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Análise – The Crew: Motorfest

No género dos jogos de condução em mundo aberto, Forza Horizon é uma clara referência. Contudo, há algum tempo que a Ubisoft tenta conquistar o seu espaço e The Crew: Motorfest é a melhor resposta possível.

Já sabem que, ao contrário do rival, The Crew aposta numa lógica mais “multi-disciplinar”. Não apenas vamos correr com bólides velozes pelas estradas, monstros todo-o-terreno na lama. Temos também motas e quads para adicionar à adrenalina e ainda barcos e aviões para algo fora do asfalto. Nesta edição temos também novas provas de velocidade em circuito com carros de fórmula. Também não nos limitamos a corridas contra-relógio ou para chegar a um destino, há outros desafios e tarefas. Tudo isto num destino paradisíaco e cheio de actividades e muitos veículos.

Como terceiro jogo na série, porém, Motorfest recebe uma herança um pouco ingrata. Apesar dos dois primeiros jogos terem o seu “quê” e o devido apreço, não chegaram para ultrapassar a concorrência. Por outro lado, a Ubi tem tentado esta fórmula de mundo aberto com tantos outros géneros e disciplinas que, inacreditavelmente, poderão ter sabotado os seus próprios esforços. Entre os resistentes, está esta série de condução, que quase podemos dizer ser um “reboot” no pleno sentido.

É que, na sua tentativa de ser “bom em tudo”, The Crew 2 tentou algo que, para todos os efeitos não correu bem, recriar os Estados Unidos para conduzir, voar e navegar (obviamente numa escala reduzida), criando um mundo desnecessariamente vasto, complexo e ambíguo. Felizmente, a produção optou por algo mais localizado nesta nova entrada. Embora igualmente vasto, o Hawaii torna-se um autêntico parque de diversões, claramente na dimensão ideal para a visão da Ubi. É uma decisão de optar pela qualidade focada do que pela quantidade disponível. E funciona.

Também há aqui uma clara aposta na variedade, sem cair no erro de tentar apenas pequenas variantes do mesmo evento. Vamos começar nas corridas de rua com carros Japoneses, passando pelo todo-o-terreno lamacento, corridas de fórmula em pista, transitando para a alta velocidade num lago e depois saltando para um avião para várias piruetas. Há aqui, de facto, muita diversidade, mesmo achando que os barcos e aviões não têm tanto destaque como no jogo anterior. Este é um claro (e bem vindo) estreitar de oferta com o rival Forza Horizon e que, honestamente, é muito bem usado.

As categorias, aqui chamadas de “playlists”, dividem os géneros de condução e pilotagem, um pouco como temos em séries como o extinto Project Cars. Esta organização temática cria eventos mais focados, restritos aos veículos em questão, sem misturar (muito) as disciplinas. No centro de tudo, está também um “mega-evento” em jeito de festa que decorre por toda a ilha, em que somos apresentados a umas quantas personagens esquecíveis e demasiado entusiasmadas. Esta é uma fórmula algo desgastada nesta série… e em todas as outras, diga-se de passagem.

Mesmo tão focado, The Crew continua a querer fazer demais numa só oferta. Já os jogos passados pecavam bastante pela falta de realismo dos controlos, resultando numa espécie de jogo de arcadas em que nenhum dos veículos se torna realmente memorável. Também aqui temos uma condução em estrada pouco desafiante, por vezes parecendo que estamos “sobre carris”, para depois derrapar inexplicavelmente. Pior, conduzir barcos continua algo dispensável e não me façam falar da pilotagem de aviões, especialmente sendo eu um “flight simmer”.

Todavia, é preciso lembrar que este é um “jogo de condução”, não é um “simulador” e até conseguimos relativizar a coisa. Aqui a ideia é produzir serotonina nas doses necessárias para não pousarmos o comando tão cedo. Um bom exemplo é a câmara na primeira pessoa, que é possível recorrer em qualquer cockpit. Fica claro que este é um título para o espectáculo, para arregalar o olho com pinturas e decorações personalizadas, efeitos visuais de cada pedaço de cenário, cada curva, pirueta ou ultrapassagem. Coisas que se vêem melhor visto de fora. Por isso, a perspectiva do volante/manche é um tanto irrelevante.

Tomem atenção que, se como eu jogarem a versão PC, é mesmo aconselhado, quase obrigatório, jogar com um comando. Nota-se que este jogo está claramente optimizado para as consolas. Usar um volante dedicado poderá ajudar-vos bastante com os carros (obviamente) e até com os barcos. Mas, com motas não é o melhor controlo. Nos aviões os controlos são quase absurdos de tão irreais, pelo que, usar um volante de carro aqui, então, é mesmo desaconselhado. O ideal mesmo é um gamepad, uma solução para todas as necessidades.

É também a melhor forma de navegar pelos menus, estes muito virados para a facilidade de acesso e velocidade nas opções. Este é, aliás, um aspecto positivo do jogo, o seu interface intuitivo e conciso. Já que a Ubi emprestou alguns elementos de outros jogos, era bem que esses títulos viessem aqui buscar inspiração nestes menus e opções tão fluidos. Trocar de um carro para um avião ou barco, por exemplo, é um acto imediato e intuitivo, contribuindo para uma acção contínua, passando de estrada para a água ou ar com um simples atalho.

Entretanto, olhamos em volta e descobrimos uma paisagem deslumbrante. Graficamente, Motorfest é um regalo. Já falei como o jogo nos quer sempre impressionar visualmente ao volante/manche mas, observando além dos locais de prova, a produção fez um óptimo trabalho em criar um mundo espectacular e cheio de detalhes para explorar. Tudo bem, temos um longo carregamento a entrar no jogo mas depois tudo assume uma fluidez impressionante, trazendo vistas espectaculares de praias, florestas, cidades e montanhas a convidar umas quantas fotografias.

As estrelas do jogo, os veículos, são também muito bem recriados, com todo o rigor exigido, tendo muitas marcas reais devidamente representadas, dando especial destaque para a parceria com a Lamborghini. São mais de 600 veículos de várias disciplinas e capacidades, com algumas variantes pelo meio. Aqui, senti apenas que ter tantos carros é só uma manobra de marketing. Como em todos os títulos de condução, aliás, acabamos por escolher um punhado dos que mais gostamos e pronto. Mas, enfim, os coleccionistas gostarão de saber que podemos escolher vários tipos de carros, motas, quads, aviões e barcos de vários feitios e transformações.

Dito tudo isto, terminando aqui a minha análise, diria que este é um óptimo jogo de condução, uma sequela como deveriam ser todas, que suplanta o jogo anterior em todos os aspectos. Todavia, como acontece sempre nestes jogos de grande dimensão, o maior dos problemas é colocar em prática todas estas ideias de forma coerente, afectando tanto os conceitos que servem de base, como o polimento geral. Já falei nos controlos falíveis mas considero isso uma característica da jogabilidade, não tanto um defeito. Os problemas são outros.

Para começar, a Inteligência Artificial é como um daqueles figurantes num grande filme de acção, autênticas marionetas, orquestradas para “encher” um plano. Os adversários são incrivelmente lenientes, deixando ultrapassar facilmente se cometermos erros, para depois acelerar impossivelmente para nos alcançar e colar na traseira. Ou então, dominam toda a corrida para inexplicavelmente desacelerar na recta final. A ideia será dar-nos uma “envolvência” não tanto uma competição propriamente dita. Nunca senti real desafio para chegar ao pódio, como também não me senti ameaçado nos primeiros lugares. Isto, mesmo no nível mais alto de dificuldade.

Porque este jogo exige uma permanente ligação online, poderão achar que o “forte” estará no formato multi-jogador. No entanto, confesso, não me dei sequer ao trabalho de experimentar correr contra outros pilotos humanos. Por um lado, no tempo que tive acesso ao jogo, não tinha muito incentivo para desafiar outros pilotos, nem haviam assim muitos para encher as provas. Por outro, temos tanto para fazer a solo, preocupados em progredir e personalizar os veículos, que nem nos lembramos que há outros jogadores ao redor. Senti constantemente o mesmo na série Forza Horizon.

Já que calha em assunto, devo dizer que esta ligação online permanente não faz grandes favores ao jogo se as coisas não correrem bem no lado da Ubi. No primeiríssimo dia de acesso, nem consegui jogar porque os servidores não estavam disponíveis. Várias vezes fui desligado da sessão por causa de umas quantas falhas de ligação pontuais. Honestamente, jogar online deveria ser uma opção. Na maior parte das provas, não tem qualquer serventia ver outros veículos com um nome por cima. Serve para “encher” o ambiente, bem sei, fica a dúvida se justifica uma ligação permanente.

Por fim, o aspecto que deverá incomodar mais gente. Como qualquer outro jogo de grande dimensão, especialmente da Ubisoft, há muitos bugs e pequenos erros para lidar. Tiranos uns crashes que tenho quase a certeza serem um resultado de falhas de ligação aos servidores, não encontrei nada “grave”, na maioria dos casos são pequenas questões cosméticas ou uma notória falta de polimento ocasional. Como se um novo título AAA hoje em dia tivesse os melhores padrões de qualidade, certo? É já quase “normal” termos jogos pouco polidos no lançamento. O que é uma triste realidade.

Há uns quantos erros nos valores mostrados dos mostradores nos veículos. Também tive umas quantas falhas de colisões com carros “teleportados” ou com o cenário, além de outras questões menores. No que toca às personagens que vamos conhecendo, há um certo design “genérico” e falível de faces e animações que só dão vontade de lhes colocar um capacete permanente. Felizmente, tudo pode ser resolvido com actualizações de título.

Veredicto

Na sua incrível beleza geral e muitos detalhes de arregalar o olho, nas suas várias disciplinas de condução, navegação e voo, The Crew Motorfest é um jogo fantástico, com muito para fazer e descobrir. É um óptimo exemplo de como este género pode ainda ser expandido. Infelizmente, tem vários problemas de polimento, muitas questões na inteligência artificial e um comportamento geral dos veículos, em especial dos aviões, demasiado “arcade”, nada que faça frente de forma realista a outros títulos do género. Ainda assim, é inegavelmente divertido e cheio de diversidade. E é bom ver como a Ubisoft já não aposta só na quantidade ou dimensão.

  • ProdutoraUbisoft Ivory
  • EditoraUbisoft
  • Lançamento14 de Setembro 2023
  • PlataformasPC, PS5, Xbox Series X|S
  • GéneroCondução
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Inteligência Artificial muito irregular
  • Alguns bugs e falta de polimento
  • Condução não é muito consistente

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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