Análise – Persona 5 Tactica
Ainda estão aí, fãs de Persona 5 e das suas várias reedições e spinoffs? Tomem lá mais uma entrada na série. Já começa a ser complicado justificar este “esticar” da franquia trazido pela Atlus com Persona 5 Tactica.
Ora, então, vejamos. Primeiro tivemos Persona 5, um dos melhores JRPG dos últimos tempos, um sucesso de crítica e vendas inegável. Depois, tivemos o estranho Persona 5: Dancing in Starlight a dançar por aí. Após isto, surgiu a reedição Persona 5 Royal, seguindo-se as “descolagens” de Persona 5: Strikers da Omega Force e o “dungeon crawler” Persona Q2: New Cinema Labyrinth. Agora temos só mais uma aventura baseada no jogo de 2016. Se olharmos para a linha temporal de lançamentos de Persona, estamos “presos” no quinto título, até que Persona 3 Reload chegue no próximo ano, sendo essa uma remasterização. Estará a Atlus parada nesta história? Precisará a SEGA de mais este jogo antes de finalmente partir para outro capítulo? E a nossa paciência, como é que está?
Apesar de se passar na mesma linha temporal de Persona 5, o novo Tactica não conta a mesma história. O que temos em comum são as personagens e a lore geral, pelo menos no seu espírito. Tudo o resto pretende ser diferente e, de certa forma, tentar inovar um pouco. O que levanta a pergunta se não poderia ser simplesmente um novo jogo com outra composição. É normal que se pretenda espremer ao máximo o que uma marca bem cotada proporciona. Mas, penso que aqui o número 5 é mesmo uma “muleta” para o marketing. Muleta, essa, que não favorece o jogo, já que os fãs procurarão sempre os paralelos em busca de uma “expansão”, para depois notar que o que mantém em comum é meramente cosmético.
Os Phantom Thieves estão de volta, de facto, ao seu mítico Cafe LeBlank mas só no início. Subitamente, são transportados para um universo alternativo numa cidade Medieval, assolada pela guerra e pela opressão social provocada pelos Legionnaires. Ao aliar-se com Erina, líder dos chamados Rebel Corps, cabe aos Thieves ajudar na previsível revolução contra os opressores. Obviamente, a trama também ajudará os Thieves a voltar à sua realidade, não sem antes resolver mais um problema de grandes dimensões. Sem querer falar mais do enredo, não precisam forçosamente jogar o título original de 2016 porque não há grande ligação entre as histórias. Quanto mais, jogariam para conhecer melhor as personagens mas não é algo imperativo.
Como o próprio título indica, este é um jogo… táctico. Bem sei que não ficaram surpresos mas é, de facto, o ponto fulcral desta nova oferta. E é um JRPG de orientação táctica, um outro spin-off para a oferta mais convencional do jogo original. Até três personagens são jogáveis, escolhidas entre os Thieves originais e os Rebels, como peças de tabuleiro numa área em grelha, cheia inimigos e outros perigos, para lidar em movimentos e combates por turnos. Todas as mecânicas dos títulos de acção táctica por turnos, inclusive do próprio Persona 5, estão aqui, sem que o jogo tente reinventar muita coisa. Quem gosta do género, sabe o que vai encontrar, quem não gosta, não vai encontrar aqui nenhum motivo para passar a gostar.
Como variante, cada um dos encontros são disputados com base nas habilidades das personagens, seja em combates próximos ou à distância. Os Thieves podem invocar as suas Personas, como não podia deixar de ser, dando-lhes algumas habilidades únicas para usar com recurso a SP (skill points), incluindo as suas afinidades com elementos como vimos no jogo original. Aliás, o uso de Personas é muito importante e poderão ganhar mais Personas (mas não caçá-las) para usar como alternativa, sendo claramente o verdadeiro destaque que marcará a diferença de outros jogos idênticos. Quase justifica ser mais uma entrada na série Persona 5.
Infelizmente, não há grande profundidade nesta lógica de uso das Personas, sendo meras “armas” seleccionáveis, sem que as suas árvores de evolução sejam particularmente destacáveis. Aqui o que interessa mais é atacar de forma consciente, angariar Personas e bónus para melhorar os ataques, acumular pontos e repetir. Como RPG, portanto, fica um pouco aquém do que se espera desse género em particular. O que poderá, realmente, desapontar alguns dos fãs originais.
Como jogo de estratégia, é até bastante competente. A movimentação livre pelo mapa é muito bem vinda, permitindo-nos estudar bem a táctica antes de avançar. Contudo, achei a mecânica de procurar cobertura um tanto restritiva demais. Ao contrário de jogos como XCOM, por exemplo, a linha de vista é algo vaga, especialmente em proximidade. Um adversário pode estar perfeitamente à vista para ser atacado mas, porque está num estado de cobertura, o jogo “finge” que não está e impede o ataque. Enfim, bastante obtuso, precisava de um ajuste para ser algo menos restrito.
Por outro lado, ao usar apenas três personagens nesta lógica de grelha num mapa tão diminuto, cria uma limitação muito óbvia. Tudo bem, poderão achar que é só mais uma dose de dificuldade e eu aceito. Também adiciona alguma complexidade, obrigando a movimentar as personagens de forma mais consciente que meramente ordenar para atacar sem pensar no seu movimento. Como já disse, podemos mover-nos livremente e até encurralar inimigos antes de carregar na acção, o que é óptimo mas cuidado para não colocar as personagens a jeito para um contra-ataque mais perigoso.
Também não compreendi bem o intuito da produção quanto à dificuldade em jogo. Num nível mais baixo, o jogo é francamente fácil e vai-se tornando cada vez mais desafiante. Até aqui, tudo bem. Mais lá para a frente, porém, a dificuldade aumenta exponencialmente, especialmente em encontros com muitos inimigos, diminuindo muitíssimo as chances do nosso humilde trio. Há certos níveis que, honestamente, parecem mais complicados que deveriam ser, fazendo-nos tentar evitar ao máximo o combate propriamente dito. O que parece uma contradição num jogo de acção por turnos mas quase que se torna uma inevitabilidade.
Por fim, a parte técnica. O novo aspecto geral das personagens poderá não agradar a todos, especialmente os fãs da aventura de 2016 de Joker e companhia. Temos aqui umas miniaturas de heróis e antagonistas, no género de manga Chibi, que até podem ser muito populares no Japão mas que por cá não passam de caricaturas. O grafismo geral, a arte dos menus e seus efeitos é muito semelhante, o que me deu a sensação que a Atlus, uma vez mais, quis só adicionar mais um elemento diferenciador do jogo de 2016 com estas caricaturas. Honestamente, é apenas uma opção criativa e não adiciona grande coisa à oferta, a não ser uma eterna sensação de “cuteness”.
Tenho de dar uma nota muito positiva à sonoridade deste jogo. A prestação dos actores é muito positiva, em particular com a antagonista principal, Lady Marie Anto (em baixo). De facto, a prestação do elenco de vozes consegue até remover a constante sensação de vermos “mascotes” em acção, dando a devida dose de “seriedade” para nos distrair desse facto. Agora, o que tenho mesmo de destacar é sua banda-sonora é muito bem disposta, tendo praticamente o mesmo bom gosto do jogo original. De facto, são poucos os jogos que nos fazem chocalhar a perna enquanto jogamos. Este é um deles, sem dúvida.
Veredicto
É mais uma entrada para tentar trazer algo novo a uma fórmula de sucesso. Em vez de tentar contar algo realmente novo, Persona 5 Tactica pega em elementos conhecidos, dá-lhes um novo grafismo, uma nova história e tenta inovar com uma visão de jogabilidade não-linear. Não só não adianta nada ao jogo original, nem sequer o aborda, levando-nos para um universo paralelo, como apenas nos traz alguns traços de familiaridade. É outro spin-off para fugir ainda mais ao original, portanto, até mesmo no seu design. Agora, a pergunta é se se justificam tantos jogos Persona 5 ou se estamos já cansados dos Phantom Thieves, sinceramente. Algo que nunca pensei vir a dizer mas que acabo por perguntar o mesmo.
- ProdutoraAtlus
- EditoraSEGA
- Lançamento17 de Novembro 2023
- PlataformasPC, PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series X|S
- GéneroEstratégia, Role Playing Game
Podia ser melhor mas tem alguns pormenores positivos que podem agradar a muitos jogadores.
Mais sobre a nossa pontuação- Excelente banda sonora
- Prestações dos actores de voz
- Combates verdadeiramente tácticos e complexos
- Fadiga assinalável na franquia
- Design das personagens é divisor
- Dificuldade pode ser intimidante demais
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.