WreckfestConsolas (7)

Análise – Wreckfest (PS4/XB1)

Nos tradicionais jogos de corridas com automóveis, os danos nos veículos são para evitar e até há jogos onde somos penalizados por impactos. Mas, Wreckfest não é um tradicional jogo de corridas de automóveis. Aqui, os danos são bem vindos e parte do espectáculo.

A vida deste jogo nas consolas começa agora, mas Wreckfest não chegou ontem ao panorama. Em produção durante quatro anos no Early Access do Steam, chegou no Verão do ano passado na sua versão final ao PC. Uma versão de consolas estava prometida para pouco depois, mais precisamente em Novembro desse ano, mas constantes adiamentos ditaram esse lançamento só neste mês. Ou seja, há cinco anos que andamos a partir carros no PC e só agora a PlayStation 4 e Xbox One se juntam à festa. Talvez por isso, para muitos jogadores (sobretudo destas consolas), esta é a primeira vez que ouvem falar neste título. Vejamos se partir os carros alheios ainda não passou de moda.

Wreckfest não vem revolucionar o género das corridas de automóveis, nem sequer pretende “reinventar a roda”, ou apostar em algum formato realista de simulação de condução. A melhor forma de descrever este jogo é falar nas suas inspirações. A produtora Finlandesa Bugbear Entertainment ficou conhecida por nos ter trazido os dois primeiros FlatOut, uma série de corridas, onde a destruição dos carros era parte da competição. Por sua vez, este jogo foi influenciado por outros grandes clássicos de “destruição automóvel”: Street Rod (1989) e Destruction Derby (1995). Todos estes jogos, porém, recebem inspiração das perigosas corridas reais com a mesma premissa, os famosos Demolition Derbies que ocorrem um pouco por todo o mundo, especialmente nos EUA.

Com essa lógica de destruição latente nos veículos, onde Wreckfest verdadeiramente impressionou, enquanto se chamava “Next Car Game” e andava pelo Kickstarter à procura de fundos (e falhou), foi na simulação de físicas. O nível de danos causados ou sofridos era francamente impressionante nos primeiro estágios do projecto. E, como devem calcular, hoje em dia são o principal foco deste jogo. A ideia é criar caos no ecrã, colidindo nos adversários das formas mais inventivas, ignorando um pouco tudo o resto que é comum nestes jogos de corridas. O que interessa abordar de forma perfeita o ápice da curva, se sou abalroado violentamente por um adversário para sair de pista? Bem vindos ao derby…

A solo, temos cinco vastos campeonatos para competir, cada um com eventos próprios em cerca de 30 pistas diferentes. Por cada evento completado, desbloqueamos o próximo, numa lógica sequencial que já temos visto noutras séries de condução. Só que aqui, apesar de termos algumas corridas lineares, o verdadeiro foco é desancar todo os bólides que ousam cruzar-se connosco, sendo o primeiro a cruzar a meta sem ser totalmente destruído ou o último sobrevivente da carnificina. Há qualquer coisa de “magnético” nas provas de arena, onde 24 automóveis colidem de forma anárquica, até só restar um punhado de veículos decrépitos. Há um claro balanço de perícia com alguma sorte pelo meio, diga-se.

E nada disto teria piada nenhuma se conduzíssemos automóveis reluzentes e polidos. Os carros de Wreckfest são autêntica bestas motorizadas, reforçadas com arames e chapa batida. O jogo oferece-nos um elevado número de carros diferentes, que podemos personalizar com uma boa quantidade de objectos, desde pinturas divertidas a peças de blindagem para aumentar as probabilidades de sobrevivência. E o que é interessante é que o peso do carro afecta o seu comportamento, obrigando-nos a pensar se queremos um veículo rápido, mas mais vulnerável, ou um lento tanque que se arrasta pela pista. E ainda podem optar por um sofá motorizado, completo com uma mesa de apoio e retrovisores…

Um dos elementos que mais apreciei no jogo é a sua imprevisibilidade. Nas corridas, num momento podemos ser arremessados do último posto para os primeiros lugares por causa de uma manobra no tempo certo. E o contrário também é possível, como devem imaginar. A Inteligência Artificial (IA) é absurdamente implacável, com uma agressividade acima da média, o que significa que nunca sabemos de onde vem a pancada. Depois, temos de lidar com as próprias pistas, algumas a misturar alcatrão com a desafiante gravilha e outras com secções únicas, como um enorme loop que precisamos abordar com destreza e velocidade.

Confesso que fiquei algo desapontado com o online deste jogo. Com a IA tão agressiva, pensei que talvez os jogadores humanos fossem mais tolerantes… ou, bem mais provável, o completo oposto. Infelizmente, nas vezes que tentei jogar online na PlayStation 4 (versão analisada), não tive muita sorte a encontrar sessões preenchidas. Talvez porque a oferta não seja tão grande ao nível provas e tipos de carros, parecendo mais uma oportunidade de juntar amigos, que verdadeiramente apostar numa competição com estranhos. Não me parece que incentive muita gente a ligar-se online, até porque não vamos encontrar nada de novo ou diferente aqui. E, sim, os humanos ainda são piores que a IA do jogo.

Num jogo portado do PC, tendo estado tanto tempo em produção e contando também com os adiamentos sucessivos desta versão, seria de esperar que Wreckfest pudesse, de alguma forma, ser um produto polido. Infelizmente, tecnicamente falando, o jogo não vai receber quaisquer prémios de beleza. Com o foco tão virado para as físicas e modelos de danos, o resto não mereceu tanta atenção por parte da Bugbear. Isto proporciona momentos verdadeiramente fantásticos de acção e destruição (mesmo com uns poucos bugs que estou disposto a ignorar) mas, depois, somos distraídos pelos efeitos visuais simplistas e cenários algo desprovidos de vida. Nada disto é realmente importante, é certo, num jogo que não quer, de facto, competir no grafismo. Mas, um cuidado maior neste campo não era mal pensado para ajudar o “pacote geral”.

O que é mais curioso neste aspecto, é que somos iludidos a pensar que “vem aí algo grandioso” quando nos deparamos com os francamente longos tempos de carregamento. Regra geral, quando temos um longo “loading”, significa que vamos ter cenários e efeitos visuais a ser renderizados. Aqui, julgo que esse tempo é quase todo gasto no processamento das físicas de jogo. Seja como for, os carregamentos são demasiado morosos para um jogo que não puxa assim tanto graficamente. Ainda por cima, a produção decidiu preencher esse tempo com uma selecção de música de gosto duvidoso. Se gostam de dubstep ou rock genérico, metam mais alto… não é o meu caso.

Veredicto

Recuperando o ADN de grandes clássicos que nos ocuparam por vários anos, partir carros não está, de facto, fora de moda. O modelo de danos e a bem preenchida oferta de pistas e carros, vão ocupar qualquer amante de destruição dos célebres Demolition Derbies. Contudo, Wreckfest não impressiona em mais nada senão nas físicas de danos e na imprevisibilidade das provas causada por uma IA agressiva. Visualmente é algo simplista e aborrece-nos com os seus longos ecrãs de carregamento e online sem incentivo. Ainda assim, vale algumas horas de entretenimento a partir chapa e arrancar pára-choques, sobretudo com amigos e num sofá motorizado.

  • ProdutoraBugbear Entertainment
  • EditoraTHQ Nordic
  • Lançamento27 de Agosto 2019
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroArcade, Condução
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Multi-jogador só com amigos
  • Ecrãs de carregamento muito longos
  • Visualmente pouco impressionante

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

Comentários