StrangeBrigade (1)

Análise – Strange Brigade

Dos mesmos produtores da lendária série Sniper Elite, chega-nos uma autêntica aventura épica. Strange Brigade é a nova aposta da Rebellion, um excelente pretexto para pilhar tesouros, matar múmias e… ah! Salvar o mundo, já agora.

Desde as primeiras imagens reveladas que fiquei curioso com este jogo. Sou particular fã dos muitos jogos de acção cooperativa baseados na lógica de Left 4 Dead. Passei inúmeras horas a jogar Pay Day ou Warhammer: Vermintide II e reconheço muito bem esse ADN quando o vejo em qualquer lado. A própria Rebellion já se tinha aventurado neste género com a trilogia Zombie Army. Não querendo ser demasiado diferente, Strange Brigade tenta, pelo menos, ser singular. Entre muitos tiros e explosões contra múmias e esqueletos, temos saques a tumbas e cavernas e uma quantidade considerável de armadilhas e puzzles para puxar pela massa cinzenta. Tudo isto é embrulhado numa trama absolutamente “over the top”, onde nem falta um narrador que oscila entre o snob e o sarcástico.

Quando a ameaça do fim do mundo se aproxima, quatro agentes dos Serviços Secretos Britânicos são chamados ao dever. Seteki, a rainha-bruxa Egípcia, é perturbada do seu sono eterno e promete destruir tudo e todos. Contudo, tem de enfrentar a Brigada Estranha que parte no seu encalço. O grupo tem a tarefa de passar por diversos locais para, primeiro destruir artefactos que guardam o poder da rainha e depois devolvê-la ao repouso de uma vez por todas. Para a defender, Seteki ergue um exército de mortos-vivos (com ligaduras), assim com uma série de soldados e seres sobrenaturais. E, já que andamos por tantas catacumbas cheias de tesouros, a Brigada também angaria, digamos, “fundos de maneio”…

No seu auge, Strange Brigade é um jogo de acção na terceira pessoa, onde não basta apenas matar o maior número de seres sobrenaturais mas também é preciso angariar loot que se traduz em dinheiro virtual para novas armas e equipamento. Algum desse loot está solto pelo mapa, outro esconde-se por detrás de armadilhas diversas ou puzzles de complexidade variável. Também terão de procurar por uma quantidade elevada de coleccionáveis e até encontrar figuras de cerâmica específicas para destruir, como os omnipresentes gatos azuis que, se os destruirmos todos, ainda nos dão um importante bónus de dinheiro virtual.

Toda a acção divide-se em três modos de jogo distintos. O modo de carreira é onde inicialmente passarão mais tempo, com as missões de história que possuem mapas lineares mas de dimensão considerável. Nestes, temos de explorar trajectos para os objectivos, mas também procurar em cada canto por segredos e tesouros, enquanto desancamos mortos-vivos avulsos, por vezes em arenas com mini-bosses ou bosses desafiantes. Há muitos puzzles para decifrar, alguns exigindo que procuremos a solução pelo mapa. Também há muitas salas com armadilhas para lidar, exigindo sempre alguma concentração.

O modo Horde é também uma interessante opção de jogo. A fórmula é familiar, com o objectivo de eliminar diversas vagas de inimigos numa grande arena. A dificuldade vai aumentando e os inimigos são cada vez mais numerosos e resistentes. O foco aqui é mesmo o combate. Já o modo Time Attack pretende que sejamos os mais rápidos contra-relógio a terminar cada missão. Todos estes modos, inclusive o modo de carreira, podem ser jogados a solo ou em modo cooperativo com mais três jogadores. Diria que é possível fazer tudo sozinho, mas o jogo foi claramente concebido para jogar em grupo. Já explico.

O combate é, obviamente, a principal mecânica de jogo. Cada personagem tem preferência num tipo de arma, mas podemos alternar essas armas entre as demais personagens. Há armas de tiro próximo com dano devastador, como as caçadeiras, há espingardas de médio alcance e metralhadoras. Com o dinheiro que vão ganhando, desbloqueiam mais modelos diferentes de armas, mais letais, com mais cadência de tiro ou com menos recuo. As munições são limitadas e é preciso procurar por mochilas e baús de reabastecimento. Quando não têm mais balas, podem sempre usar uma pistola com munição infinita, granadas, minas ou dinamite e ainda uma habilidade especial, única de cada personagem.

Estas habilidades precisam ser carregadas com “almas” das múmias eliminadas e variam de efectividade e objectivo. Frank, o soldado, manda uma corrida que deposita dinamite num adversário que depois explode. O estudante Archimedes, lança uma série de besouros que fazem dano a muitos adversários de uma só vez. Gracie, a engenheira, puxa um adversário que depois arremessa como um projéctil explosivo. E Nalangu, a guerreira Maasai, lança uma explosão que afecta múltiplos adversários. Há ainda mais habilidades para desbloquear em cada personagem com cada ponto de upgrade ganho em jogo.

Quando dominarmos armas, explosivos e habilidades, vamos espalhar o caos pelas hordas egípcias (e não só). Acontece que, apesar de podermos escolher entre três níveis de dificuldade, esta é verdadeiramente ascendente. Se, no início, o ritmo de jogo parece algo lento, lá mais para o fim do modo de carreira, as coisas complicam-se bastante. Recordo com pouca saudade um determinado nível perto do fim, onde encontrei um único boss gigante ao lado de uma pirâmide. A estátua a dispara umas esferas que nos perseguem e há inúmeras múmias a erguerem-se do chão. O pior é que temos também momentos-chave em que temos de ser rápidos a desactivar umas torres. Porque o timings são muito rápidos, tive imensa dificuldade a solo, facilitando muito a coordenação com outros jogadores.

Os inimigos começam a ser muito mais desafiantes, não só pelo número, mas também graças às suas diversas classes. Começam com as lentas e desmioladas múmias clássicas, mas depois temos minotauros, feiticeiros que arremessam fogo, soldados que lançam dardos e ghouls que se teleportam pelo mapa. Sobretudo em arenas confinadas ou no modo Horde, o trabalho de equipa é essencial para evitar situações frustrantes, especialmente se ficamos rodeados. E ainda tempos de lidar com as armadilhas que se ligam nos piores momentos ou com as zonas de estrangulamento em cada mapa. Se cairmos em grupo, um companheiro pode salvar-nos do sarcófago. A solo… contem com um injusto checkpoint.

Há algumas coisas menos positivas. Achei que as poções de recuperação de energia são escassas demais e que o seu uso único não é muito justo. Infelizmente, também não temos sistema de cobertura, nem podemos saltar obstáculos. Apenas podemos desviar-nos em “dash”, que dá algum jeito para fugir, sim, mas nem tanto para evitar obstáculos. Não era mal pensado podermos agachar numa cobertura, por exemplo, enquanto recarregamos a arma. Também não gosto de que alguns itens sejam apanhados automaticamente e outros precisem que pressionemos numa tecla por alguns segundos. É o caso das poções. Já em baixo de energia, ficamos parados a receber ainda mais danos para… apanhar uma poção de energia. Conseguem ver a ironia?

Contudo, o que menos apreciei neste jogo é algo que afecta mesmo os tiroteios em si. Todo o balanço das armas e até os danos causados pelas diferentes munições me parecem normais, sem nada a assinalar. Contudo, acho algo francamente limitador que fazer mira imobilize o jogador e lhe tire visão periférica, quando não é possível fazer tiro sem mirar. Sim, não podemos fazer “hip fire”, o que no caso de estarmos rodeados não faz muito sentido. Pior, com armas de tiro único, tipo espingardas, não temos muito tempo para fazer fogo preciso e acabamos em apuros. Aliado a isto, o sistema de recarregamento e a mira são interrompidos se formos atingidos, o que também se torna bastante frustrante.

Ainda falando no tiro, mesmo a fazer mira precisa, é inacreditável quantas vezes falhei tiros quase à queima roupa. Tive de visitar o menu algumas vezes para ligar ou desligar o auto-aim (joguei numa PS4). Isto, para confirmar se havia algo de errado. Eventualmente, dirão é que é preciso é ter perícia e eu até aceitaria que o jogo nem tivesse auto-aim deliberadamente, se por qualquer motivo a produção tivesse alguma veia sádica. Contudo, está lá mas não parece funcionar assim muito bem. Sobretudo com esqueletos, é quase hilariante vê-los a aproximarem-se, nós a disparar e a falhar todos os tiros… com uma metralhadora. Digo “quase hilariante”, porque não tem piada nenhuma.

Assumo que esta situação tenha a ver com a dispersão do tiro, representado por uma maior abertura na cruz da mira, entre tiros ou depois de um movimento. Ou seja, precisam de mirar um pouco mais para fazer tiro mais preciso. O que até faz sentido… excepto quando temos dezenas de mortos-vivos a rodear-nos. Escolher ou desbloquear outra arma com mais cadência de tiro é a solução mais lógica. Ao longo dos cofres que abrimos, também encontramos gemas que servem de upgrades diversos para as armas, algumas delas até reduzem o recuo do arma, ajudando na mira. Contudo, não senti que algum destes upgrades ajudasse muito neste aspecto. No fim, torna-se uma questão de hábito.

Todas estas lógicas e mecânicas de jogo podem vir a ser melhoradas com actualizações futuras. E é bem possível que acabem por se habituar às “manhas” do jogo. Por exemplo, gosto muito de jogar com Archimedes por causa da sua habilidade especial com os besouros “tele-guiados”. Consegue matar logo umas cinco ou mais múmias, cujas almas posso depois absorver para recarregar novamente a habilidade. Bem feito e com ajuda de granadas ou armadilhas, é possível lançar a habilidade varias vezes seguidas e desancar um número absurdo de adversários de cada vez. Se as armas não cooperam, a habilidade ajuda.

Quando derem por vocês, estão viciados neste divertido jogo. Rapidamente, esquecem os problemas de mira e começam a perceber que a Rebellion queria era que nos divertíssemos. Infelizmente, enquanto escrevi esta análise nestes dias, a quantidade de jogadores era obviamente menor, por estar em vésperas de lançamento. Mesmo assim, consegui diversas sessões com outros jogadores, igualmente interessados em explorar tudo o que o jogo oferece. E é aqui que este título brilha. Jogando a quatro, o jogo é mais rápido, menos complicado e nada fica por descobrir. Mesmo que o loot não seja partilhado (algo injusto, sobretudo com oportunistas ao nosso lado), acabar níveis completos e descobrir tudo em equipa é muito satisfatório.

E enquanto não estão a rebentar com múmias, vão ficar deslumbrados com a qualidade visual geral que este jogo oferece. Alguns níveis são mais elaborados que outros, mas tudo conta com imensa qualidade de design e concepção. Desde vales verdejantes a vilas inteiras, catacumbas e ruínas gigantes, tudo decorado com imenso detalhe e referências históricas, Stange Brigade é uma obra de grande rigor técnico. Aliado a isto, a performance em jogo é igualmente brilhante. Joguei numa PS4 Pro e liguei a opção de framerate ilimitado e, embora notasse que por vezes haviam quebras (algo que o jogo avisa poder acontecer), tudo parece fluido, mesmo com centenas de objectos e animações à mistura.

Notem que não há um particular interesse no realismo de texturas, modelos ou animações, havendo uma certa dose de caricatura perceptível. Contudo, tudo tem óptimo aspecto. E o mesmo se passa no áudio de jogo. A banda sonora é bastante apropriada e os sons gerais criam a envolvência esperada. Os elementos da brigada também possuem diálogos curiosos, constantemente a trocar impressões entre si. Mas, o verdadeiro protagonista, snob de serviço e dono de um sentido de humor peculiar é o narrador. Claramente inspirado nos radialistas dos anos 30/40, está lá para nos guiar, criticar e insultar das formas mais requintadas, num perfeito sotaque Britânico. Esperem até ouvirem os adjectivos que dá às múmias ou a sua apreciação sobre gatos e saberão do falo.

Veredicto

Divertido, viciante e vasto, Stange Brigade é um dos títulos de acção cooperativa que mais me cativaram nestes últimos tempos. Tem algumas questões de lógica que criam situações frustrantes e que espero que a Rebellion aborde em breve. De um modo geral, porém, entre disparar contra mortos-vivos e saquear túmulos, temos muitas horas de diversão e desafio pela frente. Cativa visualmente e até tem um narrador divertido para nos entreter. Apenas evitem jogá-lo sozinhos ou poderão passar um mau bocado a enfrentar bosses mais complexos. Afinal, este não é um trabalho para uma só pessoa. É preciso uma brigada!

  • ProdutoraRebellion
  • EditoraRebellion
  • Lançamento28 de Agosto 2018
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroAcção, Aventura
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Iconsistência de mira e tiro
  • Loot não é partilhado em coop
  • Alguma dificuldade exagerada a solo

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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