Análise – Steelrising
Apresentado pela primeira vez no evento NACON Connect 2021, Steelrising despertou curiosidade pelas influências óbvias de títulos como Bloodborne, além de mostrar uma narrativa inédita e um design peculiar.
É difícil compreender o que leva as produtoras a tantos projectos soulslike. Criar um género não está ao alcance de todos. Contudo, quando se trata de recriar um tipo de jogo tão popular como este, há elementos técnicos que requerem designers de combate e de níveis extremamente competentes. Por outro lado, qualquer novo soulslike tem ainda de enfrentar alguns jogos de qualidade “estelar”, por exemplo o “rei” Elden Ring que elevou ainda mais a fasquia para todos os outros. Quer pelo encanto da estrutura deste sub-género, alguém periodicamente tenta entrar criar algo “novo” com alguma variação no tema. É o caso deste jogo.
Só que a produtora Spiders não é propriamente a FromSoftware. Contudo, a sua experiência no campo dos RPG deixou no ar algo positivo. Afinal, esta é a mesma produtora de Greedfall que deixou boa impressão. Steelrising parte de bases narrativas e artísticas mais fortes do que outros soulslike, o que desperta logo curiosidade. Por outro lado, aprendendo com os erros do passado e explorando a experiência adquirida, a produtora tentou inventar algo que excedesse sensatamente as expectativas. Quem conhece o modus operandi desta produtora sabe bem o quanto as suas histórias são tão intrincadas e ricas em conteúdo.
Steelrising conta uma história alternativa da Revolução Francesa, por volta de 1789 e pouco antes da Tomada da Bastilha. As revoltas revolucionárias, contudo, foram provocadas por máquinas corruptas ao serviço do Reino, que reagiram violentamente, derramando o sangue dos cidadãos nas ruas. Paris mergulha no terror, enquanto os rebeldes continuam a protestar contra a raiva louca do Rei Luís XVI. O monarca, claro, não tem qualquer intenção de parar as acções terríveis dos seus robôs, uma vez que prefere dominar pelo medo.
Entretanto, o engenheiro de confiança da corte, Eugène de Vaucanson, opõe-se ao uso violento das máquinas. Quando é preso, a sua criação mais brilhante é-lhe confiscada. Chama-se Aegis e foi originalmente concebida para entreter o rei. Graças à sua engenharia, os seus incríveis movimentos são quase humanos, num contraste claro com os outros autómatos.
Contudo, o rei vê nesta máquina uma possível arma de guerra e modifica-a. A sua graciosidade passa para segundo plano, com as lâminas, pequenos canhões e outras armas. A sua nova nova missão passa a ser a protecção da rainha. Este autómato, porém, começa gradualmente a alcançar a sua própria independência, seguindo os passos do seu criador.
A partir desse momento, começamos a controlar Aegis e a tomar decisões importantes, o que pode mudar o curso da história. No decorrer deste enredo, irão cruzar-se também com figuras históricas que desempenharam um papel fundamental durante a Revolução, como Robespierre, Lavoisier, Lafayette, Marie Antoinette. Neste caso, dada a realidade paralela, é possível que ajam de forma completamente diferente dos livros de História.
A cidade de Paris aqui representada é muito sombria e com uma atmosfera pesada, totalmente desprovida de habitantes. Considero que a exploração em Steelrising está dentro do esperado no género, com alguma verticalidade facilitada a dada altura no decorrer da história por um gancho com corda muito eficaz (a fazer lembrar jogos como Sekiro). Também neste jogo é frequente regressar a áreas já exploradas, a fim de atravessar zonas que anteriormente estavam fechadas ou inacessíveis.
Durante as primeiras fases do jogo, a arquitectura dos níveis não me pareceu particularmente complexa ou ousada. Ainda assim, assinalo a presença de atalhos que dão imenso jeito para os tais regressos, uma idea bem ao estilo dos jogos da FromSoftware. Por outro lado, temos também toda uma série de desvios do caminho principal, principalmente associados às tarefas primárias e às missões secundárias opcionais. Oferece o devido incentivo a explorar este mapa tão complexo e detalhado.
Obviamente, a cidade não está propriamente vazia e é preciso ter muito cuidado com quem, ou melhor, com o quê nos cruzamos. Dado o contexto do jogo, é natural que o bestiário seja composto de adversários mecânicos, autómatos e máquinas bem diversificadas com movimentos algo imprevisíveis. A própria Aegis, como protagonista, é certamente única no padrão de protagonistas de videojogos, pelas características de combate e possibilidades de desenvolvimento durante a aventura.
Quanto a estilos de jogo, no início é possível escolher entre quatro classes diferentes. Contudo, isso não impedirá de as misturar durante a história com a utilização de diferentes acessórios. Devo também acrescentar que Aegis poderá instalar módulos especiais que lhe darão a possibilidade de aplicar habilidades passivas. Contudo, é necessário prestar atenção às “soul essences”, que são os pontos de experiência que angariamos e que servem para subir de nível. Com a morte, perder-se-ão, pelo que será necessário “bancá-las” sempre que for possível.
O sistema de combate do Steelrising é bastante familiar. Além de golpes com armas brancas para proximidade e armas de fogo para distância, Aegis é capaz de se esquivar para evitar ataques, numa lógica de energia gasta, igualmente banal no género. É possível escolher uma arma principal e alterná-la, por exemplo, com uma arma de fogo, que pode interromper as animações dos inimigos e ainda infligir alguns danos de elementos, tais como um momentâneo bloco de gelo que “congela” acções.
O que se destaca neste título é sobretudo a variedade de armas e das abordagens que permitem. As espadas, correntes, mosquetes, martelos, garras e discos, são apenas algumas das ferramentas da morte que temos oportunidade de usar. São todas relativamente eficazes quando usadas de diferentes maneiras de acordo com o adversário que se tem à sua frente. Isto gera bastante profundidade no combate, premiando quem se dedica a experimentar cada arma.
Como não podia deixar de ser, existem consumíveis para angariar, poções especiais que alteram as resistências ou melhoram temporariamente certas características, juntamente com granadas e poções de óleo. A gestão de energia é igualmente algo já visto, com uma barra de resistência terá de ser vigiada constantemente e que se gasta a correr ou a lutar, mas também quando começa a perder segmentos ao se abusar das capacidades da protagonista. Em casos extremos de descuido, Aegis pode desligar-se, (o equivalente a “stunned”) e é necessário premir um botão para a reactivar.
Steelrising pareceu-me um projecto bastante sólido ao nível do combate, trazendo alguma profundidade à jogabilidade, emprestando algumas ideias muito boas dos melhores títulos do género. Estas ideias ajudam a torná-lo cativante de descobrir e de explorar as evoluções e modificações do combate. Contudo, não há aqui muito para destacá-lo de outros títulos do mesmo género. É como uma mescla do que de melhor já se fez neste género “souls”, sem propriamente reinventar grande coisa. Não deixa de ser uma acção interessante, notem, apenas não esperem algo inovador.
A nível visual, se considerarmos que é um título concebido apenas para PC e consolas da nova geração, o detalhe gráfico não parece ser o melhor. Não acho que a Spiders tenha ao seu alcance os mesmos recursos que outras produtoras neste género, pelo que não esperava nada realmente deslumbrante. Ainda assim, o material promocional deu-me expectativas moderadas, pelo menos. Pareceu-me bonito, com alguns detalhes interessantes no design de cenários e personagens.
Só que a versão analisada na PlayStation 5 desapontou-me. A iluminação, quanto a mim, até é brilhante mas depois as animações e efeitos não são nada de extraordinário. Infelizmente, em várias ocasiões notei vários bugs e falhas visuais, denotando falta de polimento. O pior para mim foi a notória falta de optimização em alguns momentos, criando um instabilidade nos FPS que é difícil de justificar com o hardware em mãos. À data desta análise, a performance é inconsistente e sabemos a penalidade que isso pode causar durante as lutas. Venham de lá as actualizações, Spiders.
Veredicto
Steelrising tem um estilo do inconfundível e apareceu como um título bastante sólido e convincente. Até tem uma premissa narrativa cativante, encenando uma ucronia, que envolve o período histórico da Revolução Francesa de um ponto de vista sem precedentes, usando autómatos violentos e revisitando personagens e momentos Históricos. O sistema de combate ARPG tem muitas influências de terceiros e bastante profundidade, mesmo sem inventar quase nada como “soulslike”. Infelizmente, precisa de limar muitas arestas a nível técnico. Espero sinceramente que seja polido pela Spiders, porque a jogabilidade até merece.
- ProdutoraSpiders
- EditoraNacon
- Lançamento8 de Setembro 2022
- PlataformasPC, PS5, Xbox Series X|S
- GéneroAcção, Role Playing Game
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Contexto e premissa de jogo muito envolvente
- Clara influência de outros "soulslike"
- Sistema de combate elaborado
- Tecnicamente precisa de polimento
- Não traz nada de novo ao género
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.