Análise – Need for Speed: Heat
Exactamente dois anos depois de Need for Speed: Payback, a Electronic Arts e a Ghost Games trazem de volta o popular jogo de corridas. Mas, acredito que desta vez se dirija no sentido correcto. Aqui está a nossa análise a Need for Speed: Heat.
Este título poderá ser muito bem ser chamado de “NFS: Underground 3“, o tal que todos têm vindo a pedir, ano após ano. Contudo a oferta é bem mais actual. Tem um mapa aberto à exploração que podemos circular livremente, 127 automóveis das mais diversas marcas e modelos, desde o Golf GTI ’76 até ao mais recente Corvette ZR1 Coupé e muitos outros elementos atractivos. E, ao bom jeito de Underground, tem muito “tunning” à mistura, adicionando também as infames perseguições policiais alucinantes. Ah! E não tem (por agora) nenhum vestígio das micro-transacções que assombraram o último jogo. Não é o suficiente para ficarem convencidos? Tomem lá a chave e liguem a ignição.
Neste novo Need for Speed, somos convidados a visitar a cidade fictícia de Palm City, uma metrópole inspirada em Miami. E como seria de esperar, esta cidade vibrante tem uma “vida dupla”. De dia, há várias competições de um importante evento automobilístico e à noite as ruas transformam-se em territórios de vários grupos que competem entre si em perigosas corridas clandestinas. Um fenómeno social que não passa despercebido à polícia local, obviamente, determinada a resolver de qualquer forma esta ilegalidade, mesmo recorrendo à força bruta e métodos pouco convencionais.
Depois de um breve tutorial, escolhemos um avatar entre doze personagens diferentes. Estas podem depois ser personalizadas com uma série de elementos cosméticos limitados. Nenhuma das opções confere muitos pormenores, na verdade. Afinal de contas, o avatar será visível apenas nas cenas intermédias, servindo o propósito de nos dar alguma escolha e pouco mais. Este nosso alter ego é um rapaz (ou rapariga) que acabou de chegar à cidade cheio(a) de vontade de mostrar a sua perícia ao volante.
O percurso da nossa personagem irá acabar por cruzar-se com a Ana Rivera, uma jovem piloto que viu o seu grupo a ser desmantelado por intervenção dos agentes da Polícia. Estes, ao serviço do comandante Frank Mercer (um nome a reter para esta campanha). Ana é a irmã do mecânico Lucas que nos ajuda no início desta campanha, dando-nos uma base de operações que é, ao mesmo tempo, uma oficina para trabalhar nos nossos bólides.
O nosso primeiro automóvel para começar a aventura, é oferecido por Lucas. Podemos escolher entre o mítico Ford Mustang ’65, o rápido BMW M3 ’88 ou “drifter” Nissan 180SX ’96. Preferi ir para o carro nipónico e devo dizer que não me deixou nada mal visto. A primeira vez que saímos da oficina são explicadas as mecânicas-base deste Need for Speed, com a possibilidade de escolher sair à noite ou durante o dia, por exemplo. A grande diferença entre fazer corridas de dia ou de noite, reflecte-se sobretudo no dinheiro e reputação ganhos respectivamente. Passo a explicar.
Durante o dia, é possível participar em eventos oficiais para ganhar dinheiro que, por sua vez, precisamos para adquirir novas peças e/ou novos veículos. Enquanto que durante a noite, temos a possibilidade de enfrentar as forças da Lei e participar em corridas clandestinas para ganhar reputação e conseguirmos aceder a missões da campanha específicas ou desbloquear novos carros e peças. Neste modo, porém, temos a particularidade de necessitar de voltar sempre à oficina ou outro ponto seguro para depositar os nossos pontos ganhos. Se não “bancarem” estes pontos, perdem-nos.
E há um pequeno detalhe para ter em conta na condução à noite. Quando o sol se põe em Palm City, a policia caça literalmente qualquer pessoa que tenha um carro preparado para corridas. O que dá azo a perseguições alucinantes que, posso já adiantar, não serão nada fáceis de escapar, principalmente no início do jogo. Se forem presos ou destruírem o vosso carro, perdem todo o progresso ganho nessa noite. O que nos deixa num pequeno impasse para decidir se devemos arriscar mais uma corrida clandestina para maximizar os resultados ou voltar à base para garantir o nosso progresso. Decisões…
Toda esta ideia de duplo progresso representa o aspecto mais interessante deste Need for Speed: Heat. É um mecanismo que estimula a audácia de cada um, obrigando a um misto de risco e planeamento. Também nos obriga a dividir os esforços entre os dois momentos diferentes do dia para, assim, evoluir em todas as etapas da nossa personagem. Obviamente que um dos maiores motivadores deste “jogo” de decisões é o nosso espírito de coleccionista e querer sempre aumentar na nossa frota de carros desportivos.
Em termos de automóveis, este é o Need for Speed com mais carros até à data. Como irão constatar, representa uma grande nível de variedade de marcas e modelos mas também de disciplinas. Há jipes, muscle cars, super carros e mesmo hiper-carros. Todos estes veículos podem ser equipados e pintados como bem entenderem de acordo com as opções de personalização. No total são 127 carros licenciados de várias marcas, com grandes marcas envolvidas, desde a Acura à improvável Volvo, sem esquecer as lendárias Audi, BMW, Ferrari, Lamborghini, Mercedes, McLaren, Mitsubishi, Porsche, Subaru entre muitas outras.
A personalização dos carros é particularmente enfatizada nesta edição. Talvez porque a Ghost Games se apercebeu que era o que mais apelava aos fãs, como uma tradição da série, um tanto perdida no tempo. É-nos dada a opção de comprar e montar uma série de componentes separados em quatro categorias: motor, chassis, transmissão e auxiliares. A ideia é evitar por completo a limitação dos jogadores usarem o seu carro favorito em qualquer tipo de evento, alterando-os profundamente para as mais diversas provas. Já agora, caso estejam curiosos, a categoria “auxiliares” junta algumas protecções activas e passivas contra a polícia, como por exemplo, os kits de reparação rápida.
O que me leva agora a falar da condução e jogabilidade deste título. Felizmente ou infelizmente, dependendo do que estão à espera, mais uma vez esta condução não vai para além de uma experiência arcade. No devem esperar grande diferenças entre os carros em si, nem uma representação realista de pesos ou estabilidades gerais dos diferentes carros. Há, no entanto, uma grande ênfase no drifting, com curvas apertadas a pedir para largar o acelerador, virar no sentido pretendido e carregar novamente a fundo no acelerador. Como por magia, o carro inicia o drift e será depois uma questão de o colocar na direcção desejada. É fácil, prático e divertido mas… nada realista.
A grande prova da experiência da produtora aplicada neste jogo, está na sua fórmula. Mantém-se o habitual mundo aberto com um mapa relativamente amplo e dividido em quatro diferentes distritos, todos caracterizados por diferentes paisagens e com objectivos distintos para conquistar ao longo de cada região. Há ainda a possibilidade de ser jogado sozinho ou online, acedendo a servidores que juntam no máximo 16 jogadores de cada vez. A grande diferença de jogar online está no facto de ser possível convidar todos os presentes para competir num evento. É uma mecânica simples, improvisada mas bastante funcional em termos de matchmaking e, pelo menos nos meus testes na PlayStation 4, realmente estáveis ao nível de netcode.
Quanto à realização técnica, o Need for Speed: Heat oferece um grafismo substancialmente mais apurado que no último NFS: Payback. A Ghost Games teve especial cuidado com os efeitos visuais, principalmente na representação de reflexos. Algo que é particularmente evidente é também o clima dinâmico, realmente variável e convincente. Os avatares, que já disse não serem muito importantes, têm um número de polígonos mais discreto e estão obviamente menos trabalhados quando comparado com os carros. E isso é notório nas cenas intermédias. Uma nota para a banda sonora, uma mistura de música hip hop com músicas latinas, que pessoalmente não aprecio mas acredito fazer parte do “look” do jogo e da cultura de “street racing” que este jogo tenta representar.
Veredicto
Need for Speed: Heat coloca novamente a série no caminho certo, com um divertido jogo de condução arcade que tem ideais bastante interessantes. Apesar da história não ser propriamente fenomenal, dita discretamente o ritmo para a campanha. O melhor está no sistema de progressão, com uma lógica de progresso dividido em dois tipos de corrida com o alternar em dia e noite a criar “dois jogos num só”. Sou particularmente fã do espírito de “risco” da condução nocturna. Se este é um “Underground 3”, talvez não seja. Mas, a Ghost Games fez mesmo o “trabalho de casa” e as saudades dessa outra série ficam, de certa forma, mitigadas.
- ProdutoraGhost Games
- EditoraElectronic Arts
- Lançamento8 de Novembro 2019
- PlataformasPC, PS4, Xbox One
- GéneroArcade, Condução
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Sistema de progresso duplo
- Nível de grafismo dos cenário e dos carros
- Boa variedade de automóveis
- História demasiado simples
- Algo repetivo
- Banda sonora muito peculiar
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.