Análise: Tom Clancy’s Rainbow Six: Siege
Qualquer agente de autoridade ou militar tem noção que um dos piores cenários que pode enfrentar é com inimigos barricados em edifícios. Invariavelmente, um cerco vai resultar no chamado CQB (Close Quarters Battle, ou Combate em Espaços Confinados). Este género de combate é uma nota de rodapé em alguns jogos de acção, no entanto, neste novo Rainbow Six: Siege, tem o principal papel.
O CQB enfrenta-se com táctica dinâmica. Ou seja, as equipas precisam ter capacidade de adaptar-se além de um único plano ou estratégia. Isto porque, muito do que é planeado para tomar um edifício com inimigos barricados, fica comprometido por causa da pouca visibilidade e das armadilhas e mobilidade furtiva possível. O inimigo pode estar mesmo do outro lado de uma porta ou parede. Não há maior verdade que esta em R6: Siege. Mesmo com muito aperfeiçoamento de pontaria, acabamos a fazer tiro reactivo através de paredes numa emboscada. Apesar de criarmos as melhores defesas, o inimigo rompe pelo local que menos esperávamos. Na realidade, o treino deve focar-se nessa capacidade de improviso. E o jogo faz mesmo questão de nos convidar a pensar “fora da caixa”.
Se não conhecem o universo Rainbow Six, convido-vos a ler um dos muitos livros do lendário autor Tom Clancy. No enredo desta série existe um grupo de elite multi-nacional, composto por soldados ou agentes das melhores equipas de contra-terrorismo. Estes combatem ameaças globais, não têm país ou fronteiras e são mestres do combate furtivo. Representando a definição máxima do “profissional silencioso”, operam em vários cenários e resolvem os problemas politicamente complexos, que as tropas ou polícias convencionais não conseguem lidar. Tal como nos romances, quase todos os jogos da série R6 são criados com base num rigor técnico e táctico que Tom Clancy exigia das suas obras literárias. De facto, apesar de alguns elementos fictícios, muito do que vão jogar aqui transpira realismo.
Então no que se resume este jogo? Duas facções, os “bons rapazes”, que compõem das tais melhores forças de contra-terrorismo do planeta; e os “maus rapazes”, que são os terroristas. E a história é muito familiar. Há uma ameaça a nível mundial que é preciso combater: o terrorismo sem rosto, armado com arsenal militar e bem treinado. A urgência exige que a Team Rainbow entre em acção. Em diversos pontos do planeta é preciso salvar reféns, desactivar bombas e neutralizar terroristas. É apenas mais uma “segunda feira” para a malta da Team Rainbow, mas para nós é um palco para algumas horas de diversão.
Antes de vos falar da parte técnica, devo realçar as fantásticas cenas intermédias e cinemáticas de introdução que o jogo oferece. De facto, a Ubisoft está cada vez melhor no que diz respeito a tratar um videojogo com a qualidade de uma produção cinematográfica. Claro que, tecnicamente, isto é só cosmética, mas não deixa de ser uma nota positiva.
Quando partimos para a acção, a solo ou online, R6 Siege é um jogo de paciência. Não podem simplesmente entrar num edifício a correr. O jogo apresenta dois lados do mesmo conflito: a Barricada e o Assalto e cada uma destas facetas possui ferramentas próprias. Se os barricados precisam de reforçar o espaço e defender-se, os assaltantes precisam de romper pelas defesas e neutralizar ameaças ou salvar reféns. Por isso, é preciso estudar ou antecipar possíveis acções do outro lado antes do confronto.
Do lado dos barricados, pode ser preciso proteger uma bomba ou um refém. Por isso, nada como fechar janelas ou portas com tábuas. Só que o inimigo pode facilmente parti-las com três pancadas e não protegem contra balas ou explosivos. Temos de recorrer a barreiras blindadas em quantidades limitadas (duas por jogador). Estas barreiras também podem reforçar paredes ou chão, mas notem que colocam pernos de reforço visíveis do outro lado. De resto, há escudos fixos ou móveis, explosivos, gás letal, armadilhas, arame farpado, tudo para fazer os invasores perderem tempo. Onde colocar as defesas? Recorram às câmaras de vigilância para ver onde surge o inimigo. Notem, porém, que estas podem ser destruídas.
Do outro lado, a equipa de assalto tem de romper essas barreiras e inserir-se no edifício. Para isso, temos um pequeno robot que pode deambular pelo edifício e procurar barricadas e protecções, além de indicar posições de inimigos e objectivos. Quando iniciamos a acção, temos explosivos para as portas e janelas e até cargas com térmite para rebentar barreiras blindadas. Podemos fazer rappel e subir as janelas abatendo meliantes. Podemos até rebentar alçapões e literalmente cair em cima dos incautos. Se a porta estiver blindada e não temos cargas de térmite, não há problema, rebentem a parede ao lado, lancem uma granada flashbang e abatam os inimigos surpreendidos. Se a intenção é mesmo “limpar com dano máximo”, nada como dar um tiro numa parede, e passar um explosivo pelo buraco para o meio da sala!
E, de facto, esta última sugestão é recorrente ao longo do jogo. As paredes, chão e tecto dos cenários, assim como diversos objectos, são inteiramente destrutíveis. Isto confere momentos de puro caos que, aliados aos efeitos especiais, criam imensos momentos fantásticos. “Não há beleza na violência”, dirão alguns. Talvez, mas o motor gráfico deste jogo (AnvilNext) proporciona alguns dos momentos mais interessantes que me recordo num jogo de acção. Se gostam do ambiente destrutível de Battlefield, vão adorar ainda mais este jogo. Paredes que se desfazem com os tiros, fazer rappel e entrar por uma janela adentro com cacos de vidro por todo o lado, explosões que desfiguram uma divisão, enfim, é discutível se isto possui alguma beleza, mas não deixa de impressionar.
Entre gadgets e armas com características próprias, temos físicas e dinâmicas que transmitem realismo. Tirando algumas irrealidades (como um sensor de electrónica que “vê” batidas de coração através de paredes), quem conhece este mundo vai encontrar poucas coisas que não soem bem. De facto, cada peça de equipamento, armas e até objectos de cenário foram modelados com imensa atenção ao detalhe. A nível visual, o jogo está irrepreensível e, mesmo nos momentos mais caóticos, não apresenta grandes quebras de performance na versão que analisámos (Xbox One). E o som também foi alvo de muita atenção, afinal vamos passar muitas horas apenas a escutar os movimentos dos inimigos atrás de paredes. De repente… uma granada flashbang ensurdece e ficamos com o ecrã todo branco…
Também os mapas são diversificados com diversas situações e instâncias. Leva algum tempo até que sintamos alguma ponta de repetição. Gostei particularmente de abordar furtivamente uma cabana na montanha rodeada de neve ou de fazer um assalto de rompante num enorme avião com vários pisos. Já agora, este último mapa foi alvo de uma das fases Alpha e foi onde notei uma maior atenção ao detalhe desde a fase de desenvolvimento. As divisões estão equilibradas com muitas entradas e pontos de ligação. De facto, a vastidão de algumas áreas previne injustiças e invulnerabilidades das defesas. Até pode até acontecer que nos percamos aqui e ali, mas a lógica da disposição das salas (ou o som dos tiros) acaba por nos dar a orientação necessária.
É capaz de ser uma tendência do momento, mas eu não gosto de modas. R6 Siege não possui uma verdadeira carreira a solo. Parece que as produtoras estão cada vez mais a preferir dar-nos o comando para a mão e deixar de contar-nos uma história, sabendo que, assim, não gastam tanto dinheiro em actores, motion-capture ou guiões. No entanto, perde-se muita da vontade de jogar, sem um fio condutor da acção, como aliás Tom Clancy conseguia nos seus livros. Temos, de facto, um modo de jogo a solo chamado de Situations em que lutamos sozinhos contra oponentes controlados pela Inteligência Artificial (IA). Nestas missões escolhemos uma de várias situações de jogo que deverão servir mais de tutoriais para conhecermos mapas e habituar-nos a armas e equipamento. E é tudo o que podemos fazer sozinhos. Além de 3 singelos vídeos de demonstração, é também a única forma de treinar antes de sermos “lançados aos lobos”.
O foco está, assim, quase inteiramente online. Apesar de podermos jogar sozinhos num outro modo chamado Terrorist Hunt, este foi claramente criado para acção cooperativa. Aqui podemos jogar na companhia de outros 4 jogadores contra inimigos controlados pela IA. Não é tão intenso como o online e até serve para descomprimir e para treinar com amigos ou desconhecidos enquanto equipa. Coordenação, comunicação e acção concertada fazem toda a diferença em contraste com a nossa movimentação solitária que torna a acção muito complicada de gerir em várias frentes. E notem que a IA até é bastante competente, sobretudo nas dificuldades mais elevadas. Mesmo assim, acho este modo um pouco mais fácil que o intolerante modo competitivo.
Contra outros jogadores (5v5), o jogo oferece também as tais três situações específicas para explorar nos diversos mapas: desarme de bomba, resgate de reféns ou eliminação de ameaça. Ou seja, a acção é exactamente igual à de Terrorist Hunt, tendo apenas de contar com o engenho adicional de outros jogadores reais. Cada lado toma a sua vez entre sessões de ataque e defesa, ganhado a partida a equipa que vencer mais dessas fases. Podemos escolher um de vinte operacionais que podemos “comprar” com pontos de reputação. Cada um possui armas, características e equipamento próprio para escolher, conforme descrevi acima. Com a progressão no escalão também poderão aceitar desafios que vos garantem mais alguma reputação extra.
A acção nos modos cooperativos ou competitivos chega a ser viciante e cheia de momentos interessantes. Só tenho mesmo pena de não podermos escolher os modos de jogo em si. As sessões iniciam com mapas e cenários aleatórios e apenas podemos votar se queremos repetir o mesmo mapa e situação anteriores. Eu, por exemplo, gosto mais de fazer assalto de resgate de refém e não tanto de defender bombas. Se por um lado, assim jogamos todos os modos disponíveis de forma igual, por outro não temos capacidade de escolher os que mais gostamos. Até porque, durante estes dias, tive imensas quebras de ligação ao servidor, sessões terminadas a meio e pings elevadíssimos no matchmaking que me impediram de jogar continuamente nos modos que mais gostava.
E se não gostarem de esperar e querem progredir rápido, podem optar por abrir os cordões à bolsa e comprar pontos extra com dinheiro real. Apesar de muitos destes extras poderem ser comprados com reputação ganha em jogo, há alguns itens que só podem ser comprados com dinheiro real. Alguns nem influenciam a jogabilidade em si, como é o caso das pinturas de armas, por exemplo. No entanto, é possível também obter reputação e mesmo “boosts” temporários de pontos. E com recurso a esses pacotes, podemos desbloquear logo os tais 20 operadores, extras para armas, etc. Se considerarmos que a progressão até é algo lenta com poucos pontos para gastar, o oportunismo destas micro-transacções é notório. Adicionem mais um passe de época para obter futuro DLC e poderão gastar muito dinheiro com este jogo.
Já que estamos a falar do que não gostei, também tenho de destacar que senti alguma imprecisão no tiro. Embora tenha mencionado que o verdadeiro tiro de precisão à distância é raro, acabando por abrir fogo de forma instintiva, há situações que exigem mesmo essa precisão. Regra geral, quando não estamos a lançar spray de balas através de paredes, agachamo-nos ou deitamo-nos atrás de obstáculos e fazemos mira no adversário, também ele escondido de igual forma. Mesmo com a mira no adversário ou no que podemos ver dele, não só é frequente não aparecer indicação de dano no alvo, como parece que as nossas balas passam ao lado. Talvez seja lag, mas isto nota-se também a curta distância e até com pistolas. Mesmo nas repetições das killcams vemos as balas a acertar sem dano ou a falhar na animação. Algo a rever numa futura actualização.
Veredicto
É fantástico podermos personificar os operadores das melhores unidades de contra-terrorismo do mundo, a Britânica SAS ou a lendária Russa Spetznaz. O espírito multi-nacional de Rainbow Six na visão de Tom Clancy está bem patente no jogo. A acção é frenética, viciante e rigorosa. Tirando algumas irrealidades, é bastante focada no que acontece nas situações de combate em espaços fechados. Os cenários destrutíveis, as armas e os gadgets, conferem muitas horas de diversão em mapas complexos e muito bem desenhados. Só tenho pena que a beleza visual do jogo não seja explorada num modo de carreira a solo. As micro-transacções fazem a sua famigerada aparição e há alguns problemas de ligação e de detecção de dano que devem ser corrigidos sem demora. De resto, Rainbow Six: Siege é um excelente jogo de acção táctica muito exigente de uma das facetas mais complexas que as forças de segurança enfrentam nos dias que correm.
- ProdutoraUbisoft Montreal
- EditoraUbisoft
- Lançamento1 de Dezembro 2015
- PlataformasPC, PS4, Xbox One
- GéneroFPS
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Destruição de cenários
- Mecânicas de jogo a roçar o realismo
- Jogo de equipa essencial
- Honra as melhores unidades de contra-terrorismo do mundo
- Falta de um modo carreira offline
- Micro-transacções
- Não podermos escolher o modo de jogo
- Alguns problemas de ligação
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.