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Análise – Prince of Persia: The Lost Crown

A Ubisoft é assim. Tão depressa se “esquece” de uma franquia, como anuncia vários projectos para ela. Tão depressa adia um dos jogos mais promissores, como lança um que ninguém apostava. É o caso de Prince of Persia: The Lost Crown.

Reza a lenda que a Ubi ainda está a planear lançar um grande AAA desta franquia, um remake de um tal de Prince of Persia: The Sands of Time. A expectativa é muito grande para o regresso desta franquia que outrora foi um dos títulos mais populares de sempre na história dos videojogos. Entre jogos e filmes, porém, a produtora e editora Francesa lá foi esmorecendo o interesse, o mesmo parece ter acontecido com Splinter Cell. E quando todos esperavam pacientemente pelo regresso do príncipe, eis que surgiu (quase) do nada, The Lost Crown, um jogo que parecia algo minimalista, quase um oportunismo de lançar “qualquer coisa” para que o interesse não esmorecesse.

Recordo (com pouca saudade) que a Ubi tentou esta fórmula de jogos “menores” com a série Assassin’s Creed: Chronicles, uma série de jogos de menor dimensão, com histórias compartimentadas, num género mais virado para as plataformas. Não convenceu os fãs dessa outra marca, tornando-se títulos algo descartáveis, como spin-offs esquecidos nas areias do tempo (viram o que fiz aqui?). No entanto, curiosamente, já na altura esses jogos foram ironicamente acusados de capitalizar na fórmula dos… Prince of Persia clássicos. Ora, uma lâmpada acendeu-se na cabeça de alguém na Ubisoft Montpellier e aqui temos um Prince of Persia que parece mesmo um Prince of Persia. Obrigado AC: Chronicles, o sacrifício não foi em vão.

Para quem não conhece o clássico de 1989, é já uma pedra basilar da história dos videojogos, um título incontornável numa oferta inédita para a altura de um jogo de plataformas com uma forte componente cinemática. Outros jogos tentaram replicar a fórmula, uns com mais sucesso que outros, recordando sucessos como Flashback, por exemplo. Foi uma era dourada para este tipo de aventuras e que este The Lost Crown quer claramente ressuscitar, dando-lhe uma nova história, novo herói, novos elementos de jogabilidade mas tudo ainda numa fórmula muitíssimo familiar para quem viveu nessa era. E o que é mais peculiar é que ninguém o esperava realmente.

Vamos jogar na pele de Sargon, um membro dos infames The Immortals, uma espécie de super-heróis da antiguidade, guerreiros paladinos inspirados numa unidade de infantaria real do Império Aqueménida (550 a 330 a.C.). Estes guerreiros ficaram para a História como unidades de elite, que Heródoto chamou de, lá está, “Imortais”. Obviamente, neste jogo Sargon é um pouco diferente do que seria um guerreiro Persa desta era, especialmente porque duvidamos que usassem um penteado estiloso com rastas. Nesta história, Sargon precisa resgatar o Príncipe Ghassan, raptado na infame cidade amaldiçoada do Monte Qaf, também este local inspirado na História, neste caso um local místico no Médio Oriente e em algumas culturas Arábicas.

Sim, o guerreiro vai salvar o Príncipe, numa reviravolta técnica no lore da franquia. Contudo, os próprios Imortais da sua ordem têm ideias diferentes, com o herói a acabar traído no fundo de um poço. É inevitável sentir alguma simpatia pelo herói, nobre na sua missão, além de apoiar a sua sede de vingança por quem o traiu, sem nunca esquecer o seu dever para com o Príncipe. Contrariamente ao que seria de esperar, a história não é realmente acessória, é mesmo interessante de seguir, mesmo com umas cenas intermédias algo simplistas, com personagens 2D e bastantes diálogos narrados.

Como já disse, a inspiração é mesmo do jogo original de 1989, num puro título de plataformas que agem como puzzles gigantes e labirínticos, contendo ainda momentos de combate próximo bastante desafiantes. Sim, mencionei AC: Chronicles como que sendo percussores deste lançamento mas seria algo injusto não mencionar que a Ubisoft Montpellier é também responsável por outros bons jogos de plataformas na série de longa data Rayman. O resultado dessa experiência, é uma estrutura verdadeiramente engenhosa e concebida com uma excelente balanceamento entre desafio e fluidez, convidando a destreza e alguma paciência.

Falando dessa estrutura, no rigor este é um side-scroller 2.5D, significando que é, basicamente, bidimensional mas possui alguns elementos de profundidade nos cenários, animações e acções. Tal como o jogo original, Sargon pode saltar, correr e até deslizar, ao mesmo tempo que a sua fiel espada ataca e o defende dos inimigos. Contudo, Sargon também pode fazer Dash pelo ar, bloquear golpes de inimigos, desviar-se e em vez de uma só espada, tem duas, além de um fiel arco e flecha. Estas armas, já agora, não servem apenas para combate, havendo algumas secções em que são usadas para outras interacções.

Em vários momentos, este jogo também é um metroidvania, contendo uma série elementos únicos deste género, como atalhos entre os vários sectores e outros segredos que convidam um pouco a explorar possibilidades. Sempre adorei este tipo de jogos, porque não conseguimos só mesmo avançar para continuar a história, havendo sempre curiosidade com aquela porta bloqueada que voltaremos mais tarde. Apenas gostava que fosse um pouco mais clara a forma de desbloquear essas portas, acabando um pouco por vasculhar outros locais um pouco à sorte, na esperança de encontrar uma solução. Enfim, é uma “muleta” deste outro género e entendo que “faz parte”.

A jogabilidade nas plataformas, de um modo geral, é absolutamente fluida, muito bem equilibrada, com transições engenhosas entre momentos do jogo, sem esquecer o seu design de níveis. Foi criado com imenso rigor na dimensão, atenção ao ritmo, sem notar grandes falhas que, de alguma forma, estraguem os deslumbre. Aliás, é impressionante como estes níveis se adaptam à nossa capacidade de os jogarmos, evoluindo consoante vamos ganhando mais experiência mas sem nunca nos sentimos desafiados além da nossa paciência. Pelo contrário, dão ganas de não parar de jogar, só para descobrir a próxima área.

O mesmo acontece com o combate. Mesmo contra alguns bosses, mesmo no início da aventura, os comandos simples de ataque, desvio ou dash, aliados à agilidade de Sargon, mesmo sem os talismãs que mais não são que habilidades que podemos equipar no colar do herói, tudo no combate é bastante acessível. Não se enganem com essa palavra “acessível” que não quer veicular a ideia de ser “fácil”. Há momentos do jogo que são realmente desafiantes e precisam mesmo dominar os momentos de bloqueio ou desvio, sem achar que basta andar à espadeirada avulsamente. Há uma clara estratégia que vão aprendendo com cada inimigo.

Depois, temos o grafismo. Por motivos que nos são alheios, a Ubisoft não nos mandou a versão para consolas modernas que solicitámos e fomos informados que não tinham disponível a versão PC. Como opção secundária, tínhamos a versão Nintendo Switch que recebemos para análise. Inicialmente, ficámos apreensivos por, talvez, não jogar este título no seu verdadeiro potencial. O que descobrimos, porém, foi que o grafismo nesta consola pode não ser puxado ao seu expoente máximo mas a optimização para esta consola, a 60fps do jogo em doca a 1080p ou portátil a 720p, aliada aos controlos fáceis e ao óbvio “minimalismo” visual, fazem desta uma óptima versão do jogo.

Como defeito pontual na Switch, apenas notámos uns quantos momentos de “stutters” e uma ocasional pausa temporária aleatória, em especial antes de entrar numa nova área. Será, sobretudo, fruto do hardware mais limitado da consola mas não considerei isto como elemento detractor da experiência. O que oferece no geral parece-me talhado mesmo para uma consola portátil, diria mesmo que o poderemos jogar facilmente no recentemente lançado PlayStation Portal com toda a facilidade. Infelizmente, falta-nos essa versão PS5 e o próprio comando remoto mas essa é outra questão.

Mas, lá porque o conceito não seja muito detalhado a nível técnico, lá porque joguem numa consola mais limitada como a Switch, não pendem que o visual do jogo é assim tão modesto. Como já disse acima, o design deste título tem um bom gosto inegável. Desde castelos cheios de areia, a florestas luxuriantes, passando por locais bastante peculiares, como caves sombrias e até algo assustadoras, o ambiente, efeitos visuais e de luz podem não ser tão opulentos como noutras experiências, mas funcionam muito bem, aliados a uma sonoridade e musica ambiente apropriadas.

Pontos negativos, além das questões de performance na Nintendo Switch que menciono acima? Só mesmo o nível de dificuldade por vezes insano de alguns bosses. Estamos longe de um desafio injusto como num “soulslike” mas a depedência tão acentuada no ritmo certo das acções de defesa ou desvio e os ataques chega a ser cínica. Podemos sempre escolher um nível de dificuldade mais baixo mas o nosso ego será sempre afectado. Os checkpoints até são generosos, facilitando a repetição mas os combates em si podem ser um jogo de paciência se os abordarem no modo mais difícil. Mas, quem é que disse que o clássico de 1989 era fácil? Lembram-se?

Veredicto

Numa história surpreendentemente interessante, aliada a um grafismo que, não sendo muito focado no realismo, é muito bem polido e criado com imenso gosto e atenção ao detalhe, com um combate muito bem equilibrado e polido e um design de níveis e puzzles cheios de qualidade, Prince of Persia: The Lost Crown é uma autêntica pérola para ser descoberta. Foi uma agradável surpresa de um jogo que parecia não vir realmente a surpreender. Bem mais que uma mera oferta mediana para preencher a espera de um grande AAA nesta franquia, é uma demonstração de mestria da Ubisoft Montpellier.

  • ProdutoraUbisoft Montpellier
  • EditoraUbisoft
  • Lançamento18 de Janeiro 2024
  • Plataformas
  • GéneroPlataformas, Roguelike
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Recomendado

Óptimo, aconselhamos a apreciar ao máximo.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Alguns problemas de performance na Switch
  • Alguma dificuldade exagerada com alguns bosses

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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