Análise: Randal’s Monday
Alguma vez tiveram uma ressaca tão grande que o próprio tempo parecia que não queria passar? Eu já e o Bill Murray também (em 1993 no filme “Feitiço do Tempo”, “Groundhog Day” no seu nome original). Mas nunca uma tão grande como a de Randal.
Randal’s Monday é desenvolvido pela equipa espanhola Nexus Game Studios e chega até nós graças à Daedalic Entertainment. Este point ‘n click, muito ao estilo da velha guarda, está recheado de referências à cultura geek dos anos noventa e princípio dos anos 2000. Sem procurar muito e apenas registando algumas referências aqui no meu bloco de notas, encontrei apontamentos relacionados com os seguintes ícones da nossa cultura pop: Tartarugas Ninja, Final Fantasy, Dragonball, Zelda, Regresso ao Futuro, Náufrago (sim, a famosa bola de volley Wilson anda por aqui), Senhor dos Anéis, Half Life, os Simpsons, Rocky, Q-Bert, Alien, Caça-Fantasmas, Dune, Clube de Combate, Blade Runner, Clube dos Poetas Mortos, Watchmen, Exterminador, Guerra das Estrelas, Portal, Shaun of the Dead, Super Mario, Bioshock, Limbo e Metal Gear Solid. E a lista continua… Estes tributos a todos estes símbolos que adoramos, enriquecem a experiência de jogo e surgem espalhados pelas paredes em posters, em miniaturas ou até em ténues citações no argumento do jogo. Randal’s Monday conforta-nos, numa espécie de saudosismo estranho que nos preenche e concretiza. No fundo, esta foi uma excelente jogada dos criadores já que agradará a todos aqueles nascidos nos anos 70 e 80 e que perderão horas a encontrar referências às suas séries, jogos e livros favoritos.
E ainda nem vos comecei a falar daquilo que movimenta Randal ao longo da narrativa. A personagem principal deste point ‘n click é uma verdadeira sátira aos clássicos protagonistas do género como George Stobbart, Gabriel Knight ou Guybrush Threepwood. Ao contrário de todas estas personagens que apanhavam todos os itens que lhes podiam dar jeito, na maioria das vezes, sem consequências de maior, Randal Hicks é um cleptomaníaco assumido e raramente se coíbe de meter para o bolso o que quer que seja. Para além desta doença, caracteriza-se ainda como um sociopata e, acima de tudo o resto, um amigo do pior que existe.
Não obstante, não foi por acaso que no início deste texto vos falei do filme Feitiço do Tempo. Aqueles que conhecem a narrativa da longa metragem protagonizada por Bill Murray, lembram-se que a personagem que ele encarnava, Phil, se encontrava preso no mesmo dia sem nunca ser capaz de passar para o seguinte. Em Randal’s Monday a premissa é semelhante e a personagem, a quem Jeff Anderson dá a voz, está sempre a regressar ao início da segunda-feira. Imaginem o horror que era, se todos os dias fossem segundas-feiras… Brrrr!
Ora isto acontece porque Randal, sendo o horroroso amigo de que vos falei, acaba por roubar o anel de noivado do seu melhor amigo, Matt. Contudo, o anel encontra-se amaldiçoado e quando Randal o tenta vender numa loja de penhores, acciona a praga que até então se encontrava adormecida naquele objecto. É aí que os dias se repetem e o protagonista volta incessantemente ao início da segunda-feira, atrasado para o trabalho e com a renda em atraso. Seria possível um cenário mais apocaliptíco?
Embora a premissa inicial seja baseada no filme dirigido por Harold Ramis, Randal’s Monday é muito original e consegue criar um universo de personagens muito peculiar e interessante. Acima de tudo capaz de cativar a atenção do jogador que, em alguns momentos, é ironicamente reconhecido pela personagem principal como um elemento catalizador de toda a situação. Visualmente, faz lembrar as séries de animação da Fox como Family Guy ou American Dad. A sensação com que ficamos é a de que estamos a jogar a uma destas séries. As personagens são igualmente dignas de tal.
Na maior parte do tempo vamos estar, como é habitual no género, a resolver quebra-cabeças. No entanto, apesar de não serem muito difíceis ou exigirem muito da capacidade de raciocínio do jogador, podem tornar-se incrivelmente irritantes pela falta da clareza na solução para contornar determinadas situações. Quando damos por nós, estamos a carregar por todo o cenário, a tentar misturar todos os itens do nosso inventário num processo algo frustrante. Sobretudo quando pode ter escapado à nossa atenção algum item que tenha ficado perdido no cenário e, por isso mesmo, tenhamos que voltar atrás à procura de tal hipótese. O próprio menu de inventário não é muito funcional, visto que obriga o jogador a abrir um menu separado para ir buscar os itens ou experimentar combinações. Se falhamos, o menu fecha e temos de voltar a abrir. Algo que seria perfeitamente solucionado se existisse um menu de acesso rápido, numa barra inferior ou superior, como acontece há largos anos, por exemplo, na saga Broken Sword.
Veredicto
Randal’s Monday é um jogo para todos aqueles eternos saudosistas das cultura nerd do final dos anos noventa e princípios do novo século. É um point n’ click com tão bom aspecto que nos leva a pensar, por vezes, que estamos perante uma série de animação de Seth MacFarlane. E a isso também se deve a boa disposição de toda a construção da narrativa e respectivas personagens. O próprio Randal é uma sátira à personagem cliché, do género point ‘n click, que tudo apanha por onde passa, assumindo-se como cleptomaníaco. Se gostas de jogos como Curse of the Monkey Island ou Broken Sword, Randal’s Monday é o título indicado para ti.
- ProdutoraNexus Game Studios
- EditoraDaedalic Entertainment
- Lançamento12 de Novembro 2014
- PlataformasPC
- GéneroAventura
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- As referências
- A boa disposição da história
- Parece uma série de animação de Seth Macfarlane
- Protagonista com a voz de Jeff Anderson
- Falta de clareza nos puzzles
- O menu de inventário pouco acessível
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.