Análise – WRC 10

Num ano em que o Campeonato Mundial de Ralis celebra 50 edições, a KT Racing e a Nacon trazem-nos WRC 10. Este é, provavelmente, o simulador de condução que mais amadureceu ao longo das suas várias edições. O que não quer dizer que este jogo seja tecnicamente perfeito.

Convenhamos que, nesta fase, a Nacon está a gastar os seus últimos “cartuchos” com a sua licença para o WRC. Contudo, a sua produtora KT Racing está claramente a aumentar a sua capacidade criativa e técnica, com o objectivo de criar jogos de condução de elevada qualidade. Vem aí o seu grande desafio com Test Drive: Unlimited – Solar Crown, com expectativas muito elevadas. Até lá, WRC 10 (e, ao que tudo indica, WRC 11 no próximo ano), serão os “benchmarks” de qualidade para a produtora. Podemos dizer que esta licença do WRC esteve sempre em boas mãos, com uma clara evolução até ao título que falaremos hoje.

Como sempre digo, fazer um jogo anual de uma competição é um pouco ingrato para a produção mas também para os fãs. No lado da criação, os jogos tendem a se repetir um pouco, mesmo que se façam tentativas de adicionar conteúdo onde se pode. No lado a audiência, é claro que há que justificar uma nova compra todos os anos, sabendo ainda quão avessos são os fãs às mudanças demasiado profundas na jogabilidade. No fundo, cada nova edição é um claro jogo de equilíbrio. Um jogo que, admito, a KT Racing tem sabido jogar, elevando sempre a fasquia a cada ano.

É na condução que sentimos essa dedicação da produtora. Diria que estes jogos oficiais possuem um bom desafio, sem serem particularmente difíceis. A condução de Rali é, por si só, um autêntico malabarismo, ora acelerando em rectas estreitas, ora a curvar em slide de forma artística. Pelo que o elemento de diversão está intimamente ligado ao da frustração, especialmente quando saímos de estrada e perdemos preciosos minutos no contra-relógio. Neste aspecto, é inevitável que façamos a comparação com os títulos da Codemasters e cheguemos à conclusão que os WRC são jogos… vá lá, mais acessíveis.

Não me entendam mal, há aqui desafio. Este não é bem um jogo “arcade”. Quando desligamos ajudas e nos focamos, chega a ser um simulador exigente. Só não devem esperar que tudo seja muito realista. Penso que o principal elemento na criação deste jogo foi o da diversão, sem comprometer o que a licença implica: que recrie a tal competição exigente que todos esperam. O resultado é uma experiência de condução distinta, que nos dá diferentes tipos de condução, desde o Junior WRC de tracção dianteira até ao topo do WRC com autênticos “monstros da gravilha”.

A ajudar nesta condução tão peculiar, está uma interacção bastante reactiva com físicas realistas e uma sensação de velocidade assinalável. Nesta edição, notam-se algumas melhorias nos tempos de resposta e sensação de tracção, o que é positivo. Continua francamente competente, mesmo que não joguem com um volante. Isto porque este jogo tem uma excelente integração do comando DualSense na versão que analisei na PlayStation 5. Gostei bastante da vibração alterada nos diferentes tipos de piso, assim como a sensação provocada nos gatilhos adaptativos ao acelerar e travar.

A comemorar 50 edições da prova real, claro, este WRC 10 está carregado de conteúdo especial. Temos imensas provas históricas de ralis lendários, passando por alguns automóveis e condutores que já são ícones do WRC. Foi um particular gosto especial poder conduzir um mítico Lancia Delta Integrale ou um Toyota Celica dos anos 90. É um agradável regresso ao passado, quando os ralis eram bem mais dependentes da perícia individual e, inegavelmente, de alguma sorte para ganhar provas. É também um claro serviço aos fãs desta competição de longa data.

Só não consigo compreender porque é que uma boa fatia deste conteúdo está bloqueada pelo modo de carreira. Tudo bem, o modo de carreira será onde a grande maioria passará mais tempo, recriando a actual época do campeonato e permitindo evoluir na carreira desde as classes mais baixas, gerindo equipas, mecânicas e outros aspectos. Mas, não faz grande sentido que os eventos do Aniversário só possam ser lá jogados primeiro, embebidos no calendário das demais provas modernas. Simplesmente, não é possível passar pelo conteúdo histórico sem passar (e concluir) estes eventos especiais no modo de carreira.

Por outro lado, não gostei de ver que os clássicos Subaru Impreza WRX e o Mitsubishi Lancer Evo estão “barrados” num pacote especial de pré-compra ou adquiridos em separado comprando um pacote extra. São, de longe, os carros mais icónicos de sempre do WRC e acho um aproveitamento financeiro algo injusto. Entendo que era um incentivo à pré-compra mas os fãs que não pré-compraram o jogo, ainda terão de desembolsar para os conduzir. Enfim, estamos numa era de micro-transacções e expansões pagas, já estamos (quase) habituados.

Noutros elementos estranhos, só é possível entrar no modo de equipa privada depois de desbloquear todos estes eventos históricos. Não faz grande sentido que esse modo, que permite criar uma equipa nova e decorar os veículos a rigor, esteja bloqueado por uma série de eventos históricos. É uma ligação pouco ou nada relacionada. Tanto esta medida, como a restrição dos eventos históricos no modo de carreira, parecem-me um “carril” montado no jogo para nos obrigar a fazer uma visita guiada pelo conteúdo.

Bloqueios e restrições à parte, o modo de carreira continua muito bem estruturado, com uma boa gestão da equipa e do automóvel, lidando com mecânica, upgrades e evoluções de forma algo extensiva. Temos o regresso da árvore de evolução assim como a nossa relação com a equipa, a direcção e os fabricantes.

Alternativamente, podem simplesmente ignorar o modo de carreira e optar pelo modo Season que se foca nas provas em si e põe de lado os aspectos de gestão. Terão também um modo de jogo rápido para escolher um carro e um estágio de pista, uma área de testes com vários pisos e uma outra de treino para aperfeiçoar a vossa perícia ao volante.

Terão ainda um curioso modo Challenges que vai testar essa perícia ganha com eventos de contra-relógio especiais e até situações extremas para tentar alcançar objectivos no melhor tempo possível. Tentem terminar uma prova com chuva intensa ou com o carro completamente danificado. São desafios curiosos e, de um modo geral, divertidos.

Nestes dias, é quase obrigatório modos multi-jogador. Jogar com ecrã dividido, tentando sabotar o parceiro por lhe virar o volante inadvertidamente, continua divertido. Também é interessante o já conhecido modo de co-piloto para ajudar um parceiro na sua condução, agindo como navegador. Temos também os campeonatos personalizáveis, especialmente a pensar nas competições online e até nos eSports. O online dos ralis sempre foi um pouco ingrato de conceber. Tirando as super-especiais em que dois pilotos competem em paralelo, os ralis são provas individuais. Obter o melhor tempo num quadro de liderança mundial é só o que poderão alcançar.

Conforme mencionei no início, apesar de anos a evoluir, este 10º jogo ainda não é ainda tecnicamente perfeito. Na PS5, esperava um pouco mais de realismo visual em alguns pormenores. Notam-se alguns efeitos visuais mais rudimentares, por exemplo nas dinâmicas de poeiras ou nas reacções das texturas dos automóveis ao ambiente, notei também algumas falhas de iluminação em alguns segmentos e em velocidade vi objectos a aparecer do nada no ecrã. Enfim, há sempre qualquer coisa menos polida que se nota, talvez por causa do motor gráfico algo datado, pronunciadamente exacerbado pelo melhor poder gráfico da PS5.

Veredicto

Em termos de conteúdo, WRC 10 é um dos melhores jogos oficiais de sempre desta competição. Além da actual época da prova real, temos celebração de 50 edições do WRC traz-nos pilotos, carros e equipas icónicas, assim como provas inesquecíveis do campeonato do mundo para reviver. Apenas não gostei do bloqueio de uma boa parte deste conteúdo histórico, obrigando-nos a jogar algo extensivamente até o desbloquear. E o polimento geral a nível técnico podia ser bem melhor ao fim de tantas edições da KT Racing.