Análise: Broken Sword 5: The Serpent’s Curse
O regresso de Broken Sword, muito desejado pelos fãs, marca um retorno aos cenários pintados à mão e a duas dimensões. Estão prontos para resolver o estranho mistério de um assassinato relacionado com o roubo de uma obra de arte? A análise WASD a um dos maiores lançamentos para PC dos últimos meses, agora com o lançamento completo de toda a história desta quinta aventura de George Stobbart em perspectiva.
Na era de Ouro dos jogos point-and-click surgiu um franchise que mudaria a história de como se contavam as estórias no mundo dos videojogos. Depois de êxitos como Indiana Jones and the Fate of Atlantis (1992), Gabriel Knight: Sins of the Fathers (1993), Beneath a Steel Sky (1994), Full Throttle (1995), o mundo viria a conhecer Broken Sword: The Shadow of the Templars pela mão da Revolution Software que, na altura, estava integrada na gigante Virgin Interactive.
Corria o ano de 1996 aquando do seu lançamento e os críticos aclamavam Broken Sword como a melhor aventura gráfica até à data. As aventuras de George Stobbart e Nico Collard ainda conheceram mais três sequelas até 2013: The Smoking Mirror; The Sleeping Dragon; e The Angel of Death. Os dois últimos jogos da série acabaram por abandonar o 2D clássico, seguindo a tendência do final dos anos noventa e Broken Sword transformar-se-ia num franchise em 3D. Os fãs mais aguerridos acabaram por, aos poucos, abandonar a série e acusavam o 3D de ser o maior culpado pelo seu declínio comercial, facto reconhecido pelos criadores de Broken Sword.
Em 2012 foi finalmente anunciado o quinto jogo da série com o título Broken Sword 5: The Serpent’s Curse e, após financiamento conseguido através da plataforma de crowd funding KickStarter, o jogo conheceu a luz do dia em 2013.
Desta vez, George Stobbart arranjou emprego como agente de seguros de obras de arte e está na inauguração de uma exposição onde, durante um assalto para levar a obra de arte ‘La Maledicció’, acontece um assassinato. Aqueles que se lembram dos jogos antigos sabem que um bom Broken Sword tem de começar assim para depois despoletar e estender os braços das suas ramificações por acontecimentos inesperados que nos levam a visitar vários locais pelo mundo fora. Assim acontece neste jogo também com o jogador a visitar Paris, onde tudo começa, assim como Londres, a Catalunha e o Iraque.
Sem revelar muito do que acontece, fiquem a saber que este Broken Sword 5 ronda à volta dos evangelhos gnósticos, não reconhecidos pela Igreja Católica, e que, segundo a mesma, lidam com conhecimentos delicados que não deviam ser tornados públicos e muitas vezes até conotados de “conhecimentos satânicos”. É uma boa alternativa ao tema templário já fortemente espremido por Dan Brown e o seu Código Da Vinci e que muita gente chegou mesmo a pensar que tivesse sido baseado no jogo criado por Charles Cecil em 1996 e o primeiro da série Broken Sword. Rumores à parte, o tema das escrituras gnósticas é ainda tabu para muitos historiadores e religiosos e Charles Cecil arranjou aqui, com Broken Sword 5, a maneira ideal de desmistificar o assunto e de trazer nova atenção.
O regresso de George Stobbart nunca seria o mesmo se com ele não viesse também no elenco a sua colega francesa de aventuras, a jornalista ‘Nico’ Collard. Ambas as personagens passam pelo controlo point-and-click do jogador e, apesar do aspecto em alta definição deste novo Broken Sword, parece que nunca deixámos o ano longínquo de 1997 quando The Smoking Mirror saiu, marcando a última entrada da série em 2D até ao lançamento desta quinta sequela.
A nostalgia está lá, assim como a clássica voz de George Stobbart protagonizada por Rolf Saxon, o actor que tem encarnado vocalmente a personagem durante toda a série e que, sem o seu contributo, não seria o mesmo. Com ele volta também, como compositor da banda sonora original desta quinta entrada na série, Barrington Pheloung, que já havia estado encarregue do trabalho musical do primeiro jogo.
E para que o regresso da série seja do agrado dos fãs mais saudosistas dos primeiros dois jogos da série, voltam também os cenários pintados à mão da romântica Paris ou da cinzenta Londres. Os modelos das personagens, embora trabalhados a três dimensões, encaixam na perfeição no mundo 2D que vibra com as cores dos cenários.
A jogabilidade é aquela que podem esperar de um Broken Sword baseado nos antigos point-and-click. Regressam os puzzles meticulosos onde, só depois de cumpridos todos os passos, consegues chegar ao objectivo que desbloqueia toda a narrativa. É curioso que me lembro de, durante o primeiro jogo, recorrer a alguns guias para solucionar alguns puzzles mais complicados. A Revolution Software pensou em azelhas como eu e incorporou no jogo um inovador sistema de pistas, acessível através do menu no topo do ecrã. Este sistema começa por nos dar simples dicas e, caso isso não chegue para solucionar o nosso problema, vai evoluindo à medida que carregamos ‘next hint’ até nos dizer, efectivamente, a solução do puzzle. É uma opção que só usa quem quer mas que, de qualquer das formas, evita o problema de ter de recorrer a guias online.
No menu de opções podemos ainda selecionar se queremos jogar com alguns ajustes para que o jogo ainda se assemelhe um bocadinho mais aos clássicos da série: podemos jogar com o UI clássico em vez de uma versão mais moderna; assim como podemos optar por colocar as legendas da maneira clássica às cores em vez do balões da fala com um estilo mais banda desenhada que o jogo já traz. São pequenos pormenores que, normalmente, fazem toda a diferença para quem gosta de um sentimento nostálgico.
Este Broken Sword traz também a sensação ‘zen’ que os primeiros dois jogos da série emanavam. Por vezes os jogos, embora lidem com temas delicados, tornam-se demasiado sérios e em vez de servirem para nos libertar dos stresses do dia-a-dia acabam por nos colocar ainda mais tensos. Apesar da narrativa deste jogo começar com um assassinato e de tudo rodar em volta de uma enorme cospiração internacional, o jogo esforça-se por manter uma ‘boa onda’ que faz cada vez mais falta nos jogos de hoje que insistem demasiado em explosões e momentos exageradamente dramáticos.
A própria passada da narrativa é lenta, o que até pode ser visto como um ponto negativo, mas vai acelerando à medida que as sete a oito horas de jogo do primeiro episódio se aproximam do fim. E este é o maior defeito que consigo achar neste quinto jogo da série Broken Sword: o facto de ter vindo dividido em dois episódios, à semelhança do que a Telltale tem vindo a fazer com os jogos The Walking Dead e The Wolf Among Us.
Até chegar ao final do primeiro episódio admito que ainda não me tinha apercebido que o jogo assim vinha dividido até porque, para quem está habituado aos outros jogos da série, é algo nunca visto. Diga-se de passagem que, do ponto de vista do jogador, a altura em que o primeiro episódio acaba acontece precisamente no momento de maior tensão e climax até então. Felizmente, no dia 16 de Abril, o segundo episódio foi lançado e não ficámos, de forma alguma, desapontados. A narrativa vai sempre carregando com mais força no acelerador até culminar num final explosivo. Quem for agora pegar pela primeira vez em Broken Sword 5: The Serpent’s Curse nem vai reparar que a história se encontrava dividida em duas partes. No total, o jogo dura à volta das 14/16 horas que, obviamente, podem ser encurtadas se recorrermos ao sistema de hints incorporado no jogo.
Durante toda a primeira passagem pela história do primeiro episódio de Broken Sword 5 só encontrei uma pequena falha técnica em que Nico começou a flutuar pelo cenário até chegar ao ponto onde iria parar e alguns bugs e glitches menores. Sinceramente, nada de grave que não possa ser corrigido com um pequeno update. Já o segundo episódio pareceu-nos imaculado do ponto de vista técnico.
Veredicto
Jogar este Broken Sword 5: The Serpent’s Curse faz-nos lembrar como é ler um bom livro de banda desenhada com um excelente trabalho de ilustração. Este era um dos regressos do ano 2013 que mais ansiávamos e não desapontou. Acompanhamos a saga Broken Sword desde 1996, quando o primeiro jogo saiu e esta quinta aventura de George Stobbart e Nico Collard é um sério regresso às origens e uma brilhante resposta a tudo aquilo que os fãs têm vindo a pedir à Revolution Software. É certo que a história demora a arrancar mas cada momento é bem passado com diálogos inteligentes e bem humorados. A espera pelo segundo episódio demorou quatro meses mas a narrativa completa de Charles Cecil não desapontou, as aventuras de George Stobbart continuam a ser uma ode à construção inteligente de uma narrativa na indústria. Por isso mesmo, somos obrigados a subir a nota depois da conclusão da história e consideramos este regresso de um clássico dos point-and-click digno de uma das melhores notas que já demos nestes primeiros meses de 2014. No final, acabámos quase convertidos ao gnosticismo.
- ProdutoraRevolution Software
- EditoraRevolution Software
- Lançamento4 de Dezembro 2013
- PlataformasAndroid, iOS, Linux, Mac, PC, Vita
- GéneroAventura, Puzzle
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Tema central das escrituras gnósticas
- Cenários pintados à mão
- Retorno à jogabilidade clássica
- Sensação 'zen'
- Glitches Menores
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.