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Análise – Until Dawn (2024)

Quando falamos deste remake para a PS5 de Until Dawn, um supreendente jogo de terror com características cinematográficas, originalmete da Supermassive Games, a pergunta é: Havia necessidade? A Sony achou que sim.

Quando este projecto foi anunciado, então pelas mãos da Ballistic Moon, não pude deixar de questionar isso mesmo, não só porque achei sempre que o jogo original da PS4 aguenta bem o teste do tempo como o intuito me pareceu um tanto exagerado. Considerando que não se trata de uma remasterização, como foi feito com The Last of Us Part 2 ou o próximo Horizon Zero Dawn, esses acessíveis na PS5 por apenas 10€ para quem possui o original, este é um título um tanto arrojado, com um preço de jogo final e com uma remodelação que, se calhar, ninguém tinha pedido.

O “remake” de Until Dawn (tecnicamente, a Sony está a evitar o uso desse termo) é um produto independente do original, obviamente destinado a relançar esta franquia, enquanto aguardamos a muito falada sequela e o filme “live-action”, já confirmado. Independentemente do que aí vem, porém, o que importa é a qualidade do produto e o valor da oferta pelo que é pedido em troca. Exactamente o que faremos agora. Depois de voltar às Montanhas Blackwood após muitos anos, estou pronto para contar o que achei de Until Dawn na nossa análise da versão PS5.

Vamos começar pelo básico, para aqueles que perderam completamente o lançamento de Until Dawn na PS4 há nove anos (ou são demasiado jovens para o terem jogado). Estamos a falar de uma aventura narrativa em que um grupo de jovens, um ano após o desaparecimento de dois amigos nas montanhas, se reúne numa cabana para os relembrar e, claro, divertir-se. Os protagonistas que o jogo coloca sob o nosso controlo de forma arbitrária, são uma mistura de estereótipos dos chamados “slashers”. Estamos a falar de uma rapariga bonita mas que deve um pouco à inteligência, um rapaz atraente dividido entre duas ex-namoradas, o nerd tímido e a rapariga discreta que não admite estar interessada nele, entre outros.

O que deveria ser uma noite divertida, já devem estar a prever, rapidamente se transforma num pesadelo. Um louco começa a raptar e matar os protagonistas, gerando um mistério contado em várias partes. O objectivo, será tentar manter o maior número possível de pessoas vivas (ou fazer o oposto, se preferirmos), completando Quick Time Events e tomando decisões em momentos pré-definidos. Entretanto, devemos recolher várias pistas narrativas que nos permitem entender o que realmente está a acontecer na montanhas. Por outro lado, também vamos colher totens que nos mostram um vislumbre do futuro, de modo também a compreender o que pode acontecer e decidir como agir para salvar ou não as nossas personagens.

Todo o conteúdo original ficou intacto, num trabalho de enorme respeito pelo original que não pretendeu recontar esta história. Não vou, obviamente, comentar novamente sobre a qualidade da história e das personagens (fizemos isso na análise da versão PS4) até porque há aqui umas poucas nuances que é bom descobrir por vocês próprios. Until Dawn é, em bom rigor, um slasher, uma colecção de ideias e momentos típicos do género e que joga com muitos clichés, para o bem e para o mal. Se forem grandes fãs deste género de terror, vão gostar deste jogo, especialmente se estiverem prontos para jogá-lo novamente só para ver os vários finais e descobrir tudo o que está escondido na montanha.

Também não irei comentar muito sobre o tipo de jogabilidade e dinâmicas de jogo, que são praticamente as mesmas do título original. Tratando-se de um remake, é natural que tudo seja praticamente igual ou, pelo menos, sobejamente “familiar”. Não esperava outra coisa. Só que há duas questões que é precisos responder, a bem desta actual conjectura económica. Em particular para quem já conhece o jogo, vale a pena voltar com uma nova edição de “mais do mesmo”? A outra questão é óbvia: um novo jogador deve gastar o valor total por Until Dawn ou adquirir a versão PS4 por 19,99€?

Para responder a essas questões, precisamos de entender o que realmente é novo ou mudou nesta reedição. Primeiro que tudo, o visual é o que salta mais à vista. As versões PlayStation 5 e PC oferecem uma revisão gráfica substancial, trazendo um novo ambiente está mais detalhado, modelos das personagens igualmente mais refinadas e a iluminação e sombras foram completamente renovadas. De facto, jogos como Until Dawn dependem muito da atmosfera e da qualidade gráfica. Assim sendo, as melhorias visuais são evidentes, ajudando a tornar a experiência ainda mais impactante. Todavia, não estejamos a falar de um salto qualitativo assim tão grande, dado que o original ainda é visualmente positivo, tendo apenas nove anos de vida.

Mesmo assim, a nível esperava mais desta reedição. Seria bom que a produção revesse algumas das animações das personagens, que às vezes se movem de forma pouco natural. Adicionalmente, algumas animações faciais também não me parecem muito polidas, repetindo exactamente uns quantos erros que vimos na PS4. O original também tinha sérios problemas de frame rate e esta versão sofre do mesmo, com segmentos em que até o olho menos treinado consegue notar quebras. Ironicamente, Until Dawn para PS4 jogado numa PS5 parece ter um frame rate mais estável (eu testei). Fico, assim, com uma estranha sensação que o original “puxado” pelo hardware actual parece ser uma experiência superior, pelo menos mais fluida.

Além disso, não há sequer uma utilização particularmente profunda a nível de interacção. Por exemplo, nas funções do DualSense, o que me parece uma incrível perda de oportunidade. Não é que a produtora pudesse espremer muito do que era o material original mas, um uso mais consciente das funções hápticas do comando era o mínimo que se pedia aqui. A única novidade de assinalar nesta versão é mesmo só a posição da câmara. O original usava ângulos de visão fixos, definidos pela produtora e nesta versão a Ballistic Moon decidiu transformar Until Dawn num jogo clássico com uma câmara de terceira pessoa sobre o ombro. Mas, lá está, nem esta novidade funciona assim tão bem. Eu, pelo menos, não a apreciei muito.

Sim, a vista sobre o ombro acrescenta um pouco de sensação de claustrofobia em algumas secções, por estar mais próxima. Também torna os movimentos e interacções mais fluidos, uma vez que o sistema de controlo parece mais natural. No entanto, retira a Until Dawn aquele toque cinematográfico onde, realmente, o original brilhou. As várias sequências foram desenhadas para serem vistas de certos ângulos (e, em alguns casos, os antigos pontos de vista permanecem, porque eram fundamentais). Mas, quando a nova câmara surge, não faz mais do que banalizar a componente visual, retirando aquele desconforto garantido pelos ângulos estranhos da câmara original. Se a nova vista fosse uma opção extra, com a possibilidade de manter a original, teria apreciado, mas forçando a nova perspectiva, é um retrocesso claro, até no espírito do jogo.

Veredicto

Tenho dificuldade em recomendar esta nova versão de Until Dawn. Mantém os pontos fortes (e fracos) narrativos do original, adicionando uma nova qualidade gráfica. É algo importante, já que Until Dawn foca-se bastante no impacto visual e pouco na jogabilidade. Todavia, isto teve um preço notório, reflectido num desempenho que, por vezes, parece precisar de mais polimento. Por outro lado, as poucas novidades não lhe fazem grandes favores, em especial a nova perspectiva que lhe rouba tanto protagonismo. Mesmo que chegue uma actualização para corrigir estes e outros problemas, porém, o facto do original ainda ser um óptimo jogo e tendo um preço menor, dá que pensar. Em suma, se estão numa consola e querem voltar ao jogo, a versão antiga pode ainda ser a melhor escolha. Os jogadores do PC, infelizmente, não têm escolha.

  • ProdutoraSupermassive Games/Ballistic Moon
  • EditoraSony Interactive Entertainment
  • Lançamento4 de Outubro 2024
  • Plataformas
  • GéneroAcção, Aventura, Survival Horror, Thriller Psicológico
ok
OK

Podia ser melhor mas tem alguns pormenores positivos que podem agradar a muitos jogadores.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Performance instável, por vezes demais
  • A nova câmara não é a melhor opção visual
  • O original poderá ser o seu maior detractor

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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