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Mass Effect 3

Raramente uma série cativa tão bem as suas audiências como Mass Effect. A nível de jogos Role Play é complicado eleger um jogo tão completo como os que compõem esta série. Certamente há quem prefira outros temas que a Space Opera de Mass Effect, mas ninguém fica indiferente à epopeia de três capítulos e cerca de 100 horas de jogo que culminam agora com Mass Effect 3.

Pela mão da produtora Bioware, responsável pelos melhores RPG da estória dos videojogos, este é o auge de um enredo enorme e intrincado, cheio de pormenores e momentos épicos. Infelizmente, este é também o derradeiro capítulo do Comandante Shepard… e já temos saudades…

Desta vez é pessoal!

Os Reapers estão de volta. No final de Mass Effect 2 vimos que a nova ameaça pairava sobre a Galáxia. Uma frota de naves com inteligência própria e apetite pela destruição avançava para o sistema solar. A invasão do planeta Terra é antecedida por ataques a colónias Humanas pela Galáxia e o único homem capaz de parar esta ameaça é John Shepard. Destituído do seu cargo na Aliança e aguardando julgamento, é também apanhado de surpresa no ataque brutal dos Reapers que causam uma autêntico genocídio na Terra. Na urgência de um plano, o Comandante Anderson repõe a posição militar de Shepard e oferece-lhe a célebre nave Normandy para ir à Citadel pedir ajuda aos demais povos da Galáxia para travar guerra contra os Reapers.

Tarefa nada fácil, já que o ataque do inimigo não tem só uma frente. Todos os planetas e sistemas estão ameaçados e o avanço dos Reapers é imparável. Cabe a Shepard encontrar uma forma de travar o avanço das máquinas e com o auxílio dos seus companheiros encontram uma arma gigantesca dos Prothean que poderá ser a derradeira fonte de esperança. Só que além da oposição de alguns povos que teremos de convencer a dar ajuda e outros em que as nossas decisões poderão afastar, há um força opositora muito forte a todo este esforço e que pretende usar os Reapers para seu próprio proveito. A Cerberus. Liderada pelo Illusive Man, a organização quer a arma Prothean para obrigar os Reapers a trabalhar para si e assim se tornar uma potência bélica sem rival. Cria-se assim uma guerra de duas frentes.

Não podemos dizer que o enredo é o melhor dos três títulos. Não é. Infelizmente falta um vilão à altura como foi Saren no primeiro jogo e ficou também a faltar no segundo capítulo. Embora haja uma reviravolta na posição da organização Cerberus, o Ilusive Man desaponta na sua postura de mau da fita. O próprios Reapers são muito mais sintéticos que a Reaper original Sovereign que ao menos tinha um plano e usou Saren para o fazer cumprir no primeiro ME. Mas vivemos bem com esta dinâmica do inimigo sem rosto. Sejam os monstros criados pelos Reapers, sejam os soldados mutantes da Cerberus. Há balas para todos.

Tempos desesperantes criam decisões desesperadas

Nunca antes as decisões de Shepard foram tão importantes para o desenrolar do enredo e da jogabilidade. Voltam as decisões morais entre Paragorn (positivas) e Renegade (negativas) mas também surgem a meio das missões algumas decisões que teremos de tomar para garantir o apoio de uma espécie ou sistema e invariavelmente a oposição de outro. Se por um lado tomarmos a posição de defender os Turian estes só nos ajudarão se colocarmos os Krogan do seu lado na batalha. Mas os Salarian não vão olhar para essa aliança com bons olhos. É um jogo de diplomacias em que as decisões de Shepard lançam ondas por toda a galáxia. Mas os tempos são urgentes. A bordo da Normandy temos um módulo onde controlamos a posição dos povos aliados e a medição da nossa força contra os Reapers. Temos de tomar decisões muitas vezes duras para estória da galáxia mas o fim é um só: a sobrevivência.

Para ajudar na constituição de forças contra o inimigo temos ainda as missões cooperativas online com o nome “Galaxy At War”. Estas missões são isoladas da estória e acessórias (podem nem sequer as jogar). Basicamente aliam-se a outros jogadores na Origin, Live ou PSN para lutar contra as hordas de monstros Reaper, Geth ou contra os soldados da Cerberus em determinadas zonas de conflito. A vitória nessas batalhas garante-nos mais apoio para a causa na estória principal. Podem criar personagens novas de espécies diversas que só usarão online e que também evoluem e possuem características próprias. Uma ideia engenhosa, que justifica muito bem o online e não rouba nada à qualidade e duração da campanha, pelo contrário.

A nível de interacção qualquer missão que façamos tem o interesse de agrupar os diversos povos para a batalha global. A quantidade de forças podem ditar a vitória ou a derrota. A partir dos 50% de forças podemos começar as missões de repelir os Reapers. Mas claro que as hipóteses são mais elevadas com mais apoiantes à causa. Por exemplo a frota aérea dos Turian em conjunto com as tropas de assalto terrestre dos Krogan serão mais vantajosas com o apoio dos Marines humanos em órbita. É uma gestão importante de recursos que passamos a gerir e adicionam uma componente mais indirecta ao jogo, mas não rouba nada das restantes missões directas da estória principal.

Usando o Mass Relay

A nível de personagens, temos o regresso de algumas personagens chave dos capítulos anteriores como Kaidan, Ashley, Liara e algumas aparições surpresa como Jack ou Thane. Para quem não sabe, estes são companheiros no jogo anterior. Alguns juntam-se a nós novamente a bordo da Normandy outros só aparecem em missões. Alguns juntam-se à nossa causa, outros colaboram connosco sem tomarem parte da acção. Depois há uma nova personagem de nome James, um soldado musculado com poucos neurónios e agora a própria Inteligência Artificial da Normandy a EDI assume um corpo robótico e pode acompanhar-nos no terreno. Se jogaram os dois jogos anteriores, como já acontecia em ME2 podem transportar o vosso savegame para este terceiro capítulo e continuar a evolução da personagem ao mesmo tempo que transportam as decisões que tomaram outrora.

Outra novidade neste novo capítulo é a sua linearidade. É um salto enorme desde o primeiro Mass Effect ver que as opções de fala são em menor quantidade e mais espaçadas. O interesse de enveredar por uma acção mais directa faz com que a interacção com personagens NPC (não jogáveis) seja mais directa e menos subjectiva. Também as cenas de acção são mais frequentes saindo completamente do ambiente RPG e entrando num ambiente de tiro na terceira pessoa (Third Person Shooter) com um excelente esquema de cobertura.

Desaparecem os puzzles para desbloquear portas, créditos ou pontos de experiência, agora esporadicamente aparecem objectos pelos mapas que só precisamos passar a nossa omni-tool que instantaneamente os resolve. Desaparece também o polémico modo de sondagem dos planetas à procura de recursos para desenvolver tecnologia. Os sistemas continuam abertos à exploração mas somente para cruzarmos os céus, já não há missões paralelas que surgem ao visitar um planeta. Também como em Mass Effect 2 a evolução da personagem é simplificada em pontos de experiência que vão sendo dados por cumprimentos de objectivos, mas de notar que agora há menos características para desenvolver e as que existem são centradas na acção.

Compreendemos a decisão de remover todos estes pequenos pormenores de interacção, mas este estreitamento da jogabilidade mais centrada na acção foge um pouco à mística do próprio Mass Effect como RPG por excelência.

Destaque especial para uma pequena nota em roxo na caixa da versão para Xbox 360 que diz “Better With Kinect”. De facto este jogo possui uma interacção especial para quem possui Xbox 360 com o sensor Kinect. Mas… não esperem fingir andar com pistolas na mão a disparar contra os inimigos. O Kinect é usado neste jogo apenas e só para os comando de voz. Digamos que é uma interacção interessante que permite deixar de usar as teclas de cursor para dar comandos aos nossos companheiros e permite que usemos a voz para pedir cobertura, disparar ou mover para determinados pontos estratégicos no mapa. Mas além desta funcionalidade não ser nada de especial, podia muito bem ser usada no PC ou na PS3 com um simples microfone e o sensor de movimentos nem sequer é usado. Sim, funciona “melhor” com o Kinect, mas vive bem sem ele.

Os Reapers, de perto são feios…

Se há área que Mass Effect sempre impressionou foi no grafismo. O motor gráfico Unreal Engine 3 é explorado de forma soberba pela Bioware em cenários absolutamente deslumbrantes de planetas exóticos pejados de tecnologia mas assolados pela destruição causada pelos Reapers. Os efeitos visuais de iluminação continuam realistas desde as pequenas lâmpadas de luz ambiente às enormes explosões em batalha.

A modelação de cenários é irrepreensível, assim como os modelos e animações de movimentos de naves, veículos e personagens. O cuidado com os cenários neste terceiro capítulo, enche níveis e salas com NPC mesmo em áreas que não podemos aceder de uma forma que toma em conta a ambiência. Na Citadel, a cidade está viva com naves a circular nos céus artificiais e com os vários andares repletos de refugiados da guerra. Na Normandy a tripulação espalha-se e parece interagir com muito mais realismo e transmitindo a sensação de tensão.

De notar que as transições entre mapas e áreas (os famosos loading screens) deixaram de ter aqueles famosos gráficos desenhados de naves e elevadores e passa a ter imagens panorâmicas dos locais ou naves que estejamos a bordo. Uma adição inteligente e que quebra um pouco a monotonia dos abundantes “loadings”. Também de realçar que os saves não param a acção e são feitos durante o jogo, deixando de haver paragens para o jogo assimilar o save. Duas importantes alterações que beneficiam a fluidez.

As animações e expressões faciais continuam soberbas, com um ou outros problema de sincronismo de lábios e algumas falhas de continuidade entre cenas. Achamos que não são particularmente graves, mas parece-nos que a Bioware não perdeu muito tempo a afinar estes pormenores. Curiosamente são as personagens humanas que mais sofrem deste problema.

Infelizmente voltam os famosos blurries do Unreal Engine, aquelas texturas sem definição no arranque das cenas e que vão ganhando definição gradualmente, sendo esta uma constante, sobretudo na Playstation 3. Outro problema na PS3 é o frame-rate ou a cadência de imagens por segundo que sofre muito em áreas de muitas animações com quebras de fluidez muito graves.

Temos também de destacar a fantástica banda sonora, agora a cargo de Clint Mansell, foge ligeiramente da musicalidade dos jogos anteriores, mas continua francamente interessante com claras inspirações em clássicos Sci-Fi como Bladerunner e outros. De volta está o fantástico elenco vocal com Mark Meer (Shepard Masculino) e Jennifer Hale (Shepard Feminino) e tantos outros, com alguns famosos pelo meio como Martin Sheen (Illusive Man), Seth Green (Joker) e Keith David (Admiral David Anderson).

Veredicto

Dificilmente alguma outra série consegue colocar três títulos distintos com uma longa e contínua estória. Todas as decisões de Mass Effect e Mass Effect 2 causam efeitos neste terceiro jogo. Quem começa por jogar este terceiro capítulo, poderá não entender alguns pontos, mas sem dúvida que não perderá pitada através do famoso Codex de informação no menu. Mesmo assim o número 3 pressupõe que devam jogar os dois jogos anteriores. Até porque, como já dissemos, o savegame pode transitar para ME3 e com ele alguns bónus.

Mass Effect 3 é um dos grandes jogos deste ano. É longo nas suas 40 horas de campanha e acrescenta o Online Cooperativo para mais umas quantas horas. Tem bastante para explorar, missões, segredos, personagens, faz-nos louvar e lamentar decisões e ainda consegue transmitir uma forte mensagem de união contra causas maiores.

Problemas de portabilidade de plataformas à parte, para PC e Xbox360 é um jogo quase perfeito que só falha nos gostos pessoais de cada um, sobretudo os puristas do RPG que poderão não gostar muito da acção mais linear. Mas recordem-se que esta é a terceira parte de uma estória maior que vai escalando para um ápice tremendo: A sobrevivência não só da humanidade, como de toda a galáxia.

  • ProdutoraBioWare
  • EditoraElectronic Arts
  • Lançamento6 de Março 2012
  • PlataformasPC, PS3, Xbox 360
  • GéneroAcção, Role Playing Game
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Problemas na PS3
  • Shepard não volta mais... ou volta?

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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