September 21st, 2013 @ 17:46:50

Análise: Battlefield 4

Há jogos assim. Que marcam o seu género. Uns por delinear a jogabilidade, outros pela revolução na sua lógica. Só uma série se pode gabar de estabelecer ambos os padrões. Battlefield 4 é a quarta parte de uma longa história de grandes jogos de acção na primeira pessoa, pela mão da DICE e é o grande jogo Electronic Arts deste ano. Vejam como a partir de agora será muito difícil outro jogo fazer frente a esta série. 

Num mundo em que várias potências disputam a hegemonia política e militar, a China divide-se num golpe militar e as tensões entre EUA e Rússia disparam. Seis anos depois dos eventos de Battlefield 3, em que uma bomba nuclear foi despoletada em Paris, os três países entram em guerra. Quem mais que a “polícia do mundo” para se fazer ao mar com os seus Marines para tentar controlar a situação? O Esquadrão Tombstone é destacado para Baku no Azerbeijão, para tentar obter informações sobre as movimentações de Pequim e Moscovo mas, no rescaldo da missão com perdas importantes, os Marines passam a estar no centro de uma conspiração que envolve a CIA e os serviços secretos Chineses.

Pela primeira vez na série, o enredo do modo carreira de Battlefield 4 é realmente bem estruturado. Há lugar para algumas surpresas pelo meio, algumas reviravoltas e o excelente casting de actores que evitam ao máximo os clichés do costume, tornam os diálogos interessantes. Só tenho pena que a personagem que encarnamos, o Sargento Daniel “Reck” Recker, esteja mudo todo o jogo. Mas podemos até imaginar que o homem está tão concentrado que não tem tempo para falar. Outra coisa menos boa é a duração da campanha, curta, apenas com 5 horas em média.

O que salta bem à vista no modo campanha é a nova jogabilidade. Claramente inspirado no modo multijogador, o interface agora contempla elementos de interacção e comando. Por exemplo, recorrendo a binóculos electrónicos podemos não só comandar a unidade Tombstone para atacar alvos, como “iluminá-los” para ataques de artilharia ou de unidades aéreas. Isto confere ao jogo uma excelente componente táctica em que podemos ordenar à equipa que faça fogo de cobertura para podermos flanquear os inimigos, por exemplo. Ou no caso de precisarmos de recuar ou mudar de carregador, não estaremos sós. Tenho, no entanto, de ser honesto: o facto de ter sido inserida esta nova lógica trocou alguns dos comandos de uma forma que me descontrolou completamente e infelizmente não podemos usar os mesmos comandos de Battlefield 3. Não é um ponto negativo, mas é uma chatice. Requer hábito.

Além desta nova lógica táctica, tal como no multiplayer, os mapas do modo carreira são vastos e cheios de obstáculos, pontos de cobertura, explosivos espalhados aleatoriamente e veículos. Podemos simplesmente pegar num buggy e acelerar até ao ponto de objectivo, ou para os mais exaustivos, avançar ponto a ponto a pé. Contudo, não se admirem de ver um tanque pelo caminho que é preciso destruir procurando um RPG. Já agora, falando de armas. Todas as armas do modo carreira são coleccionáveis e passíveis de modificação. Ao contrario do jogo anterior, em BF4 existem caixas de armas e explosivos em que podemos personalizar o transportamos. É uma excelente ideia de personalização. E ao longo do jogo vão encontrando no chão armas raras ou vão desbloqueando outras novas por missão. Apenas gostaria de poder colocar extras como miras, pegas ou outros acessórios. São sensivelmente 5 horas de campanha e rapidamente vamos querer dar o salto para o modo competitivo mas já lá vamos.

Se há algo em que a DICE é reconhecida, é pela qualidade dos seus motores gráficos. Não! Ainda não jogámos na PS4 mas jogámos este jogo no PC e depois na PS3 e só podemos dizer que pelo menos na versão PC, este jogo é uma obra de arte. O motor gráfico Frostbite 3 é uma obra de engenharia que mete bastante inveja por aí. Estamos a falar num jogo de PC que por vezes chega a parecer um vídeo real. Há cenas de cortar a respiração, por exemplo quando, a bordo do navio USS Valkyrie, olhamos para o mar e ficamos arrebatados pela visão de Xangai ou quando corremos pelas praias de Baku onde tudo, ou quase tudo, é destrutível.

Não obstante, há ainda mais que deslumbra neste jogo. O já mencionado casting de vozes é apenas uma pequena parte do excelente áudio deste jogo. Nunca antes tiros, explosões, gritos e outros efeitos sonoros estiveram tão bem representados num videojogo. Os sons dos motores dos veículos são autênticos, os ruídos próprios dos equipamentos dos soldados quando correm são realistas e até mesmo os silvos das balas a passarem por nós, arrepia qualquer um.

Nota importante. A DICE removeu o famigerado efeito de “blur” da supressão. Em BF3 quando alguém disparava na nossa direcção, mesmo sem acertar, criava um efeito de “supressão” que desfocava a imagem e impedia precisão. Agora apenas perdemos a precisão porque a cada tiro próximo a arma foge do alvo, obrigando-nos a procurar abrigo.

Porém… na Playstation 3, que também analisámos, BF4 não passa de um update de BF3. Aliás, arriscaria dizer que há mesmo um retrocesso no motor Frostbite 3 nesta consola comparando as versões dos dois jogos, o que não faz muito sentido. Por exemplo, a água em alguns mapas do modo multijogador parece uma geleia verde-escura. Aqui e ali há problemas de optimização dos gráficos criando texturas indefinidas ou objectos facetados. Há uma séria vontade de fazer algo significativo mas talvez a PS3 não deixe, tornando-se um claro contraste com a versão PC. Felizmente que quem comprar a versão PS3 tem um voucher para adquirir a versão PS4 a um preço acessível e para onde pode transitar os seus dados todos, (single e multiplayer).

E agora vamos aqui falar do que realmente define Battlefield: o seu modo multi-jogador competitivo. Com tanta oferta mais ou menos semelhante, cabe a BF4 apresentar algo de novo que, tal como no jogo anterior, represente o novo Benchmark dos jogos de acção na primeira pessoa. E assim acontece com este quarto capítulo. Devo informar que à data desta análise, o jogo apresenta diversos problemas na plataforma PC com muitos bloqueios e “crashes”. A versão PS3 também não está isenta de problemas a encontrar servidores ou com atrasos a entrar nas sessões, quebras de performance e “freezes”. A DICE já anunciou que está a prestes a lançar um pacote de correcções. Se bem me recordo, também aconteceu o mesmo no jogo anterior e, no fim, muita coisa acabou corrigida.

Há muitas e boas novidades no modo competitivo. Começo por falar em dois modos novos de jogo que estão a fazer sucesso no online. Além dos incontornáveis modos Conquest, Rush e Squad Rush que regressam em força, os modos Deathmatch, Team Deathmatch e Squad Deathmatch regressam também e trazem consigo o modo Domination, estreado num DLC de BF3. Todavia são Defuse e Obliteration que inserem uma nova jogabilidade. No primeiro cada equipa tem um objectivo para defender e uma bomba para colocar no objectivo adversário. Cabe a cada equipa gerir o ataque e defesa e neste modo não há respawn. Em Obliteration a lógica é a mesma só que há respawns e só uma bomba, aparecendo aleatoriamente no mapa e é comum às duas equipas.

Os modos de jogo do multiplayer são intensos e os mapas gigantes. Novamente para PC temos 64 jogadores (32 x 32) em simultâneo em determinados modos e mapas maiores (Conquest por exemplo), enquanto que na PS3 ficamos pelos 24 (12 x 12), embora na PS4 serão também 64 jogadores. Na maioria dos 10 mapas há veículos específicos, desde aviões, helicópteros ou lanchas, mas também jipes e blindados. É aquilo que só acontece no Battlefield… 64 jogadores a pé, no ar, no blindado ou no barco em guerra aberta.

Uma novidade interessante é a progressão dos jogadores. Continuamos à mesma a partir com muito pouco e a evolução e novidades surgem por… jogar… Quanto mais jogarmos e melhorarmos mais pontos de experiência ganhamos e isso traduz-se em novas armas e novos extras, como miras, supressores, canos para as armas, mas também especializações e “gadgets” para cada classe. As quatro classes estão agora bem mais refinadas sendo possível que, por exemplo, todas as classes possam ter armas de assalto, mas especializam-se em determinados tipos. Por exemplo o Engenheiro favorece armas mais ligeiras por carregar mísseis anti-tanque e o Batedor irá privilegiar as armas sniper. Porém, com a progressão, essa lógica pode ser alternada com outro tipo de armas mais indicadas para assalto ou mais ligeiras para espaços confinados.

Naquilo que a DICE chama de “Levolution”, são introduzidas duas novas lógicas de progressão. Uma são os battlepacks e tratam-se de pacotes de “goodies” que podemos desbloquear ao longo da carreira. Podem ser extras de armas ou bónus de progressão, por exemplo +50% de Experience Points por tempo limitado. Estes packs também podem ser adquiridos através de promoções ou packs especiais como o Battlefield Premium. Suspeito que um dia também possam ser comprados com dinheiro real. Veremos.

Outra novidade são as “Missions”. Resumidamente, podemos desafiar os nossos amigos (via Origin) para atingir um objectivo que nós delineamos, seja o melhor atirador, o melhor na sua classe ou o melhor especialista em determinadas armas, escolhendo também o mapa onde isso deverá acontecer e quantas tentativas dispomos. Depois é convidar amigos a tentar. O vencedor recebe pontos e dog tags personalizadas.

Contudo, as maiores novidades do modo multi-jogador são as duas coisas que vou agora mencionar. O modo Commander, que foi introduzido há uns anos em Battlefield 2142 e regressa agora em toda a sua glória e o novo Battlelog.

O modo Commander é uma espécie de modo estratégia para os que desejam transformar o Battlefield 4 num jogo de Real Time Stategy. Infelizmente ninguém se pode especializar porque não só existe apenas uma vaga por facção, como só está disponível a partir do nível 10 na evolução do jogador. Neste modo, o Comandante possui todo o mapa de jogo à disposição, actualizado em tempo real, e um conjunto de ferramentas para comandar as suas tropas em campo. Mas, apesar de poder comandar e de ver todas as posições, o Comandante tem de gerir bem a equipa e liderar como deve ser ou então pode gerar um motim. Se todos os líderes das squads votarem, ele pode ser expulso do servidor. Ao todo, o modo Commander possui três níveis de interacção: Reconhecimento, Planeamento e Ataque. Ou seja, o Comandante tem de vasculhar o terreno por ameaças, comandar as tropas e em última instância, disparar mísseis ou ordenar bombardeamentos. O que é interessante nisto tudo, é que este modo pode nem ser jogado na consola ou PC. Pode ser jogado num tablet no café da esquina!

Como no Battlefield 3, este jogo é inteiramente suportado pela poderosa plataforma online chamada Battlelog. Trata-se uma página web onde podemos acompanhar o progresso, rever jogos, conferir estatísticas, planear kits, criar Missions entre outras coisas. Mas o novo Battlelog dá um passo gigante, sobretudo nas consolas nesta versão. Agora já é possível interagir completamente com o jogo a decorrer, seja no PC, seja nas consolas. Com um clique do rato posso, por exemplo juntar-me a um servidor ou mudar o meu kit… em tempo real. Posso até enviar mensagens dentro do jogo ou até consultar o perfil de quem joga comigo. E mais! Quando a PS4 for lançada, irá haver entre outros, um módulo que me permite ver o mini-mapa no tablet ou PC fora do ecrã do jogo. Simplesmente genial.

Veredicto

Muitas das novidades que apresentei, foram evolução do feedback da enorme comunidade online de Battlefield. Outras tantas foram resultado da forte convicção da DICE de produzir o jogo que todos queriam jogar. Battlefield 4 não é perfeito. Mas é um passo em frente, uma evolução e tem muitas novidades. Não é todos os dias que uma série de sucesso se esforça por não se repetir com jogos clonados das versões anteriores. Battlefield 4 é muito mais que uma colecção dos jogos anteriores. Só as novidades do multijogador dão a nota ao jogo. Infelizmente o modo campanha é curto e há algumas questões que certamente levarão tempo a corrigir. Em contrapartida, temos em mãos um jogo que eleva tanto a fasquia que penso que só Battlefield 5 vai conseguir ultrapassar.

  • ProdutoraDICE
  • EditoraElectronic Arts
  • Lançamento31 de Outubro 2013
  • PlataformasPC, PS3, Xbox 360
  • GéneroFPS
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Versão PS3 algo fraca
  • Campanha curta
  • Alguns problemas técnicos

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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