Análise – MXGP 2021

Quase todas as principais categorias de corridas internacionais que possam imaginar, têm alguma forma de representação em videojogos, tanto nas corridas de quatro rodas como nas de duas. MXGP 2021, que vamos falar hoje, é a enésima encarnação do jogo oficial de motocross. Certamente o título que todos os fãs do género esperavam com ansiedade e com a esperança de ver novidades significativas em relação à edição anterior.

Já elogiamos várias vezes o facto da produtora italiana Milestone ter uma aptidão enorme para jogos de motociclismo. Durante anos, a Milestone foi um ponto de referência para o cenário digital dos jogos de corrida com duas rodas. Após a aquisição pela THQ, a produtora italiana consolidou ainda mais sua posição no sector e hoje em dia tem em mãos três jogos oficiais deste desporto motorizado, além deste, temos MotoGP e Monster Supercross. Como já devem saber, MXGP é o jogo oficial do campeonato mundial de motocross, onde o nosso popular crossódromo Português também marca presença. Tendo em conta que o campeonato do mundo real não passa por terra Lusitanas há dois anos, devido ao panorama actual, MXGP 2021 é a melhor forma de podermos ver as motas enlameadas na pista de Águeda.

Posso começar por dizer que a base de jogo em MXGP é bastante sólida, o que é extremamente importante num jogo deste calibre, com edições anuais. Essa sua base tem permanecido praticamente inalterada de edição em edição, o que tanto pode ser algo positivo, como nem por isso, como devem calcular. A cada ano, são introduzidas apenas algumas pequenas melhorias na jogabilidade, como uma transição suave nos saltos em oposição do impacto violento e dos solavancos que os pilotos profissionais sentem nas suas costas. O que, francamente, pode não ser o suficiente para justificar uma nova edição.

Enfim, esta tem sido a evolução desta série. Talvez seja uma abordagem mais contida, para evitar mudanças complexas numa fórmula já testada. Regra geral, em cada novo jogo as mudanças aplicam-se na maioria dos casos na física do jogo, numa demonstração do empenho da produção em criar algo realista. Mas, neste ano em particular, o foco foi para o modo carreira. Nesta edição é agora possível seguir um caminho não linear, dando a possibilidade de tomar algumas decisões de carreira. Ainda assim, após algumas horas neste modo, não consegui perceber como as minhas decisões tiveram algum efeito tangível.

De resto, este novo jogo de motocross apresenta-se com um aspecto muito semelhante ao encontrado na edição 2020 e, consequentemente, também é muito parecido à edição 2019. MXGP 2021 é nada mais do que a última edição de um jogo sazonal e, como tal, a sua principal tarefa continua a ser replicar corridas nos mais altos níveis desta modalidade, tão fielmente quanto possível. Para isso, uma vez mais recria as equipas, pilotos e patrocínios num estado mais actualizado possível. Isto, sem esquecer a experiência de condução, que também neste caso consegue transmitir uma sensação de realismo satisfatória, algo longe de um simulador.

Sim, MXGP é um daqueles jogos que está entre a fórmula arcade e a simulação. Dada a complexidade de algumas manobras, considero que é a receita ideal. Contudo, para quem gosta de um bom desafio, é possível desligar todas as ajudas de condução para aproveitar a embraiagem e a caixa de velocidades manual. Mas, acho que a maioria vai querer apenas fazer umas corridas sem se preocupar com a inclinação que deve colocar no piloto para fazer a curva, por exemplo. No entanto, qualquer que seja a complexidade que escolherem, é um jogo de sobrevivência para chegar ao final, entre muita perícia e alguma sorte entre os saltos e as nuvens de lama.

Sendo um jogo pouco tolerante a erros, o modo carreira pode tornar-se bastante exaustivo. Por essa mesma razão, a Milestone decidiu inserir uma componente, na minha opinião mais imersiva, na qual poderão ocorrer eventos opcionais que agem como uma quebra do ritmo desenfreado das corridas. Pode acontecer, por exemplo, que um piloto adversário decida desafiar-nos para um duelo numa corrida “amigável” para decidir de uma vez quem é o melhor em cima da mota. Isto faz-nos focar mais na condução e não tanto na estratégia de evitar os adversários e a lama avulsa.

Esse tipo de duelos acontece dentro do novo Playground, uma área de livre circulação situada entre as colinas e castelos do País de Gales. Aqui podem conduzir livremente a vossa mota e participar em pequenas corridas ou até mesmo criar corridas originais, simplesmente colocando pontos de passagem. De acordo com a tradição, o Playground é composto por uma área bastante pequena mas, desta vez, tem três circuitos completos. Estes novos circuitos são interessantes para descobrir, tendo vários caminhos no mato e até algumas pequenas surpresas.

Há ainda dois elementos essenciais para fechar esta edição de MXGP, o modo multi-jogador e o editor de pistas. Este último permite aos fãs criar novas pistas para abordar e até recriar circuitos que já não estão disponíveis. Apesar da tendência seja sempre criar enormes circuitos de supercross ao ar livre, a comunidade deste título tem se destacado ao longo dos anos com a capacidade de expandir a oferta de traçados. O que enriquece o suporte do jogo a médio/longo prazo, considerando ainda que temos as Legacy Tracks, pistas históricas criadas pela própria Milestone. Quanto ao modo multi-jogador, é o que esperam deste tipo de jogos. Caos, lama e pouca glória para quem cai.

Veredicto

MXGP 2021 é um capítulo conservador e ao mesmo tempo o jogo perfeito para os amantes de motocross. Pode não trazer grandes novidades face ao jogo anterior mas a sua vontade de chegar perto da simulação consegue agradar aos veteranos que já estão familiarizados com a série. Ainda tem uma curva de aprendizagem acentuada e há alguma falta de modos de jogo inovadores desde há duas edições. Assim, torna-se difícil justificar novas edições de um jogo, por mais sólido que, de facto, consiga ser.