Dota 2

Fazer uma sequela de um mod de qualquer jogo só seria possível quando falamos do sucesso que foi o battle arena mod Defense of the Ancients (Dota) de Warcraft 3. Será que a Valve, com o free-to-play Dota 2, esteve à altura de uma responsabilidade tão grande como esta?

Originalmente, Defense of the Ancients (Dota) era apenas um battle arena mod de Warcraft 3 que ultrapassou todas as expectativas e, acima de tudo, criou um género, o multiplayer online battle arena (MOBA), ao influenciar dezenas de jogos lançados nos anos seguintes (incluindo o aclamado League of Legends). Entretanto, em 2009, parte do staff do mod original foi contratado pela Valve e em 2010 anunciariam a primeira sequela stand alone, Dota 2, lançado este ano como free-to-play através da Steam, após muitos meses em fase beta.

Dota 2 coloca-te numa batalha entre duas equipas, a Dire e a Radiant, compostas por 5 jogadores cada, num mapa composto por três linhas de torres defensivas (top, middle e bottom) até chegar ao objectivo final, a fortaleza de cada equipa, referida como Ancient. Parece uma fórmula simples mas que, com o passar das horas em Dota 2, se revela incrivelmente complexa.

Em campo podes controlar um de 102 heróis que escolhes antes de entrar. Sempre que começas um jogo, a tua personagem encontra-se em nível 0 e vais nivelando e aumentando a tua experiência conforme a tua proximidade com os combates e as mortes que consegues. Podes também contar com poções de regeneração de HP e MP e ainda equipamentos que melhoram as tuas capacidades compradas na loja normal ou ainda alguns itens comprados nas lojas secretas. Como teus companheiros de batalha vais ter, para além dos jogadores da tua equipa, os creeps que são as mobs produzidas pelas tuas barracks que avançam em correntes sucessivas pelo campo . Estes creeps desempenham ainda um papel fundamental no controlo que tens do jogo visto que muitas das vezes és obrigado a sacrificar os teus próprios creeps para evitar que a equipa inimiga ganhe tanta experiência e ouro. Cada jogador deve desempenhar vários papéis em campo: lane support; carry; disabler; ganker; nuker; initiator; jungler; pusher; roamer; e durable. Desta mistura de muitos elementos resulta uma experiência complexa, equilibrada mas, acima de tudo, épica.

Antes de entrar em lista de espera para um jogo certifica-te que tens pelo menos 30-40 minutos livres já que, normalmente, uma partida de Dota 2 não dura menos que isso. Contudo, não contes entrar neste Dota 2 como quem entra em mais um lançamento anual de um FIFA ou PES: este MOBA tem uma das maiores curvas de aprendizagem já vistas e podes contar com as tuas primeiras horas em jogo a serem passadas no modo de tutorial, muito bem conseguido, que te ensina inclusive como desempenhar alguns dos aspectos mais complicados do jogo como são exemplo os denials. Para complementar deves passar mais uma mão cheia de horas a ver jogos no spectator mode e dar uma vista de olhos às jogadas dos melhores competidores do mundo. Caso contrário, bem podes contar ouvir uma série de insultos da já implacavelmente famosa comunidade do Dota 2. Um passo em falso neste jogo pode significar a derrota da tua equipa.

A Valve esforçou-se por conseguir um sistema que permitisse melhorar esse aspecto da comunidade e deu aos jogadores a capacidade de elogiarem os jogadores que façam por melhorar o ambiente de jogo através do comando Commend. Para o inverso, a Valve permite aos jogadores denunciarem outros jogadores através do comando Report. O sistema de matchmaking baseia-se depois neste sistema e coloca os jogadores com melhores Commend’s juntos na mesma equipa e vice-versa. Este sistema influencia também o tempo de espera para cada partida.

Um dos maiores atractivos de Dota 2 é o facto de se basear no modelo free-to-play sendo que logo desde início tens à tua disposição todo o conteúdo, incluindo a gama completa de heróis do jogo. Traduzindo por miúdos, o único conteúdo que te exige alguma espécie de micro-transacção é meramente estético e não tem qualquer tipo de influência nas tuas capacidades no jogo, não sendo por isso possível que alguém, por gastar mais dinheiro na online store, seja colocado em vantagem face a quem não gaste.

A Valve consegue com Dota 2 aquela que é, muito provavelmente, a melhor experiência Player versus Player desde o primeiro Guild Wars. Composto por três fases principais de jogo (laning, ganking e push), cada decisão mal tomada tem um peso extremo no resultado final e cada jogo é diferente independentemente de só existir uma arena. Algo que em muito se deve à enorme panóplia de heróis à disposição da escolha do jogador e às suas especificidades inerentes.

Está ainda repleto de outros pequenos pormenores que enriquecem a experiência de jogo como são disso exemplo: a corneta que toca com um som arrepiante a 10 segundos da partida começar; o brilhante voice acting com a singularidade de cada herói bem expressa nas 102 vozes; podes ainda partilhar HUD’s ou diferentes locutores para o teu jogo com os teus membros da party, sendo inclusive possível comprar na store de Dota 2 a voz do narrador de Bastion, Rucks (Logan Cunningham), para substituir o locutor predefinido.

Veredicto

Dota 2 é um daqueles jogos que assim que o começamos a jogar nos dá a percepção que veio para ficar. Rapidamente vês-te a voltar ao jogo vezes sem conta, nem que seja só para ver uma partida de Dota enquanto comes o pequeno almoço. A Valve apostou forte neste free-to-play e a recompensa que receberão será a de que daqui a uma série de anos ainda terá jogadores a jogar a este brilhante MOBA. A complexidade enriquece-o mas é também esmagadora quando leva a que quem já o compreenda no seu todo não tenha por vezes a paciência para suportar os erros de quem acaba de chegar. Embora se demore a escalar a montanha de aprendizagens necessárias para que se consiga ser um bom jogador em Dota 2, a experiência recompensa e o resultado é um jogo de estratégia meticulosamente bem feito e que, para além de tudo, transcende o rótulo de ‘jogo’ ou ‘MOBA’ e se transforma num desporto de massas.