SWJFallenOrder (3)

Análise – Star Wars Jedi: Fallen Order

Depois de uma longa espera com a Respawn Entertainment e a Electronic Arts a manter este jogo como um “segredo”, depois de muito se especular sobre a parceria da EA com a Disney, eis que nos chega, finalmente, Star Wars Jedi: Fallen Order.

Muito além de um jogo que os fãs da Saga aguardavam com antecipação, Fallen Order é também um “atestado de saúde” para a parceria denominada de “EA Star Wars”. Convenhamos que Star Wars Battlefront II não fez muito por esta parceria, mesmo que tenha dado importantes passos para hoje estar totalmente diferente. E é inevitável que falemos também do célebre jogo cancelado da, agora extinta, Visceral Games, um projecto abandonado logo depois dessa polémica em volta de “caixas de loot”. Com a experiência inegável da Respawn, tínhamos aqui uma boa receita e um caldeirão bem forjado para provar muita coisa. Nada podia falhar mesmo. Mas, é injusto falar deste novo jogo só desta forma, como uma mera demonstração de competência dos visados. Este é um jogo de sabre de luz em punho para (re)conquistar os fãs.

Cal Kestis apenas quer viver uma vida recatada como trabalhador numa sucateira no planeta Bracca. Só que o seu passado teima em voltar e recordar-lhe de quem é. Depois de um incidente, Cal rapidamente é obrigado a revelar que em tempos foi um Padawan, um aprendiz de Jedi. Só que isso despoleta uma série de situações perigosas. Acontece que passaram cinco anos desde a infame purga de Jedi criada pela “Ordem 66”. E o Império está sempre atento a possíveis sobreviventes com afinidade na Força. A Inquisição do Império cedo o encontra e tudo parece perdido após uma intensa perseguição. Mas, Cal encontra aliados improváveis na nave Mantis e na sua tripulação que o salvam no último instante.

Depois de se recompor, Cal apercebe-se que os seus poderes irão sempre colocá-lo na mira do Império. E os seus novos amigos, o comandante da nave Greez Dritus e Cere Junda, uma misteriosa lutadora Rebelde, dão-lhe uma nova tarefa. Não basta deambular pelas sombras e esconder-se, não basta tentar desligar-se da Força, Cal tem um destino traçado: usar as suas habilidades para, não só lutar contra a opressão do Império, como continuar o seu treino para tornar-se um Cavaleiro Jedi e, nesse acto, restaurar a própria Ordem Jedi. Para isso, recorre a uma pista muito ténue de um Mestre Jedi que, algures na Galáxia, escondeu um potencial catalisador de um renascimento da velha Ordem. E… mais não digo.

O argumento do jogo vai levar-nos numa viagem muito bem construída, como uma história empolgante de Star Wars, com todos os ingredientes necessários para uma grande aventura. Jogando as primeiras horas, senti-me realmente entusiasmado com este enredo, sem personagens forçadas, nem “agendas políticas” paralelas, sem “mensagens” subliminares. É só isto que queremos, Disney: uma história de fantasia, com batalhas de moral bem vincadas entre o bem e o mal e ideais clássicos de heroísmo. Consigo ver todo o ADN de Star Wars aqui a fluir, sem esquecer importantes reviravoltas e revelações, como uma certa aparição surpresa lá mais para o fim da história. Do início ao fim, fiquei rendido, algo que já não acontecia há algum tempo nesta era Disney Star Wars.

É que a relação entre a Saga e os fãs não tem sido a melhor. E não estou a falar apenas de Battlefront II que foi recebido com muita crítica mas até recuperou o nosso respeito (dois anos depois, diga-se). No cinema as coisas também vão tremidas. Depois do sucesso de “The Force Awakens” e “Rogue One”, surgiram “The Last Jedi” e “Solo” que foram recebidos com apatia e até uma certa rejeição pelos fãs. A reacção da Lucasfilm e da Disney também não foi a melhor, alienando os fãs dos clássicos e até insultando-os com algumas decisões. Felizmente, parece estar a ver-se uma “retoma” na Galáxia muito, muito distante. A nova série de TV “Mandalorian” parece estar a ser muito bem recebida e este jogo também poderá ter uma palavra a dizer. Continuem a ler para perceber o que digo.

Só tenho um reparo, desde já, para esta fórmula da Respawn. Na sua maior série antes deste título, Titanfall, o segundo jogo também apresentou um modo de carreira intenso e muito bem construído, assente na narrativa. Encontro aqui toda essa qualidade a contar uma história, sem dúvida. Contudo, acabada a carreira de Titanfall 2, eram os modos online que faziam a diferença, permitindo-nos “continuar” essa carreira nos modos multi-jogador. Ora, Fallen Order é um jogo inteiramente a solo. O facto de não ter um “end game” ou até um modo “New Game +” é, de certa forma, desapontante. Pior, não podemos repetir o último capítulo, quem sabe o mais empolgante. Podemos voltar à nave e voltar a explorar os planetas da campanha, mas a história só pode repetir-se realmente recomeçando-a.

Parece-me um pouco diminuidor da qualidade da narrativa que vivamos esta história como um filme corrido. Entendo que a história terá de finalizar em algum ponto, mas até ficou no ar uma possível sequela ou algum DLC em potencial. Ainda por cima, ficam coisas por fazer nos mapas… Mas, porque havia de procurar coleccionáveis ou evoluir Cal se já acabei o jogo? Entendo que, dada a construção dos níveis, algo que já irei aprofundar, o modo “New Game +” poderia desvirtuar um pouco a forma como o jogo se revela para nós. Contudo, uma vez terminado, parece-me que não há grande incentivo a recomeçar, a não ser que queiram aumentar a dificuldade. Mas, sobre isso, tenho algo a dizer.

Sim, é mesmo verdade, este é, para todos os efeitos, um “souls like” no universo Star Wars. E todos sabemos que estes jogos adoram matar-nos para que melhoremos a cada nova secção. Não preciso explicar-vos como os inimigos e os bosses precisam ser combatidos de forma táctica, das punições aos menos pacientes e como é preciso “bancar” os pontos ou voltar onde morremos antes para os recuperar. Diria que não é tão brutal como o “mestre” Dark Souls a dar-nos desafios aparentemente impossíveis, mas até anda lá perto. Temos algumas nuances, como os stimpacks (recuperadores de energia) mais generosos e o apoio da Força e das habilidades especiais do nosso pequeno dróide BD-1.

Os combates com soldados mais “rasos”, como stormtroopers, faz-se com deflexão dos seus tiros, podendo mesmo arremessá-los de volta aos atiradores, podemos também usar a Força para puxar, empurrar ou, golpe único de Cal Kestis, imobilizá-los temporariamente, mas o foco é mesmo na luta com o sabre de luz. A maior parte dos golpes são aprendidos na árvores de evolução, mas também há manobras e poderes aprendidos em “flashbacks” que Cal tem dos seus tempos de jovem Padawan. O jogo vai gradualmente dando-nos novas formas de atacar e desviar (e de movimentar), havendo mesmo alguns golpes e manobras que só irão aprender na segunda metade do jogo.

Falei acima da árvore de habilidades. Sendo um ARPG (mais ou menos), não podia faltar esta importante componente de evolução. A cada elemento eliminado, cada segredo descoberto ou cada coleccionável encontrado, ganhamos pontos de experiência que enchem uma barra. Uma vez preenchida, temos um ponto de evolução para gastar na árvore. Cada “ramo” tem um custo de 1, 2 ou mesmo 3 pontos de evolução. Os desbloqueios dividem-se entre habilidades com a Força, com o sabre de luz e com a sobrevivência de Cal. A escolha destas evoluções é muito importante e está ligada à jogabilidade. Devo apenas informar que acabei o jogo sem desbloquear todas as habilidades, o que só reforça o que falo lá em cima sobre uma certa falta de “continuidade” do jogo.

Voltando ao combate, como devem imaginar, teremos sempre diferentes tipos de inimigos, não só da fileiras do Império, variando de capacidades e de grau de ameaça, mas também de fauna (e flora) em cada planeta que visitamos. Desde lesmas com chifres em Kashyyyk a gigantes monstros velozes em Dathomir, ninguém gosta de Jedi por onde passamos. Na boa regra dos “souls like” cada inimigo tem um ritmo e uma fórmula diferente para os derrotar. Tudo envolve destreza nos poderes da Força, os golpes com o sabre no tempo certo, os desvios e (mais importante) os bloqueios. E consoante avançamos na história, surgem também os bosses, bem mais desafiantes e com uma barra de vida e de energia (stamina) que parecem nunca mais acabar.

Por esta altura estarão a pensar que, se calhar, este jogo não é para vocês. Talvez porque gostem mais da componente de aventura e não vos apeteça muito morrer em demasia com esta fórmula tão divisora. Calma! A Respawn pensou em vocês. Existem vários níveis de dificuldade, amplamente explicados no menu do jogo. Consoante o nível que escolham os inimigos podem ter o tempo de reacção, energia e vida aumentados ou reduzidos. E se não quiserem importar-se muito com os combates, podem sempre optar pelo Story Mode. Neste modo serão à mesma desafiados, mas de uma forma bem mais ligeira, concentrando-se mais na história, nos imensos puzzles para transitar de nível e na exploração dos mapas. Exploração dos mapas? São de mundo aberto? Bem… mais ou menos.

Os mapas possuem caminhos e passagens perfeitamente lineares, agindo como labirintos. O que podemos explorar são novos caminhos escondidos e áreas secretas ou cavidades que escondem caixas com coleccionáveis ou “ecos” da Força. Em troca, descobrimos itens para personalizar o sabre de luz ou o poncho de Cal e escolher novas pinturas do nosso pequeno BD-1 e da nave Mantis. Além disto, como já disse, cada novo segredo ou cofre encontrado dá-nos importantes pontos de experiência para evoluir. O que aconselho é que percam algum tempo em cada planeta que visitam. Como o jogo não nos dá todos os poderes ao início, poderão ter de voltar mais tarde por causa de algumas áreas inacessíveis. Mas, não se preocupem, vão voltar algumas vezes a cada planeta.

O que mais gostei nesta “pseudo-exploração” dos planetas, foram os puzzles. De um modo geral, circulamos a pé por várias áreas e trajectos, mas também temos de saltar com cordas, trepar paredes e até mergulhar na água, entre outras acções. Por vezes, temos também de usar poderes da Força para mover peças de cenário ou partir paredes, pegar em lanternas para queimar ramos, saltar plataformas, correr pelas paredes, etc. Tudo isto, por vezes, é colocado em formato de quebra-cabeças, umas vezes mais simples, outras vezes mais complexo. Também os puzzles evoluem com os poderes de Cal, só sendo possível resolvê-los quando tivermos os poderes necessários ou desbloqueamos novas zonas.

Apenas acho que alguns puzzles precisavam de mais orientação. Podemos sempre esperar que o jogo nos dê a hipótese de pedir a BD-1 por uma dica e, em muitos casos, basta uma clara observação do que nos rodeia para finalmente chegar à solução. Ainda assim, sem recorrer a tutoriais na internet, fiquei bloqueado em dois grandes puzzles lá mais para a frente. Não eram, de facto, complicados de resolver, apenas envolviam uma sequência que depois se tornou bastante lógica. Contudo, não foram evidentes nem houve dicas concretas de como as resolver, o que pode frustrar um pouco os menos pacientes. É aquela célebre discussão do facilitismo que há nesta era… estaríamos aqui a falar por horas…

Por fim, falo do que mais vos vai surpreender neste jogo, sem dúvida. Graficamente, Fallen Order é uma ode à qualidade visual possível em videojogos, aquela que se espera de um título Star Wars. Curiosamente, a Respawn não usou o habitual motor da EA, o Frostbite, apostando no mais popular Unreal Engine. Diria que foi uma aposta muito bem feita. Desde o gélido planeta Ilum, às florestas densas de Bogano, sem esquecer as árvores gigantes de Kashyyyk ou os planaltos de precipícios de Zeffo, há paisagens arrebatadores e de imensa qualidade visual, complementada com cenários cheios de pormenores e vida por todo o lado. Esta qualidade também se transpõe para áreas subterrâneas e bases que visitamos. Tudo é tratado com imensa qualidade e muito respeito pelo design único desta Saga.

E essa qualidade não se fica pelos cenários. A criação de personagens é absolutamente deslumbrante, com algumas das melhores animações faciais que me recordo. O trabalho de captura das expressões dos actores é muito realista e há imenso cuidado com fatos e armaduras dos mesmos. Também as animações dos combates e dos movimentos, que muito contribuem para a fluidez do jogo, são fantásticas, incluindo alguns efeitos visuais igualmente bem feitos, como a escuridão iluminada pelo sabre-de-luz, por exemplo. Há alguns pequenos erros de detecção de colisão, quebras de frames em alguns sectores  e algumas transições que falham mas, de um modo geral, o jogo é deslumbrante. E, se puderem, joguem na versão PC com o preset Ultra/60FPS. Não se vão arrepender.

Veredicto

Embora com algum receio, estava ansioso pela chegada de Star Wars Jedi: Fallen Order. Por um lado, a história parecia meio acessória e a ideia de ser um “souls like” intimida qualquer um. O resultado final, porém, é realmente fantástico. Não tinha dúvidas que a Respawn Entertainment iria ter muito cuidado em criar algo verdadeiramente único. E fico imensamente contente que este jogo, que recupera tanto da fórmula de George Lucas e que surja agora, enquanto os fãs têm tantas dúvidas dos planos da Disney. É visualmente deslumbrante, tem uma jogabilidade impressionante e bem diversificada, entre combates intensos, puzzles desafiadores e algumas surpresas pelo meio. Só tenho pena que acabe e não haja grande incentivo a continuar ou reiniciar tudo. Talvez a Electronic Arts tenha algo mais planeado para esta nova aventura. Esperamos que sim.

  • ProdutoraRespawn Entertainment
  • EditoraElectronic Arts
  • Lançamento16 de Novembro 2019
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroAventura, Role Playing Game
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Não ter "continuação" depois de terminado
  • Alguns bugs de animações
  • Algumas quebras de frames

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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