado, com motas e pilotos de óptimo aspecto, dinâmicas de condução, animações e efeitos visuais de igual qualidade. Ou seja, não havendo grandes inovações no plano técnico, este é um jogo visualmente cumpridor e que transmite tudo o que é preciso para recriar como deve ser as provas reais que representa. Na versão que analisei no PC, devo só assinalar que notei os ambientes fora de pista um pouco aquém, mesmo com o preset Ultra. Mas, acima dos 200Kmph talvez nem notem.
Veredicto
Todos os amantes das duas rodas, sabem o que esperar de MotoGP 23. Os fãs do campeonato real, então, terão tudo o que precisam. Todos os que procuram uma nova experiência de condução, certamente encontrarão aqui uma óptima oferta, recriando a actual prova com todas a emoções possíveis. Quem não tem experiência tem boas ajudas para aprender ou para melhorar prestações, evoluindo desde a mais acessível Moto3 até ao topo. Infelizmente, nota-se a ausência de algo único na série, num jogo algo conservador e cujas novidades, como a meteorologia dinâmica, não chegam para o tornar realmente distinto. Enfim, é um jogo de época e todos sabemos o que isso implica.
- ProdutoraMilestone
- EditoraMilestone
- Lançamento8 de Junho 2023
- PlataformasPC, PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series X|S
- GéneroCondução, Simulação
Um jogo equilibrado e com boas ideias, os seus erros não o impedem de brilhar.
Mais sobre a nossa pontuação- Novas ferramentas para os menos experientes
- Rivalidades no modo de carreira
- Aqui o Miguel Oliveira é mesmo campeão
- Meteorologia dinâmica
- Nota-se a ausência de algo como Nine Season 2009
- Nada de realmente novo na condução ou no grafismo
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.