Análise – Total War: Warhammer
Já devem conhecer a série Total War que reproduz as grandes batalhas da História da Humanidade. Só que com Total War Warhammer, a Creative Assembly deu um passo noutra direcção: levou toda a acção que aprendemos a gostar para o mundo de fantasia da série Warhammer. O resultado? Bom, peguem na espada e sigam-me para a batalha!
Para quem não conhece, Total War é uma das séries de jogos de estratégia em tempo real (RTS) mais famosas de sempre. Isto graças, não só à sua interessante jogabilidade em duas vertentes distintas de estratégia, como também por causa do seu rigor Histórico. Neste novo título, porém, a produção libertou-se dessa necessidade de reproduzir civilizações antigas plausíveis e pôde dar largas à imaginação com o vasto cânone de Warhammer. Esta série de RPG de jogos de mesa tem aqui uma recriação das suas personagens e regiões, com todo o seu lore, aproveitando as fantásticas mecânicas da série Total War. Uma receita de sucesso em vista, portanto.
Na verdade, este título possui dois jogos distintos. Um deles é um simples jogo de estratégia por turnos. Bom… de simples não tem nada, na verdade. Dividimos a nossa atenção entre construir ou tomar cidades, cuidar do Tesouro, usar de diplomacia e gerir exércitos. Ao início, podemos adoptar diversas posturas como líderes despóticos ou imperadores samaritanos. Podemos fazer alianças ou simplesmente invadir territórios alheios. Cada decisão possui consequências e logo cedo teremos adversários para nos testar. Precisamos de um bom exército, não apenas para invadir, mas também para defender. Se falharmos nesta tarefa, o jogo vai acabar bem cedo. Por outro lado, quanto maior for o nosso território, não só teremos mais hipóteses teremos de resistir aos avanços dos inimigos, mas também teremos mais problemas em gerir tanta coisa.
Quanto o conflito é inevitável, a guerra é declarada e somos confrontados com um desafio de algum exército inimigo. Ou escolhemos tentar resolver o problema de forma automática, analisando a barra de probabilidade, ou vamos para a guerra. E é aí que jogamos o tal outro jogo: O de estratégia militar em tempo real, para mim, o melhor que este jogo oferece. Tento não resolver combates de forma automática e partir sempre para o campo de batalha. Aqui, teremos de ser, ao mesmo tempo, persistentes mas também astutos. Não se deixem enganar pelos tamanhos dos exércitos, há diversas formas de mudar o rumo do combate, mesmo perante fracas probabilidades de vitória. Para nos ajudar, temos os nossos Lordes e Heróis que agem como generais e dão moral e força para as tropas, algo novo na série e muito bem vindo.
Algures na carreira, escolhendo a facção humana do Império, fui atacado por um bando de persistentes Vampiros. Segundo a barra de capacidade militar, não tinha quaisquer hipóteses. No entanto, quando o inimigo avançou escondi duas divisões de cavalaria num bosque. Mandei avançar as minhas quatro divisões de infantaria a pé, seguidas um pouco mais atrás de outras duas divisões de arqueiros e carabineiros. O inimigo, confiante na vitória, avançou só metade das suas dez divisões de infantaria. Quando o embate se iniciou, mandei finalmente avançar as duas divisões de cavalaria pelos flancos. O factor surpresa fez com que os inimigos dispersassem e, na confusão, consegui ferir o seu general. O resultado no primeiro embate foi esmagador e quando a segunda metade do inimigo avançou finalmente, já era tarde.
É apenas um exemplo de uma gloriosa vitória conseguida com pequenas estratégias que o tutorial do jogo vos vai ensinar de forma prática. Notem que cada vitória ou derrota também possui consequências. Se for num cerco a uma cidade, podem escolher ocupar, saquear ou destruir a dita cidade. Se for contra um outro exército podem escolher perdoar e libertar os inimigos ou matar os capturados. As repercussões também serão políticas com os aliados de ambas as partes a reagirem às batalhas. Há alianças para fazer para que estes combates possam ser mais disputados, que se tornam essenciais durante a invasão das forças do Chaos que irão desequilibrar muitas civilizações, podendo até exterminá-las.
E cada exército possui unidades únicas. Desde a infantaria a espada ou lança dos humanos, os pequenos mas robustos anões e os seus pequenos engenhos voadores, os orcs e os seus gigantes que conseguem derrotar uma divisão inteira, os vampiros e os seus monstros, entre outras unidades que podem ditar a vitória ou a derrota no campo de batalha. Lá mais para a frente as horas invasoras vindas das Chaos Wastes trarão ainda mais desafio e seres grotescos para derrotar. Quando isso acontecer, convém que o nosso império esteja pronto com alianças ou pactos para evitar o pior.
Claro que cada facção age de forma diferente, uns movidos por compaixão e razoabilidade, outros que nem conseguimos negociar. O objectivo, como em todos os jogos do género, é conquistar tudo e todos. Só que não há facilidades para ninguém. Há agentes infiltrados que tentam assassinar os nossos heróis e generais, há revoltas populares que criam situações sociais e económicas adversas, entre outros eventos paralelos que garantem não nos dar tréguas. Até porque podiam muito facilmente entrar no aborrecimento num reino onde nada acontece.
Se jogaram os jogos anteriores da série Total War, porém, irão notar que este jogo está muito mais virado para os tais combates em campo, que na tal estratégia por turnos. Ou seja, perde-se um pouco nas diplomacias e gestão territorial, ganham-se mais conflitos para resolver no campo de batalha. Isto leva muitas vezes a grandes problemas de financiamento de exércitos que não somos capazes de solucionar. Se temos mais que dois exércitos apetrechados, começamos a perder dinheiro e não há nada que possamos fazer senão “despedir” as unidades para não entrarmos na bancarrota e despoletarmos uma revolta popular. Revolta essa que surge de uma onda de insatisfação vinda de alguma prestação menos positiva em batalha e que também não temos grande forma de reverter de forma imediata.
Quando somos invadidos, porém, os exércitos inimigos podem esmagar-nos muito rapidamente porque não podemos sustentar um exército maior. O caminho dos acordos de paz ou pactos é complicado se não tivermos argumentos para pedir ajuda, sendo-nos negada qualquer parceria se não formos vitoriosos em batalha. Ou seja, podemos entrar numa espiral de derrotas e perdas, sem que as possamos resolver com diplomacia, tão delapidada que está. E isto resulta em muitas batalhas e cedências entre as demais facções. Há muitos mais conflitos e muitas mais batalhas neste título que nos anteriores jogos, fruto de uma economia ambígua que resulta em poder meramente momentâneo. Criar um império dominador parece não ser o objectivo, mas sim perpetuar as batalhas no terreno e conquistar tudo à força.
Como já disse, eu adoro estas batalhas gigantescas, por isso, até nem me importo com esta vertente mais virada para a acção. O problema é que sem uma gestão política não podemos fazer frente aos inimigos de forma decisiva sem ter uma sensação que nunca teremos uma força suficiente para a conquista total. Então, o segredo está no nosso engenho para derrotar adversários no terreno, contra todas as probabilidades. E é por isto que, apesar de perder um pouco da estratégia, Total War: Warhammer podia ser o melhor título da série, por sentir que é a estratégia em combate que faz a diferença. Contudo, há algumas questões de ordem técnica que não permitem levar esse troféu para casa.
Apesar de ter jogado no nosso Orion que ultrapassa os requisitos recomendados do jogo, tive alguns erros de “screen tearing” que, por vezes, surgem até reiniciar o jogo, tanto na acção por turnos como no combate no terreno. Houve até mesmo falhas de sincronismo nas cenas intermédias, que não fazem muito sentido. Também na acção no terreno, a aposta em tantas unidades de combate com muitos efeitos visuais e animações causam alguns momentos de quebras acentuadas de performance. Quase de certeza, que estes erros não são causados por falta de hardware, mas por uma programação a precisar de alguma optimização adicional.
Também tenho de assinalar que até à hora de publicação desta análise, não foi possível testar o modo multi-jogador disponível. Talvez por causa de alguma falha ou erro técnico, de cada vez que selecionei esta opção, o jogo teve um crash para o ambiente de trabalho. A dada altura, concentrando-me na extensa campanha, depreendi que o problema era geral e que parece relacionado com a saturação de servidores antes e depois do arranque. Infelizmente, uma correcção não chegou a tempo desta análise, mas penso que fica claro que os traços gerais do jogo se transportam para o online, com igual foco no combate em terreno.
Notem que a produção anunciou que já está a trabalhar para resolver os problemas que assolam este título no seu arranque. No que diz respeito à performance, uma das medidas a implementar numa próxima actualização parece ser de “separar os processos entre o CPU e o GPU”, garantindo uma melhor fluidez na imagem e jogabilidade. Também o suporte para DirectX 12 está planeado nos próximos dias que poderá dar uma melhor performance ao jogo. Entretanto, há já um suporte para mods via Steam Workshop para que a comunidade possa, também ela, colaborar na evolução do jogo. No entanto, visto que este é o primeiro título de uma planeada trilogia, é bem possível que algumas das falhas ou faltas só sejam abordadas nos dois próximos jogos.
Veredicto
Este RTS será muito bem vindo por todos os que adoram a série Warhammer e assim veem as personagens e acção transportada para um sólido jogo. Para os fãs da série Total War, pode não ser o titulo mais completo, uma vez que delapida um pouco da estratégia por turnos, dando mais primazia à acção no campo de batalha. Em conjunto, porém, Total War Warhammer tem tudo para ser um dos melhores jogos da série, penalizado apenas por alguns problemas técnicos que nos impedem de tirarmos pleno proveito dele. Horas de combate depois, porém, a satisfação de conseguir erguer um império pela lei das armas e contra todas as hipóteses, não tem preço. E é por isso que não devem perder este título.
- ProdutoraCreative Assembly
- EditoraSEGA
- Lançamento24 de Maio 2016
- PlataformasPC
- GéneroEstratégia
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Batalhas gigantes e brutais
- Temos mesmo de ser bons estategas em campo
- Todo o lore de Warhammer
- Menos virado para a estatégia por turnos
- Alguns problemas gráficos
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.