Análise: Nioh
Sobreviver no Japão Feudal não era nada fácil. Que o diga William Adams, um ocidental convertido à doutrina Samurai. Só que esta aventura de Nioh passa-se num sombrio universo alternativo em que o país está a braços com ameaças sobrenaturais. A morte é a única coisa que poderão esperar… muitas vezes…
Os míticos jogos da série Dark Souls já inspiraram muitos outros títulos no seu género. Com esta nova aventura, a PlayStation 4 recebe o seu segundo jogo exclusivo no género RPG de acção com a clássica brutalidade e injustiça, firmada no género criado e aperfeiçoado na série Souls. Bloodborne, o primeiro exclusivo do género, foi um dos jogos que nos recordamos pela sua qualidade geral, mas também pelos tenebrosos ecrãs que nos informam que morremos uma vez mais. Nioh foi muitas vezes chamado de “Dark Souls com Samurais” com alguma legitimidade. As mecânicas e lógicas são muito próximas, num jogo onde também temos de aprender com os nossos erros. Contudo, este é todo um novo desafio para a equipa por detrás da lendária série Ninja Gaiden. Vejamos como se safam a matar-nos sadicamente.
Como já expliquei, este jogo segue um relato alternativo da vida do famoso “Samurai do Ocidente” William Adams. Esta foi uma personagem histórica real, tendo chegado ao Japão numa expedição em 1598, tornando-se conselheiro e tradutor oficial do Shogun Tokugawa Ieyasu. Curiosamente, o ex-navegador Inglês chegou a cruzar-se com Padres Jesuítas Portugueses que o mencionam nas suas crónicas. Pelos seus préstimos, o Shogun acabou por conferir a Adams o título de Samurai e um novo nome: Miura Anjin. A sua aventura pelo Japão acabaria por inspirar inúmeras obras e filmes. Agora, inspira também a história de Nioh. Logicamente, com algumas liberdades artísticas e de narrativa.
Neste jogo, Adams foge da prisão para regressar ao Japão para travar os planos engenhosos de um tal Edward Kelley de obter um poder avassalador. Só que ao chegar à Terra do Sol Nascente, depara-se com um país muito diferente. Durante a guerra de unificação do Japão, algo aconteceu que fez erguer yokai (monstros sobrenaturais da mitologia Japonesa) por todo o lado, espalhando o caos e a morte. Aliando-se ao Shogun Ieyasu e ao ninja Hattori Hanzo, o seu objectivo é travar o sinistro Kelley ao mesmo tempo que manda os yokai de volta ao submundo, um golpe de espada de cada vez.
Inicialmente, serão presenteados com um sucinto vídeo que se focará nos esforços da Coroa Britânica em obter uma preciosa fonte energética chamada “Amrita”. Esta confere poderes especiais a quem a deter. Adams percebe que tem de travar Kelley e ajudar o Shogun a repor a ordem com o auxílio deste poder, antes que algo pior aconteça. Basicamente, Amrita será a divisa do jogo para gastar em evolução. Quando mais inimigos matarem e pesquisarem objectos, mais Amrita terão para evoluir num próximo Altar. Mas, há uma condição. Cada vez que morrerem, perdem toda a Amrita ganha e surgem no último Altar onde rezaram. Podem sempre regressar ao local onde morreram e recuperar a Amrita do corpo, mas dada a distância dos Altares, uma boa estratégia é essencial.
Como uma pequena compensação para os menos eficazes, saibam que podem apanhar pedras em bruto de Amrita como loot que ficam no inventário. Estas não se perdem em cada morte, garantindo que ao chegar ao altar as podem desfazer e evoluir a personagem. Infelizmente, não substituem em quantidade toda a Amrita que podem ganhar em combate. Não contem muito com esta ajuda lá mais para a frente. Cada ponto de evolução da personagem exige cada vez mais Amrita e não há pedra que chegue.
Felizmente, ao morrer, também não perdem a evolução de personagem e equipamento. Ao contrário de alguns outros jogos do género, retemos todo o progresso que evoluímos, todos itens de inventário e todas peças de equipamento e armas. Melhor, alguns itens são repostos, como o muito importante elixir de recuperação de energia. Notem que o equipamento e armas possuem níveis de raridade e bónus especiais. É particularmente importante evoluir a personagem com Amrita, sim, mas também é essencial que combatam com inimigos mais poderosos e ganhem loot cada vez melhor ou vão ter muitas dificuldades em progredir lá mais para a frente, sobretudo contra os infames Bosses. E todo o loot desnecessário pode ser vendido para ajudar nessa evolução.
Quando for a altura de combater, irão notar que estão condicionados nos movimentos por uma barra de stamina adicional. Esta barra de Ki esgota-se com cada movimento de ataque ou defesa. Para a repor, ou esperam uns segundos ou no momento certo carregam na tecla R1 do comando quando houve um flash de luz. É particularmente importante dominar esta mecânica, uma vez que sem Ki não podem atacar ou desviar de adversários. O que, rodeado de yokai é morte certa. Pior é que poderão encontrar “poças” de spawn de yokai que previnem a regeneração de Ki. Lembrem-se de levar no inventário regeneradores de Ki e de os usar em situações mais complexas.
No que toca a armas, Nioh divide-as entre armas de “melee” e de distância. Katanas, singulares ou em pares, machados, martelos ou lanças são muito características, variam de rapidez e peso, dando bónus ou limitações consoante a acção. O machado, por exemplo é muito eficaz a fazer dano e a travar ataques pesados, mas é lento e gasta muito mais Ki. A katana é rápida e consegue dar muitos golpes por segundo, gastando menos Ki, mas não faz tanto dano. Logo no início do jogo, poderão escolher duas armas para se iniciarem, mas mais à frente convém rever qual a arma que mais se adapta a vossa jogabilidade. Podem levar sempre duas de cada convosco para rápida comutação
As armas de distância, sobretudo os arcos e as espingardas são importantes para surpreender os adversários. Temos também as estrelas Shuriken, obtida pela nossa evolução em Ninjutsu mas, neste caso, o dano é muito fraco. Quando disparamos o arco ou a espingarda, temos de seleccionar bem o alvo e a zona do corpo para acertar. Quase sempre uma seta ou bala na cabeça desprotegida é imediatamente letal, mas uma boa armadura trava o dano destes projécteis. Considerem as armas de distância como auxiliares. Não esperem ganhar muitos confrontos com elas. Além disso, os inimigos fazem questão de encurtar distâncias connosco, pelo que só vão usar estas armas em sentinelas ou arqueiros, praticamente.
Notem que todas as armas podem ser melhoradas com boosts pontuais. Equipem um amuleto de fogo e a vossa arma fica temporariamente em chamas danificando por fogo além do golpe disferido. Também devem experimentar uma das três posturas de combate, alta, média e baixa. Cada uma possui características únicas que modificam o combate, gastam Ki de forma diferente e dão melhor ou pior ataque e defesa. Alta é mais indicada para ataques, baixa para defesa e média é uma mistura dessas duas. Evoluam a personagem para adicionar combos importantes a cada arma e postura de combate.
E os deuses mitológicos Japoneses também estão do nosso lado nesta senda. Irão reparar que podem escolher uma divindade para vos acompanhar. Este Espírito Guardião. Esta é uma “arma secreta” para activar em situações de aperto. O nível vai subindo com o nosso combate até ficar preenchido. Aí podemos libertar a força destruidora do nosso Guardião que nos ajuda por tempo limitado a derrotar um adversário mais forte ou se estivermos rodeados. Também irão encontrar pequenos seres divinos que vos podem abençoar em cada altar com pequenos bónus adicionais, como dar maior percentagem de loot ou de Amrita encontrada, por exemplo.
Apesar dos mapas de jogo serem enormes e convidarem à exploração, irão notar que há sempre uma missão específica (principal ou secundária) para executar em cada um deles. Enquanto que neste tipo de jogos, geralmente, só temos de ir de A para B, em Nioh temos tarefas mais pontuais para cumprir antes de lá chegar. Na maioria dos casos, são simples ou vagas (como verificar o que se passa numa vila, por exemplo). Durante o seu cumprimento, irão reparar que estas missões acabam por ser lineares. Isto, porque os mapas são enganadores. São realmente muito grandes e cheios de pormenores, mas são na maioria dos casos limitados a caminhos específicos para seguir, já para não falar de habitações fechadas ou caminhos cortados que não podemos passar. A dada altura o progresso pelo nível torna-se algo linear e previsível.
E espalhados pelos mapas, irão reparar que existem uns amontoados de armas e equipamento rodeados de uma aura vermelha. Estes são inimigos caídos especiais. São jogadores de outras sessões que ali morreram. Podemos simplesmente desafiá-los para obter o seu loot. Notem, porém que estes são avatares dos jogadores e não os próprios. Regra geral, são mais poderosos que nós ou, pelo menos, com melhor equipamento. Escolham bem quem desafiam. E há também uma componente cooperativa interessante. Em cada altar podem “invocar” um visitante. Alternativamente, podem “invadir” sessões entrando e saindo a bel-prazer. Assim, podem ter um amigo ou desconhecido a ajudar, partilhando Amrita e Loot ganho em cada confronto. Muito prático para recém-chegados.
Tudo isto dominado e entendido, significa que sou um mestre de Ninjutsu e acabei o jogo em poucas horas? Não, longe disso. Apesar de entender que a essência destes jogos é a sua dificuldade, é um género que me divide. Nioh consegue ser muito injusto, não sendo muito consistente na forma como nos oferece desafios. Ao início, por exemplo, os níveis parecem demasiado simples e facilitam o progresso. Servem, quanto a mim, para nos preparar para o que aí vem. Mas, em breve coloca-nos adversários mais rápidos e poderosos em situações claustrofóbicas. Tudo o que aprendem no nível de tutorial é importante, além de terem de constantemente melhorar a personagem com evolução de perícia e equipamento. É tudo uma questão de perícia, realmente.
Só que, quanto a mim, os altares estão demasiado longe uns dos outros. Por vezes há até um certo receio de sair de uma área, uma vez que sabemos que, se morrermos, vamos perder toda a Amrita e voltar muito para trás, com todos os inimigos regenerados. Podemos criar atalhos com algumas portas que se abrem do outro lado, mas notem que o jogo é exímio em nos dificultar acesso a esses atalhos, colocando inimigos fortes a guardá-los. Poderão dizer que isto só torna o jogo mais divertido porque exige mais aprimoramento para não cometer erros. No entanto, acho que frustra qualquer um ver os seus esforços em reunir tanta Amrita em vão quando morre de forma abrupta a cada canto. E fugir nem sempre funciona, graças ao tal mapa labiríntico.
Tanta ênfase na jogabilidade, falta-nos só falar do plano técnico. E aqui Nioh é uma competente demonstração de qualidade. Testei este jogo na PlayStation 4 Pro numa TV 4K e logo de início pude optar por uma de três opções gráficas que tiram mais ou menos proveito do hardware mais robusto da consola. Um nível puxa menos pelo hardware, garantindo 60FPS com poucas quebras, bastante útil para o combate frenético e com tempos específicos de golpes para dominar. Outro, preocupa-se mais com o aspecto geral do jogo ao nível de texturas e efeitos visuais, mas aqui bloqueia os fotogramas a 30 FPS. E depois há um modo misto que arranja um compromisso entre performance e aspecto. Ajustem consoante a vossa preferência entre eficácia ou para regalar o olho.
Seja qual for o modo que escolham, porém, Nioh é uma experiência fantástica. Não só a produção conseguiu recriar com imenso detalhe o período Sengoku, como não poupou imensos pormenores. Desde os pequenos e humildes casebres dos camponeses, até aos palácios imponentes e templos, sem esquecer os pequenos altares e imensas peças decorativas, tudo é impressionante e detalhado. Mesmo em situações de maior escuridão e ambientes mais sombrios, não ficamos indiferentes à qualidade geral, ajudada em parte pelos efeitos visuais competentes e animações irrepreensíveis. Juntem a isto tudo uma banda sonora épica com arranjos tradicionais Japoneses e terão uma receita para o sucesso.
Veredicto
Apesar da minha sensação de injustiça que, estou certo, é fruto de uma maior necessidade de treino e domínio de armas e combos de ataque e defesa, apaixonei-me por Nioh. Confesso que nunca fui grande adepto deste género por causa da omnipresente tentativa de nos matar e punir pelas nossas fracas prestações. Em Nioh acontece o mesmo: morri muito, de facto. Mas antes de arremessar o comando contra a TV percebi que há todo um domínio de mecânicas e de evolução em cada arma e postura que precisa de dedicação. Aliando a todo ambiente visual impecável que recria um apaixonante Japão Feudal, este jogo é essencial a todos os amantes de Dark Souls ou Bloodborne. Peguem na katana e preparem-se para morrer!
- ProdutoraTeam Ninja
- EditoraSony Interactive Entertainment / Koei Tecmo
- Lançamento8 de Fevereiro 2017
- PlataformasPS4, PS4 Pro
- GéneroRole Playing Game
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Grafismo exemplar
- Bom esquema de combate e estilos
- Progressão da personagem
- Mundo aberto condicionado
- Pode ser incrivelmente injusto
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.