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Análise – Surviving Mars

Longe vai o tempo de ser um local de onde vinham extraterrestres violentos. Marte tornou-se um objectivo claro da corrida Humana ao Espaço. Na esteira de grandes passos científicos para conquistar o planeta vermelho, Surviving Mars é, não só um jogo, mas uma simulação de um sonho bastante possível.

Todos os apaixonados pelas estrelas e que seguem a actualidade científica, sabem que Marte é o próximo destino da Humanidade. Já se planeiam os primeiros passos para a colonização deste planeta, mesmo que isto só venha a acontecer daqui a umas décadas. E não, não falo apenas de um certo automóvel vermelho que está a caminho. É mesmo uma meta a alcançar pelas diversas agências espaciais. Contudo, este jogo da Haemimont Games (série Tropico) é exímio a demonstrar uma importante faceta desta missão: a sua dificuldade elevada. É um jogo de computador, sim, mas muitas das ideias, conceitos e até alguma das estratégias são baseadas em conceitos surpreendentemente plausíveis. Ou seja, se as vossas tentativas de colonização no planeta vermelho virtual forem bem sucedidas, é bem possível que as tentativas reais sigam o mesmo caminho.

E os primeiros seres a pisar solo marciano são… drones… Nem sabem como fiquei desapontado nos primeiros minutos de jogo por não ver um pequeno ser humano num fato pressurizado a espetar uma bandeira no chão. Contudo, este simples facto fez-me crer que a produção estava mesmo a criar uma experiência séria com este jogo. É mesmo verdade, os primeiros movimentos a sair de uma nave enviada pela humanidade (além das sondas já lançadas como o robot Curiosity e tantos outros), podem mesmo ser de drones. O objectivo destes seres mecânicos é preparar o terreno, minar recursos e construir os primeiros habitats para os humanos, então sim, partirem para a colonização.

Não é uma tarefa fácil, uma vez que Marte não é o mais hospitaleiro dos planetas. O seu terreno é árido e abrasivo, tem temperaturas extremas e, claro, há a falta de uma atmosfera. Tudo isto obriga a muito trabalho de preparação. Inicialmente, temos de construir infraestruturas para gerar energia, colher materiais de construção e até bombear água, um bem absolutamente essencial à vida. Construímos toda a sorte de edifícios, desde estações de extracção de minério, processamento de oxigénio, armazenamento de energia, construção de polímeros, etc. Só quando tudo isto estiver garantido é que será possível sustentar vida na nossa base. Mas, tenham calma porque tudo é escasso.

Notem que é possível chamar naves de reabastecimento vindas da Terra. Contudo, não é um recurso confiável, uma vez que consomem uma boa parte do orçamento e demoram algum tempo a chegar (e a regressar). Convém que a base se auto-sustente localmente e independentemente e até que possamos expandi-la para outras áreas com mais recursos. Mas, para isso, temos de os encontrar. Podemos pedir que sondas em órbita vasculhem a superfície ou enviamos drones exploradores. Tudo isto, porém, custa dinheiro, energia, tempo e recursos. E, no meio disto tudo, contem com avarias constantes e desgaste do material.

Quando deixarem de bradar contra os pobres drones e conseguirem finalmente criar uma base auto-sustentada ao ponto de construir um inteiro habitat, o trabalho ainda não acabou. Agora é preciso preenchê-lo com diversos serviços, desde áreas de trabalho e investigação, enfermarias, armazéns, fábricas e até zonas e lazer e recreio. Até um casino podem construir para alegrar os futuros inquilinos. Isto porque quem vai para lá viver são seres humanos, cada um com o seu ego, preferências, desejos e até estados de espírito e humor. E isso é ainda mais evidente quando finalmente chamam a primeira nave com passageiros da Terra. Ficarão surpreendidos quantos dos filtros terão de ceder para ter recrutamento completo. Astronautas perfeitos são poucos, acreditem.

Depois, faz-se História. Baptizei a minha primeira nave com humanos de “Esperança”. Vi-os a chegar e a dar os seus primeiros passos na areia vermelha. Assisti aos seus primeiros avanços na investigação. Fiquei particularmente orgulhoso de ver nascer o primeiro bebé marciano. Senti-me triste com o primeiro humano a falecer em Marte. Fiquei apreensivo com um meteoro que destruiu uma parte da base e me obrigou a lançar diversos drones em reparações, além de me obrigar a criar turnos adicionais nas fábricas para produzir recursos de emergência. Senti que a minha estratégia era muito pessoal. E toda a tecnologia, embora puramente teórica, pareceu-me perfeitamente possível (à excepção do modelo de nave da missão que me fazem lembrar demais a de Futurama).

Este é um jogo de estratégia e gestão, em tudo semelhante a Cities: Skylines, também da editora Paradox Interactive e que também muito aprecio. A diferença é que temos um cargo bem mais crítico que o de “Presidente de Câmara”. Toda a missão e o seu sucesso depende da nossa estratégia e da nossa capacidade de gestão dos recursos tão limitados. Esta estratégia é limitada por um orçamento financeiro e pelo cumprimento de objectivos, uns mais complicados que outros, como, por exemplo, não deixar que todos os humanos morram. Simples mas francamente aterrador.

O ritmo de jogo pode ser francamente lento, mesmo com uma opção de aceleração do tempo real disponível. Tudo precisa de tempo, inclusive o estudo de novas tecnologias e investigação de mistérios no planeta vermelho. A dada altura, deixa de ser um jogo de construção e de expansão e passa a focar-se na administração de espaços e de pessoal. Nunca estamos realmente parados a observar, sendo chamados a intervir em diversos campos. Desde reparar danos, ampliar secções, entre outros, resolver problemas é a ordem do dia. Por exemplo, com novas gerações a nascer em Marte, é preciso construir escolas e talvez novos habitats. Há sempre algo para fazer.

Em termos de jogabilidade, tudo é simplificado, francamente bem explicado (se estiverem dispostos a ler, claro), tem bons tutoriais e o interface é sóbrio e bem arrumado. Mesmo assim, é bem possível que se percam um pouco a planear o que fazer a seguir, criando algumas situações de desorientação. Contudo, esta é uma característica comum dos jogos de construção e gestão. E não há nada mais exigente que suprir necessidades de seres humanos. Na Terra de Cities: Skylines talvez os cidadãos reclamem de estradas ou da falta de polícia. Em Marte reclamam de falta de ar ou água, algo bem mais essencial. E não deixam de ter vícios e mau feitio. Por esta altura, já tenho saudades das primeiras horas com os drones, muito mais “simpáticos”.

Graficamente, Surviving Mars é muito competente a transmitir-nos o ambiente de ficção científica dos equipamentos e edifícios, num claro contraste com o deserto vermelho ao redor. Não é particularmente foto-realista, até porque nem é esse o objectivo. De uma certa forma, quase tudo é caricaturado sem olhar a conceitos ou design realistas. Tudo não passa de um grande “E se…” teoricamente possível. E aí cumpre o objectivo de nos transmitir a atmosfera certa. Até mesmo com recurso a estações de rádio fictícias com vários estilos de música e que nos fazem companhia constante.

Como factor menos positivo, talvez o facto de ser um jogo francamente complexo para quem não domina minimamente a ciência que lhe dá a base. O jogo também não tem muitos automatismos que possamos programar para não termos de micro-gerir tudo. Não é algo realmente negativo porque, afinal, a jogabilidade até tem um elemento didático inerente. Contudo, para quem está a administrar um programa inteiro de colonização num planeta extraterrestre, convinha termos mais ajuda na gestão, talvez com micro-gestores artificiais que soubessem criar contingências e aconselhar sobre o que está inerente a cada passo dado. Mas, se não querem este desafio de sobreviver em Marte com tantos contras, só o título devia demover-vos, certo?

Veredicto

Surviving Mars aproxima-nos do sonho que muitos de nós temos: sermos pioneiros na exploração de um novo planeta, efectivamente arriscando tudo para criar uma nova civilização. Quando ouvirem falar dos voluntários que se oferecem e cada projecto de colonização de Marte, não estranhem. Há um apelo enorme de sermos os primeiros a chegar e a cruzar metas. No passado, os Portugueses descobriram o Novo Mundo por navegar até onde outros nem ousavam apontar. Nestes dias, colonizamos Marte digitalmente, neste jogo que tem tanto de plausível como de exigente, com todos os elementos de estratégia e gestão necessários. Quem sabe um dia, finalmente, espetamos a bandeira na areia vermelha…

  • ProdutoraHaemimont Games
  • EditoraParadox Interactive
  • Lançamento15 de Março 2018
  • PlataformasPC
  • GéneroEstratégia, Gestão
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Curva de aprendizagem
  • Alguma falta de automatismos

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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