WRC2

Análise: WRC2

Há três grandes disciplinas automobilísticas no top da FIA (Federação Internacional do Automóvel): A Fórmula 1, os campeonatos GT e o eterno WRC ou World Rally Championship.

Este último deu origem a diversos jogos que fizeram e ainda fazem as delícias dos entusiastas das corridas em estrada, gravilha, lama, neve, etc. As curvas em slide, os saltos fantásticos, as reacções rápidas dos pilotos, o WRC atrai multidões à beira das pistas poeirentas um pouco por todo o mundo e Portugal tem uma grande tradição de Rallies.

Este é mais um ano em que a Italiana Milestone fica encarregue de transportar essas emoções para o mundo dos videojogos com o jogo oficial da época transacta, o WRC2!

Não se pode dizer que a tarefa seja fácil, sobretudo para equivaler os padrões de outros jogos do momento. 

As novidades de WRC2

Estamos muito mal habituados… Já lá vai o tempo do velhinho SEGA Rally, sim. Muito se evoluiu desde então. E isso faz com que queiramos sempre mais e melhor. Não podemos equivaler grandes marcos do desporto automobilístico reproduzidos em jogo ao que se fazia há uns anos atrás, mas a mística mantém-se em todos.

Mas, parece-nos, que quando se fala num jogo oficial, quando o mesmo pretende ser uma simulação do melhor que o WRC apresenta, achamos que é preciso algum cuidado em não falhar nesse ponto.

WRC2 é o segundo jogo da Milestone. E se o primeiro foi uma desilusão para os fãs dos Rallies, esta segunda oportunidade não dá boas perspectivas à produtora italiana. Sim, já dissemos que estamos mal habituados a grandes jogos de Rallie como Dirt 3 ou mesmo Gran Turismo 5 que possui um modo de Rally cheio de emoção. Mas estes não são sequer jogos oficiais e nada têm a provar.

Não somos só nós que achamos que os outros jogos do momento estabelecem as regras, já que este jogo pede emprestadas muitas formas de interacção que já foram vistas noutros lados como a personalização do veículo, a acumulação de pontos e dinheiro para desbloquear carros no modo carreira, as famosas repetições que permitem corrigir erros e mesmo o modo de Fotografia que bem tenta puxar pelo fã dentro de cada jogador pelos carros.

Diga-se que os carros reais de Rally não são propriamente as pérolas visuais de outras disciplinas, mas há gostos para tudo, certo? Gostamos do facto de estarem modelados diversos veículos dos vários agrupamentos, desde os carros de Produção, WRC2, S2000 ou mesmo os velhinhos de Grupo B que tantas delícias fizeram no passado e ainda hoje levantam pó um pouco por todo o lado.

Também gostámos de ver o regresso da “Academia” de WRC para os iniciados nas lides de curvar com travão de mão e que introduz as mais diversas formas de lidar com curvas com respectivas tracções em pisos diferentes.

Mas o mais interessante foi ver a introdução das SSS ou Super-Especiais, corridas específicas do WRC em que dois veículos percorrem duas pistas paralelas e em simultâneo em percursos muitas vezes citadinos e muito complexos, parte do mito do Mundial de Rallies e que estranhamente não apareceu no jogo anterior. Oferece um desafio mais intenso e interessante, sobretudo online contra outro jogador humano. É preciso perícia e conhecimento prévio do veículo e circuito.

Mãos no volante!

Depois de passarmos os fastidiosos loading screens que chegam a desesperar, é chegada a altura de pegar nos veículos e ir ao que interessa…

O Mundial de Rallies já não é o mesmo e as restrições e regras tendem a uniformizar o desporto e troca-se o espectáculo pela eficácia. E WRC2 apesar de tentar ao máximo afirmar que pode transmitir essa eficácia, realmente deixa o espectáculo de fora.

Em termos de simulação de condução, a tentativa de transmitir o grau quase inumano de eficácia de um piloto de rallies está presente. Sem dúvida. A dinâmica de condução é irrepreensível e é preciso mesmo praticar, sobretudo quando evoluímos de uma classe para outra. A diferença, por exemplo, de um carro de tracção dianteira para um AWD é notória e exige muita perícia.

Já mencionámos que existe um modo de treino para os inexperientes e achamos que todos devem passar por esse curso, já que acabam por aprender truques e dicas que podem não só ajudar a jogar melhor neste jogo como em outros.

Existem vários níveis de dificuldade com diversas ajudas  de direcção e travagem se não se querem cansar muito, mas não é lógico que não experimentam a adrenalina de fazer curvas em slide depois de puxar o travão de mão, afinal Rally é isso mesmo.

No campo das físicas, porém, nem tudo é ouro. Há uma estranha relação de peso do carro em curva que apesar de afinado diversas vezes nunca conseguimos evitar ressaltos em certos solavancos que nos fizeram despistar de forma destrutiva. Noutras situações foram os impactos em objectos invisíveis lateralmente ou simples toques em pilares, por exemplo, que imobilizavam por completo o veículo quando na repetição nem os tocámos. A detecção de colisões é uma ciência inexacta neste jogo.

Já agora, em termos de afinação, nota positiva para dois pormenores. Não só podem afinar quase todos os pontos constituintes do carro, como suspensão, balanço de travões, rácio de mudanças, etc, como podem salvar essas mesmas definições ou simplesmente usar predefinições, um pouco menos eficazes mas que ajudam os novatos a melhorar o desempenho. Além disso, no modo carreira, podem evoluir o próprio carro com um engenheiro que não só desenvolve peças novas como as refina. Assim esperem levar o vosso carro até às melhores prestações no modo carreira, bastando para isso, jogar e ganhar pontos.

De resto, a experiência de condução é o que seria de esperar. Rápida, muito instintiva, muito táctica na negociação de curvas e muita afinação do carro para prestações eficazes. Embora as físicas sejam algo estranhas por vezes, o feeling do carro está presente. Para quem nunca jogou um jogo de Rallies ou teve a sorte de entrar num carro de WRC real e experimentado as dinâmicas, talvez ache que há algo errado. Não há! Em curva o carro de Rally não adorna, na verdade, o carro quase não curva, sequer… desliza! E aí a Milestone conseguiu um bom simulador.

Vamos levantar poeira… qual poeira?

Não… não é possível… Como é que passou um ano inteiro e a Milestone não mexeu no motor gráfico? Ou melhor, até deve ter mexido, nós é que não notamos nada.

Regressam os gráficos medianos com os efeitos especiais pobres, cores estranhas, mapas pouco ou nada realistas, texturas simplistas e ambiência pobre. Não conseguimos perceber como é que não se explora as capacidades dos sistemas de computação modernos para criar bons efeitos visuais num jogo que pretende simular um dos maiores espectáculos automobilísticos.

Houve algum trabalho em modelar as pistas reais, sim, há algum foto-realismo nesse trabalho. O pormenores visuais nos veículos são mais aprimorados e os danos nos mesmos regressam em força, revistos, impressionantes e bastante realistas. Mas nada de realmente novo aqui. Mas o cockpit continua estranho, despido de pormenores e aquelas cores estranhíssimas e fora de gama a obrigar-nos muitas vezes a colocar a câmara fora do carro para não sofrer de apatia visual.

Depois em certas zonas, as texturas parecem autênticos desenhos e o pó, lama, neve ou outros pormenores que dão tanta dinâmica ao Rally são irreais e não transmitem o que seria de esperar.

Toda a envolvência gráfica do jogo fica aquém do que hoje se faz de melhor. E em nada ajuda o facto de podermos fazer fotografia ao carro tanto na garagem como em jogo, porque isso só faz saltar à vista a fraqueza do motor gráfico.

Se não basta esse pormenor, o som também não ajuda nada. Embora o ruído de um carro de rally seja realmente ensurdecedor (acreditem que é), não há diferença nenhuma entre mudar a câmara do cockpit para fora do carro. Os escapes livres, são mesmo ruidosos, mas não soam a bombinhas de carnaval como neste jogo. O ruído do motor varia de marca e disciplina, pensamos que aqui a Milestone gravou directamente do interior dos veículos, mas falham pela falta de tratamento para tornar os sons envolventes.

A nível de gráficos e som, arriscaríamos dizer que não houve evolução nenhuma do jogo anterior para este. A iluminação foi mexida aqui e ali, aumentano um pouco o contraste, mas ficamos na dúvida sobre o que andou a Milestone a fazer durante um ano inteiro.

Na lama com amigos.

Há um modo que falta aqui e é o modo competitivo a dois com ecrã dividido. Para compensar temos o modo Hot Seat que coloca diversos jogadores a competir à vez como acontece na realidade. É interessante para criar um mini-rally mas torna-se algo desesperante para os que não gostam de esperar, sobretudo com muitos jogadores. Ao menos nas super-especiais deveria dar para ecrã dividido, mas enfim.

Depois há a fatigante campanha online onde podemos evoluir pontuação que não nos serve de grande coisa já que todos os carros e pistas estão disponíveis de origem. É a luta pelas estatísticas e pelo direito a glória de ganhar. Nada mais.

Até 16 jogadores (nunca chegamos a mais de seis jogadores num lobby) corremos pistas de modo avulso ou inseridas em campeonatos. Mas se pensam que correm directamente contra outros jogadores, pensem de novo. Apesar de nas super-especiais isso acontecer em pistas paralelas, nas normais correm contra… os ghosts destes carros. Ou seja, todos correm ao mesmo tempo, mas não interferem na condução do próximo. A nossa prestação aparece nos outros jogadores como um carro transparente e vice versa. É como se corrêssemos um contra-relógio e o mais rápido vence…

Tudo isto é exactamente igual ao primeiro WRC e não acrescenta grande longevidade ao jogo, já que não há nada de bónus a conseguir pelo modo online nem se desbloqueia rigorosamente nada.

Veredicto

Temos pena que um jogo oficial não cumpra o que promete. Sobretudo se pensarmos que o Rally é um fenómeno de popularidade e até já teve grandes jogos a representá-lo. Já no passado houve uma certa falha nas grandes instituições automobilísticas de produzir jogos à altura dos respectivos campeonatos, talvez porque os orçamentos não abundem, mas note-se o que já foi feito pela Fórmula 1 ou pelos Campeonatos GT e depois compare-se com este título. Ainda não foi desta que a Milestone evoluiu e ainda não foi desta que os fãs de Rally tiveram um jogo oficial à altura do campeonato WRC.

Mesmo assim é de louvar as tentativas de polir este jogo, novos menus e novas ideias. Mesmo a dinâmica de condução é muito boa, nada de especial, mas competente a transmitir a solidez do tipo de condução. Só é pena que a evolução gráfica não acompanhe estas boas questões este segundo título.

E é claro que os amantes do WRC nem não querer saber das falhas do jogo. Querem é conduzir os bólides dos campeões e claro que aí, nenhum outro jogo consegue equivaler-se, por mais bonito graficamente que seja. WRC puro e duro é neste jogo. E se conseguirem por de lado onde falha visualmente é um jogo desafiante.

  • ProdutoraMilestone
  • EditoraLeader SPA
  • Lançamento14 de Outubro 2011
  • PlataformasPC, PS3, Xbox 360
  • GéneroCondução, Simulação
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Loading screens longos
  • Lógica de colisões chega a ser frustrante
  • Mediano Graficamente
  • Pouca evolução desde o jogo anterior

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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