Análise – Terminator: Resistance
Pouca coisa “jogou a favor” de Terminator: Resistance. A produtora Teyon não tem muita experiência neste género de acção na primeira pessoa, a editora Reef Entertainment também não e a própria franquia Terminator está num mau momento. Enfim, nada fazia prever que este viesse a ser um jogo surpreendentemente positivo.
Para todos os efeitos, a “saga” Terminator é uma franquia assente na acção, tendo no centro o implacável T-800 interpretado por Arnold Schwarzenegger. Esta acção avulsa justificou muito bem dois grandes filmes no cinema mas… nem tanto um punhado de sequelas no cinema e na TV a roçar o fundo. Os filmes e séries falharam, quanto a mim, mais por terem argumentos repescados, confusos ou francamente banais e, de certa forma, por afastarem tanto essa acção como centro das atenções. O caso mais recente foi Terminator: Dark Fate, um dos maiores flops do ano nos cinemas e uma das piores histórias desta série. Este jogo surge, assim, como uma possível “bóia de salvação” para a franquia, colocando a tal acção no devido lugar. O que é perfeitamente irónico, ser um jogo adaptado do cinema a ter mais sucesso que o filme estreado nesse ano. Não costuma ser ao contrário?
A premissa deste jogo é francamente interessante e, de certa forma, pouco abordada na franquia, seja nos jogos ou nos próprios filmes e séries. Tirando as muitas menções, só mesmo Terminator: Salvation é que nos levou ao futuro na visão do lendário John Connor. De resto, só tivemos alguns vislumbres das batalhas da Resistência contra as máquinas controladas pela Skynet nesse “longínquo” ano de 2028. E sempre vi aí um enorme potencial para um jogo de acção. Humanos contra máquinas, a premissa de toda a série, mas em batalhas de larga escala e com elementos de combate de guerrilha. E este jogo finalmente levou-nos para esse palco pós-apocalíptico.
Acontece que, como já disse, o histórico tanto da produtora Teyon, como da editora Reef Entertainment não é propriamente virado para este género de acção na primeira pessoa. O que me assustou um pouco, confesso. O mais próximo que tivemos desta dupla foi o incrivelmente negativo Rambo: The Videogame. Tudo bem, já passou algum tempo desde essa tortura que foi esse falível “rail shooter” com quick time events. As duas empresas tiveram tempo de sobra para, pelo menos, aprender com os erros dessa produção. Agora, não só tinham de saber trabalhar bem uma franquia icónica do cinema, como tinha imensos jogos em volta para se inspirar.
A história do jogo leva-nos para esse tal universo alternativo do ano de 2028. Nessa realidade, em 29 de Agosto de 1997 a Skynet, uma inteligência artificial desenhada para fins militares, ganhou consciência e decretou que os humanos eram uma ameaça, provocando um holocausto nuclear chamado “Dia do Julgamento”. Nos anos seguintes, a Humanidade sobrevivente lutou contras máquinas criadas pela Skynet para os exterminar, criando uma Resistência liderada pelo carismático John Connor, o tal que depois nos filmes os Exterminadores que viajam no tempo querem sempre matar, a ele ou a mãe, Sarah Connor.
Contudo, lá no futuro, a guerra pela Humanidade continua. Personificamos Jacob Rivers, um dos soldados desta Resistência, colocado em Pasadena, EUA. Jacob usa a sua habilidade de combatente para ajudar um grupo de sobreviventes civis, enquanto continua a executar tarefas para sabotar a Skynet e ampliar o grupo de sobreviventes. Enquanto isso, as máquinas não param de… bom, maquinar. Agora os exterminadores Infiltrators parecem ser as principais ameaças à sobrevivência e vencer esta guerra é mais urgente que nunca. A história levar-nos-á a procurar pessoas e armas para combater a Skynet, enquanto que, noutro lado, John Connor tem obviamente outros planos bem mais complicados.
Notem que este não é só mais um shooter desmiolado. A história que relato acima tem alguns desenvolvimentos que resultam de muitas decisões que vamos tomando ao longo da trama, principalmente através de diálogos e reacções. E, sim, leram bem, diálogos. Este jogo tem vários elementos de Role Play, inclusive uma ambiguidade nas conversas, que podem mesmo ditar um rumo e um final diferente. Escolher entre, por exemplo, matar ou apoiar alguma personagem num momento-chave, pode ser crítico para um final alternativo. E também é preciso ganhar a confiança dos companheiros com decisões tão simples, como levar ou não um medkit do stock limitado dos sobreviventes.
Lá mais para a frente, a história sofre um pouco por causa desta ambiguidade, confesso. Fiquei um pouco desiludido com alguns desenlaces, fazendo-me quase pensar que joguei um bom bocado em vão. A ideia será, talvez, dar-nos uma sensação de volatilidade da vida Humana perante uma ameaça tão gigante, como ter um batalhão de máquinas implacáveis no nosso encalço. Eventualmente, a história acaba por “recuperar” bem, levando-nos a importantes ligações com os filmes The Terminator e Terminator 2: Judgement Day e até com o próprio jogo em si… É complicado explicar sem entrar em spoilers. O que posso dizer é que os fãs vão, com toda a certeza, esboçar um sorriso.
À primeira vista, Resistance é, de facto, um shooter na primeira pessoa, de certa forma até simples nas suas mecânicas “directas ao assunto”. Por outro lado, como já disse, tem também elementos RPG, muito além dos diálogos de múltipla escolha. A dada altura é inevitável não fazer um paralelo com séries de sobrevivência pós-apocalíptica como Fallout. Desde angariar itens pelo jogo, alguns para crafting, vasculhar casas semi-destruídas e até arrombar portas com clips (com mecânicas em tudo idênticas), parece que a malta da Teyon andou por algumas Wastelands alheias antes de ir para Los Angeles em 2028.
Nada contra, na realidade. Dado o histórico pouco virado para jogos de acção, a produção fui buscar muitas ideias noutros lados, trabalhando para ter algo seu com a devida qualidade. Ok, há algumas falhas notórias em algumas mecânicas, muitas delas de optimização da jogabilidade. A Inteligência Artificial, por exemplo, é ironicamente fraca. Seria de esperar que os exterminadores da Skynet não ficassem especados a olhar para paredes ou a disparar compulsivamente contra paredes. Também seria de esperar que não fossem tão míopes, sobretudo à noite. Enfim, estas e outras lógicas que restringem os robots servem claramente para facilitar um pouco a nossa vida, mas que não fazem grande sentido.
A nível visual, também há alguma inconsistência. Antes de jogar, passei pelas imagens que aqui partilho e fiquei bem impressionado. De facto, com imagens paradas, o jogo parece francamente bem modelado e desenhado, conseguindo transmitir aquela aura única de um filme de acção dos anos 90. Até mesmo aquelas espingardas de lasers magenta estão lá. A modelação dos Exterminadores é impecável e há imenso respeito pelo material original na visão de James Cameron e companhia. Os problemas só surgem mesmo quando se tenta animar tudo isto. E fica claro que a Teyon tem boa vontade, mas pouca experiência.
Começa com as animações dos movimentos das personagens em combate ou fora dele, sobretudo nos humanos. Falta-lhes suavidade nas transições, com alguns momentos tão sintéticos que diriam que os humanos são também agentes da Skynet disfarçados. Depois temos as (praticamente inexistentes) expressões faciais dos mesmos, com os diálogos “à Fallout” a não funcionarem tão bem se as personagens parecem robotizadas e o sincronismo de lábios nunca acerta. Depois, há imensos pequenos erros, como alguns de detecção de colisão ou de transições, que seria exaustivo listar. No fundo, é um jogo que precisava de algo mais. Talvez mais orçamento, por ventura.
Veredicto
Depois de algumas aventuras menos positivas, esta série que levou máquinas musculadas a aprender a sorrir com adolescentes irritantes, tem aqui um improvável “salvador”. Terminator: Resistance é das melhores “coisas” que aconteceu à franquia, cortesia das ambiciosas Teyon e Reef Entertainment. Pode não ser um primor técnico, mas tem excelentes ideias, muitas mecânicas interessantes e bastante simplicidade para nos dar boa acção. Melhor, a história e o design honram o material de origem, fazendo as devidas ligações e agradando os fãs. Aconselho vivamente a jogá-lo, se gostam de jogos de acção com elementos RPG a preço simpático. Como diria um “amigo” meu:
- ProdutoraTeyon
- EditoraReef Entertainment
- Lançamento14 de Novembro 2019
- PlataformasPC, PS4, Xbox One
- GéneroAcção, Role Playing Game
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Honra o design e espírito da franquia
- Algumas boas ideias na jogabilidade
- Ligação com os filmes originais
- Alguns bugs de animações
- Inteligência artificial ironicamente burra
- Alguns desenlaces na história
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.