Análise: WRC 6
Um novo ano e a qualidade aumenta. Quase nos esquecemos que os jogos do Campeonato do Mundo de Ralis já foram muito mal tratados ao longo da sua existência. WRC 6 continua a ser trabalho em progresso, mas os seus argumentos começam a suplantar as suas falhas.
Sejamos claros, um jogo com a responsabilidade de replicar todas as equipas, veículos, pilotos, provas e campeonatos do WRC, não pode ser feito apenas num ano. Precisa de tempo para se aprimorarem modelos e cenários, mas acima de tudo, a sua condução. Nestas últimas duas edições (WRC 5 e este título), esse esforço da Kylotonn Racing Games e da Bigben Interactive tem sido evidente, ainda para mais se há dois anos esta equipa não gozava de particular experiência neste tipo de produções. No ano passado, o jogo que nos chegou foi um passo muito positivo em frente, com uma notória ambição da produção em criar um jogo realmente fiel à realidade, mantendo, mesmo assim, uma jogabilidade acessível. Vejamos se este ano temos mais jogo… ou mais simulação.
Não se pode acusar da Kylotonn de repetir a fórmula do ano passado. Com o abandono das plataformas PS3 e Xbox 360 desde o último título, ficou logo claro que a fasquia da performance e da qualidade visual deste jogo seria mais elevada. Ao nível da condução, afinal o que realmente nos interessa, WRC 6 teve muito empenho em ser melhor que o seu antecessor. Já em WRC 5 falámos como a condução era demasiado facilitada, dando-nos uma ideia de ser mais Arcade que propriamente uma simulação. Ainda não temos aqui um simulador, infelizmente. Apesar do modelo de condução ser bastante mais realista e próximo do que é mesmo conduzir um destes veículos superalimentados a fazer curvas de lado na gravilha, as físicas não estão ao nível de outros jogos de referência que puxam pela nossa perícia.
Não é que sejamos levados ao colo, o jogo exige, mesmo assim que dominemos os tempos de puxar o travão de mão, as travagens e as acelerações a sair das curvas. Fica, porém, evidente que a condução precisa de mais trabalho de desenvolvimento. As estradas parecem demasiado planas, faltando mais acção da suspensão e a direcção parece não sofrer muito com os abusos nos controlos, levando-nos quase sempre para o interior da curva. Para mim o pior de tudo é o co-piloto que parece estar a fazer um enorme favor por nos dar indicações de curva. Ainda piora quando este dá indicações demasiado optimistas em algumas curvas, proporcionando algumas surpresas desagradáveis quando uma curva 5 afinal é uma curva 3 ou pior.
Mas a diversão está lá, claro. E o comportamento dos veículos está muito melhor, com uma condução um pouco menos facilitada que no ano passado, dando algum desafio, sobretudo aos menos experientes. A meteorologia também insere alguma dificuldade adicional, mas mais ao nível de visibilidade que propriamente na condução. O nevoeiro e chuva podem tornar-se mais empecilhos que outra coisa. Conduzir à noite pode ser ainda mais desafiante se constantemente encontramos postes ou outros objectos onde não deviam estar. Duvido que no Rally de Portugal a organização permitisse que um poste de electricidade estivesse mesmo na saída de uma curva fechada… Mas no jogo estava e, graças ao nevoeiro, só o vi já bem perto, abraçando-o de forma pouco carinhosa e terminando ali mesmo a prova. Bem hajam malta da Kylotonn…
Como sempre, podem activar uma série de ajudas para minimizar a vossa falta de “kit de unhas” para o veículo. Logo nos primeiros minutos de introdução, somos levados para um importante tutorial para nos ensinar algumas manobras básicas. Contudo, esta introdução visa avaliar também como nos safamos a conduzir os bólides mais potentes em espaços confinados. Deste modo, o jogo ajusta a dificuldade e acciona ajudas de acordo com a nossa prestação. Claro que podem sempre alterar estes parâmetros, mas se o jogo vos mete na dificuldade mínima, talvez precisem treinar mais antes de desligar o controlo de tracção, auxiliar de travagem e outras “muletas” para os inexperientes.
Uma das melhores formas de treinar é com as corridas singulares. Escolham uma etapa de um dos Ralis disponíveis e partam à aventura. Alternativamente, se tiverem um amigo que já conduza melhor, podem sempre aprender com ele com o modo de ecrã local dividido. Gostaria de vos falar de como os modos online também seriam de enorme ajuda na aprendizagem ou treino, mas infelizmente não me foi possível testar esta vertente multi-jogador. Os servidores até à data desta análise ou não estavam disponíveis ou o matchmaking não encontrava sessões. Podem ter sido apenas os primeiros dias de vida do jogo e espero que seja resolvido em breve.
Tal como no jogo anterior, quando já tiverem dominado o controlo dos veículos, vão querer entrar no seu robusto modo de carreira. Iniciamos a nossa carreira, escolhendo um nome, nacionalidade e equipa inicial do campeonato WRC Junior, com veículos mais modestos. Depois enveredamos pelo mais exigente WRC 2 e, finalmente, chegamos à prova-raínha do World Rally Championship em si. Há toda uma gestão a fazer a cada fim-de-semana de prova como seis ou sete etapas. Entre os dias da prova, temos acesso limitado de 45 minutos à mecânica para reparar ou alterar parâmetros do veículo. Assim, temos de dar prioridade aos sistemas mais críticos, evitando ultrapassar a janela designada, caso contrário teremos uma penalização de tempo. Ou seja, ou melhoramos a prestação em prova, ou cada curva mal calculada resultará em danos que nos podem ocupar demasiado tempo em reparações.
Também temos aqui uma melhoria visual a todos os níveis. Foi algo que me desapontou no jogo do ano passado e a produção parece ter escutado esse lamento. Desde os cenários bem mais bonitos e detalhados, os veículos com muitos mais qualidade na modelação e com detalhes únicos, a iluminação fantástica, sobretudo em provas nocturnas, este jogo está visualmente muito melhor desde o título anterior. Até mesmo na forma como a poeira ou gravilha reagem com a passagem do veículo ou como os objectos reagem a colisões mereceu muita atenção da produção, aumentando o realismo e espectacularidade da experiência.
Também a este nível, nem tudo está perfeito, como é normal. Ainda não acho que o jogo esteja no seu auge de qualidade possível, sobretudo olhando para a concorrência no mesmo tipo de competição. Isto nota-se também ao nível do som, com os ruídos do interior ou exterior do habitáculo algo sintéticos. E nem vou comentar a voz do anunciador do menu a “apresentar” o jogo. Digamos que isso já não se usa desde… os anos 90, para aí.
Se calhar a questão técnica menos positiva para muitos é também a sua crassa falta de suporte completo para alguns volantes mais famosos (Logitech G27, por exemplo). Nem todos os volantes irão funcionar correctamente e, ainda mais grave, não há suporte para caixa de velocidades manual. Desculpamos a ausência de embraiagem, mas poder engatar mudanças era essencial, quanto a mim. Faz parte da experiência de condução e usar um bom volante sem recorrer à caixa de velocidades parece-me um retrocesso.
Veredicto
Tal como a cada ano os veículos de Rali evoluem com a tecnologia, é de louvar o esforço da Kilotonn em nos trazer um WRC 6 em ascendência de qualidade. Desde o ano passado que a produtora tem tratado muito bem esta série, trazendo-nos agora um segundo título cheio de vontade em ser melhor. A nível gráfico e performance é realmente um jogo superior ao seu antecessor. A condução é que precisa de mais uns aprimoramentos e gostava muito que se assumisse como um simulador. Não é, pelos mais diversos motivos, mas está a acelerar para lá chegar.
- ProdutoraKilotonn Racing Games
- EditoraBigben Interactive
- Lançamento7 de Outubro 2016
- PlataformasPC, PS4, Xbox One
- GéneroCondução
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Visualmente melhor que o antecessor
- Todas as equipas e provas do WRC
- Rally de Portugal!
- Ainda não é um simulador
- Nevoeiro é muito penalizador
- Co-piloto sintético e falível
- Online com acesso limitado
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.