Análise – Planescape: Torment & Icewind Dale – Enhanced edition
Quando se fala de clássicos RPG dos anos 90 e inícios de 2000, Planescape: Torment e Icewind Dale são dois títulos que devem ser mencionados nessa conversa. Estes dois foram produzidos pela Black Isle Studios e já contam com 20 anos de vida. Na sua época, encantaram os jogadores e inspiraram inúmeros outros jogos do género. Será que ainda valem a nossa atenção (e investimento) em 2019?
Graças ao trabalho árduo da produtora Beamdog que tem trazido de volta vários RPGs de PC, estes dois títulos estão agora disponíveis, pela primeira vez, para as consolas PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch. A produtora pegou nestes premiados clássicos e deu-lhes o mesmo tratamento de Baldur’s Gate Enhanced Edition, que foi lançado para as consolas na mesma semana. O facto de serem vendidos os dois num só pacote, também significa que haverá muito conteúdo para jogar de forma seguida, tornando o pacote perfeito para quem adora dedicar-se a jogos tão densos e exigentes do nosso tempo.
Planescape: Torment e Icewind Dale foram construídos sobre o mesmo motor gráfico, mas não poderiam ser mais diferentes um do outro. Planescape: Torment tem um foco especial na narrativa e convida-nos a explorar o mundo e a história que passa por temas tão complexos como a imortalidade ou a moral enquanto progredimos no jogo. Por seu lado, Icewind Dale segue o molde de Baldur’s Gate, claramente, mas retira o sistema de moralidade e dedica-se mais ao combate, tornando-o mais semelhante a um “Diablo” do que propriamente um tradicional Role Playing Game.
A produtora Beamdog incluiu ainda conteúdo extra para tornar estas edições Enhanced ainda mais entusiasmantes. Adições que até ajudam a justificar a despesa, extra. Nesta reedição vão encontrar novas quests, habilidades e até áreas que foram originalmente cortadas dos dois jogos originais. O que significa que os fãs irão com certeza encontrar coisas novas quando voltarem novamente a estes títulos. Em complemento do conteúdo original, esta reedição de Icewind Dale traz ainda as suas duas expansões Heart of Winter e Trials of the Luremaster.
Posso dizer que ambas as versões não são remasterizações ou remakes. Seguindo o espírito do já mencionado Baldur’s Gate também editado pela Skybound Games, são principalmente adaptações às consolas com actualizações algo subtis. O grafismo de há 20 anos apresenta-se tal como nos lembramos e não se aplicam à realidade actual do que o hardare seria capaz de fazer. O interface foi revisto e tem agora suporte nativo para ecrãs de alta resolução e outros cuidados, como a possibilidade de aumentar a fonte das letras para melhor legibilidade. Tirando isso, não esperem feitos técnicos.
Como ports da versão PC (testámos numa consola Nintendo Switch) ambos funcionam incrivelmente bem, com tempos de carregamento quase inexistentes. Desde o menu até à acção, tudo se desenvolve de forma suave e quase imediata. Infelizmente, por alguma razão, não está disponível nenhum modo multi-jogador neste momento. Contudo, segundo o que pude apurar, existe a promessa de que um modo online será incluído no futuro através de uma actualização gratuita de título.
Tal como em Baldur’s Gate, a Beamdog também optou pela tal solução engenhosa para os controlos nas consolas. Também aqui temos os dois esquemas de controlo distintos que vimos nesse outro jogo. Num dos modos, movemos o cursor com o analógico numa experiência semelhante ao PC, no outro movemos o analógico esquerdo directamente para controlar a personagem como num qualquer RPG moderno. E se leram a minha análise, notaram que prefiro claramente esta segunda opção.
E também irão notar outras semelhanças no interface. Ao se aproximarem de pontos pré-definidos de interacção, irá surgir um ícone de contexto para interagir mais rapidamente. A título de exemplo, se se aproximarem de uma fechadura, poderão fazer logo lock pick carregando apenas num botão. Se desejarem podem ainda misturar ambos os esquemas, se vos der jeito em algumas secções. Novamente, para mudar entre estes dois esquemas, só precisam de utilizar as setas do D-Pad.
Neste pacote, Planescape: Torment é, na minha opinião, o melhor das duas ofertas, talvez justificando um pouco o facto de Icewind Dale estar aqui “colado” em bundle. O seu foco na narrativa fez com que envelhecesse muito melhor que o seu companheiro de pacote, até mesmo que Baldur’s Gate. Encarnamos o papel do Nameless One, começando a aventura numa morgue, cobertos com estranhas mensagens tatuadas no corpo. E serão essas mensagens que nos irão levar a uma jornada para “juntar as peças” e descobrir o mistério de como nos tornámos imortais e porque perdemos a memória sempre que “morremos”.
Mesmo com a sua idade, esta aventura é bastante maleável consoante as nossas escolhas durante os diálogos. E estas escolhas podem até mesmo afectar como os NPCs reagem à nossa presença. Estas são lógicas que só vemos em RPGs mais recentes. E mesmo hoje em dia, contam-se pelos dedos das mãos quantas produtoras são capazes de fazer isto de forma exemplar. É fácil perceber porque é que é ainda um dos melhores RPGs de sempre, muito aclamado no seu lançamento em 1999 e agora considerado um clássico de culto.
Icewind Dale, por outro lado, é possivelmente o jogo mais fraco alguma fez criado com o motor Infinity. Isso não significa que seja um mau jogo, muito longe disso. Contudo, como o foco deste título ficou mais orientado para o combate, acabou por tornar-se um maior desafio voltar a jogá-lo. Sem os sistemas de moral ou uma história mais rica, Icewind Dale acaba por ser, basicamente, só mais um dungeon crawler com uma história bem menos densa e falta de diversos elementos RPG.
O grande destaquedeste título (e a razão porque se mantém um verdadeiro clássico), é a forma como abordou os seus combates, redefinindo algumas normas e polindo-o para ser mais dinâmico, principalmente contra as enormes hordas de inimigos que testam as nossas habilidades e paciência. Digo paciência, porque é um título com um nível de dificuldade bem mais elevado. Sobretudo tendo em conta as normalizações de hoje em dia, com tantos jogos a “carregar-nos ao colo”, a bem do nosso pretenso baixo défice de atenção.
Para evitar que destruam a vossa consola, a Beamdog adicionou novos níveis de dificuldade seleccionável. Um deles, permite usufruir da aventura, tornando os inimigos mais fracos e removendo até a possibilidade de morrer em jogo. Além de ser claro facilitismo, num jogo com foco no combate, este modo retira quase por completo o interesse em jogar. Mas, por outro lado, até reduz o tédio de refazer grandes partes do jogo e até ajuda alguns jogadores menos pacientes. Bem sei que os fãs mais sérios vão fugir desta opção e escolher os novos níveis de dificuldade ainda mais altos… certo?
Veredicto
Planescape: Torment & Icewind Dale – Enhanced Edition são outra prova que a Beamdog consegue trazer grandes clássicos de PC para um formato que ninguém esperava e muito menos com uma adaptação que os tornasse jogáveis sem um rato e um teclado. Icewind Dale e os seus DLC mantém-se um clássico com as suas mecânicas de combate e ainda hoje é bastante divertido, isto se não se importarem com a dificuldade de há 20 anos. Por outro lado Planescape: Torment, é uma autêntica obra-prima em termos de narrativa e continua mais divertido e imersivo do que nunca. Agora, podem obter ambos no hardware moderno e reviver dois grandes clássicos.
- ProdutoraBeamdog
- EditoraSkybound Games
- Lançamento15 de Outubro 2019
- PlataformasPC, PS4, Switch, Xbox One
- GéneroRole Playing Game
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Controlos funcionam muito bem em consolas
- Dois clássicos melhorados sem grandes mexidas
- Muito conteúdo adicional, incluindo os DLCs de ID
- Ausência de modo multijogador no lançamento
- O grafismo datado pode afastar alguns jogadores
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.