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Análise – Tales of Kenzera: Zau

Tales of Kenzera: Zau nasceu como uma história profundamente pessoal de Abubakar Salim, um actor que conhecem de Assassin’s Creed Origins. Agora produtor de jogos, quis homenagear o seu falecido pai com um jogo em sua honra.

Nenhum de nós gostaria de lidar com a perda de um ente querido, mas a vida nem sempre é justa ou tolerante e, quando acontece, é um daqueles eventos destinados a mudar as nossas vidas para sempre. Certamente o tempo pode ajudar a curar e seguir em frente, mas nem todos conseguem fazê-lo da mesma forma. Para Salim, esta é a forma de ultrapassar a angústia, dando-nos a nós a oportunidade de participar com ele nesta sua possível homenagem.

Descrito como um metroidvania, Tales of Kenzera: Zau é menos intrincado do que títulos como Hollow Knight ou o recente Prince of Persia: The Lost Crown. Este título encontra o seu mérito numa excelente síntese em todos os seus sectores, incluindo a exploração. O seu foco quase exclusivo na história principal, dedicada ao jovem xamã Zau e à sua jornada na companhia do deus da morte Kalunga, deve-se a uma escolha consistente com as premissas da equipa e com o desejo de criar uma experiência contida, capaz de ir directo ao assunto, sem se prolongar por dezenas de horas.

O processamento do luto certamente não é um tema novo no mundo dos jogos. A peculiaridade de Tales of Kenzera: Zau reside no trabalho coerente na narrativa, passando pela exploração, a própria música, sem esquecer o visual vibrante. Tudo parece concebido a rigor, com atenção ao detalhe, para articular o percurso do protagonista em vários momentos, cada um deles ligado a uma emoção específica. Se mais nada fizer, este jogo é como uma obra de arte sentida, que pode ser tão apreciada como experimentada. Se for só esse o intuito então o Surgent Studios estão de parabéns.

A história de Zau é poderosa na sua abrangência universal. O jovem xamã perdeu recentemente o seu “baba”, o seu pai, e decide invocar o deus da morte, Kalunga, na tentativa de o trazer de volta. Seguir-se-á uma aventura épica através de bosques, pântanos e aldeias em ruínas, com cenário, personagens, sugestões mitológicas e inimigos inspirados na cultura Bantu, especialmente influente na África Oriental. As interpretações dos actores de voz na língua Kiswahili (falada por mais de 100 milhões de pessoas no Continente Africano) são excelentes. Todavia, o que se destaca, acima de tudo, é certamente a voz (em inglês) de Abubakar Salim, no papel do protagonista Zau, uma verdadeira transposição de si próprio e do drama que desencadeou o desenvolvimento desta história.

O principal legado do pai de Zau são as máscaras do Sol e da Lua, a base da jogabilidade de Tales of Kenzera: Zau, tanto nas fases de combate, como nas dedicadas à exploração. Ao longo do caminho, vamos desbloquear junções específicas das respectivas árvores de habilidades usando Ulogi, energia retirada de inimigos derrotados. Esta poderá adquirir novas habilidades para enfrentar os inimigos (infelizmente não são muito variados) e atravessar amplas extensões de Kenzera. Deve ser dito que, desde as fases iniciais, o xamã está equipado com habilidades que o tornam muito agradável de controlar, como o salto duplo, que, de facto, são imediatamente úteis e intuitivas, ao contrário do que acontece em outros títulos do género.

Este jogo revela-se bastante linear na sua progressão, na verdade. O que o torna verdadeiramente um metroidvania é a possibilidade de regressar a áreas já atravessadas anteriormente para enfrentar desafios opcionais e ganhar objectos úteis para fortalecer o protagonista. Esta necessidade não é particularmente sentida no nível de dificuldade normal, sendo mais premente se jogarmos no modo difícil. Para aqueles que desejam desfrutar da história sem demasiados desafios, no entanto, existe a opção fácil, uma excelente oportunidade para aproximar as pessoas o mais possível da emocionante história de Zau.

Do ponto de vista cultural, o Codex do jogo faz um excelente trabalho em envolver-nos nessa cultura tão diferente. Ao consultá-lo, vamos aprofundar os mitos Bantu no menu enquanto fazemos pequenas pausas nas diferentes fases de acção. Gostaria de destacar também o valor particular do trabalho na banda-sonora deste título, auxiliado por um coro e instrumentos musicais africanos tradicionais. É sempre muito agradável quando a música acompanha o tema do que se passa no ecrã. Neste caso, dado o peso emocional que tudo tem, torna-se um óptimo complemente para esta autêntica viagem cultural.

Falando das tais duas máscaras, em combate, é possível alterná-las mesmo durante um combo, oferecendo aos jogadores a capacidade de enfrentar cada desafio de uma forma altamente personalizada. No entanto, é necessário ter em conta os escudos elementais dos inimigos, manifestados através da cor vermelha para casos de fraqueza aos ataques da máscara do Sol e com a cor azul quando a máscara da Lua é usada. Portanto, é necessário prestar um mínimo de atenção, especialmente se jogarmos no modo difícil, recomendado para todos os fãs deste género. As batalhas contra os bosses são agradáveis, mesmo que sejam bastante modestas em número devido à duração limitada da aventura de Zau.

A nível visual, Tales of Kenzera: Zau oferece uma visão fantástica da África subsaariana, fornecendo sugestões raramente vistas no mundo dos jogos, especialmente se implementadas com atenção aos detalhes. Os Surgent Studios não pouparam esforços na criação de cenários 2.5D, capazes de criar empatia com as emoções do protagonista, ao mesmo tempo que colocam os jogadores em contacto com elementos visuais, musicais e culturais típicos das populações Bantu. A nível técnico, a performance de Tales of Kenzera: Zau mostrou-se impecável na PlayStation 5, sem quaisquer problemas a afectar a emocionante jornada de Zau, dando-nos sempre um bom espectáculo visual.

Veredicto

Tales of Kenzera: Zau atinge perfeitamente as promessas feitas pela equipa, uma experiência metroidvania mais contida do que a oferecida por outros títulos do género. O desejo dos Surgent Studios de alcançar a maior audiência possível é visível na escolha de incluir três níveis de dificuldade. Para aqueles que adoram desafios, no entanto, as lutas serão muito melhores no nível difícil, graças à excelente sinergia das duas máscaras que caracterizam a aventura de Zau. Sem dúvida, uma excelente estreia no desenvolvimento de jogos para Abubakar Salim, sendo também uma valiosa adição ao rico catálogo dos EA Originals. Estamos certos de que o pai de Salim teria ficado orgulhoso de ter inspirado um trabalho tão bem feito.

  • ProdutoraSurgent Studios
  • EditoraElectronic Arts
  • Lançamento23 de Abril 2024
  • PlataformasPC, PS5, Switch, Xbox Series X|S
  • GéneroAcção, Aventura
b
Bom

Equilibrado e com boas ideias, os seus erros não o impedem de brilhar.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • O design dos inimigos não é muito variado
  • Algumas fases de plataformas podem ser frustrantes

Esta análise foi realizada com uma cópia adquirida pela redacção.

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