Análise – Spintires: MudRunner (Actualização: “American Wilds”)
Tendo bastante sucesso no PC o primeiro Spintires tornou-se num fenómeno. Que tal um jogo de condução em que não conta tanto a velocidade, mas a destreza em navegar pela lama? Esta é a premissa desta sequela Spintires: MudRunner, agora também nas consolas.
[Actualização DLC “American Wilds”]
Mais que analisar apenas um DLC para um jogo, “American Wilds” é uma oportunidade para revisitar Spintires: MudRunner. Quase um ano depois do seu lançamento, o jogo que nos desafia a navegar pela lama com camiões pesados, parte agora para a aventura noutros “ares”. Depois de duas expansões gratuitas (“The Valley” e “The Ridge”) que nos mantinham pelas terras do leste da Europa, chegou a vez de irmos para os Estados Unidos. E, com essa viagem, temos também uma série de veículos licenciados para patinar pela lama. A Saber Interactive e a Focus Home Interactive estão tão confiantes nesta expansão, que relançaram o jogo com esta expansão a dar o mote. Metam o cinto!
É sempre agradável termos mais conteúdo, sobretudo se o jogo for algo despido de modos de jogo ou de incentivos. É o caso deste título, aliás, é o caso do conceito da série Spintires. Temos uma série de mapas, com uma série de missões, na maioria dos casos ir ao ponto A carregar e sobreviver à entrega da carga no ponto B. Pelo meio, há uma mistura de estradas de vários pisos e estados de conservação, que nos levam a questionar se a Autarquia local quer saber dos cidadãos. O resultado são muitos deslizes, rodas atoladas e capotamentos. Nunca mais irão perguntar a um dono de um veículo TT para que serve um guincho.
Mas, é só mesmo isto. Tirando os diferentes veículos com que podemos nos aventurar, os mapas são todos francamente semelhantes, mudando apenas os trajectos e uns poucos pormenores. E mesmo esses veículos parecem só diferir na velocidade e peso. A condução está longe de ser uma simulação, tornando-se francamente genérica. Alternamos entre tracção e diferencial e gerimos combustível gasto e os danos causados. Eventualmente, as partes mais interessantes são as que nos levam a ir buscar um segundo veículo para rebocar, reparar ou reabastecer um outro. Tudo isto se assume muito mais interessante (e interactivo) online, onde os amigos nos dão uma mão a sair daquele vale.
Pela primeira vez, porém, Spintires muda o tema com este DLC. Não só os veículos são francamente diferentes (mesmo que a condução continue igual), mas também o mapa traz um novo tom ao aspecto geral do jogo. As florestas norte-americanas trazem consigo uma nova inspiração ao jogo. Notem que não há mesmo nada realmente novo na jogabilidade. Contudo, julgo quem gosta de aventura todo-o-terreno, encontra facilmente um ponto de interesse neste jogo. E este DLC consegue mesmo devolver o elemento de descoberta que tivemos na estreia há um ano do jogo original.
As verdadeiras estrelas desta expansão, obviamente, são o veículos. Se as duas novas regiões não reproduzem nenhuma área dos Estados Unidos em particular (inspiram-se no Dakota e Montana), os veículos são, esses sim, réplicas de marcos da indústria automóvel Americana. Ao todo, temos nove veículos licenciados da Ford, Chevrolet e a lendária Hummer. É óbvio que todos quererão experimentar o mítico Hummer H1 a trilhar pela lama. A sua elevada potência, aliada à distância de eixos e tracção elevada, fazem deste um óptimo companheiro para desbravar trilhos. Contudo, há aqui um desafio adicional nos demais novos veículos.
Dois dos camiões que nos são apresentados (Chevrolet Bison e Ford LTL9000) não são desenhados para todo-o-terreno. E a produção faz questão de frisar isso mesmo. O que significa que o desafio aqui é encontrar uma forma de os usarmos nos trabalhos de carga, garantindo que não ficam presos em algum pântano. Isto obriga a um cuidado trabalho de exploração com um veículo TT ligeiro, para depois desenharmos o melhor trajecto, sabendo que um camião carregado terá muito maior peso e menor tracção. Já tinhamos esta lógica no jogo original, é certo, mas aqui assume-se particularmente importante e desafiante.
E como as duas novas regiões, Grizzly Creek e Mount Logmore, me parecem muito mais verticais (com mais montes e elevações) que os mapas originais, esta tarefa é ainda mais difícil com camiões carregados e com atrelados. Considero que, em algumas secções, a distância entre dois pontos demora quase o dobro do tempo neste novo destino, muito por causa desta maior elevação de algumas zonas. É capaz de não chegar para aumentar assim tanto a longevidade da oferta. Explorei o mapa e terminei as tarefas num espaço de umas 5 horas. Contudo, não creio que este jogo seja definido pela sua duração. O mundo aberto que nos dá é que é a parte divertida. E, aí, a estratégia torna tudo mais interessante.
Só queria deixar uma última nota que se relaciona com o aspecto visual, não só apenas desta expansão, como do jogo original. Uma vez mais, testei o jogo numa PS4 Pro. E devo dizer que os pormenores menos positivos que assinalo abaixo na análise original foram claramente abordados. Não diria que o jogo está visualmente equivalente à versão PC, mas houve um óbvio trabalho de optimização posterior nesta consola. Resultou numa melhor paleta de cores (que o novo mapa ajuda a colorir), melhor iluminação e até a simulação das lamas me parece melhor. O que é só positivo, obviamente. Mesmo que tivesse demorado um pouco a conseguir, quase um ano após o lançamento.
Veredicto da Expansão
Por apenas 9,99€, ter um mapa com visual diferente, terreno ainda mais desafiante e nove veículos inteiramente novos, parece-me um bom negócio. Spintires: MudRunner – “American Wilds” é uma excelente expansão de conteúdo. Pode não trazer nada de novo em termos de interacção e jogabilidade, mas oferece-nos uma maior verticalidade dos mapas para dar uso à tracção. Além disso, traz-nos novos veículos desafiantes, alguns verdadeiros ícones de Detroit. Claro que tudo se resume à vossa paciência de fazer 100 metros em largos minutos (horas?), enquanto chamam novamente o cisterna porque ficaram sem combustível…
[Análise Original de 7 de Novembro de 2017]
Tive o primeiro jogo debaixo de olho durante bastante tempo no PC. Acredito que todos os amantes de jogos de condução gostam de desafios diferentes. Era essa a ideia que tinha quando o coloquei na lista. Aqui estava um jogo que um dia haveria de experimentar. Sempre gostei do desafio do todo-o-terreno, mas nunca tinha encontrado um jogo verdadeiramente realista nesta área. Dei uma chance a Spintires.
O jogo era algo desprovido de conteúdo, sem modos muito elaborados de carreira ou de multi-jogador. Baseava-se apenas em conduzir veículos pesados em estradas que nem um país do terceiro mundo gostaria de ter. No meio da lama, de dia ou de noite, tínhamos de lidar com (falta de) tracção, uso de guinchos e até com a inclinação do veículo. O objectivo era transportar carga de um ponto ao outro, seja com a caixa aberta do camião ou num reboque (ou ambos). Mais peso, mais dificuldade. No entanto, além das físicas muito avançadas e de alguns pormenores curiosos, era preciso um pouco mais substância para este jogo não ser tão aborrecido. Talvez este novo MudRunner resolva isso.
O anúncio de Spintires: MudRunner também nas consolas não foi surpresa para mim. Durante bastante tempo, a produção esteve silenciosa quanto a actualizações da versão PC do original. Se bem se recordam, chegou mesmo a haver suspeitas de sabotagem perante alguns problemas e inércia da produção e resolvê-los. Quando uma produtora de um jogo de sucesso se torna mais discreta no seu suporte ao jogo original, muitas vezes é sintoma de que uma sequela está a caminho. Com uma interacção tão simples e facilmente adaptável a um gamepad, nada como levar a fórmula ao mundo das consolas para obter ainda mais sucesso. Só era preciso que nos desse “mais jogo” para as mãos.
Spintires aproveitou muito bem aquele nicho tão específico de condução de veículos pesados, que vão desde Euro Truck Simulator até Farming Simulator ou até ao recente Gold Rush: The Game. Ou seja, ou vão amar esta condução mais lenta e mais técnica ou vão odiar cada segundo, sentindo-se aborrecidos muito rapidamente. Este MudRunner é, em quase tudo, igual ao seu antecessor no que toca à condução. Aconselho vivamente a passarem pelo tutorial inicial para conhecerem todos os pormenores e controlos. Até acho que, logo aí, fica claro se este jogo é para vocês. É que, ao verem que nada é realmente simples e que, por vezes, curtas distâncias podem levar largos minutos para lidar, nem sempre por falta de destreza nossa, já terão uma ideia da fórmula que o assiste.
Em termos de novidades, não há muitas em relação ao jogo original. Como já disse, a sua carreira é um pouco básica, como um modo de jogo sequencial com progressão. Felizmente, há missões únicas com objectivos desafiante e mais rápidas para experimentar. Basicamente, são missões de transporte com níveis de dificuldade diferente. Podem escolher um conjunto limitado de veículos, seja para explorar, fazer os transportes, ou até para dar auxílio. E esta última tarefa é muito importante. Vão capotar ou ficar atolados muitas vezes. Usar o guincho é um pouco mais eficaz neste segundo jogo (especialmente porque podemos “disparar” o guincho para nos puxar). Mas, o que fazer quando o veículo não tem guincho?
Como pudemos usar mais que um veículo (e até descobrir outros pelo mapa), podemos ir ao local para puxar ou mesmo empurrar o veículo bloqueado. Atenção apenas aos danos que podem danificar os dois camiões e ao combustível gasto no processo. Idealmente, não fiquem também presos, claro. Usar mudanças normais ou redutoras manuais, evitam muitos problemas. Contudo, o mais provável é usarem a caixa automática para quase tudo. O selector de caixa de velocidades não é muito intuitivo, usando o analógico direito no DualShock 4 (versão analisada na PS4), mas até é relativamente fácil de usar.
Ao volante, tudo é uma questão de estratégia. Nenhuma estrada (se é que se pode chamar assim, às vezes) é impossível de lidar, por mais profunda que seja a lama ou o rio que a atravessa. Pelo meio, até há caminhos alcatroados, como uma piada da produção para nos dar a ilusão que o jogo até é fácil. Nada é fácil neste jogo. Vejam só como uma simples carga pode correr mal com este meu exemplo. Com um camião carregado de troncos, mais um atrelado também completo, decidi subir uma colina, para evitar o rio ao lado. Como devem calcular, a subida foi lenta com tanto peso. Resolvi manobrar a direcção para tentar subir na diagonal para evitar patinar tanto na lama. Erro! O veículo e reboque começaram a deslizar e capotei o veículo.
Depois de algumas tentativas frustradas de endireitar de novo o camião, decidi ir buscar um outro camião à base. Dirigi-o para o camião virado e com a ajuda de ganchos e de um guidaste lá consegui remover o camião virado da base da colina, finalmente colocando-o a direito. Só que todo este processo teve um duro revés. Fiquei sem combustível com tantas manobras com diferencial ligado (tracção às quatro rodas). Felizmente, na base podemos trocar a caixa de transporte por vários outros equipamentos, inclusive um módulo de cisterna para abastecer algum veículo sem combustível. Só que… no caminho para lá, decidi passar pelo tal rio e não consegui antever a sua profundidade. Afundei o veículo… Reload!
Depois de umas duas ou três tentativas, lá cheguei à serraria para descarregar os troncos. Agora o jogo exige que estacionemos o veículo num sítio próprio e, notem, tem de ficar exactamente num local assinalado a vermelho e na direcção certa. OK! Tantas horas a manobrar reboques em Euro Truck Simulator devem servir para aqui, certo? Até servem, mas a câmara não ajuda nada. A perspectiva de visão é francamente má. Apenas permite duas opções na terceira pessoa para o camião, uma também também na terceira pessoa para o reboque e uma câmara na primeira pessoa na cabine. Digamos que precisei de umas quantas voltas e correcções até conseguir estacionar no sítio certo. Foi só a primeira missão após o tutorial e já estava exausto…
Agora experimentem fazer isto tudo à noite… Só temos mesmo os faróis frontais e nada de focos laterais ou algum suporte. Tudo bem que a noite em jogo não é propriamente escura ao ponto de não vermos rigorosamente nada. E até podemos aumentar a gama/brilho para ajudar mais um pouco. Contudo, era bom termos uns focos laterais para evitar deslizar para declives ou buracos. Estes camiões são todos inspirados em veículos de fabrico Russo (leiam, “soviético”). E, já sabem… na Rússia, não há cá facilidades, camaradas. Luz, só para a frente, não sejam capitalistas!
Quem jogou o primeiro título vai achar que tudo isto que falei é familiar. Saibam que o jogo é virtualmente o mesmo. Só não o é no seu modo multi-jogador. Imaginem a situação acima, mas neste caso estou a jogar online e posso chamar um amigo para me ajudar a tirar o veículo de apuros. Parece interessante, não? Acontece que das muitas vezes que tentei juntar-me a um lobby, o jogo falhou em encontrar jogadores. Ou, então, colocou-me em sessões de um ou outro jogador que me ignorou ou simplesmente abandonou a sessão pouco depois. É pena porque no primeiro título recordo-me de participar até corridas de camiões com recurso a mods. Algo que, já agora, está em falta neste segundo jogo, pelo menos nas consolas.
Tecnicamente, o primeiro Spintires nunca foi um colosso visual. O seu forte eram as físicas realistas e a simulação de líquidos e lama também muito realista. Na PS4 (Pro) este segundo jogo continua virtualmente idêntico, para o bem e para o mal. Os ambientes, quase sempre de florestas densas com lama avulsa, sempre foram desprovidos de vida e com uma paleta de cores muito pálida. Mas, parece que aconteceu mais qualquer coisa na conversão do PC para as consolas. A iluminação, de um modo geral, é pouco realista, com sombras estranhas (ou omitidas, de todo). No que toca à simulação da lama, sim, as físicas estão igualmente realistas, mas a lama deixou de ser aquele fluido realista. Por vezes, parece agir como coágulos que se agarram ao veículo. Esta simulação era um dos pontos fortes do jogo, não entendo o que aconteceu aqui.
Veredicto
O tal fenómeno de condução em lama está de regresso. Contudo, Spintires: MudRunner parece ser só uma repetição do primeiro jogo, com poucas novidades e ainda menos melhorias. Não haveria nada de errado nisso, uma vez que podia ser só uma versão de estreia nas consolas, onde a sua interacção simples está “em casa”. Contudo, esta é uma oportunidade perdida para melhorar, por exemplo, o grafismo de um modo geral, além de criar novos objectivos ou um modo de carreira mais interessante. Infelizmente, também aquilo que lhe deu fama, a simulação da lama, parece ter sofrido com o port para as consolas. Não deixa de ser uma excelente experiência off-road, mas gostávamos de ter “mais jogo” para desfrutar.
- ProdutoraSaber Interactive
- EditoraFocus Home Interactive
- Lançamento30 de Outubro 2017
- PlataformasPC, PS4, Xbox One
- GéneroCondução
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Físicas de condução
- Estratégia na escolha de trajectos
- Múltiplos veículos e tipos de condução
- Algo aborrecido, mesmo com objectivos
- Câmara de jogo não ajuda
- Multi-jogador não funcionou bem
- Algumas questões no grafismo
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.