Análise – Need for Speed Payback
Num ano repleto de jogos de automóveis como Gran Turismo Sport, Project Cars 2 e Forza Motorsport 7, Need for Speed: Payback tenta destacar-se dos restantes com uma história e acção ao estilo de Hollywood. Será essa fórmula suficiente para a série voltar à ribalta?
Em retrospectiva, podemos concluir que Need for Speed já teve melhores dias. Ao longo dos vários jogos, experimentou de tudo um pouco. Já foi focado em corridas ilegais de rua, nas competições de drift, corridas profissionais em pista e até num titulo que, estranhamente, levou o protagonista a correr por telhados com recurso a quick-time events. Com este novo NFS Payback a série muda novamente o seu rumo. Apesar de já ter tocado um pouco na acção mais dramática, tenta colocar-nos assumidamente no meio de um filme. Com esta abordagem de um thriller que envolve investigações policiais e carros de alta cilindrada, algo que soa francamente familiar, podemos concluir que a série que conhecemos nos anos 90, parece à deriva, sem saber muito bem para onde se deve virar.
O jogo leva-nos a conhecer a história de Tyler Morgan, acompanhando-o em Fortune Valley, uma cidade fortemente inspirada em Las Vegas. Sem querer revelar muitos detalhes, esperem alguns clichés deste tipo de história. Tyler e a sua equipa reúnem-se depois de um trabalho em que foram traídos e, com o objectivo de se vingarem (daí o título do jogo), partem para tentar desmantelar um cartel desprezível conhecido como “The House“, que controla os casinos, criminosos e a polícia corrupta da cidade.
O protagonista é um piloto nato, destemido e com grande motivação para acabar com o cartel. Para ser bem sucedido terá uma série de desafios que irá enfrentar com a ajuda da sua fiel equipa. Esta é composta por Sean “Mac” McAllister, o especialista em drift e todo-terreno com um estilo exibicionista e imprevisível. E Jessica “Jess” Miller é conhecida por ser a melhor piloto a despistar a polícia, sendo uma espécie de “Uber” que os ricos e infames recorrem quando querem fugir às autoridades.
Vamos assumir o óbvio para todos. O jogo é claramente inspirado nos filmes “Fast and Furious”, onde as perseguições, assaltos e corridas ilegais são comuns no seu dia-a-dia. Na primeira hora, o jogo esforça-se para conhecermos todas as personagens e esperar que surja alguma ligação entre elas e o jogador. Contudo, devido às fracas linhas de diálogo e à fraca prestação dos actores de um modo geral, isso não chega realmente a acontecer. Pessoalmente, não tive qualquer interesse em conhecer mais detalhes de cada um.
Com cerca de oito horas de jogo, posso dizer que o objectivo da produtora em tentar fazer-nos sentir que estamos no meio de um filme como uma espécie de Dominic Toretto, quanto a mim, é mesmo o principal problema deste título. Grande parte do enredo está dividido em cenas intermédias, mas depois tenta arranjar sempre uma justificação para acelerar do ponto A para o ponto B. Um bom exemplo desta tentativa forçada, aconteceu logo numa das missões iniciais. Era suposto saltar com um carro através de um camião, bem ao estilo daquela famosa cena do filme “60 Segundos”. Contudo, quando já estava mesmo alinhado com o meu objectivo, eis que a acção foi interrompida para uma cena dramática em câmara lenta do meu carro a passar pela rampa. Não podia ser eu a fazê-lo?
Ao longo da campanha há vários tipos de desafios que serão partilhados pelas três personagens, todas elas jogáveis. Estes desafios variam entre Race, Off-Road, Drag, Drift e Runner. Cada um deles possui mecânicas diferentes que variam na jogabilidade e ajudam a quebrar a monotonia. Contudo, o progresso do jogo é muito moroso. A campanha está dividida em várias corridas que terão de competir para avançar na história e ajudar a crescer a vossa colecção de carros. O dinheiro de cada corrida só é ganho se chegarem ao topo do pódio, porém. E, caso não vençam, não verão qualquer prémio a não ser experiência. A ideia é repetir a corrida as vezes que forem necessárias até conseguir aos primeiros lugares.
E, na maior parte das vezes, chegar em primeiro lugar não é o mais fácil. Os carros dos nossos rivais podem estar uns níveis acima e, se o nosso carro não for melhorado, ganhar pode tornar-se uma dor de cabeça. E aí surge outro problema: As Speed Cards. Em qualquer outro jogo da série, podiam comprar peças e melhorar os vossos veículos. Numa manobra perfeitamente comercial da EA, agora têm de usar estas cartas para melhorar a performance dos nossos bólides. O progresso é agora condicionado pela quantidade e qualidades das vossas Speed Cards ganhas aleatoriamente em cada corrida ou compradas a custo com divisa do jogo. É por isto que eu refiro acima que o processo é moroso. A única forma de acelerar o progresso é, adivinhem, comprando cartas com dinheiro real.
Fora das missões da campanha, há um mundo aberto para descobrir com vários tipos de actividades. E, aí, NFS Payback, lembra-me imenso a série Forza Horizon. Limites de velocidade, saltos, derrapagens e até carros abandonados à espera de serem encontrados. A sério, muita coisa faz lembrar essa outra série de automóveis da Turn10/PlayGround. Contudo, embora familiares, estas até são actividades divertidas. Se nunca jogaram Forza Horizon, até dirão que são inovadoras… pelo menos para a série NFS até são.
No total, existem 78 carros para descobrir. Há clássicos como o lendário Carocha, exóticos e até todo-terreno. Uma diversidade de tracção e de pisos que conseguirá certamente agradar a todo o tipo de fãs. A condução de cada classe varia um pouco mas, na sua essência, a jogabilidade é o que esperam da série, aquela que não muda desde há vários anos. Não procurem realismo, nem liguem às físicas nem ao comportamento do carros. Aqui o importante é a velocidade e o exibicionismo, uma pura condução de arcada, talvez ao jeito de uma outra série que a EA teve em tempos… um tal de Burnout, lembram-se?
Foi no NFS Underground que tivemos a primeira experiência de personalizar profundamente os carros ao nosso gosto. Desde então, essa personalização tem sido melhorada de forma significativa e agora podemos transformar um simples citadino numa autêntica máquina de fazer frente a um BMW M5. Sim, é verdade! A personalização, apesar de algo limitada, é possível aplicar tanto a nível estético como também na performance do carro. Não é nada de extraordinário e está um pouco longe do nível de outros jogos. Mas, cumpre o objectivo e torna-se interessante.
Devo dizer que o modo multi-jogador também não é muito “risonho”. Só é possível participar em corridas com outros sete pilotos e não há outro tipo de actividades, desafios ou andar livremente pela cidade com amigos, por exemplo. Do que pude testar, pareceu-me uma experiência demasiado insípida e que me dá a entender que foi adicionada só para que a produção diga que possui um modo online. Talvez futuras actualizações possam adicionar mais substância, mas por agora não me parece suficientemente interessante para me motivar a lá voltar.
Visualmente, o jogo é competente. Um vez mais, dá bom uso ao excelente Frostbite que já dá vida a muitos outros jogos EA (Battlefield, Battlefront, FIFA, etc). Destaca-se principalmente nos efeitos visuais como a poeira, a iluminação do sol ou as sombras. O uso deste motor gráfico trouxe alguma maturidade técnica à série, mas há uma limitação que me incomoda um pouco. Na versão analisada na PS4, a sua fluidez ainda se mantém fixa nos 30 fotogramas por segundo. Na verdade, não é mau de todo, notem. No entanto, a norma actual parece a dos 60 fotogramas por segundo nos mais recentes jogos de condução. Estarei mal habituado?
Em termos de sonoridade, não posso, nem devo comparar este com outros jogos do género, como GT ou Forza. Esses jogos estão num outro patamar de realismo. Need for Speed Payback não pretende que os seus carros tenham um som fidedigno ou realista. Tal como está, diria que é aceitável para um jogo arcade. Também as músicas presentes não seguem qualquer norma, sendo completamente independentes de género, época ou cultura. Há música para todos os gostos e caso não gostem, podem simplesmente passar à próxima da lista… ou desligar o auto-rádio completamente.
Veredicto
No final, confesso que ainda tenho sentimentos mistos em relação a este Need for Speed: Payback. O modo de carreira tão dramatizado onde este jogo tanto se foca é, na minha opinião, o seu grande problema. Devido às fracas prestações dos actores, os clichés, as personagens pouco carismáticas e aos momentos que roubam a acção quando estamos a conduzir, parecem uma aposta tremida. Por outro lado, a história não influencia em nada o jogo, servindo apenas de justificação para as corridas. Afinal de contas, Need For Speed sempre se destacou pelas corridas de automóveis e personalização dos mesmos. Quando isso passa para segundo plano, algo não está bem…
- ProdutoraGhost Games
- EditoraElectronic Arts
- Lançamento10 de Novembro 2017
- PlataformasPC, PS4, PS4 Pro, Xbox One, Xbox One X
- GéneroCondução
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Personalização
- Grafismo
- Oferta de carros
- Speed cards
- Progresso demorado
- Fraca prestação dos actores
- História
- Modo multijogador
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.