Análise – Super Mario RPG (Remake)
Tenho uma confissão para vos fazer. Eu não joguei o original Super Mario RPG: Legend of the Seven Stars. Todavia, há anos que ouço dizer que é um dos melhores jogos role play com Mario. A expectativa para este remake era enorme.
Porque não joguei este título, perguntam vocês? Afinal, pela sua fama, pelo menos, parece um jogo obrigatório no histórico de títulos de Super Mario Bros. Ainda por cima como fã confesso de RPGs e JRPGs, parece algo imperdoável para mim. Acontece que o jogo foi lançado em 1996 para a SNES mas fora do Japão a sua distribuição ficou a cargo da Square, que mais tarde viria a fundir-se com a Enix em 2003. A Square não fez grandes esforços por lançar o jogo na Europa, pelo que, se alguém conseguisse o jogo, seria com certeza alguma rara versão importada.
Oficialmente, só chegou à Europa em 2008 mas apenas na consola virtual da Nintendo 3DS/Wii/Wii U, numa altura em que já era visto como um clássico algo datado, havendo tanto para descobrir nestas consolas. Infelizmente, também já não posso jogar esse clássico, já que as lojas foram encerradas em Março deste ano… se é que ainda podia ligar a minha velhinha Wii U. Por isso, desculpem-me se falhei em jogá-lo quando chegou. Mas, não pensem que não tentei rectificar esta lacuna. Aqui está esta rectificação… finalmente.
Claro que não irei jogar propriamente o original de 1996, com as limitações técnicas que seriam de esperar. Nem sempre os remakes, remasterizações ou reboots são realmente bons mas é óbvio que esperamos sempre uma modernização nos controlos, lógicas ou dinâmicas de jogo para acomodar as nossas mentes mais “apressadas” e menos tolerantes aos quirks originais. Super Mario Bros. Wonder, por exemplo, é uma excelente demonstração que é possível fazer renascer uma jogabilidade clássica mas com um (notório) toque moderno. Esta, contudo, não é uma sequela mas um profundo remake técnico de um clássico tido como “intocável”. Por isso, é bom que não modifique demasiado a oferta.
Então, como é que se satisfaz esta comunidade Nintendo, óbvia fã de Super Mario e dos seus clássicos, mas fazer regressar um jogo lendário que reside no imaginário de muitos jogadores, sem danificar a imagem “imaculada” dos sucessos mais recentes de Super Mario? Sendo conservador na inovação. Desde cedo que a produção deixou claro que muitas características originais não seria alteradas, apenas modernizadas. Esta intenção deixa muita margem para os nostálgicos reviveram esta que poderá ter sido uma era catalisadora dos melhores JRPGs que há memória, como os incontornáveis títulos da série Final Fantasy mas também permite que quem não jogou, como eu, descubra o porquê de tanto “frisson”.
A história deste jogo foca-se no esforço de Super Mario em salvar a Star Road dos infames arruaceiros do Smithy Gang, uma organização criminosa composta por armas inteligentes, liderada pelo infame Smithy que quer (só) dominar o mundo e destruir os desejos de todos eliminando a Star Road. A “normalidade” da história de Mario a salvar Peach das mãos de Bowser, portanto, é interrompida. E de que maneira! Exor, uma espada falante gigante, cai dos céus e abate-se exactamente no castelo de Bowser, espalhando o caos ao redor. Subitamente, o eterno antagonista, torna-se aliado de Mario, juntanto-se ainda a outras personagens icónicas das aventuras de Super Mario Bros, juntando ainda os novos heróis Mallow e Geno (ou “♡♪!?”).
O gangue de malfeitores parte então a fazer das suas, com muitos Koopas e outros soldados de Bowser a trocá-lo pelos novos antagonistas. Depois do castelo, o objectivo é conquistar o Reino Cogumelo mas Mario consegue travar os planos de invasão logo aí, conseguindo com isso recuperar uma Star Piece. Assim, o canalizador dá esperança aos habitantes das demais regiões, partindo para recuperar mais destes pedaços em outras regiões. Estas peças simbolizam as sete regiões da Star Road. Quando, eventualmente, forem todas recuperadas, poderão restaurar o poder de fazer desejos e fazer este mundo regressar à normalidade, derrotanto Smithy e os seus seguidores.
Como devem calcular, não tenho grande autoridade para fazer uma comparação exaustiva entre o clássico de 1996 e este remake. Ainda assim, posso avaliar a qualidade geral do jogo, falando da sua narrativa, da sua jogabilidade e, claro, de como se comporta no panorama actual depois de uma profunda “lavagem de cara”. Honestamente, os padrões dos JRPGs mais modernos não podem realmente ser aqui aplicados, já que cada jogo lançado desde os anos 90 tem elevado muito a fasquia técnica e criativa. Como acontece quase sempre, os jogos clássicos vivem na nossa imaginação como boas memórias de óptimos momentos proporcionados. Quando os tiramos de lá para os olharmos com uma visão moderna, por vezes, as coisas não correm bem.
O que a Nintendo fez, portanto, foi rejuvenescer a arte geral do jogo, trazendo-nos personagens, mapas, animações, efeitos visuais e mais, completamente revistos para o hardware mais recente da Nintendo Switch. De resto, o trabalho de recuperação abrandou, fazendo um óptimo esforço em não mexer nos elementos clássicos do que me lembro serem os pontos mais elementares dos JRPGs desta era. Temos à mesma os míticos combates por turnos, a história muito mais profunda que em qualquer outro jogo de Super Mario, cheia de peripécias e diálogos (escritos) com momentos divertidos e muitas curiosidades e momentos divertidos para descobrir num mundo (re)criado com imenso cuidado. É como ligar outra vez uma SNES mas com um grafismo impossível nos anos 90.
Em oferta, temos aquele estilo clássico de aventura na perspectiva isométrica, com muitas interacções com personagens e objectos, inventários, evoluções e algumas decisões a tomar. Mas, não pensem que é só mesmo isso que vão jogar. A oferta é incrivelmente variada, com vários tipos de mecânicas de jogo e até pequenas secções de mini-jogos para apreciar. Para dizer a verdade, o início do jogo parece algo limitado e aborrecido mas aguentem-se a jogar porque tudo começa a tornar-se mais interessante ao fim de uns minutos, especialmente quando começarem a descobrir novos biomas e áreas para explorar que vão puxar bem pelo grafismo colorido e simpático que esta franquia nos habituou.
Se lêem as nossas análises há algum tempo, já sabem que não somos grandes fãs dos combates por turnos. Ainda assim, nos JRPGs esta mecânica de jogo tem outro “sabor”. Durante anos, foi um processo de aprendizagem a encontrar apreço por estes combates faseados e profundamente tácticos. Super Mario RPG mantém exactamente todos os elementos clássicos deste tipo de combate dos antigos RPGs nipónicos. Não é um género perfeito, continua aborrecido para alguns jogadores na sua repetição mas é muito fácil entrar no ritmo e perceber quais as melhores combinações entre ataques, defesas e uso de itens. Só queria uma dificuldade um pouco maior, mas nenhum jogo de Super Mario foi realmente difícil, certo? Talvez desafiante mas nunca difícil.
Claro que algumas das mecânicas de interacção, como a escolha de alvos a atacar em combate ou algumas lógicas de movimento, em particular em alguns mini-jogos, acusam um certo peso na idade. Especialmente porque estas secções são um pouco frequentes demais. Mas, lá está, a Nintendo foi realmente conservadora a recriar este jogo, querendo manter tudo o que tornou o jogo memorável, inclusive as suas pequenas falhas de conceito. São, afinal, parte do seu charme, algo que os veteranos acolherão de braços abertos. Para quem, como eu, não jogou o original, porém… se calhar eu mexia um pouco na frequência e duração destas secções. Esta não é uma simples remasterização de um jogo com 27 anos, uma recriação tem sempre um espaço para alguma inovação no ritmo, pelo menos.
Também apostaria mais nos diálogos falados. Bem sei que seria uma produção bem mais morosa (e dispendiosa), obrigando a gravar muitas linhas de diálogo de raiz para tudo o que acontece no ecrã. O que nas suas cerca de 20 horas em média demoraria bastante tempo a criar. Também desvirtuaria a sua essência, baseada em ler as suas célebres caixas de texto, tão típicas dos RPGs clássicos Japoneses. Contudo, penso que adicionaria bastante à história do jogo, especialmente nos momentos mais divertidos e que constroem tão bem as personagens. Notem apenas que esta não é propriamente uma falha do jogo, é apenas um desejo meu que, lá está, estou mais habituado aos jogos mais modernos neste género.
Outro desejo que tinha era poder jogar o jogo original de 1996 para poder fazer um termo comparativo. Como já disse, a única forma de jogar Super Mario RPG era ligar uma SNES com uma cópia Norte-Americana (NTSC) importada. Porque duvido que todos tenham uma SNES por aí e sabendo que a máquina virtual da Nintendo já não está em funcionamento, é praticamente impossível jogar o clássico, pelo menos por cá. Tudo o que posso fazer é assistir vídeos de alguém a jogar. O que é uma perda enorme de oportunidade para a Nintendo vender ou até oferecer o jogo clássico em conjunto com o remake. Já nem pedia para termos uma opção de menu para alternarmos entre o grafismo da SNES e o da Switch, seria pedir demais… mas realmente fantástico.
Veredicto
Com 27 anos de atraso, lá consegui jogar aquele que é tido como um dos melhores jogos de todos os tempos da série Super Mario e um dos JRPGs mais aclamados de sempre. Bom… joguei o seu remake Super Mario RPG na Nintendo Switch. Descobri porque, de facto, o clássico é tão estimado pelos fãs de Mario e dou toda a razão quando dizem que é um dos melhores de sempre nesta marca, agora devidamente polido e modernizado. Algumas mecânicas e opções técnicas podiam ser mais modernas, sem dúvida aproveitando o facto de se ter recriado o jogo praticamente de raiz. Mas, talvez isso removesse o charme de um clássico tão enaltecido. Assim sendo, até se perdoam essas pequenas questões.
- ProdutoraNintendo
- EditoraNintendo
- Lançamento17 de Novembro 2023
- PlataformasSwitch
- GéneroArcade, Role Playing Game
Óptimo, aconselhamos a apreciar ao máximo.
Mais sobre a nossa pontuação- Todo o grafismo moderno da franquia
- Cuidado em manter características clássicas
- Momentos muito divertidos e cómicos
- Uma recriação com carinho da Nintendo
- Alguma repetição de combates e mini-jogos
- Dificuldade podia ser maior
- Onde está o clássico de 1996?
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.