Análise: Sunset Overdrive
Depois de saltarmos de um edifício cheio de monstros, surfamos em cima de um cabo de alta tensão, fazemos mira nuns quantos bandidos com uma arma que lança fogo-de-artifício nas fuças, trocamos pelo lança-granadas de ursinhos de peluche, saltamos sobre um carro e lançamos uns ursinhos que explodem toda a gente à volta, bandidos e monstros, com umas bolas de fogo que têm escrito “Boom”, tudo isto enquanto ouvimos uma épica trilha de grunge… já temos o vosso interesse? Então vão adorar Sunset Overdrive, um exclusivo Xbox One que foi resumido aqui em poucas palavras. Pronto. Podem ir lá comprar, análise feita…
Estava a brincar…
Num futuro não muito longínquo, numa cidade fictícia chamada Sunset City, uma nova bebida está a causar sensação. Chama-se Overdrive Delirium XT e parece ser tão boa que… transforma pessoas em monstros chamados OD. E quanto mais beberem mais monstruosos ficam. É claro que há lugar para uns quantos bandidos chamados Scabs tentarem aproveitar a situação e pilhar os sobreviventes. Na precipitação de conter a ameaça, a empresa responsável pela bebida, a FizzCo, decide sitiar a cidade e enviar robots chamados Fizzbots para eliminar as provas. Lá pelo meio estamos nós, uma personagem pouco funcional que se torna um herói acidental. Preparem-se para muitos exageros e cenas absurdas, muitas piadas de duplo-sentido e tanta vulgaridade que há uma opção no menu para a remover.
E esqueçam lá esses jogos sombrios e esses enredos intrincados e cheios de ramificações dramáticas. Sunset Overdrive é um jogo de muitas cores (e explosões de cor com muitos efeitos coloridos e corzinhas brilhantes) e muito humor, sem grandes enredos, onde apenas é preciso matar muitos monstros, bandidos ou robots, mas sempre com (muito) estilo. Entretanto, esqueçam também as lógicas e dinâmicas das leis da física e da gravidade. Aqui assume-se que essas balelas são opcionais. Bah! Cientistas…
Começamos por personalizar a personagem e as opções são imensas e crescentes. Não só temos logo no arranque muitas opções de cortes de cabelo, roupas e acessórios, como também de feições e mesmo sexo e fisionomia. Podemos optar por sermos uma voluptuosa chefe de claque ou um corpulento hipster. As escolhas são imensas e não interferem com a acção. Talvez soltem umas gargalhadas ao colocar um tipo musculoso vestido com um top cor-de-rosa e uma saia amarela, mas, acreditem, nunca será o momento mais estranho neste jogo.
Depois de perdermos umas horas a vestir roupa de gosto duvidoso com um corte Afro cor-de-laranja, descobrimos que o jogo se resume a tentar sair da cidade o mais rapidamente possível. Para isso, descobrimos que nós, ex-funcionários da FizzCo temos o poder de surfar por cabos eléctricos, saltar como cangurus dopados e até de deslizar sobre a água. Interessante. Cada acção acumula para preenchermos uma barra de overdrive que vai aumentado a capacidade dos nossos poderes e acções. Tenho pena que as roupas ou acessórios não interfiram com a forma como se desenvolvem esses poderes. Gostava mesmo que o usar o capacete da tropa com orelhas de coelho me desse capacidades de salto mais elevado… Que tem? Até parece que neste jogo isso não podia acontecer…
Depois vem o armamento. À falta de melhor definição, as armas personalizadas do jogo são: idiotas. A primeira arma do jogo é uma caçadeira com… testículos. Não estou a gozar! Daí para a frente é o descalabro previsível. Todas as armas ridículas possuem características próprias. Um lançador de discos de vinil tem a capacidade de lançar vários discos que percorrem o mapa até acertar em alguém. Fazem pouco dano por disco, sendo uma arma automática, e serve mais para os monstros OD, mostrando-se pouco eficazes face aos bandidos, por exemplo. Já uma pistola carinhosamente apadrinhada de “Dirty Harry” (estás lá, Clint!) é bem mais indicada para os bandidos. Cada arma pode ser ganha ao evoluirmos na carreira ou comprada a um vendedor estranhamente omnipresente chamado Two Hat Jack. O homem está por todo o lado e nem estou a falar de um clone! Já agora, outra personagem sempre omnipresente é Callista, uma vendedora de roupa e acessórios que também aparece nas bases todas e que nunca poupa uma crítica à vossa roupa interior ou óculos da moda.
As missões giram em torno da tal obsessão de sair da cidade. Mas em cada bairro que percorremos, há sempre missões para cumprir até conseguirmos esse propósito. Num tempo de Apocalipse, mesmo tão colorido e humorístico, nada é de borla. Cada personagem que encontramos tem uma tarefa para nós, por vezes será angariar peças para um projecto, ou então um resgate de alguém perdido.
Acerca das missões do modo carreira, embora quase sempre recorrendo aos nossos poderes de forma repetitiva, podemos dizer que são vastas, variadas e cada missão confere um bónus que nos ajuda a progredir a personagem. Se quiserem, lá pelo meio há quiosques onde podemos ser tele-transportados para uma sessão online para jogarmos com desconhecidos ou amigos em modo cooperativo. De cada vez que entrei, porém, havia mais lag que o desejável. Talvez porque a vasta maioria dos jogadores que encontrei fossem Americanos. O que é certo é que as missões de multi-jogador me pareceram algo dispensáveis e as recompensas não são nada de especial. Fiquei-me pelo modo carreira. Isto porque as recompensas são melhores e não tenho pessoal a teleportar-se à minha volta. Entre o modo online ou offline, cada missão passada com sucesso dá uma arma ou armadilha nova, uma peça de roupa ou acessório, mas melhor ainda é o dinheiro ou latas de Overdrive que servem para comprar mais roupas ou acessórios e armas, respectivamente.
Já para evoluir, nada como equipar perks para amplificar o poder das armas e do nosso estilo. Chamam-se Amps e permitem adicionar combos e multipliers a diversos movimentos e armas. Cada um desses perks pode ainda ser evoluído de modo a ser ainda mais eficaz. Há missões muito importantes para angariar novos Amps. Seja ir buscar rolos de papel higiénico ou sapatos mal-cheirosos, eventualmente irão ter de o fazer e trazer a uma arena onde vão ter de defender as máquinas que irão produzir esses Amps com a ajuda do tal refrigerante (conveniente) que tem o péssimo hábito de atrair monstros (também conveniente). Apesar do mundo aberto que o mapa oferece, para esta missão o espaço é confinado (adivinhem, conveniente), podemos colocar defesas e usar os carris para nossa vantagem de modo a proteger as máquinas dos monstros durante uns penosos minutos. No fim, a recompensa dos Amps.
Ao fim das cerca de 15 horas de jogo, irão interrogar o que raio aconteceu. Graficamente, Sunset Overdrive é uma grande banda-desenhada. A começar pelo grafismo em jeito de cartoon e pelas caricaturas exageradas das personagens e a terminar nas físicas ridículas. Além disso, o jogo persiste em dizer-vos que é mesmo um jogo. Ao jeito de Deadpool, a quarta-barreira é transposta vezes sem conta. Seja pelos diálogos das personagens que insistem em falar dos “protagonistas deste jogo” ou com os acenos constantes “para a câmara” e até com uma voz que surge em tutoriais que assume falar “do jogo” e “do herói”.
E aqui tenho de fazer uma observação.
Deu para perceber que Sunset Overdrive não quer ser levado a sério. É um jogo repleto de humor, explosões ridículas, momentos extremos de caos e piadas com vernáculo. Há imensos piscares de olhos a jogos, filmes e tendências. Por exemplo, há uma missão onde claramente um grupo de nerds se inspira em Game of Thrones. Há referências aos filmes de Star Wars ou Batman. Goza-se aqui e ali com a comunidade quando caímos acidentalmente de uma torre e fazemos respawn já lá em cima, a personagem diz “Pelo menos não tive de começar isto tudo de novo!” ou então quando passamos um tutorial diz “não tive de ir ver isto ao Gametrailers!”. Infelizmente, esses bons momentos de gozo são desperdiçados com piadas ao lado e, por vezes, algo imaturas. É normal soltarmos uma gargalhada aqui e ali, mas nem sempre funciona. Havia material para muito humor com personagens ricas em clichés. Em vez de tantos palavrões o guião podia ser mais elaborado com mais comédia de qualidade. Enfim, podem sempre desligar a “vulgaridade” no menu se vos ferir a susceptibilidade… tansos!
Veredicto
Depois de Ratchet & Clank e Resistance, um de carácter infantil, o outro um shooter sombrio, ambos exclusivos da Playstation, a Insomniac teve alguma dificuldade em conseguir lançar este jogo. E penso que entendo porque foi tão difícil. Corre-se o risco de um jogo deste calibre se tornar numa banalidade perdida no seu humor imaturo. Jogos de plataformas tipo InFamous há muitos, de mundo aberto como Grand Theft Auto, ainda mais, com piadas forçadas e sem querer ser levado a sério, basta recorrer a Saint’s Row. Neste terreno lamacento, surge Sunset Overdrive como exclusivo da Xbox One a dar mais cor (já tinha falado das cores?), mais humor ao convidar Deadpool a escrever o guião, sem poupar na diversão caótica e desmiolada. Temos de dar o mérito pela coragem da Microsoft em apostar neste jogo. Mas… Há lá coisa melhor do que explodir coisas com as letras “Boom” a aparecerem? Ou desancar meliantes com bonecos que urinam ácido? Não entendo porque estão à espera para ir já comprar isto…
- ProdutoraInsomniac Games
- EditoraMicrosoft Game Studios
- Lançamento31 de Outubro 2014
- PlataformasXbox One
- GéneroAcção
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Personalização extrema
- Acção divertida e desmiolada
- Cores!
- Mais Cores!
- Algumas piadas forçadas
- Algumas missões demasiado caóticas
- Multiplayer dispensável
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.