RiMS-Racing (1)

Análise – RiMS Racing

Nesta área dominada pelos automóveis, com as motas a receber algum destaque e até alguns jogos dedicados, finalmente há um título que quer ser levado a sério. Já houve quem se dedicasse a criar uma simulação credível nas duas rodas, é certo. No entanto, o RaceWard Studio quer elevar a fasquia com RiMS Racing.

Diria que uma maioria das pessoas que irão ler esta análise são condutores. Deles, uma percentagem menor será condutor de motas. Este é um bom motivo pelo qual não temos tantos títulos de motas em comparação com os automóveis. A familiaridade com as lógicas de condução e com os veículos, assim como a sua popularidade no geral, são factores importantes para tomar a decisão de criar um jogo complexo, especialmente um simulador. Já tivemos jogos muito aprofundados de motas, é certo, mas quase todos falham em algumas áreas importantes, como na profundidade da mecânica ou na simulação de físicas. Convenhamos que é difícil reproduzir as sensações e dinâmicas de uma mota, especialmente em velocidade. Também a mecânica não é uma área muito atraente para todos. Agora, os motards certamente estarão a ler com muita atenção.

Criar um simulador sério de motociclismo é um risco tremendo, portanto. Vai, sem qualquer sombra de dúvida, servir um nicho de jogadores muito específico, claramente alienando os que procuram algo mais casual. Não é um “efeito secundário”, portanto. É algo deliberado pela RaceWard. Este é um jogo de simulação de motas um pouco mais “hardcore” e que não irá atrair os que não apreciam este tipo de condução. O melhor exemplo disto é a sua extensa lista de opções de upgrades e mecânica. Subitamente, muitos vão descobrir que, afinal, uma mota não só uma “bicicleta com motor”. Rivalizando com alguns automóveis, é uma peça de engenharia complexa e que é preciso refinar a cada evolução.

Pessoalmente, gosto bastante do pormenor de ajustar os rácios do motor, o equilíbrio dos travões ou a aerodinâmica nos simuladores de condução. Pelo que estes menus vastos e intrincados, com muitas opções e elementos, me pareceram muito interessantes e detalhados. Contudo, consigo antever que muitos outros jogadores acharão esta componente bastante fastidiosa. O jogo dedica imenso tempo para personalizar e evoluir a mota, sendo mesmo o pormenor mais importante se queremos continuar competitivos no modo de carreira. Aliás, o jogo é persistente em nos enviar mensagens para nos apresentar cada pormenor desta personalização. Por vezes, até demais. Quem gosta de mecânica vai adorar, quem procurar um jogo de motas para se divertir, já tirou o capacete.

No que toca à condução propriamente dita, há uma linha ténue entre o que é realista e o que é exequível num simulador. Nem mesmo os simuladores mais avançados conseguem transmitir todos os aspectos da operação de uma máquina complexa. Focam-se em pormenores técnicos, como os sistemas de bordo, a interacção ou as físicas realistas para reproduzir uma reacção igualmente realista. E é aqui que sempre tive dificuldade em “digerir” jogos de motas. Como não estamos sentados num “motor com duas rodas”, quase deitados e sujeitos às forças que os pilotos reais enfrentam, a simulação de condução de motas, para mim, sempre foi pouco realista.

RiMS Racing, parece-me, quis ultrapassar esta questão com as suas múltiplas câmaras de perspectiva de condução. Temos várias câmaras na primeira pessoa, tendo uma especialmente fantástica “dentro” do capacete. Eu confesso que me esforcei para usá-la, afinal este é um jogo a apostar no realismo. De facto, transmite, como nenhuma outra câmara, a ilusão da velocidade e é mesmo a forma mais próxima de nos colocar “lá”, sem ter de montar uma mota real. Mas, vários despistes e saídas de pista depois, lá voltei eu à tradicional câmara na terceira pessoa. Especialmente na inclinação, exige uma coordenação entre a animação da rotação e a trajectória que me frustrou.

Então, experimentamos um jogo, quanto a mim, perfeitamente “standard” ao nível de jogos de motas. A equipa focou-se bastante nas físicas realista e nos comportamentos das motas, havendo mesmo importantes diferenças a cada melhoria que façamos na parte mecânica. A sensação de velocidade está lá, até mesmo na tal perspectiva na terceira pessoa que inevitavelmente tive de usar. Em competição, a inteligência artificial também é relativamente competente, dando-nos um misto de bons condutores e menos bons para nos dar alguma margem para competir. Claro que tudo é proporcional ao nível de dificuldade e às ajudas que tenhamos activado no menu. De um modo geral, sim, a condução pareceu-me competente quanto baste.

Tive a oportunidade de testar o jogo numa PlayStation 5 e adorei toda a experiência com o comando DualSense. Habilmente programado, o comando dá-nos todo o feedback necessário para percebermos os vários eventos. Por exemplo, quando saímos de uma curva em “slide” e temos de corrigir a trajectória. É genial. Apenas não gostei de um efeito irritante de “chocalho” quando saímos na gravilha ou a pressão algo exagerada do gatilho adaptativo dedicado ao travão traseiro. Entendo que o intuito é evitar travagens bruscas mas obriga-nos uma pressão acrescida no gatilho que preferia não ter. De resto, este é mais um bom exemplo de como o DualSense é uma das melhores experiências de interacção, igualmente num simulador de condução.

Até agora, falei de um conceito francamente positivo, num jogo de motas que, de facto, não seria para todos os jogadores (não é) mas que convence os amantes das duas rodas, tanto na simulação da condução, como nos bastidores da mecânica. O seu modo de carreira e os eventos pontuais são os modos em que mais tempo gastarão. Mas, além disso, não há muito mais para fazer. Fiquei profundamente desapontado com o modo multi-jogador que, sinceramente, não consegui testar convenientemente. Só consegui participar numas provas contra-relógio para entrar num quadro mundial de liderança, o que não me atraiu muito.

Por outro lado, este jogo tem uma incrível falta de conteúdo. Se passarem na PlayStation Store ou na loja correspondente da vossa plataforma, vão encontrar vários extras, entre pacotes de pinturas e peças para as motas, equipamento e até circuitos (Bahrain, por agora gratuito em algumas lojas). Estes DLCs de peças para comprar em separado, não fazem muito sentido, se pensarmos que o jogo já tem mais de 500 peças diferentes para apenas oito motas. E as diferenças entre essas motas são quase só cosméticas, claramente a apostar numa lógica de “amor à camisola” dos fãs. Gostava de ter um modo de carreira evolutivo entre cilindradas ou classes de motas, por exemplo.

Em termos de pistas, temos 10 circuitos icónicos, como Silverstone ou Nürburgring e 5 pistas de estrada inspiradas em locais icónicos à volta do mundo. Por mais que gostasse da pista inspirada em Monsanto, Portugal, achei que é só uma inspiração, não parecendo muito realista nos locais onde passa. De um modo geral, achei que não há assim muita variedade para escolher, entre modos de jogo, pistas e motas. Dados os DLCs já existentes, parece-me que a RaceWard e a Nacon estarão a preparar uma lógica de expansões pagas para dar suporte ao jogo com mais conteúdo futuro. Contudo, parece-me que a popularidade do jogo não é assim tão grande que o justifique.

Infelizmente, também tive alguns dissabores técnicos na versão PS5 que analisei. Embora, de um modo geral, o jogo tenha óptimo aspecto, há alguns momentos, particularmente a maior velocidade, em que se notam objectos a aparecer à distância. Também as pistas estão um tanto desprovidas de detalhes ou animações, talvez por uma questão de optimização. Não é particularmente grave se o nosso foco está na pista e não no seu exterior mas é algo que contribuiria para a envolvência. Mas, o pior dos problemas foram alguns “crashes” que me frustraram sempre, até porque o jogo não é muito tolerante a erros e repetir provas mais longas por inteiro é frustrante. E não, não tem nenhum sistema de “replay” opcional para quando cometemos erros.

Veredicto

De um modo geral, RiMS Racing cumpre o objectivo de agradar aos fãs mais “hardcore” do desporto motorizado de duas rodas. No que toca à simulação da condução faz o prometido, introduzindo uma lógica de personalização e mecânica que certamente agradará a um nicho muito específico de fãs. Contudo, quem procura um jogo de motas para se divertir encontrará alguma complexidade exagerada e alguma falta de conteúdo e modos de jogo. Quanto aos problemas técnicos, esses, certamente não agradarão a ninguém. Mais que um novo injector ou pinças de travão, este jogo precisa de um bom polimento da carroçaria.

  • ProdutoraRaceWard Studio
  • EditoraNacon
  • Lançamento19 de Agosto 2021
  • PlataformasPC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S
  • Género
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Falta de conteúdo geral
  • Alguma complexidade exagerada na personalização
  • Problemas técnicos na PS5

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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