Stellar-Blade (5)

Análise – Stellar Blade

Não podemos definir Stellar Blade como um puro “soulslike”. Também não o podemos definir como um “hack’n’slash”… ou um “shooter”… ou um jogo de plataformas… Na mistura de ideias, a ShiftUp acaba a confundir os jogadores.

Num ano com poucos lançamentos internos para a Sony Interactive Entertainment, qualquer oportunidade de capitalizar um exclusivo de plataforma vale ouro. Stellar Blade foi alvo de uma boa campanha promocional e um levantamento notório de hype por um jogo que parecia bonito e cheio de carácter. Contudo, quando joguei a sua demonstração fiquei logo com esta sensação de indefinição que menciono acima. Consigo ver imensas inspirações aqui e ali, recordando momentos em que me pareceu que Bayonetta inspirou o movimento e as animações da personagem Eve ou como os combates com timings correctos me recordaram Bloodborne. Numa tentativa de não plagiar ninguém, porém, a produção perdeu-se nas muitas ideias que tentou implementar. Resta saber se a experiência em si merece o vosso investimento.

No enredo deste jogo, uma boa parte da Humanidade foi obrigada a deixar Terra para trás, por causa de uma invasão de criaturas hostis, chamadas de Naytibas. Agora, é preciso reclamar o planeta de volta das mãos destes monstros. Vindos de uma colónia espacial, Eve e a sua equipa são destacados para a Terra para os combater. Contudo, não é uma tarefa fácil para estes soldados, porque o mundo está, de facto, tomado pelos invasores. É preciso ajuda dos resistentes mais corajosos, como Adam que guia Eve para Xion, o último reduto humano na Terra, a sede da sua resistência. O resto da história, como devem imaginar, fica para vossa descoberta, tal como Eve irá descobri-la.

O que é preciso reter deste enredo, é que há aqui uma notória influência religiosa, especialmente por detrás da divindade que Eve adora e também a origem destes Naytibas. A maior das evidências está nos nomes das duas principais personagens, Adam e Eve. Não é algo inédito, vendo esta fórmula em jogos como NieR: Automata e tantos outros. Todavia, ao contrário desse outro título, não esperem aqui grande profundidade neste enredo. Aliás, mesmo os desenlaces e revelações mais pungentes são francamente previsíveis, até mesmo com o papel da protagonista Eve e do seu grupo na trama. Há mesmo poucos momentos memoráveis nesta história e, a dada altura, é impossível não sentirem uma certa frieza nestes desenvolvimentos.

Também tenho de enfatizar que a produção não perdeu muito tempo a aprofundar a personalidade de Eve, com pouca emoção transportada para as suas acções. Diria mesmo que há maior construção de personagens nas pessoas que se cruzam connosco, que na própria protagonista. Por um lado, até entendo o intuito da produção em torná-la mais como uma espectadora, se as demais personagens é que são o veículo da narrativa. Mas, como a história geral é tão superficial, fica no ar a ideia que seria melhor que se apostasse mais na heroína, que apenas ser “uma rapariga bonita que dá porrada”. Enfim, acho que nestes dias a boa construção de personagens em jogo é algo raro, não é um problema só de Stellar Blade.

Quando é altura de combate, sim, este é um jogo muito parecido aos “soulslike” que já conhecem. Apenas não esperem que o seja sempre. Na maioria do tempo, vamos reconhecer a “dança do costume”, com bloqueios, desvios e contra-ataques, com enormes penalizações pela falta de estratégia mas óptimas recompensas pelos golpes certos no tempo certo. Contudo, Stellar Blade é lento a dar-nos esses verdadeiros desafios, preferindo introduzir-nos nas suas lógicas com algo simples mas lentamente tornando tudo mais complexo. Isto pode parecer algo positivo, para não se tornar demasiado punitivo, especialmente aos que não estão habituados. Todavia, se o desafio tarda em aparecer, também torna tudo mais fastidioso até lá.

Felizmente, mesmo a ritmo lento, as coisas até evoluem bastante e surgem os combates com bosses, onde o jogo finalmente parece encontrar um ritmo entusiasmante. Só não sei se os jogadores ainda estão devidamente motivados para chegar a este ponto. Eu, obviamente, não desisti, continuei a jogar e realmente descobri esse bom jogo em potencial, pelo menos com um ritmo mais desafiante que torna o jogo mais interessante. Embora haja um notório elemento de repetição em quase tudo (é quase sempre assim num “soulslike”), há também uma dificuldade emergente que consegue entusiasmar qualquer amante deste género tão peculiar. Então, estaremos rendidos.

Subitamente, voltamos ao tal espírito “experimental” da produção, passando por uma masmorra onde só podemos usar a arma de fogo… Aqui estávamos nós a entrar no ritmo de um tradicional “soulslike”, para, do nada, mudarmos de género. Isto fica particularmente patente em várias secções de transição, mas sente-se mais numa grande secção deserto em mundo aberto à exploração onde, uma vez mais, o género é mudado. Estão a ver porque digo que o jogo “confunde” os jogadores? Estou muito habituado a títulos que gostam de mudar os paradigmas e formas de jogar. Esta metamorfose pode, de facto, tornar tudo mais divertido e menos repetitivo. Ainda assim, Stellar Blade só consegue isto nas primeiras horas, quando depois percebemos tudo pertence a um enorme arco que se repete novamente, vezes sem conta.

E não é que todas as secções sejam memoráveis. Simplesmente não gostei das secções de plataformas, não porque sejam complicadas ou desafiantes por si, mas porque as lógicas de controlo são tão falíveis. Eve falha muitas vezes a agarrar a plataforma, os perigos onde podemos cair nem sempre são óbvios e é muito frequente morrer nestas secções só porque falhámos um movimento por milímetros. Entendo a dificuldade e complexidade do combate, na forma como nos pune pela precipitação e exige que nos tornemos melhores para eliminar inimigos. Mas, no caso destas plataformas, é só uma questão de mera perícia, o que acho ser uma descaracterização total do género ARPG.

Chegando a este ponto na minha avaliação, a sensação que me deu é que a ShiftUp preferiu apostar mais no estilo que na substância, uma vez que a arte e o grafismo deste jogo são francamente deslumbrantes. Há alguns momentos de arregalar o olho, tirando bom proveito do hardware da PlayStation 5. A direcção de arte é impecável, com animações bem feitas e efeitos visuais muito bem conseguidos. Quando tudo encarrilha juntamente com a acção em si, consegue ser bastante recompensador como um todo, numa boa demonstração técnica e com muito poucas falhas a assinalar. Infelizmente, como todos já sabem, o visual para mim não é tudo. Admito que ajuda bastante, mas se já estou aborrecido, é difícil que mude de ideias.

Veredicto

Nas primeiras horas de descoberta, Stellar Blade é uma óptima oferta de acção, querendo dar-nos algo que se assemelha a um “soulslike” refinado e com um visual impressionante. Momentos depois, contudo, o jogo começa a a tentar “reinventar-se”, levando-nos a outros géneros que não lhe fazem favores. Essa indefinição, até ajuda um pouco a quebrar a monotonia mas, eventualmente, descobrimos que a repetição se instala na mesma, apenas numa escala maior. Isto, aliado a uma narrativa que não se perde muito em contar uma história que seja realmente empolgante, uma fraca construção de personagens e alguns controlos pouco refinados, fiquei um pouco desapontado. Ainda assim, acho que é um óptimo jogo para descobrir numa época de poucos lançamentos. Será uma óptima aventura para quem quer um bom desafio em potencial e quer algo bonito para apreciar.

  • ProdutoraShift Up
  • EditoraSony Interactive Entertainment
  • Lançamento26 de Abril 2024
  • PlataformasPS5
  • GéneroAcção, Hack and slash, Plataformas, Role Playing Game
ok
OK

Podia ser melhor mas tem alguns pormenores positivos que podem agradar a muitos jogadores.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Muitos géneros misturados não fazem favores
  • Narrativa pouco profunda ou entusiasmante
  • Repetitivo na sua segunda metade
  • Demora a dar o devido desafio

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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