Simuladores: PMDG Boeing 737NGX
A essência dos simuladores de voo são os seus produtos extra comprados à parte, conhecidos no meio como Addons. Sejam cenários de regiões ou aeroportos, sejam aeronaves mais ou menos complexas, ninguém que goste de Simuladores fica indiferente aos extras que podemos comprar e adicionar para dar mais realismo. E nenhuma outra empresa dedicada à concepção de addons goza de tanto prestígio como a PMDG. E há um motivo para isso: O selo “Boeing Official Product” diz muito da qualidade do PMDG Boeing 737NGX que analisámos no Flight Simulator X.
Desde há alguns anos para cá que a PMDG tem vindo a ditar no mercado o que é o Standard nos addons para o FSX. Não bastam os modelos de aviões serem bonitos, é preciso que sejam funcionais mas é ainda mais essencial que sejam realistas. O primeiro avião da PMDG a ganhar prémios foi mesmo o primeiro PMDG 737NG lançado na altura para FS2004. Apesar da limitação desse primeiro addon dedicado ao Boeing 737 Next Generation, era evidente que esta nova versão para FSX teria de igualar e superar a qualidade desse addon, mesmo tratando-se do mesmo lote de modelos do avião real, embora muito tenha acontecido ao Boeing 737 NG desde essa primeira versão. Muitos parâmetros da programação de voo e procedimentos foram alterados. Novas funcionalidades como o fantástico Heads Up Display (HUD) foram implementadas. A PMDG tinha agora o selo de aprovação da Boeing com os já lançados Boeing 747-400 e MD-11. A fasquia estava ainda mais alta.
Mas é assim a PMDG. Com cada novo produto conseguem superar-se e bastou a primeira abordagem a este novo aparelho para perceber isso mesmo. Os modelos disponíveis estão divididos em dois pacotes. O Boeing 737NG possui quatro variantes de peso, alcance e capacidade. O Boeing 737-600 e 737-700 é um pacote disponível apenas por Download, enquanto que os 737-800 e 737-900 estão disponíveis por Download ou em caixa. Com a excepção do -600, existem ainda as opções com e sem Winglets (aquelas pequenas “asas de frango”, nome altamente científico dado por um amigo meu, quase verticais nas pontas das asas principais), estas últimas características da versão NGX da Boeing. Todos os modelos PMDG são rigorosos e fantasticamente detalhados. Só tenho pena de ter de comprar dois produtos em separado e não ser possível adquirir um bundle com os dois. Convenhamos que o preço de qualquer PMDG é algo elevado e se tivermos de comprar dois pacotes, esse preço torna-se quase absurdo. Mas a qualidade paga-se! E depois desta análise irão ver porque custa tanto.
Os modelos de voo e respectiva performance correspondem perfeitamente às tabelas dos respectivos aviões reais. Tive o cuidado de efectuar alguns testes dinâmicos seguindo o manual oficial da Boeing (Tabelas de Performance) para confirmar isto mesmo. Tirando algumas limitações do próprio Flight Simulator X, este avião cumpre à risca as limitações operacionais. Cheguei até a efectuar operações em aeródromos em altitude e em temperaturas do ar elevadas para verificar as distâncias mínimas de descolagem, pesos, centros de gravidade e outros parâmetros. Por exemplo, os modelos com Winglets possuem mesmo a percentagem de melhoramento de performance que os demais não têm. Acreditem em mim… é muito preciso!
Olhando para cada um dos modelos incluídos, é impressionante o nível de detalhe. Desde o trem de aterragem detalhado até às nervuras das asas, nada foi deixado ao acaso. Aliadas aos modelos detalhados estão as pinturas que a PMDG disponibiliza no seu website. Companhias de todo o mundo que operam o Boeing 737NG estão na sua maioria representadas. As que não estão, acabam por ser criadas pelos entusiastas em sites como a AVSIM ou outros. As texturas acabam por acrescentar ainda mais detalhes aos modelos, com marcações na fuselagem e outros pormenores.
Uma das opções que estão disponíveis nos CDU’s (já explico o que são, não se assustem que não são partidos políticos) é a possibilidade de abrir as portas (todas as de passageiros e cargo) e ainda activar as escadas eléctricas embutidas por baixo da porta L1. Interessante para aeródromos sem equipamento de terra. Mas há mais. Ao optarmos por ligar unidades de terra (energia ou ar-condicionado), os geradores são modelados! Apenas mais um mimo da PMDG para os entusiastas que gostam de ser envolvidos neste “espírito”.
Tenho de assinalar que a PMDG colocou muitas horas de trabalho nestes modelos, desenhados a partir de esquemáticos da própria Boeing. Todas as animações características das superfícies de controlo, portas, trem de aterragem e até mesmo calços e tampas de tubos pitot estão lá. Até mesmo a posição das luzes de navegação e iluminação estão posicionadas correctamente. As luzes de aterragem, por exemplo, são divididas em dois pares, um fixo na raiz das asas e outro retráctil na barriga. De notar que à noite estas luzes iluminam correctamente o chão, inclusive o efeito de strobe e o reflexo das luzes de navegação.
Mas não foi só nestes pormenores que se esmeraram. Além do fabuloso exterior e detalhado cockpit, que já vos vou descrever, o som dos aviões foi gravado directamente dos aparelhos. Tanto o som exterior como o interior é soberbo e quem já voou nestes aviões, sobretudo quem teve o privilégio de voar no cockpit, vai sentir a diferença. Além dos sons de cockpit, há também o som das rodas no chão, os flaps a subir ou descer, os diferentes sistemas de refrigeração e até o gerador auxiliar ou APU (que tantas vezes é mal representado), que só se ouve no exterior como é na realidade. Genial.
Mas vamos ao que interessa: os sistemas! A PMDG já nos habituou à ideia que tudo, mesmo tudo, o que seja essencial à operação funciona e nestes complexos aviões tem de estar presente com fidelidade. Só que, entretanto, acabam por dar um salto além do esperado. Como seria de esperar, todos os painéis são funcionais incluindo o MIP (Main Instrument Panel, o painel principal do avião), Overhead (os painéis acima da cabeça dos pilotos), Dual FMS (dois computadores de bordo para comandante e co-piloto) e Pedestal (consola central). Podemos escolher entre diversas opções de equipamento, desde os diferentes controlos de piloto automático (Honeywell ou Rockwell Collins), configurações dos painéis (PFD/ND ou EFIS Clássico) e outras opções, mas no final, nada como o Honeywell e o tradicional PFD/ND. Sejam qual forem as opções que escolham, a precisão é constante.
Os painéis permitem, então uma operação completa graças aos dois CDU (Control Display Units, pequenos computadores com teclado para gestão do voo, nada a ver com partidos políticos) que permitem o acesso ao complexo FMS (Flight Management System, o sistema de controlo de voo) onde programamos todos os pormenores da rota e da performance do avião. Não vou ser muito extenso na explicação do CDU porque podia correr o risco de vocês adormecerem a ler. Saibam apenas que os dois CDU permitem operação distinta (não são clones, portanto) e são completos, ao ponto de possuírem operações que o próprio FSX não contempla e que a PMDG programou fora do ambiente do simulador.
O que é interessante, mesmo, é a lógica da PMDG de limitar ao máximo a interacção fora do avião. Para isso, os mesmos CDUs possuem dois menus especiais que inibem o uso dos menus do FSX. Desde personalizar a carga, combustível, ligações à terra (como já expliquei, podemos ligar unidades de terra como energia ou ar-condicionado), pushback, abrir ou fechar portas, entre tantas outras operações são possíveis de executar num ou nos dois CDU. Um outro menu permite personalizar o aparelho como já explicámos e vai até ao ponto de escolhermos as unidades de medida (métricas ou imperiais) e os níveis de simulação mais realistas ou mais fáceis (por exemplo, alinhar as inércias deste avião, que já irei explicar o que é, demora um pouco mais de 10 minutos, há pessoas que não querem esperar, pronto).
Para explicar o nível de simulação deste addon, nada como efectuarmos um voo. De acordo com os meus conhecimentos, apenas duas companhias aéreas Portuguesas operam o Boeing 737NG e infelizmente nenhuma possui uma pintura decente disponível online. Resolvi optar por uma simpática pintura da própria Boeing, aplicada nos primeiros modelos do 737NG e que até possui o famoso Trailing Cone usado durante os testes de produção.
O voo que vou efectuar foi realizado recorrendo às Normal Procedures contidas no QRH (Quick Reference Handbook, manual de referência rápida que contém todos os procedimentos do Boeing 737NG) do Boeing 737-800 da própria Boeing. Notem que não usei o manual da PMDG, para que possam notar o nível de precisão.
Vou efectuar um voo desde o Aeroporto de Faro (LPFR) até ao Aeroporto do Porto (LPPR) a bordo do Boeing 737-800 sem Winglets. Mais uma vez vou tentar não ser muito exaustivo a bem da vossa paciência e, ao invés de explicar cada passo, vou assinalar as coisas que mais me impressionaram nas diferentes fases.
Tudo começa com o avião a desligado e frio. Na gíria aeronáutica, chama-se a este estado de Cold & Dark. Na realidade, quase nunca o piloto de uma companhia aérea encontra o avião neste estado, excepto se está parqueado (expressão aeronáutica, não é um erro gramatical) ou pernoitou no aeroporto em questão. Geralmente o piloto encontra o avião energizado (nova expressão aeronáutica, não me digam que é erro, eu não tenho a culpa) e pronto a operar, bastando prepará-lo para o voo em si. No entanto, vamos partir do avião realmente desligado e frio como tanta gente gosta de fazer e exige às produtoras que seja possível.
Ligo a bateria e os disjuntores de energia, com o painel superior a acender uma série de luzinhas. Muita gente me diz que parece uma “árvore de Natal”. Abstenho-me de comentar. O CDU acende também, aproveito e selecciono ligar as unidades de energia e ar-condicionado do chão para poupar combustível e não usar o meu gerador auxiliar. O alinhamento das inércias (Inertial Reference System ou IRS, só que eu prefiro chamar “inércias”… IRS não me soa bem, não sei porquê…), um sistema de sensores que permitem ao avião saber onde está usando GPS e outras informações, é feito como na realidade, cerca de 10 minutos. Aproveito esse tempo para configurar o avião. Hoje vou levar uma carga e passageiros mediana e como a distância é curta opto por colocar os tanques das asas com combustível suficiente para duas horas de voo mais contingências e deixar o tanque central vazio. O cálculo do peso bruto (Gross Weight) e peso sem combustível (Zero Fuel Weight) está dentro dos limites operacionais.
A programação do voo é rápida dada a curta distância da rota. Notem que vou usar informação real que os pilotos reais usam para programar rotas. Algo que só é possível fazer com addons deste calibre. Escolho pontos de partida (SID) para a pista 28 de Faro e viro para Norte na direcção de Odemira. Depois viro para o Cabo Espichel e depois directo para Fátima onde está uma radio ajuda. Depois escolho a chegada ao Porto que, segundo a meteorologia, me obrigará a aterrar de Norte para Sul na pista 17. Isto porque, caso não saibam, os aviões aterram sempre contra o vento… Aprendi isto ontem (estou a gozar, não se preocupem passageiros!). De notar que o tempo está agradável, sem grande turbulência ou ventos fortes. A visibilidade só está menos boa na zona de Lisboa, mas vamos passar por cima.
Demorei cerca de 40 minutos a preparar o voo e a rever meteorologia. Seguir os procedimentos todos e checklists demora algum tempo. Além disso é preciso fazer cálculos. Rapaziada, não digam que a Matemática não serve para nada… a sério.
Motores ligados, faço o taxi (gíria para o movimento do avião no chão para os parques ou pistas), testo as superfícies de controlo e os travões, configuro o avião para descolar com Flaps a 5º, travões automáticos em RTO (se algo correr mal o Auto-Brake consegue travar o avião melhor que eu, a sério), luzes e configuração do piloto automático no painel frontal, MCP. Para a descolagem decido usar o HUD, um pequeno ecrã (opcional nos modelos reais) que coloca todos os dados pertinentes para esta fase delicada em transparência à frente do piloto. Não preciso realmente disto. É só para demonstrar que existe… e dá estilo!
A descolagem decorre sem problemas e opero o avião à mão apenas recorrendo ao Flight Director, umas pequenas barras de cor magenta que me ajudam a manter na rota, os dois modos principais de seguimento de rota nos Boeing, LNAV e VNAV e acciono uma das coisas mais simpáticas no Boeing 737: O Control Wheel Steering (CWS) que funciona como uma espécie de auto-Trim analógico e que me permite colocar e manter ângulos e viragens sem ter de manter os controlos nas posições. Ele faz isso por mim… Toma lá Airbus!
Em altitude de cruzeiro, ligo finalmente o Piloto Automático (AP) e largo os comandos. Efectuo mais uma checklist para verificar se não me esqueci de nada e noto um pormenor. Até agora, não tive qualquer problema em seguir as checklists do avião real! Exceptuando um dos procedimentos que é percorrer o exterior do avião observando determinados pontos chave, que no FSX é complicado fazer, tudo o resto executei dentro do avião virtual com a papelada do avião real.
O Piloto Automático opera o avião de forma exemplar com o LNAV a percorrer a rota de forma irrepreensível e o VNAV a manter a velocidade e altitude que pré-defini. Noto ainda que todas as funções para acompanhamento do voo está disponíveis e monitorizo motores, hidráulica, pressurização e outros sistemas completamente simulados. Tenho tempo ainda para olhar em volta e ver o incrível detalhe do cockpit com texturas de elevada qualidade. Até mesmos as luzes de bordo são accionáveis e até podemos regular a sua intensidade. Nunca antes visto num addon onde só temos a opção de ligar ou desligar. Impecável até agora. Só falta a hospedeira com os “cacauetes”…
Quase uma hora depois, porém, é que as coisas começam a aquecer. Começo a descida para o Porto e os procedimentos de aproximação ao terminal (STAR) indicam que tenho de fazer uma volta pela direita para interceptar a pista 17 do Porto. Vou efectuar uma aterragem automática por instrumentos (ILS) seguindo os procedimentos reais contidos nas cartas de navegação reais, também.
Suave, suave, o meu Boeing dá a volta pela direita e inicio as checklists de aproximação e depois de aterragem. O meu HUD indica que estou mesmo no alvo do ILS da pista 17. Mas como não gosto de ver cinema num simulador, desligo o piloto automático e engato o modo CWS novamente. Agora à mão, beneficio do facto de não haver vento significativo (2 nós de vento cruzado, nada de especial) e faço uma aproximação tão suave que me perco um pouco na altitude. Aterro um pouco baixo… Raio do Piloto Automático! Está-se a rir de mim! Ou melhor, do Co-piloto porque a culpa é dele… Felizmente corrijo para um toque suave na pista. Lá atrás ouço palmas… Ok, não ouço mas pronto, façam de conta.
Parquear e desligar o avião é um processo relativamente mais rápido. Demoro sensivelmente 10 minutos a desligar motores e sistemas e a colocar o avião em segurança. No final, foi mais uma excelente experiência PMDG. O avião voou com toda a suavidade e facilidade. Algumas coisas que não correram melhor, comprovo que foi mesmo culpa do Co-piloto (nunca do Comandante!). De resto, todos os sistemas operaram como o esperado. Mas nem precisa ser assim. Há emergências que podemos programar, definidas ou aleatórias para uma simulação mais virada para a perícia. Fogo no motor, fumo a bordo, perda de sistemas e até falhas catastróficas. Está tudo disponível nos menus especiais do CDU. Mas nem foi o caso deste voo. Felizmente.
No final, fico com desejo de voar mais no 737NGX. E que tal levar o avião para Lisboa? Vou chamar o camião do combustível e pedir a meteorologia… já venho!
Veredicto
Este será o derradeiro Boeing 737 NGX para o Microsoft Flight Simulator X. É certo que há outros produtos no mercado, equivalentes e até mais baratos do mesmo aparelho. Mas o que faz deste avião da PMDG diferente é o rigor. E rigor é sinónimo de precisão, essencial para muitos pilotos que são treinados em simuladores. Em que outra marca nos habituamos a simulação tão realista? Que dizer do rigor técnico dos modelos e dos sistemas? E a integração de tantas funcionalidades nos CDU, incluindo operações de terra como o pushback e abertura de portas? Só mesmo no PMDG 737 NGX que é, para mim, o meu avião preferido para voar no médio-curso… E se não acreditam em mim pensem: Quantos produtos para o FSX possuem o selo da própria Boeing?
Esta análise foi possível graças à colaboração da Precision Manuals Developers Group e da Flightires – Simulação Virtual.
- ProdutoraPrecision Manuals Development Group
- EditoraPrecision Manuals Development Group
- LançamentoAinda sem data de lançamento
- PlataformasPC
- GéneroSimulação
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Modelos fantásticos e detalhados
- Simulação de todos os sistemas relevantes
- Performance realista
- Modelos -600 e -700 comprados à parte
- Preço
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.