Análise: WRC 5

Fazer curvas de lado a levantar lama num veículo potente e a disparar rateres… A magia do Campeonato do Mundo de Rallies (ou Ralis, como preferirem) está bem viva também no nosso país por onde passa o FIA World Rally Championship. Porque não é possível para todos entrar num VW Polo R e concorrer, ficamo-nos pelo jogo WRC 5 que, como jogo oficial, tem tudo para representar correctamente esta competição. Se o consegue, é outra questão.

https://www.youtube.com/watch?v=Ydxqd6iErJo&feature=youtu.be

A empresa encarregue de desenvolver este novo WRC é a Francesa Kilotonn Racing Games que, ao avaliar o portfólio, não se pode dizer que tenha muita experiência no género. Antes deste, apenas um jogo de desporto motorizado e, neste caso, motociclos. Assim, é perfeitamente normal que sintamos que este jogo parece tomar muito dos jogos anteriores da série, esses pela mão da produtora Milestone. Infelizmente isso não é positivo, uma vez que esses títulos anteriores ficaram sempre abaixo do que era esperado, alguns tendo mesmo chegado a ser sofríveis.

Neste WRC 5 não podemos esperar encontrar um simulador puro como pudemos experimentar em jogos como o Dirt Rally que já aqui antevimos. Não, nem sequer podemos esperar físicas realistas ou condução desafiante. O jogo facilita bastante na hora de puxar o travão de mão e sair do ápice da curva em slide. Claro que é preciso aperfeiçoar essa forma de curva com arte. Para isso, o jogo possui um simpático conjunto de tutoriais para treinar curvas, travagens e ângulos. Nesse aperfeiçoamento, mesmo com a facilidade latente, irão ver que há ciência neste tipo de condução, a qual exige muita concentração e reflexos rápidos.

A condução fica afectada pela meteorologia, com dias de sol a tornarem-se nublados e com chuva ou neve dinâmica, condução nocturna (a mais entusiasmante, confesso), pisos (gravilha, neve, alcatrão, etc) e, claro, pelos ângulos de curva e acidentes de terreno. Cada campeonato em jogo (WRC, WRC 2 e J-WRC) também tem as suas características e veículos de classes próprias. Como já disse, porém, não podemos esperar uma grande simulação. Os veículos entre as três classes diferem apenas em velocidade e tracção. Infelizmente, não consegue entusiasmar ou surpreender. Com alguma dedicação irão dominar o carro e todas as provas, sem real competição à altura. Daí em diante, torna-se aborrecido por ser tão fácil. Não diria que a dificuldade seja realmente baixa, é preciso saber fazer as curvas, mas no contra-relógio os outros concorrentes podiam dar mais luta. Com apenas 10 minutos de jogo, venci o Rally de Portugal nas suas 5 provas, por exemplo.

Devo assinalar que o jogo possui uma espécie de escola de condução evolutiva para as diferentes especialidades deste tipo de condução. Percam tempo nisto para melhor dominarem a forma de curvar e as abordagens em curva. No modo carreira irão alternar entre estes treinos de tutorial e as competições em si, com estágios e super-especiais, tal como as provas reais. Progridem na carreira pela ordem lógica até chegar à prova principal, sempre com treinos específicos e cada vez mais desafiantes.

Há ainda dois modos online para competirem com amigos ou desconhecidos pelos melhores tempos em prova. O modo local permite até oito jogadores a concorrer pelo melhor tempo. Mas a série tem mais ambição e vira-se para os modos online com acesso a provas de eSports. Esta competição contra outros jogadores pelos melhores tempos, oferece desafios com tempo limite de participação. Está ser preparado um campeonato mundial electrónico que irá iniciar-se em Janeiro de 2016 e que acompanhará os eventos reais com provas virtuais. Até lá, treinem, testem a vossa sorte nas tabelas mundiais e, quem sabe, talvez venham a ser o próximo Vatanen… virtual…

Numa era de grandes colossos visuais como Forza Motorsport 6 ou Project Cars, se calhar, estamos um pouco exigentes no que toca ao grafismo dos jogos de desporto motorizado. É, no entanto, quase um desperdício, com o poder de processamento actual, termos texturas medianas, modelos de objectos de baixa contagem de polígonos, animações demasiado básicas e efeitos visuais menos bem conseguidos. WRC 5 não é um grande colosso visual. Talvez no hardware de há uns 5 anos fosse um jogo fantástico, mas fica muito aquém do esperado numa Playstation 4 (versão analisada). Apesar de alguns momentos fantásticos, com o pôr-do-sol a projectar raios sobre a pista ou com uma prova à chuva a levantar lama por todo o lado, não chega a deslumbrar e é pena. Noto, porém, que comparado com o WRC 4 houve aqui mais empenho em embelezar o desporto, tanto dentro do jogo como nos próprios menus, o que é de louvar.

Infelizmente, a sonoridade é que é mesmo exasperante. Quem já andou a bordo de um automóvel de Rally e experimentou o que é o escape livre, nunca mais irá esquecer o ruído ensurdecedor no habitáculo. Só que não será este ruído estridente que abafa tudo que WRC 5 nos dá. Não se consegue distinguir mais nada, nem mesmo o tipo de piso (e há muita diferença entre os tipos de terreno). A voz do co-piloto está lá no fundo e é tão metálica que, por vezes, não consigo perceber o que diz. Nos capacetes modernos com intercomunicador, ouve-se perfeitamente a voz do navegador. É, aliás, essencial ouvi-lo ou vamos perder a próxima curva.

Veredicto

Ninguém esperava uma grande surpresa de simulação de condução. Não só a série nunca foi de grande sucesso, como a produtora é recém-chegada a estas lides. Estou certo que o orçamento para este jogo também não deverá ter sido muito alto. Mesmo assim, o WRC move milhões (de Euros e Pessoas) e não é muito lógico que tenhamos jogos tão fracos na série. WRC 5, porém, até dá passos no caminho certo. Precisaria de muito mais tempo e experiência para amadurecer, sobretudo face a uma concorrência tão forte. Uma coisa é certa: É relativamente fácil de jogar e possui todas as equipas e veículos oficiais desta temporada. Para os fãs é uma compra normal. Para os amantes do desporto motorizado em geral, talvez seja um título menor. Acaba por ser cumpridor na sua finalidade que é replicar o Campeonato Mundial de Rallies.