
Análise – Transference
Elijah Wood, o famoso actor que interpretou Frodo nos grandes ecrãs, anunciou em 2017 a parceria do seu estúdio SpectreVision com a Ubisoft. O fruto dessa parceria é o thriller Transference. Com ele, surge a promessa de unir o mundo do cinema com o dos jogos, numa narrativa imersiva nunca antes vista.
Depois da apresentação misteriosa na E3 2017 ficámos a saber que Transference é um jogo de aventura na primeira pessoa com grande foco no suspense psicológico. Esta aventura está disponível em várias plataformas, no entanto, a melhor experiência é garantida com os acessórios de Realidade Virtual. O jogo foi desenhado para a PlayStation VR, HTC Vive e Oculus Rift e é lá que irão experimentar o melhor que este jogo tem para oferecer. Por cá, tivemos oportunidade de jogar toda esta experiência na PlayStation 4 em conjunto com o PS VR e sobrevivemos para vos contar a sua história.
Assim que o jogo começa, somos recebidos por um vídeo com uma qualidade do estilo VHS, que vos dará logo essa perspectiva retro que irá permear todo o jogo. Neste vídeo, o cientista Raymond Hayes fala-nos sobre a sua última experiência, dando a ideia que conseguiu encontrar uma forma de replicar a consciência humana, permitindo a vida eterna. Tal como um verdadeiro cientista, porém, Hayes não entra em grandes detalhes, mas o seu entusiasmo é suficiente para deixar-nos curiosos.
No decorrer do jogo, serão mostrados outros vídeos que irão explorar toda a familia Hayes, e dar-nos a conhecer mais detalhes do próprio Raymond, da sua esposa Katherine e do seu filho Benjamin. Assim que o vídeo introdutório termina, somos transportados para uma recriação da casa desta família. Nada é explicado nada sobre a nossa identidade ou o que temos de fazer. A pouco e pouco, bem ao género de Myst, vamos descobrindo as pontas soltas da história, levando-nos a querer descobrir sempre mais um pedaço da história.
Uma coisa é certa, logo de início ficamos com a percepção que algo não está bem nesta experiência e que algo aconteceu à família durante o estudo de Raymond. Numa das gravações espalhadas pelo jogo, ouvimos o pequeno Ben a pedir ajuda para encontrar a sua mãe, porque uma misteriosa e assustadora sombra o persegue por todo o lado. Se juntarmos o desaparecimento da cadela Laika à equação, conseguimos concluir que algo está muito errado. Afinal de contas onde é que estão todos?
Em Transference, nada parece estar no seu devido local e a história não será contada de uma forma linear. Vários fragmentos de eventos vão sendo revelados durante o jogo e cabe a nós reconstruir todo este enorme puzzle. Por causa disso, é complicado falar da narrativa deste título, principalmente por causa de todo o trabalho de dedução que terão de fazer. E é lógico que também não quero estragar a experiência a ninguém. O que posso dizer é que o jogo nunca irá revelar abertamente a sua história e a interpretação ficará a cargo de cada um.
Se este não for o tipo de narrativa que procuram, o desfecho da história poderá não agradar-vos. Contudo, se derem uma oportunidade, acredito que a história vos irá intrigar e puxar pela imaginação, enquanto criam teorias sobre o que aconteceu à família. Para aqueles que pensam que este é um título de terror, devido aos mais recentes trailers, deixem-me dizer-vos que estão enganados. Transference é, no seu rigor, um thriller psicológico. Com a excepção de uns pequenos sustos, uns três durante todo o jogo, não é para arrepiar.
Isto leva-me a questionar a forma como a Ubisoft publicitou este título. Numa era em que os trailers parecem revelar demais da história dos jogos, é bom que as produtoras e editoras apenas mostrem pedaços de história menos relevantes, mas que mostrem o contexto do jogo. Pelo que digo acima, porém, esta estratégia não funcionou como desejado em Transference. Quando peguei no jogo, pensei mesmo que este era um jogo de terror. E, estou certo, muitos pensarão o mesmo. Como já disse, podem ficar desapontados.
A jogabilidade de Transference assemelha-se muito à de um walking simulator, bem ao género de The Vanishing of Ethan Carter, por exemplo. Isto porque, ao jogarem, darão muitas vezes por vocês a olhar para o cenário e a pensar em todas as pistas, sem um único momento de acção ou com algum enigma que quebre o ritmo do jogo. Há raras situações que poderão ver um ecrã de Game Over. Nestes casos, porém, voltam ao jogo segundos antes, sem afectar a continuação da aventura.
A jogabilidade simplificada, típica deste género, em conjunto com a interacção do ambiente, está muito bem explorada e darão por vocês a apanhar todos os objectos e a observá-los ao pormenor para encontrar a mais pequena informação que ajude a perceber a trama. Farão isto de forma instintiva e é isso que nos deixa agarrados até ao final da aventura. Há muito para ver e tentar juntar as pontas soltas da narrativa.
Tecnicamente, Transference é cumpridor, sem grandes falhas para assinalar. Não está ao nível das grandes produções, é certo. No entanto, tem um visual sinistro para se enquadrar com a narrativa. E tenho de realçar como as cenas são muito bem trabalhadas com a iluminação. Também há uma nota positiva para o áudio, em que qualquer efeito de som nos deixa em alerta, mantendo um grande nível de tensão durante toda a aventura.
Tanto o vídeo de introdução e outros tantos que serão exibidos, são apresentados com actores reais (live action). A mistura de cenas criadas digitalmente e o vídeo com actores reais não é inédita. Contudo, confere ao jogo uma componente visual e narrativa interessante. O conceito joga muito bem com a acção e com a narrativa, pelo menos e é mais uma nota de qualidade.
Em relação à experiência com a realidade virtual, testámos o jogo no PlayStation VR. Apreciei que os mais recentes títulos já aprenderam a mitigar as náuseas. A interacção e os movimentos são intuitivos e suaves, não havendo momentos de grande acção para abordar. A envolvência é garantida pelo dispositivo de RV, dada a qualidade que menciono acima. Relembro que todo o jogo pode ser jogado sem os acessórios de Realidade Virtual. Contudo, se tiverem oportunidade de jogar com RV, não pensem duas vezes.
Veredicto
Podemos concluir que a tal combinação entre cinema e videojogos tentada em Transference funciona bastante bem. Contudo, poderá não ser um título para todos. Este tipos de jogos, mais calmos e que nos levam a puxar pelos neurónios, têm um público-alvo muito específico. Por outro lado, o marketing da Ubisoft foi um pouco “ao lado” dando a entender que seria um título de terror. E é também um jogo relativamente curto, com pouco mais de duas horas. O que se destaca mais é, de facto, a sua narrativa. A história é competente e interessante o suficiente para levar-me a recomendar-vos esta experiência.
- ProdutoraSpectreVision
- EditoraUbisoft
- Lançamento18 de Setembro 2018
- PlataformasPC, PS4, PSVR, Xbox One
- GéneroAventura, Puzzle
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Hístoria desenvolve-se ao jogar
- Mistura de vídeo com ambiente de jogo
- Narrativa cerebral que puxa pelo nosso raciocínio
- Demasiado curto
- Não é o "jogo de terror" anunciado
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.