Análise: Assassin’s Creed IV : Black Flag
Haveria muito para dizer da forma como a série Assassin’s Creed iniciou um género. Havia ainda mais para dizer como o seu enredo efectuou uma valente cambalhota de lógica nos últimos jogos. Mas não é disso que vamos falar hoje. Vamos falar de um novo jogo que pretende descolar-se da série na busca pelo seu destaque… Assassin’s Creed IV: Black Flag é um jogo que, tal como os piratas que o protagonizam, navega sozinho por mares turbulentos… Ahoy!
Sejamos sinceros! O tema da Pirataria das Caraíbas está explorado demais por Hollywood com tantos filmes do Jack Sparrow mas no mundo dos videojogos, tirando o lendário Pirates! de Sid Meier, pouco ou nada chegou perto de cativar a comunidade gamer. Talvez pensando nisso, a Ubisoft decidiu retroceder um pouco no tempo na linha de Assassin’s Creed e criou este jogo nessa época de caos marítimo em que a Marinha Espanhola e Inglesa não conseguia medir esforços com os Piratas e Corsários nos Mares das Caraíbas.
O enredo de Black Flag arranca uns anos antes do jogo anterior, mais precisamente em 1715 com Edward Kenway, futuro pai de Haytham Kenway e avô de Connor, os protagonistas de Assassin’s Creed III. Edward está cansado da vida de camponês no Reino Unido e decide fazer-se ao mar em busca da felicidade. Claro que nestes tempos, da Era Dourada da Pirataria, Edward acaba por se tornar ele mesmo um Pirata mas um encontro fortuito com um indivíduo numa batalha coloca-o no centro das atenções da Ordem de Assassinos e dos Templários. Sem criar spoilers, digamos que Edward acaba por fazer jogo duplo com as duas organizações, enquanto tenta incessantemente enriquecer, naquele que é, afinal, o seu principal objectivo. Inevitavelmente, a curiosidade em saber o que é o “Observatório” leva-o a tomar decisões que acabam por obrigá-lo a escolher um caminho mais honroso que o roubo e a pilhagem.
Mas, esperem lá! Onde está o Desmond Miles? Lembram-se de como Desmond andava quase sempre em fuga dos Templários, enquanto procurava os segredos (rocambolescos, diga-se) por detrás da Maçã do Éden? Nem um único vestígio deste senhor! O que para mim é óptimo. Acho que a estória paralela de Assassin’s Creed teve piada até ao Segundo jogo. Depois toda aquela exploração e demência envolvendo extraterrestres com “manias” era demais. Não! Aqui realmente usamos uma máquina Animus para aceder às memórias no ADN do Desmond mas estamos a encarnar uma personagem, sem nome, dentro dos escritórios de uma amigável Abstergo cheia de colegas de trabalho que se desfazem em sorrisos. Esta abordagem foi a mesma de Assassin’s Creed: Liberation. A Abstergo é uma empresa virada para a produção de meios audiovisuais que produz filmes “realistas e imersivos” e nós somos um testador dos seus serviços. Assim perde-se o foco na demência por detrás das buscas de Desmond, mantém o espírito de ambição da Abstergo, mas de vez em quando há interrupções e há até uma interacção com um técnico de informática que nos empurra para pesquisar os segredos por detrás do “Observatório”. Não vou dizer como isto acaba, mas devo informar que há um pequeno momento surpresa e uma parte incrivelmente chata e anti-climática. No entanto, não se preocupem. O foco está em Edward Kenway no mundo da pirataria. O resto é dispensável e acessório.
Infelizmente, este título veio cedo demais. Já vou falar da jogabilidade mas, antes disso, tenho de vos falar da insatisfação que sinto de jogar este jogo na Playstation 3. Não tem nada a ver com a consola em si, mas apenas na limitação que possui com a Playstation 4 já aí à porta. Assassin’s Creed IV merecia mais, muito mais que esta versão de “baixa resolução” que testámos. Felizmente que podemos adquirir a versão PS4 com um grande desconto se comprarmos esta na PS3, mas vamos jogar tudo de novo? Vamos! O potencial de mapas vastíssimos em ilhas paradisíacas, combates brutais no alto mar com navios gigantescos. Cidades como Florida, Havana ou Nassau reproduzidas fielmente com mapas da época e todo o folclore da Pirataria do Século XVIII vão-nos desejar ter mais, muito mais que estes fracos gráficos que a PS3 oferece. Ainda por cima se virem as imagens e vídeos do jogo a correr na PS4 vão achar que é uma perda de tempo (e dinheiro) comprar já o jogo. Se querem uma opinião, esperem!
Não obstante, dentro dos limites da PS3, o jogo cumpre. Não impressiona mas também não se porta mal. Boas animações, sobretudo atmosféricas com a meteorologia a mudar, sobretudo no alto mar, criam efeitos de nuvens e chuva impressionantes. As animações faciais, aliadas à excelente performance dos actores é genial. Mas pronto. Sensação de falta de objectos, algumas texturas de menor resolução, falta de qualidade nalguns objectos fazem-nos desejar um pouco mais. Veremos na próxima geração.
Se não conseguem esperar, podem já experimentar a jogabilidade de Black Flag que é, sem dúvida, uma lufada de ar fresco. As viagens por mar foram introduzidas no capítulo anterior, mas ao contrário de Connor que apenas viajava raramente por mar, Edward fá-lo constantemente, sendo principalmente nas ilhas das Caraíbas que a acção se desenrola. Esperem um mapa gigante, diria tão grande ou maior que Grand Theft Auto V, mas com muito mar para navegar livremente. Cada ilha possui tesouros para descobrir (que até tem mapas com o “X” a marcar o lugar e tudo), vida selvagem para caçar, pedaços de músicas para ouvir (sim, músicas de pirataria e vida marítima que até a tripulação canta), pedaços de informação e outros coleccionáveis. Por isso, há muitas horas de jogo em perspectiva entre missões principais.
Como sempre, há missões de assassinato de pessoas específicas que nos são apresentadas pelos pombos-correio nos pombais nas vilas e cidades. Infelizmente, apesar do título da série, assassinatos são poucos e raros. E quando surgem, são básicos e sem grande desafio além de sempre algo repetitivos.
Continuamos a saltar de telhado em telhado, no já costumeiro parkour mas como as cidades e vilas são pequenas, nem as abundantes palmeiras conseguem equiparar-se aos jogos anteriores em que a capacidade atlética era levada ao limite. Nos pequenos telhados de tijolo ou nos terraços de terracota há quase sempre um guarda atento. Ou o matamos ou fugimos e nessa dinâmica, damos por nós a deambular nas ruas porque sempre é mais sossegado.
Seja como for, o jogo beneficia à mesma a acção furtiva. Em certas missões são-nos dados mais pontos por evitar o combate directo. Noutras somos convidados a explorar bem o mapa em busca de entradas mais furtivas. As armas e o combate não sofreram grandes alterações à excepção da capacidade de Edward de transportar dois bacamartes e duas espadas para golpes mais mortíferos.
De resto, até mesmo a possibilidade de comprar armas e munições melhores estão disponíveis nas lojas aqui e ali. Criar as nossas próprias peças de armadura ou protecções, além de podermos melhorar o nosso navio, é agora possível por reunir materiais (em pilhagens a outros navios), caçando animais (pelas peles e ossos) e por descobrir tesouros escondidos. Sem dúvida, há algo aprendido de FarCry 3 (da mesma editora).
Contudo, o grande destaque vai para o já mencionado combate naval. Sim, não é novidade, porque já em ACIII o tínhamos, mas neste jogo foi ampliado, melhorado e é mais frequente. Aliás, tem de ser. Para podermos fazer o que falei anteriormente, de melhorar o navio por pilhar outros, temos de os abater ou invadir. Para isso usamos o poder dos nossos canhões. Existem diversos tipos, de curto, médio ou longo alcance, que vão sendo melhorados e outros que vão sendo acrescentados ao longo do enredo. Cada um tem uma função e um ângulo de disparo. Cabe a nós, comandantes do navio não só manobrá-lo como apontar e ordenar o disparo. A tripulação faz tudo acontecer de forma suave e dinâmica. Mas tenham cuidado porque uma má estratégia pode resultar em danos complicados no navio que nem a pilhagem resolve. Inevitavelmente terão de visitar um porto e pedir reparações.
E agora perguntam-me vocês “E mais, e mais?” Pois, não há muito mais que isto. Há muita navegação, muito combate marítimo, muita exploração e algum combate a pé e um raro convite ao parkour. É um desvio importante da jogabilidade da série mas não deixa de ser repetitivo. Algumas horas depois, até ansiamos pelas missões chatas do Desmond Miles que sempre nos davam uma variável. Assassin’s Creed foi sempre assim e na sua rotina tem uma legião de fãs!
Falta só falar em duas coisas que considero destacáveis, mas por motivos diferentes. Falo primeiro do novo interface do menu que lembra (demasiado) o Windows 8. Está polido e diria que está mais fácil de navegar e perceber. A ligação ao costumeiro serviço online UPlay da Ubisoft está lá e até está ampliado permitindo aos jogadores avaliarem as missões com estrelas para dar feedback à Ubisoft. Ofertas e promoções, além de outros anúncios estão também presentes na página principal.
E lá no meio, está o famigerado Multiplayer. Introduzido em Assassin’s Creed Brotherhood, a Ubisoft insiste em manter este modo competitivo nos jogos seguintes e ACIV não é excepção. Ainda havia alguma esperança que houvesse combate marítimo multi-jogador mas não. É a mesmíssima colecção de modos competitivos a pé em que se convida à acção furtiva e o assassinato de pessoas chave e até de outros jogadores online. Uma chatice, quanto a mim mas que dizer da longevidade? Se desejarem fazer todos os mapas e missões, actualizados na atmosfera das Caraíbas do Século XVIII, então vão adorar isto.
Veredicto
Yaaaargh! É inevitável não sentir uma atracção pelos famigerados piratas. Ah, vil busca pelos tesouros! Ah, degustação de rum até dizer basta. E aquelas lutas de espadas em cima dos mastros dos navios, as cargas de canhão que destroem os porões cheios de pólvora. Até mesmo as lutas de taberna nos portos ou o resgatar de amigos no cadafalso. Há isso tudo em Assassin’s Creed IV. Infelizmente não é o melhor jogo possível porque veio algo cedo. Acho que todo o potencial deste jogo chegará com as versões PS4, Xbox One e PC. Mas até lá, ACIV é um bom jogo para passar nas suas 20 horas de enredo principal e mais umas quantas de missões secundárias a beber rum, pilhar navios e espalhar o caos… virtualmente, claro!
- ProdutoraUbisoft Montréal
- EditoraUbisoft
- Lançamento29 de Outubro 2013
- PlataformasPS3, Xbox 360
- GéneroAventura
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Mundo Enorme para explorar!
- Todo o "glamour" dos Piratas das Caraíbas
- Batalhas Navais são intensas e espectaculares
- Multiplayer continua aborrecido
- Enredo paralelo da Abstergo
- Gráficos não impressionam
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.